Um Feliz e Encrencado Natal escrita por Carol McGarrett


Capítulo 3
Um Feliz Natal (#sqn)


Notas iniciais do capítulo

E a parte final!
Espero que gostem!!
Boa leitura!!



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3.1 - Elena

Definitivamente eu estava mais lenta do que de costume, Liz já tinha me enganado umas duas vezes. Mas não tem problemas, eu tinha aprontado uma bem boa para ela. As coisas ficariam lindas lá pelos lados de Alexandria...

Estávamos rodando atrás do último presente que pegaríamos ali. Para o Tio Spenc. Era uma coisa bem específica e que eu só encontraria no sebo.

Entramos e ficamos quase uma hora lá dentro, tempo suficiente para Chris chegar ao shopping, achar Sean e os dois começarem a reclamar que sempre demoramos demais.

— É esse livro aqui? – Liz me perguntou. – El tinha sido a corajosa e subido em uma escada nada nova para olhar nas prateleiras mais altas do lugar.

— Manda aqui! – Pedi.

— Ela soltou o livro e eu consegui a proeza de deixar o bendito bater na minha testa.

— Eita que hoje você tá mais destrambelhada do que o normal. – Disse a ruiva.

Depois de esfregar um pouco a minha testa para passar a dor, analisei o livro, era aquele mesmo.

— É esse! Pode descer daí. – Falei.

Liz praticamente veio de rapel pelos degraus.

— Então, qual é a história desse livro?

— Foi esse título um dos primeiros presentes que Maeve deu para o tio Spenc. Acontece que Hank, brincando no apartamento do tio, acabou por derramar um copo de suco de uva em cima dele, o livro estava aberto, não deu para recuperar, e por mais que o Tio Spencer diga que tudo está bem, ele ficou bem chateado.

— Eu entendo... – Liz falou e foi olhar os livros de história.

— Presente para o Ducky?

— Se eu achar algo aqui.... mas acho que só esse globo aqui já vai ser um excelente presente, sabe, tem um cantinho na sala dele no NCIS que está vazio... vai se encaixar como uma luva! – Ela veio carregando o tal do globo que era enorme.

A senhorinha dona da loja era um amor e enquanto ela demorava para embrulhar o globo, na verdade a caixa, nos ofereceu biscoitos, chá e ainda contou um monte de histórias da vida dela. Com certeza é uma lojinha que vale a pena voltar, se não for para comprar nada, vale a conversa, o chazinho, os biscoitos e Isis, a gatinha da proprietária.

Antes de sairmos, agradecemos a atenção e a Sra. Krugger ainda nos deu um abraço apertado, daqueles bem de vó mesmo.

— Com certeza a melhor pessoa que conheci nesse ano! – Falei para Liz que ainda comia um biscoito.

— Concordo com você. Falta algum presente?

— Do meu lado sim, e do seu?

— O do meu pai... mas não vou achar nunca dentro desse shopping, só em uma loja de produtos para alvenaria e construção.

— Algo bem Leroy Jethro Gibbs, então? – Falei rindo.

— Pode ter certeza. E para o seu pai?

— Do outro lado da rua, papai é chique e está precisando de algo sob medida. – Eu apontei para o outro lado da rua e tudo o que dava para ver era...

— Vai comprar um Rivotril personalizado para o Diretor Hotchner? – Liz riu.

— Pior que ele tá precisando, viu? Mas não. É a loja do lado. – Falei.

Nós duas fomos praticamente arrastando os embrulhos até o café onde Lizzy tinha praticamente abandonado Sean. Assim que ele e Chris nos viram, vieram nos ajudar.

— Compraram o shopping inteiro? – Chris perguntou e me deu um beijo.

— Claro que não, ou eu estaria carregando o lugar todo. – Respondi a ele e retribui o beijo.

— Acabou? – Sean perguntou. Enquanto Liz observava quantos cafés ele tinha tomado.

— Quase, faltam dois lugares. Um do outro lada da rua e o segundo do outro da cidade. – Liz informou. – Seis cafés, Sean?? Precisava de seis??

— Vocês levaram três horas. – Foi a desculpa dele.

Liz pediu a conta e ainda comprou um chocolate quente para ela. E não me perguntem como ela conseguiu tomar o chocolate quente e ainda carregar alguns dos embrulhos, porque eu não sei. O que eu sei é que não tenho coordenação para isso!

Assim, fomos para o estacionamento a fim de guardar os embrulhos. Como Chris estava de carro, guardei os meus no carro dele e depois peguei os presentes da minha sobrinha para colocar lá também. Só teve um probleminha.

— Acho que não cabe!! – Falei.

— Você acha, Elena? – Meu Jogador de Basquete me perguntou. - E o que é tudo isso?

— Para a minha sobrinha!

Chris olhou para mim e depois para o céu.

— Não faz essa cara, eu me empolguei.

Ao fundo, pude ouvir Liz e Sean segurando a risada.

— Não, você se descontrolou. Cabe no seu carro, Sean? – Chris me ignorou e resolveu conversar com o outro homem do quarteto.

Sean só pegou os embrulhos e ajudou o meu namorado a levar as coisas de volta para o carro dele.

— Liga não... – Liz, que tinha se sentado no capô do carro de Chris, falou. – Pensa que ele não te viu andando igual a uma barata tonta na sessão de sapatinhos!

— Não está ajudando.

— Eu sei. Mas é exatamente como minha mãe diz: homens não entendem nada de compras e das necessidades das mulheres. Vai por mim, Chris não tem o mínimo direito de ficar bravo com você, não é ele quem vai pagar por tudo isso.

— Concordo com você, amiga. Vamos andando?

— Vamos, eles nos acham. – Liz falou e pulou do capô.

— Claro que sim, como não encontrar a Mascote de Harvard no meio dessa imensidão branca? – Gesticulei para o estacionamento coberto de neve.

— Sem graça. – Foi a resposta que recebi.

Nós duas fomos andando e jogando conversa fora – mais conversa fora -, afinal, os micos e as más notas das nossas faculdades dariam um livro só nesse nosso primeiro semestre. Foi quando saímos do estacionamento e chegamos na calçada que estava lotada de gente indo e vindo com suas compras de Natal.

— Não sei... mas eu acho tão errado quem traz os filhos para fazer as compras de Natal... tira a magia do dia. – Liz comentou.

— Não vai me dizer que acredita em Papai Noel? – Gozei a cara dela.

— Não, eu não acredito, mas gosto de pensar que as crianças acreditam... é legal você imaginar que um vovô gordinho, com uma roupa vermelha, viaja o mundo inteiro dentro de um trenó, puxado por nove renas, entregando presentes para todos os que foram bons durante o ano.

— Vendo por esse lado. – Concordei com ela e na minha visão periférica vi que uma menininha tinha deixado o balão dela voar. Não pensei duas vezes e tentei pegá-lo.

Acontece que eu não sou a pessoa mais equilibrada do planeta e ainda estava usando uma bota com saltos, eram baixos, mas eram saltos, e o chão estava todo congelado. Assim, no momento em que consegui agarrar a cordinha do balão, escorreguei no meio fio, e saí patinando até a pista da avenida, onde caí sentada. Sem conseguir me levantar, porque tudo escorregava, tudo o que vi foi que, na minha direção, vinha um táxi. Fechei meus olhos, e agarrei o balão com mais força, era sem condições que o carro conseguisse parar. Atrás de mi escutei três vozes chamando o meu nome.

— ELENA!!!!

Antes que o táxi esmagasse a minha cabeça, alguém me puxou e tudo o que senti foi o para-choque do carro batendo na minha perna, com a dor, eu só soube gritar.

— Pelo amor de Deus!! Você é suicida, Elena! – Chris falou, vi que a outra pessoa que me puxava era Sean.

— Tá doendo! – Falei e olhei para a minha perna.

— O que você tem na cabeça?? – Liz gritou comigo, a essa altura, meu acidente tinha virado um circo e o motorista do táxi vinha desesperado ver se podia fazer alguma coisa.

— Eu só queria ajudar a menininha que perdeu o balão dela! – Falando em voz alta parecia até besta a minha desculpa.

O motorista do táxi apareceu, eu não entendi muito do que ele falava, mas Liz sim, e ela tentou acalmá-lo da melhor maneira possível. Ouvi Sean ligar para a Emergência e Chris estava tentando tampar o corte na minha perna.

— Acho que quebrou também. – Ele falou e quando eu tentei dobrar a perna, quase morri de dor.

A mãe da menina que tinha soltado o balão e começado toda essa bagunça, parou do meu lado e pediu licença, ela é médica e começou a analisar a minha perna. A garotinha estava agarrada a ela, com seus grandes olhos cor de chocolate arregalados.

— Aqui. O seu balão. – Falei e estendi a cordinha para ela. Na outra ponta, Rudolf, a rena do nariz vermelho, estava sorridente.

— Obligada! – Ela me falou com um sorriso.

Tive que conter uma careta quando a médica olhava minha perna.

— Sim, está quebrada. E o pé também. Mas você teve sorte, se os dois não tivessem agido rápido, seria muito pior.

— Eu imagino que sim. – Falei. – Muito obrigada. – Agradeci.

A moça apenas meneou a cabeça.

— Eu quem agradeço, não precisava se arriscar por conta de um balão, ela olhou para a filha que sorria brincando com o balão de Rudolf.

Sean reapareceu no meu campo de visão dizendo que a ambulância deveria chegar dentro de cinco minutos e me perguntou como eu estava.

— Eu já quebrei a perna, mas hoje tá doendo pra caramba. – Falei e nossa atenção foi desviada para Liz que parecia estar passando por uma situação um tanto embaraçosa com o motorista do táxi.

Ela falava algo em uma voz tranquila e o homem tentava de todas as formas pegar as mãos dela e beijá-las.

— O que está acontecendo ali? – Chris perguntou.

— Não sei... eu não estou entendendo o que o motorista está falando!

Sean foi para perto da namorada, na verdade, ele foi para lá para ser o segurança dela e logo o taxista, fazendo uma mesura, quase uma vênia, como se Liz fosse da realeza ou algo assim, saiu rápido para dentro do táxi.

— Como você está? – Liz me perguntou quando voltou para o meu lado.

— A doutora... – olhei para a médica.

— Grace, McKenna Grace. – Ela se apresentou. – Sua amiga vai ficar bem.

— Isso é bom!

— Mas o que aconteceu, por que o taxista faltou pouco te carregar em uma liteira? – Perguntei curiosa.

— Ah... – Liz foi ficando vermelha e vi que Sean tinha a expressão fechada. – Ele é imigrante, veio da Croácia, e... bem, com um acidente como esse ele poderia perder o único meio de sustento da família. Contudo, eu garanti que você não iria processá-lo, porque foi sua culpa e ele ficou me agradecendo tentando pegar a minha mão e beijá-la. A coisa ficou um pouco mais exagera quando falei que meu nome é Elizabeth. – Ela terminou sem graça e com um dar de ombros.

— O táxi dele está inteiro? – Perguntei pensando se teria que pagar por algum prejuízo.

— Sim. Nem sujou, sua perna deve ter sido cortada pela placa. – A ruiva comentou.

— Deve ter sido, estranho que não senti nada.

— Adrenalina. – Doutora Grace falou. – É muito comum.

Balancei a cabeça.

Nessa hora os paramédicos chegaram e Dra. Grace passou as informações preliminares para eles. Fui colocada na maca e na traseira da ambulância. Chris indo comigo, e antes que as porta se fechassem, ele jogou as chaves do carro dele para Liz.

— Para qual hospital? – Liz perguntou

— Você não vai ligar para os mais pais! – Reclamei.

— Claro! Isso se eles já não souberem! – Ela me respondeu e desviou a atenção para o paramédico do meu lado.

 - Geral de Washington

— Muito obrigada! – Agradeceu minha amiga e as portas da ambulância foram fechadas, tive que cobrir meu rosto, lá ia eu levar sermão dos meus pais, de novo.

— Está com dor senhorita....

— Prentiss-Hotchner. Mas me chame de Elena que dá menos trabalho.

— Claro, Elena, meu nome é Clayton e essa é Sarah. Vamos fazer algumas perguntas de praxe depois te manter o mais estabilizada possível para que sua perna não fique doendo, tudo bem?

— Claro.

— Bateu a cabeça? – Clayton me perguntou enquanto jogava uma luz nos meus olhos.

— Não.

— Sente dores em outros lugares que não na perna?

— Não.

— Já quebrou essa perna antes?

— Não. Quebrei a direita.

— Como?

— Caí da escada. Sou estabanada por natureza.

— Certo. Toma algum remédio controlado?

— Não.

— Alergias?

— Nenhuma.

— Ótimo. Isso vai doer, mas é uma antitetânica. Para o corte. Sabe como foi feito?

Fiz uma careta quando a agulha entrou no meu braço.

— Nossa teoria é de que me cortei na placa do carro.

— Sim, não é um corte muito grande, mas é profundo, por isso vai precisar de pontos.

— Lei de Murphy. – Comentei baixinho.

Chegamos no hospital, Chris foi o primeiro a descer, me desceram logo em seguida, passei por todas as portas deitada na maca e eu nunca quis tanto estar nocauteada como agora, todo mundo me olhava.

Logo fui levada para a sala de triagem, Chris ficou na sala de espera. Seriam longas horas.

Médicos entraram e saíram, fiz vários exames e quando me costuraram – dez lindos pontos, daqueles que são absorvidos pela pele. – Eu já estava tão alta de remédios para dor que mal escutei a chegada da minha mãe.

— Elena! – Ela falou. E eu abri os olhos.

— Mamãe?

— Você está bem?

 -Tô com sono. – Murmurei e me deite na cama de novo.

— São os efeitos dos remédios para dor combinados com a anestesia local que ela tomou para que pudéssemos suturá-la. – O médico que me atendia, que eu não tinha guardado o nome, mas sabia que era simpático e bonitinho, falou. – Dentro de duas a três horas ela estará melhor.

E eu não escutei mais nada.

Acordei um tempo depois, estava em outro quarto, mais arejado, na verdade estava em casa.

— Como eu cheguei até aqui? – Perguntei assustada.

— Calma, filha! Você não se lembra de sair do hospital? – Papai me perguntou.

— Não! Não me lembro!

Minha mãe entrou no campo de visão.

— Como se sente?

— Como se tivessem apagado a minha memória das últimas.... tem quanto tempo que eu levei o tombo na rua e fui parar no hospital?

— Três horas e meia desde que Liz nos ligou. – Papai me informou depois de consultar o relógio dele.

— Então... como se tivessem apagado a minha memória das últimas três horas e meia. – Falei e depois xinguei. - Droga! O seu presente, papai!

— Se for o que você estava pedindo para a Liz pegar na loja do outro lado da rua, bem, ela já deixou aqui e deixou todos aqueles ali.... – Ele apontou para todos os presentes que comprei para a minha sobrinha. – E mais aquele que ela jura que é para você. – Apontou para um enorme.

— Nossa... nesse ela exagerou. Mas que horas ela veio aqui?

— Não tem meia hora que saiu... Sean também veio, ainda bem que ele é forte, porque aquilo lá pesa! – Mamãe apontou para o meu suposto presente.

— Chris?

Papai apontou para as costas dele.

— Está melhor? – Meu namorado me perguntou.

— Não... estou confusa... o que me deram no hospital?

— Parece que a mistura de anestesia local, vacina antitetânica, analgésicos e anti-inflamatórios deixou minha irmãzinha avoada ainda mais louquinha. – Jack falou e se jogou na poltrona.

— Pelo visto a família inteira sabe... – Murmurei e tentei me sentar, mamãe me impediu e deixou a minha perna esticada, e foi só aí que olhei para o calombo que era a minha perna.

— Quanto tempo foi ficar com isso? – Gemi.

— Cinco semanas. – Papai me respondeu.

Escondi meu rosto no ombro dele.

— Pensa bem, irmãzinha desastrada, quando minha filha nascer, você já vai estar sem isso.

— Eu vou voltar para a faculdade com uma bota ortopédica e de muletas, Jack...

— Aí temos um perigo ainda maior, se você com dois pés já tropeça, imagina se equilibrando em uma muleta!

— Isso! Esse é o meu problema, Jack! – Concordei com meu irmão.

O celular de papai tocou e ele pediu desculpa para atender. Chris logo assumiu o lugar dele como meu travesseiro.

 - Eu falei muita besteira enquanto estava alta de medicamentos? – Perguntei preocupada.

— Fora sobre os presentes, não. – Meu namorado me garantiu e me abraçou, aproveitando a ausência do meu pai.

— Que presentes?

— O do seu pai, que a Lizzy já deu um jeito, e o dela e do Sean.

— Eu falei o que era? – Olhei preocupada para ele.

— Não... mas você deu uma crise de riso quando falou isso, ninguém entendeu nada e resolvemos creditar como excesso de remédio.

— Claro... mais nada?

— Não, depois você ficou murmurando alguma coisa sobre uma gata chamada Isis e uma senhorinha de um sebo.

— Bem... então foi tranquilo.

— Foi. – Ele falou sorrindo e me encarou por um tempo, creio que tentando ver se eu já estava normal ou se ainda daria outro ataque sem explicação.

Confesso que não me lembro de muita coisa do restante da noite, tudo ficou meio confuso e misturado, me lembro de papai espantar Chris de perto de mim, depois de jantar, sentada na sala de TV, como fazia quando criança. Minhas últimas lembranças da noite são quando Chris se despediu para ir embora e eu ir pulando degrau por degrau até o meu quarto, com a ajuda de mamãe e papai. Jack foi o inútil de sempre e disse que Lara, com uma barriga de sete meses era mais rápida do que eu.

Na Véspera de Natal fomos para a casa de Tio Dave, onde eu só fiquei sentada, a sorte foi que Henry e Michael levaram o PS deles e deu para passar a noite sentada no sofá jogando “Killing With Kindness 3”[1], me diverti muito matando outros ursinhos com rajadas de glitter e vômitos de coração.

É claro que não passei ilesa sobre o meu mais recente acidente, tio D e Matt eram os que mais riram da minha cara. Graças a Deus que Savannah e Kristty estavam lá para controlarem os dois, ou era bem capaz que eu não os matasse SEM bondade!

Na hora da ceia foi o momento em que os dois mais gozaram a minha cara, pois eu era a única das mulheres que não podia calçar um sapato adequado e mesmo de sapatilha e bota ortopédica, eu consegui tropeçar, o que quase matou o meu pai do coração!

Mas, no geral, a ceia foi tranquila e foi ótimo poder reunir toda a família por uma noite, para colocar a conversa em dia, ver as crianças brincando e tentando adivinhar o que tinha em cada um dos presentes e, claro, fazerem planos para os brinquedos que não usavam mais.

O melhor momento foi quando Tio Dave apareceu vestido de Papai Noel, Hank e a pequena Rose foram os mais animados correndo atrás dele, enquanto ele distribuía os presentes que ninguém sabia que ele tinha comprado.

Logo fomos embora, até porque a lesada aqui esqueceu o remédio com hora marcada para tomar, em casa, mas já era tão tarde, que as crianças estavam dormindo no sofá e quem tinha assumido os consoles do videogame eram Tia Penélope e Luke que mais se bicavam do que jogavam... e eu adorava ver os dois fazendo isso.

Já em casa, meu pai veio com aquele velho papo de que os presentes só seriam abertos na manhã do dia 25 e pediu que ninguém o acordasse gritando e pulando nas escadas para abrir os embrulhos antes das oito da manhã.

— Com coisa que eu vou conseguir pular escada abaixo ou pior, que eu vou acordar antes das dez estando de folga. – Falei para ele. – Mas não se preocupe, vovô, daqui a dois natais a sua netinha vai fazer exatamente isso!

— E vai acordar a casa inteira. – Mamãe disse.

— Isso eu não gostei! – Fiz uma careta. – Bem, eu vou me deitar, não porque estou com sono, mas para ter certeza de que o Papai Noel vai passar. Boa noite! – Beijei a testa do meu pai. - Boa noite, mamãe. – Fiz o mesmo com ela! – Feliz Natal para vocês! Por que essa escada tinha que ser tão comprida?? – Reclamei enquanto ia a passos de tartaruga para dentro do meu quarto.

Logo o bendito do remédio para dor fez efeito e eu fui levada por Morfeu e dormi igual a um anjo. Acordei no dia 25 aos sons de batidas na minha porta.

— Acorda aí, Bela Adormecida da Perna Quebrada! – Ouvi a voz de Jack me chamando.

— Deixa a sua irmã em paz, Jack! – Lara me defendeu.

— Deixaria se ela não tivesse dado uma de alucinada e comprado metade da loja de artigos infantis, agora eu quero ver do que eu tenho que proteger a minha filha.

Fui manquejando até a porta e quando eu a abri, quase que Jack bate na minha testa ao invés de bater na porta.

— Bom dia, irmãozão... já está treinando para quando a sua filha crescer e começar a fazer isso com você?

— Anda logo, veste uma roupa de ficar em casa e vamos ver o que você comprou para a minha filha.

— Espere meia hora...

— Vai levar três horas! – Ele falou fechando a porta.

Exagero dele, estava sentadinha ao lado do meu pai em vinte minutos, tomando uma xícara de café. Minha curiosidade inflamada com o enorme presente que minha amiga ruiva e maluca tinha comprado.

— Vamos começar por esses aqui! – Lara falou e apontou para todos os presentes que comprei para sua filha ainda não nascida.

— Vocês quem sabe! – Disse e levantei a minha perna no sofá, usando papai de encosto, quase dormi de tanto que eles demoraram. Claro que Jack tinha que soltar:

— Para que tantos sapatos?? Bebês só andam com ou depois de um ano!

— Para ela ir se acostumando, afinal é minha sobrinha, e neta de Emilly Prentiss!! – Falei.

— E esse aqui? De quem é?

— É da Liz!

Lara a abriu o pacote e eu percebi que nem sabia o que era.

— Que bonitinho! – Ela falou quando mostrou o Kit de berço cheio de nuvenzinhas sorridentes.

— Muito mais útil do que toda essa quantidade de sapatos. – Jack me alfinetou.

E seguimos a abrir os presentes, até que o último foi o que Liz e Sean haviam me dado.

— Olha que fofo, os dois agora compram presentes juntos! – Murmurei.

Antes de abrir o pacote, que era grande e pesado, Jack o colocou no chão para que eu pudesse abri-lo, li o bilhete.

Creio que você fará bom uso desse presente, mas quem irá gostar ainda mais serão o Sr. e a Sra. Hotchner.

Tenha um Feliz Natal!

Liz e Sean.

Achei o bilhete muito estranho, mas abri o presente em expectativa para encontrar...

— Um rolo de plástico bolha?!! – Disse sem entender nada.

Jack, Lara e papai caíram na gargalhada. Mamãe só comentou:

— Senso de humor, Elizabeth tem.

— Isso aqui tem mais cara de ser ideia do Sean!

E pregado no rolo de plástico bolha tinha outro bilhete:

Vai dizer que não é uma excelente ideia? Assim você estará protegida de sofrer quaisquer danos em acidentes!!

 - Eu vou matar.... não eu não vou não! O Sr. Gibbs vai fazer isso por mim!! – Falei toda feliz.

— Por que o Gibbs mataria a Liz? – Jack quis saber.

— Não só a Liz, o Sean também, na verdade, creio que mais o Sean...

— Ainda não entendi...

— Ah, mamãe... se a senhora achou que Liz teve senso de humor quando me deu um rolo de plástico bolha, a senhora não faz ideia do que eu aprontei... na verdade, Liz deve estar desejando esse rolo para proteger o namoradinho dela nesse exato momento!

— O que você comprou? – Papai me perguntou.

— Então... eu tenho que contar para você a reação dos dois quando eu...

E comecei a contar o que havia acontecido na loja de artigos infantis, e, internamente eu ria, pensando em como as coisas deveriam estar pelos lados de Alexandria... até que recebi a seguinte mensagem, ou melhor mensagens

Liz:

Você acha que isso vai ficar assim? Mas não vai mesmo, quando ou se, eu conseguir acalmar o meu pai, você vai ouvir poucas e boas!! E não há plástico bolha que te proteja de mim, Elena!

Sean:

Definitivamente, Elena, não teve graça, não foi nada agradável abrir a porta da minha casa e dar de cara com o meu sogro do outro lado, apontando uma espingarda para a minha cabeça e com Liz implorando para ele que o seu presente não passava de uma brincadeira!

Talvez, só talvez, eu tenha exagerado... ou será que foi o Agente Aposentado quem exagerou?

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2.4 - Elizabeth

Depois de seguir a ambulância que levou Elena até o hospital – Sean foi na pick up dele e eu dirigi o carro de Chris, - me vi na obrigação de tentar explicar para metade do FBI o que havia acontecido, claro que depois dos pais da Elena, Garcia era a mais preocupada com a Encarnação da Mortícia que estava em alguma sala nesse andar. O único que parecia relaxado era Derek.

— Como se fosse novidade a Elena causar um acidente de trânsito! – Ele disse sem um pingo de dó.

Eu não disse nada, mas Sean me olhou e eu vi a pergunta estampada em seus olhos azuis.

— Prometo que te conto quando sairmos daqui, vamos dizer que o Sr. Hotchner não é lá muito fã de todos aqueles eventos que culminaram com a Elena presa.

Sean me olhou assustado, mas não disse nada.

Como boa amiga que sou, esperei até que a Estabanada Mor da Área dos Três Estados fosse liberada, e ela estava tão alta de remédios e anestesia que não estava muito coerente.

E depois de entrar em desespero por conta do presente de Natal do pai, que eu garanti que pegaria; deu uma crise de riso por conta do meu presente, correção do presente que ela daria para mim e para Sean.

Graças a Odin, o Sr. Hotchner a colocou dentro do carro e eu segui para a loja onde pegaria o presente dele.

— Sabe, a Elena nunca fez muito sentido, mas esse final foi de assustar... -Sean comentou enquanto íamos na direção da tal loja.

— Remédios... e esse coquetel deixou a Elena ainda mais doida. Tenho muito medo do que ela pode soltar nesse estado... – Comentei.

Sem ter muito lugar para parar, tive que descer correndo e entrar na loja para pegar o tal presente, enquanto Sean ficava dando voltas no quarteirão. O tal presente, que tanto desesperou a minha amiga, nada mais era do que um relógio personalizado, ainda achava o Rivotril mais adequado, ainda mais depois de hoje, mas ele não era o meu pai.

No caminho para a casa dos Hotchners, aproveitei e comprei o presente do meu pai, e quando estava para pagar, eis que Sean aparece com um rolo de plástico bolha...

— Para que isso? – Olhei desconfiada para o meu namorado.

— O presente da Elena. – Ele falou simplesmente e me abriu um sorriso todo cheio de significado, ainda mais depois de hoje.

— Para com isso! – Eu comecei a rir.

— Falando sério... nunca vi uma pessoa tão propensa em se acidentar como ela, só isso aqui irá protegê-la. – Ele brincou. – E depois do que ela nos fez passar na loja, fazer hora com a cara daquela desastrada não vai fazer mal nenhum.

Coloquei o rolo no carrinho.

— Vamos precisar embrulhar...

— Isso não vai ser problema. – Sean garantiu.

Levamos quase meia hora para conseguir embrulhar aquilo, e depois que o colocamos na caçamba da caminhonete, fomos para a casa de Elena.

Quem nos recebeu foi Dona Emily, que estava com a uma carinha de cansada.

— Como a Elena está? – Foi a primeira pergunta que fiz depois que ela me abraçou.

— Dormindo ou seria melhor dizer, sedada. – Ela apontou para a figura da minha amiga que estava capotada no sofá, usando o pai de travesseiro, Chris estava sentado aos pés dela.

— Bem... eu trouxe o presente que causou todo aquele surto. E mais um... para a Elena, de Natal. – Fiz uma carinha de inocente.

Sean carregou o rolo de plástico bolha para dentro da casa e o colocou atrás da árvore, eu entreguei o embrulho para Dona Emily que me agradeceu. Desejei Feliz Natal para a família, Lara e Jack estavam chegando e me espantei com o tamanho da futura mamãe, ela já estava imensa de grávida! Depois fui para casa, tinha que guardar os presentes para que não ficasse óbvio para as crianças que o Papai Noel não existia.

Quando meus pais chegaram em casa - mamãe ainda estava agitada como de manhã, mas conseguiu parar por um tempo para me agradecer pela decoração e por ter saído no meio da neve para comprar os presentes, e papai tinha uma expressão ilegível no rosto; - eu estava sentada no sofá ao lado de Sean, o jantar que eu havia preparado, já estava no forno, apenas esperando os dois.

— Onde estão os presentes? – Meu pai perguntou olhando para debaixo da árvore, que lógico, estava vazia e depois para mim e Sean.

— No porão... não podemos estragar a surpresa das crianças. – Respondi e ele foi lá embaixo conferir. Fiquei sem entender.

Mamãe começou a rir.

— Não entenderam? – Ela se dirigiu a Sean e a mim.

— Não. – Respondemos juntos.

— Ele só queria a prova de que vocês dois não ficaram aqui sozinhos por toda a tarde.

— Era só ter falado... temos a última da Elena para contar... – Falei. E papai voltava com uma cara assustada.

— Para que tudo aquilo? E o que aconteceu com a Elena?

— Vão lá em cima, tomem um banho, enquanto isso o nosso jantar fica pronto e eu conto tudinho para vocês à mesa. – Falei e empurrei a dupla escada acima.

Passei o jantar explicando o motivo de cada um dos presentes, dizer que a família era grande não era uma explicação válida, e depois passei a narrar - com as devidas explicações de Sean – o que aconteceu com Elena.

— Hotchner não tem um minuto de paz com a filha. – Papai comentou.

Mamãe encarou meu pai com um olhar e tanto e ele só se defendeu com a seguinte frase:

— Hotchner tem que se preocupar com o claro problema de equilíbrio da filha e com o namorado dela, eu só tenho que garantir que esse Marine Suicida, que está sentado nessa mesa, fique com as mãos bem longe da minha Liz.

Olhei para os dois, era incrível a capacidade que eles tinham de falar de mim e de Sean como se nós dois não estivéssemos presentes. Eles nada falaram da minha carranca e resolvi deixar para lá, me levantando e começando a lavar as vasilhas.

Para finalizar a noite, assisti O Grinch, sim a animação que saiu em 2018, e tinha Benedict Cumberbatch como o dublador do mal humorado bichinho verde. Me julguem, mas eu adoro um desenho e sou uma grande fã do intérprete do Doutor Estranho da Marvel.

Fui dormir com a certeza de que trabalharia igual a uma louca no dia 24 e não estava enganada, pois logo às sete da manhã, minha mãe bateu na porta do meu quarto para me acordar, ela precisava que alguém tivesse a coragem suficiente para encarar a fila do caixa do supermercado em pleno dia 24.

— Mas mamãe... – Tentei argumentar que já tinha feito a peregrinação anual às lojas, porém foi em vão.

— Liz, seu pai não vai, eu tenho que deixar tudo pronto aqui em casa. Só sobrou você. Pegue o meu carro, mas traga tudo o que está na lista, por favor. – Ela saiu e me deixou para trocar de roupa e acabar de acordar.

Depois que consegui espantar o sono de verdade, peguei a tal lista e dei uma boa lida.

— Eu vou ficar o dia inteiro indo de mercado em mercado! – Gemi em desespero. E eu nem podia chamar o meu namorado para me acompanhar.

Desci para tomar o meu chá, e comer alguma coisinha bem reforçada, afinal, eu nem sabia se chegaria em casa para o almoço.

— Tem certeza de que não precisam de mais nada? – Perguntei para mamãe e Noemi.

— Sim, Liza. – Noemi me respondeu. – Mas caso precisemos, a Señora te manda uma mensagem.

— Tudo bem. – Falei com Noemi, é impossível ficar brava com ela, ela tão fofinha. – Vem comigo, pai? – Tentei a sorte, vai que eu conseguiria uma companhia calada e taciturna pelo dia.

E meu pai por acaso me respondeu? Claro que não! Ele só jogou a chave do carro de mamãe na minha direção e apontou para a porta.

— Também te amo. Até antes da Ceia. – Falei e me preparei para sair no frio.

Minha peregrinação consistiu em onze, sim ONZE supermercados, para que eu tivesse todos os itens da lista que mamãe me entregou. Somando o tempo de gastei para chegar a cada um deles, mais o tempo que levei para achar uma vaga para estacionar o carro e para pagar pelas compras, eu fiquei fora de casa por longas SEIS HORAS!! Era quase o tempo para chegar em Cambridge!

E, por todo esse tempo ainda tive que aturar a minha mãe me ligando querendo saber se eu ainda iria demorar muito.

Quase que respondi que não tinha super poderes de teletransporte e telepatia para saber onde tinha cada um dos itens, mas deixei para lá, era Véspera de Natal e minha mãe ainda estava preocupada com a aposentadoria mais do que iminente de papai.

Quando finalmente cheguei em casa, eu estava morta de cansada, não tinha vontade nem de pensar na festa que daríamos, tudo o que eu queria era entrar na banheira de água pelando e descongelar meus músculos doloridos pelo frio e tempo excessivo nas intermináveis filas.

— Está tudo aqui. – Anunciei quando pus o pé em casa.

— Graças a Deus, achei que você não chegaria nunca! Por que demorou tanto? – Mamãe tomou a sacola de minhas mãos e depois se virou para ir para a cozinha.

— De nada, mamãe. – Falei baixinho.

Escutei a risada do meu pai, quando me virei, ele estava sentado no sofá, lendo um livro? Oi?! Tinha algo muito errado nessa cena.

— Desde quando o senhor fica tão à vontade, lendo um livro, enquanto mamãe surta daquele jeito?

Ele fechou o livro e me chamou para segui-lo, quando vi, estava de volta na rua, dando uma volta a pé com meu pai pelo quarteirão.

— Sua mãe acha que eu não sei o que ela está aprontando. – Ele comentou quando nos afastamos da casa.

— E ela está aprontando alguma coisa?

— Sim, a festa de Natal neste ano era para ser na casa de Tim, ela pediu para mudar, porque além do Natal, Jen quer fazer uma festa de despedida para mim. Ela está mais preocupada com a minha aposentadoria do que eu.

— Então o senhor está realmente decidido em parar?

— Já passou da hora de parar, filha.

— Mas e toda essa falação na cabeça da mamãe?

— Quem mais eu tenho para irritar, senão ela?

Apontei para ele e disse:

— Touché!

— Poderia ser o seu namorado, mas ele quase não aparece em casa quando você não está por perto.

— É, sei disso, Dona Pam comentou também.

— Ele não vai te ver em Cambridge não, ou vai?

— Foi uma vez, mas chegou na hora do almoço e foi embora às seis da tarde. – Fui sincera, mas papai não gostou do lapso de tempo.

Nesse meio tempo, entre uma pergunta e outra, esticamos o passeio e começamos a olhar as decorações, tinha gente que levava a competição de melhor decoração muito à sério.

— Se lembra quando você ficava me pedindo para sairmos de carro para você ver os enfeites?

— Sim, me lembro. E não sei o porquê que o senhor parou de me levar! Eu ainda adoro essa época!

Foi a vez de papai parar e me encarar.

— Gosta?

— Sim! Posso não acreditar em o senhor sabe quem. – Falei baixo porque um monte de crianças de um coral estava passando perto de nós. – Mas ainda gosto do espírito natalino. E as luzes ainda me fascinam!  

— No ano que vem vamos sair então! – Papai passou um braço em torno dos meus ombros e saiu me guiando para a próxima rua.

— Vamos passar para ver a decoração da Casa Branca? – Me animei.

— Por que não? – Ele me garantiu.

Íamos andar ainda mais, porém mamãe me ligou, perguntando onde estávamos e exigindo a nossa presença em casa.

— A mamãe mandou voltar.

Papai deu outra risada.

— Eu acho que vou falar para ela que não precisa mais manter segredo de mim.

— Não faça isso, mamãe vai achar que fui eu quem te contei!

— Lizzie, eu a ouvi comentando com Abby que nem com você ela falaria, porque – ele fez aspas com as mãos – “A Garotinha do Papai iria correndo contar para ele”.

— Com coisa que Abby pode esconder algo do senhor. – Dei uma risada.

— Abby se escondeu de mim pelos últimos dez dias, nem no laboratório dela eu pude descer.

— Algo inédito.

— Com certeza. – Ele falou no momento em que entramos na nossa rua, já de longe era possível ver mamãe na porta, mãos na cintura, e tínhamos certeza, um olhar que colocaria medo em Genghis Khan.

— Por que saíram sem avisar? Aonde foram? Está na hora de começarem a se arrumar. Principalmente você, Lizzy, já que demora anos para ficar pronta! – Ela disse assim que colocamos o pé no primeiro degrau.

Papai subiu os três degraus com um passo só, pegou o rosto de mamãe entre as mãos e apenas soltou:

— Jen, a festa de despedida que você está fazendo para mim vai dar certo e eu não vou ficar de cara feia. – Disse olhando-a nos olhos. A reação de mamãe foi hilária, ela só soube arregalar os olhos. – E não, eu não vou ficar de mau-humor ou me esconder no porão. É Natal e minha família vai estar toda aqui. – Ele deu um beijinho nela e entrou. – Agora, Jen, faça o favor de se acalmar e pare para descansar, tudo já está pronto.

Mamãe, completamente muda, só soube segui-lo e se sentar ao lado dele no sofá, quando acabei de tirar os sapatos cobertos de neve e os casacos, escutei a pergunta mais besta que a Diretora da CIA poderia fazer.

— Mas como você descobriu?

— Lizzy o que respondo para a sua mãe?

Fingi pensar e soltei:

— Que tal: “O que você acha que eu fazia para viver, Jen?”

Mamãe só balançou a cabeça em concordância, eu subi para me arrumar, mas ainda pude escutar.

— Nunca mais tento esconder algo de você, Jethro!

Ah, esses dois!

A festa começou pontualmente às oito horas quando Abby entrou com sua roupa de Elfo e gritando Feliz Natal para quem estivesse por perto, depois de colocar os presentes debaixo na árvore, saiu nos abraçando.

Como eu disse, Abbs foi a primeira, pois menos de um minuto depois, Tony, Ziva e Tali entravam em casa, com Tim, Delilah e os gêmeos logo atrás. Ducky chegou junto com minha sogra, cunhado e Sean, meu sogro estava em missão com Marinha no Oceano Pacífico. O Diretor Vance trouxe seus filhos e sua namorada, a psicóloga do NCIS, Jack Sloane, Nick e Ellie chegaram carregando enormes presentes, Jimbo, Breena e Vic fecharam os convidados, e eu pensei que sufocaria na sala da minha casa com tanta gente e tantos presentes.

O jantar foi servido e juro que eu não conseguia acompanhar nenhuma das conversas, mas eu podia notar que todos estavam muitos felizes, principalmente meu pai. Tony, que de algum modo se sentou do meu lado, jurou de pé junto que era porque Sean estava sentado muito longe de mim.

E depois de muitas risadas, a maioria das piadas eu nem sabia sobre o que se tratava, e de muitas histórias sobre os anos de meu pai no NCIS, chegou a hora do brinde. Brindamos não só ao Natal, como a aposentadoria do meu pai e a promoção de Tony. Nem preciso dizer que Tony teve que fazer um discurso, que eu cortei na metade porque já estava cansando todo mundo, principalmente a filha dele.

— Lizzy. – Minha mãe me chamou quando todos se acalmaram um pouco. – Você pode fazer o favor de pegar o embrulho que está escondido no meio das suas coisas, no seu closet, por favor.

— Você escondeu o meu presente de aposentadoria no closet da sua filha, Jen? – Papai perguntou surpreso.

— É o único lugar da casa onde você não entra, Jethro.

 - E nem vai começar a entrar! – Gritei do alto da escada.

Vasculhei por todo o lugar até que achei, escondido debaixo de um dos meus casacos e da minha fantasia de Halloween da Mortícia Addams, estava o tal presente. Era pesado e eu não tinha a menor ideia do que seria.

Quando desci, toda a equipe tinha entregado um outro presente. Abby fazia um discurso sobre papai ter tudo, mas que ele precisava daquilo.

Era um porta-retrato, um bem grande, que Nick disse para ser colocado na parede do porão, ou alguém poderia quebrá-lo acidentalmente.

— O que tem na foto? – Perguntei a Sean que era quem estava mais perto de mim.

— A foto de todos eles, fantasiados, no último Halloween. – Foi a resposta sem animação que ele me deu.

— Agora a frase de Torres faz sentido. - Murmurei

— E você, Pimenta, não se atreva a quebrar este porta-retrato! – Ellie falou para mim.

— Não sou maluca de mexer nas coisas de meu pai. – Me defendi e entreguei a caixa para minha mãe.

— E isso, o que é? – Papai perguntou com uma curiosidade incomum.

— Bem... teve uma pessoa que me contou que, há uns 40 anos atrás, você ficou olhando para algo bem semelhante a isso e se perguntou como era feito... Resolvi testar a teoria, mas com uma versão um pouco, não tanto, mais moderna... que creio que você gostará.

Papai entendeu o recado e para o desespero de todos não abriu o presente. Eu fiquei para morrer de curiosidade, mas parecia que a história envolvia muito mais do que uma ida aos anos 80... e um dia eu iria descobrir o que era!

— Tudo bem... já que o Chefe não vai nos deixar ver e saber sobre o que se trata o presente, vamos ver o que o Papai Noel deixou por aqui? – Tony falou e pegou Tali no colo, que concordou com o pai à gargalhadas.

Literalmente nos esprememos na sala e ficou tão cheio que decidi me sentar no meio da escada, de onde tinha uma ótima visão da carinha das crianças, foi o único momento da noite em que consegui ficar perto de Sean sem que ninguém ficasse nos olhando ou com alguma das crianças querendo nos contar algo.

Ouvimos as exclamações de alegria de Tali e os gritinhos de Victória quando abriram os seus presentes. Morgan e John sempre mais contidos, apenas abriram lindos sorrisos e eu percebi, abismada, o quanto John se parecia com Tim, eles tinham o mesmíssimo sorriso e tom de olhos.

Depois que as crianças receberam os seus presentes e era a vez dos adultos ganharem os seus, Morgan logo me achou no alto da escada e veio me mostrar o seu presente favorito.

— Olha, Liz!! Eu ganhei o Baby Yoda! Eu gostei de cada um dos meus presentes, até da minha bicicleta nova, mas gostei mais desse aqui! – Ela me falou com um sorriso. – Ele é tão fofinho! – Completou e depois me escalou para se sentar no meu colo, abraçadinha com o novo brinquedo. No pé da escada, John nos olhava.

— Vem aqui, carinha! – Sean o chamou. – E você, o que o Papai Noel te trouxe?

Foi o que bastou para que John subisse os degraus, se debruçasse na minha outra perna e começasse a falar tudo o que ele sabia sobre o R2D2 e o BB8 que tinha ganhado.

— Quem não estiver na sala, não ganha presente! – Tony gritou, claramente um recado para mim e Sean.

— Vem Liz!! – Vic apareceu desesperada no pé da escada. – Vem ver o que o Papai Noel te trouxe. Você também Tio Sean! – Ela foi pulando na nossa frente. Já que nossas mãos estavam ocupadas, pois John estava no colo de Sean e eu carregava Morgan.

Tony fez hora e entregou até um outro presente para meu pai. Um livro.

— Posso ver a capa, Jethro? – Ducky que já tinha recebido o seu Globo Terrestre perguntou. E eu temi pelo que estava ali, pois o sorriso de meu pai me deu calafrios

1001 Maneiras de Manter o Seu Genro Longe da Sua Filha.

Minha vontade era assassinar Anthony DiNozzo Junior ali mesmo, mas eu não seria o Grinch da noite.

— Bem... temos mais dois presentes aqui! – Mamãe comentou. E estendeu o de Sean. – Feliz Natal, filho. – Ela disse para completo desespero de meu pai que a olhou com uma cara de ultraje.

Sean olhou intrigado para a caixa e não pensou duas vezes em rasgar o papel, com uma ajuda e tanto das crianças que estavam curiosas com o tamanho do presente.

— Ah!!! – Tali gritou. – Toca pra gente! Por favor! – Ela pediu aos pulinhos quando Sean tirou o violão de dentro da caixa e da case.

Eu não falei nada, duvidava que ele tocaria na presença de tanta gente, levou um tempão para ele tocar um mísero verso na minha frente. Só que ele não sabia dizer não, ainda mais para as quatro crianças que olhavam com clara expectativa nos olhos.

— Acho que vai ter que ficar para depois, gente. – Comecei. – Primeiro ele vai ter que afinar o violão, não é? – Pisei no pé dele para que ele concordasse comigo.

 - Sim... – Meu namorado concordou todo sem graça.

— Mas eu vou te cobrar! – Tali disse séria e com aquela expressão determinada igualzinha a de Ziva, mas logo se virou e olhou para minha mãe. – Vovó Jenny, e a Lizzy, não ganha nada?

— Você foi uma boa garota nesse ano, filha? – Papai me olhou e eu sabia no que ele estava se lembrando.

— Creio que sim....

Tony escondeu a risada, Sean fingiu tossir do meu lado e se demorasse muito mais, eu ficaria ainda mais vermelha.

— Tem certeza de que não aprontou nada que pudesse fazer o Papai Noel não deixar um presente para você? – Meu pai tentou de novo, dessa vez sorrindo.

— Tirando três pequenos incidentes, eu acho que, no todo, sou merecedora de um presente.

Sean ao meu lado passou a mão na testa, papai me encarava sério.

— Só um? – Minha mãe perguntou.

— Sim. Um está de bom tamanho.

Foi Tony quem me jogou um embrulho do tamanho de um livro de bolso.

Abri e dei de cara com:

Receitas Milagrosas Para Curar a Sua Ressaca.

E outro

Curso Básico de Primeiros Socorros, este vinha com um kit de sutura.

E eu gastei tanto neurônio pensando em um presente para ele, esse italiano me iria me pagar!

Depois dos presentes distribuídos e das crianças começarem a ficar com sono, o pessoal foi embora, até porque, Tali e, principalmente, Vic começaram a implorar para ir para casa, com medo de que o Papai Noel não passasse, já que não tinha o copo de leite e os biscoitos caseiros para ele lanchar.

Assim um por um, eles foram deixando a casa, e nos desejando um Feliz Natal e Tali, antes que Tony arrancasse o carro, abriu a janela e gritou:

— Tio Sean, não se esquece, você ainda vai ter que tocar para mim!!

— Eu sei, Tali! – Ele falou.

— É Marine, agora você tá encrencado, aquela lá não esquece uma promessa! – Papai falou e como só tinha sobrado Sean por ali, fiquei do lado de fora por um tempinho. – Quinze minutos, Liz! – Papai avisou.

— Antes que nós dois congelemos, gostou do presente? – Perguntei animada.

— Acho que vou ter que dar uma melhorada no seu. – Ele disse pensativo.

— Isso não vale! – Acusei.

— Então de manhã você verá o que é. – Ele me deu um beijo, voltou para dentro de casa para desejar um Feliz Natal para os meus pais e parou do meu lado antes de atravessar.

— Quando seu pai ligar, deseje a ele um Feliz Natal por mim! – Falei quando ele se despediu de novo. Meu queridíssimo sogro estava em missão, só voltaria em fevereiro.

— Vou dizer.

— E nada de ficar comparando presentes, hein! Só consegui achar algo de que você fosse gostar depois que Rick me ligou desesperado, dizendo que tinha pisado no seu amado e velho e violão.

— Não vou Lizzy, mas é melhor começar a pensar no que te darei de aniversário.

— Não!! Pode parar! Não me fale em aniversários!

— Tá com medo de ficar velha?? Você nem fez vinte ainda!

— Troca o assunto.

— Você vai ser daquelas que vai dar uma crise quando chegar aos 30, não vai?

— Com certeza! – Falei um tanto brava.

Ele me deu um de seus lindos sorrisos, e eu ficaria muito feliz se esse fosse o meu presente de Natal, e depois sussurrou:

— Feliz Natal, Liz. Agora entre antes que você congele. – Me abraçou e atravessou a rua.

Como de costume, esperei que ele chegasse na porta da casa dele para poder fechar a minha. E suspirei, uma cozinha imensa me aguardava para ser limpa.

Levei quase uma hora e meia para lavar tudo, e mais quarenta minutos para secar e guardar, e consegui terminar tudo antes das duas da manhã, porém, antes de subir a escada, vi que tinha mais presentes debaixo da árvore.

— Você não achou que os presentes da equipe eram aqueles livros sem pé nem cabeça, achou? – Papai saiu sei lá de onde e quase me matou de susto.

— Juro que não liguei, sei como eles são. Ainda mais agora com Tony na liderança. – Brinquei.

— Não vai querer abrir?

— Pai... eu estou morta de cansada, mamãe já desmaiou lá em cima. E ainda faltam os presentes de vocês ali debaixo. Pela manhã a gente abre e o senhor me conta a história por trás do veleiro na garrafa!

Apaguei as luzes e deixei só a árvore iluminando a sala.

Dormi igual a uma pedra e só acordei porque uma alma sem mãe estava tocando campainha. Busquei pelo meu celular e tentei ver as horas.

Oito e meia da manhã.

Mas quem bate na casa de uma pessoa às oito e meia da manhã de uma manhã de Natal? Joguei as pernas para fora da cama, me levantei e troquei de roupa, mas foi em vão, pois escutei papai atender a porta, é claro que ele já estaria de pé, logo em seguida ouvi a voz de mamãe.

— O que é?

— Presente para Liz.

— De quem?

— Elena.

Estava no meio do caminho para a cozinha quando papai me jogou o embrulho. Não era grande e parecia algo como uma roupa.

— Coisa estranha. – Murmurei.

— Não vai abrir, filha? – Os olhos de mamãe até brilhavam de curiosidade.

— Vou tomar café da manhã, primeiro. – Informei, e fui fazer o meu chá, papai se recusava veementemente a fazer uma caneca de chá para quem quer que fosse.

Tomando nosso café, mamãe resolveu que era uma excelente hora para abrirmos os presentes restantes – seis no total. Dois para cada um.

Entregamos os de papai, como era tudo que ele poderia usar na sua nova profissão – a de carpinteiro em tempo integral – ele adorou e disse que estava ficando mimado por ganhar tantos presentes em tão pouco tempo.

Mamãe também não reclamou. Apesar de já ter quase cinquenta pares de sapato, amou os novos que comprei e a surpresa de papai que era uma pulseira com um intricado desenho em ouro branco, vermelho e amarelo.

Eles deixaram os meus por último. Um era uma mochila nova, estava precisando, pois a minha velha estava clamando por aposentadoria desde a metade do semestre. E a outra caixa nada mais era do que....

— Quero ver a “Senhora Botas da Chanel” ficar me olhando torto agora! – Falei ao tirar o meu próprio par de botas de dentro da caixa.

— Senhora quem? – Mamãe me perguntou.

 - Uma mulher no aeroporto que estava usando um par de botas da Chanel, se sentou na minha frente no saguão e ficou me encarando, na verdade, olhando para como eu estava vestida!

— Agora abra o da Elena. O que aquela doidinha te mandou?

Confesso que já tinha até me esquecido do tal presente. Peguei o pequeno embrulho e levantei o canto do papel, sem rasgá-lo e puxei o conteúdo para o lado de fora.

Quando eu vi o que era, gelei. Como Elena poderia ter feito aquilo comigo? Papai pegou o saquinho da minha mão e tirou o conteúdo de lá. E antes mesmo que ele abrisse a peça, ele já estava vermelho de fúria.

— O que é isso, Elizabeth? – Ele jogou o pequeno body camuflado em cima da mesinha de centro e as palavras “Princesinha do Papai” brilharam à luz do fogo da lareira.

— Pai.... – Tentei procurar por palavras que não o deixariam ainda mais nervoso. – É uma brincadeira. Juro que é.

Mas ele não me escutou, e, também não escutou mamãe. Meu pai apenas tirou a espingarda do suporte na parede saiu para a manhã fria.

— Aonde ele vai? – Perguntei alarmada e corri para a porta. – Ah, não!! Olha o que ela fez!

Só tive tempo de calçar um par de sapatos e me enrolar em um cachecol, antes que a porta da casa que fica do outro lado da rua fosse aberta, por um Sean ainda com sono, mas que acordou rapidinho quando viu a espingarda do meu pai bem na testa dele.

— Tem algo que queira me contar, Marine?

— Papai!! Pare!! É uma brincadeira de muito mal gosto!! Não tem nada acontecendo!! – Eu corri e tentei tirar a espingarda – que estava engatilhada – da mira.

— Elizabeth... – Meu pai comentou.

— O que está acontecendo? – Sean não estava entendendo nada.

— O presente da Elena.

— Que presente da Elena? – Sean quis saber e eu fiquei admirada como ele conseguia ignorar meu pai bufando de ódio na frente dele e com uma arma na mão.

— O mesmo pelo qual ela deu uma crise de riso na saída do hospital. – Suspirei. – Lembra do body camuflado?

Sean fez a conexão rapidinho.

— Ela te mandou... é por isso que... – Ele olhou para a ponta da espingarda.

— O que vocês têm para me contar? – Meu pai perguntou mais uma vez.

— Elena Prentiss-Hotchner não é normal. – Sean soltou e eu nunca ouvi o tom de voz dele tão frio.

Mas não era isso que papai queria ouvir. Ele queria a certeza.

— Pai... – eu lutei com as palavras. – Abaixa essa arma. – Pedi. – É Natal! E aquilo foi uma brincadeira da Elena!

Não adiantou e papai nos encarava, pensando em quem atiraria primeiro. Não tinha jeito.

— Eu não estou... grávida! – Praticamente gritei. - Pelo amor de Deus!! Eu já cansei de falar que filhos, se eu tiver, só depois dos trinta anos!! Será que o senhor pode acreditar em mim?

— Então por que a sua melhor amiga te mandou um body de bebê como presente, e endereçou para vocês dois? – Ele apontou a espingarda – que não estava mais engatilhada – na nossa direção, já que agora eu estava de escudo de Sean, só para garantir.

Sean bufou alguma coisa que eu não entendi.

— Olha o respeito, garoto. – Papai olhou raivoso para ele.

— Porque como Sean disse, ela é doida e quis fazer uma brincadeira de muito mal gosto.

Papai me analisava de cima a baixo. Creio que tentando ver se eu tinha algum sinal de uma gravidez aparente.

— Pai! – Pedi envergonhada.

— Elizabeth, entre agora. E você. – Ele apontou para Sean. - Converso com você mais tarde.

— Pelo amor de Deus, Jethro! Pare de ser o Grinch! Até entendo que Elena arriscou com esse presente, mas também não é para sair querendo matar os dois. Isso aqui não é Romeu e Julieta! – Minha mãe apareceu e saiu puxando meu pai pelo capuz do moletom que ele usava. – E Sean, me desculpe por isso, mas creio que vocês dois têm que conversar com outra pessoa.

Encarei Sean, ou melhor, tentei não olha-lo, mas ele levantou o meu queixo e meu rosto.

— Como ele vai reagir quando eu te pedir em casamento?

Eu comecei a rir histericamente. Porém meu namorado estava sério.

— Não... você não...

Ele deu de ombros. Olhei para a minha casa e podia ver meu pai andando de um lado para outro pela sala, minha mãe sentada no sofá, de costas para nós.

— Se a Elena não tivesse feito isso... – Murmurei.

— Você teria dito sim?

Fiquei calada.

— Acho que é cedo demais.

— Sim... como você disse de madrugada, espere eu chegar nos 20... e nem fala a palavra com “C” perto dele, nem hoje e nem pelos próximos seis meses.

— E o que você vai fazer com o presente? – Ele me perguntou e me abraçou, e mesmo do outro lado da rua, pudemos ouvir o xingo do meu pai.

— Primeiramente tirar do alcance das vistas do meu pai, depois eu penso.

— Poderia guardá-lo. – Sean tentou.

— É brincar com a sorte? – Respondi e vi meu pai gesticulando do outro lado, um claro sinal para que eu entrasse.

— Acho que tivemos dois Grinchs nesse ano, Elena e Papai. E pensar que tudo o que nós demos para ela foi um rolo de plástico bolha... deveria ter dado algo constrangedor, assim o pai dela estaria igual a um touro bravo no pescoço dela nesse exato momento. – Falei.

Sean foi comigo até a porta de casa, um movimento arriscado, tendo em vista o humor assassino do meu pai.

— Você é suicida mesmo, hein?

— Liz, ele vai ter que se acostumar comigo. De um jeito ou de outro. – Falou baixinho.

Pude ouvir a minha mãe falando para papai se acalmar que ele não seria vovô nem tão cedo, e que ela tinha certeza de que, eu até poderia ficar noiva antes de sair da faculdade, mas não me casaria tão cedo.

— Pare de tão dramático, Jethro. Você pediu Shannon em casamento e você nem tinha 25 anos!! E não me olhe com essa cara de ultraje, eu sei fazer contas, e vi as fotos que Lizzy te deu. Por que ficar julgando o que o seu genro está fazendo?

— Pelo menos você tem uma advogada de defesa e tanto. – Brinquei.

— Agradeça a sua mãe por mim, Liz.

— Vou fazer isso. – Me despedi dele. – Ah! - Disse antes que entrasse. – Então eu estou sem presente?

Sean me olhou injuriado e depois deu dois passos para trás e abriu os braços.

— Claro que não, eu sou o seu presente.

— SÓ SE FOR MORTO! – Meu pai gritou de dentro da casa.

— Seu suicida! Agora vai... ou ele sai de novo! – Falei rindo.

Entrei em casa com duas certezas, meu pai sempre seria o maior ciumento que eu conheço e, de alguma forma, eu sabia, um pedido de casamento estava muito mais perto do que eu poderia sonhar.

Porém, antes que eu pudesse pensar em como começar a contar a história do gato que subiu no telhado para o meu pai ir se acostumando com a ideia de que eu ficaria noiva antes mesmo dos vinte e um anos de idade, eu tinha que dar um jeito no Grinch que estava andando de um lado para outro na sala.

 - Eu deveria.... – Ele começou me olhando.

— Deveria mudar esse humor, Jethro, é Natal no fim das contas e ninguém vai morrer hoje.

— Jen...

— E sabe qual seria o melhor presente que você poderia dar para a sua filha? – Minha mãe não estava deixando meu pai terminar uma frase.

— Não faço ideia.

— Falar que, no fundo, bem no fundo, você bem que gosta do Marine que mora do outro lado da rua.

— Eu nunca vou admitir isso.

— Já admitiu. – Ela deu um sorriso vitorioso. – Agora, Liz, me diga só uma coisa, como você vai retribuir o presente de Elena?

— Isso é um presente? – Papai pegou o body e ficou olhando para a coisinha.

— Eu já dei o presente dela.

— Você também fez isso com ela?! – Papai estava começando a voltar na cor normal.

— Não... eu dei um rolo de plástico bolha... para ver se assim ela dá um pouco de paz para os pais dela.

Minha mãe começou a rir.

— Vocês duas tem a amizade mais estranha que já vi.

— É lógico que nossa amizade seria estranha, mamãe, começamos quase nos matando aos oito anos de idade, e não temos famílias normais... nada poderia ser normal por aqui! – Me arrisquei a sentar ao lado de papai, que ainda me olhava meio torto, mas passou o braço pelos meus ombros e quando mamãe saiu da sala para encher a caneca de café de novo, ele soltou.

— Eu posso estar aposentado, Liz, mas ainda sou novo demais para ser avô!

Comecei a rir.

— Acho que a frase certa aqui seria: Eu sou nova demais para ser mãe, papai! Porém, fique tranquilo, isso não vai acontecer tão cedo.

— Assim espero. E sobre a Elena...

— O que tem aquela amiga da onça que quase acabou com o nosso Natal?

— Como você está planejando a vingança?

Abri um sorriso.

— Ainda não sei... mas o senhor quer unir forças comigo e com Sean para deixar “A Herdeira do FBI” muito, mas muito encrencada?

Papai não respondeu, mas pelo sorriso que ele me deu, eu sabia que ele me ajudaria, agora eu só precisava de um plano infalível e da oportunidade perfeita!

Pensando nisso, mandei uma mensagem para Elena, como diz aquele velho ditado, “guerra avisada não mata ninguém”.  

Você acha que isso vai ficar assim? Mas não vai mesmo, quando ou se, eu conseguir acalmar o meu pai, você vai ouvir poucas e boas!! E não há plástico bolha que te proteja de mim, Elena!

Agora era preparar para a vingança, uma vingança tripla! Mas hoje era dia de aproveitar minha família e anotar mais uma daquelas cenas que, com certeza, seriam eternizadas daqui a alguns (muitos) anos..., afinal, é Natal, é época de se estar em paz e, praticar o amor ao próximo.

Até porque, o ano que vem, é logo ali e vingança é um prato que se come frio!

 

[1] Não, “Killing With Kindness 3” não existe, é um jogo mencionado no episódio 9 da 17ª temporada de NCIS.


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Notas finais do capítulo

Me desculpem o tamanho, não teve como reduzir
Só mesmo um plástico bolha para proteger Elena de ser tão desastrada, tadinha. E eu ainda acho que Hotch vai ter que entrar no Rivotril antes que seja tarde demais...
Estou aceitando sugestões para o nome da filinha de Lara e Jack!
Sim, Gibbs está aposentado agora... a MCRT pertence à Tony... que Deus ajude o NCIS!
Elena brincou com a sorte hoje e vai pagar... está encrencada em níveis estratosféricos a Herdeira do NCIS.
O presente de Gibbs, para quem não pegou a referência, é um veleiro dentro de uma garrafa, um pequeno spoiler do episódio 400 de NCIS, que eu recomendo e muito que vocês vejam, já tem legendado na internet!
Muito obrigada a você que leu, se quiser, deixe o seu comentário!
Sei que é cedo mas não sei se mais alguém aqui acompanha a minha outra fic, então, um Feliz Natal e um excelente 2021 para você!! Que o seu ano novo seja muito melhor do que esse!
P.S.: Para quem acompanha Carta Para Você, hoje não vai ter capítulo, porque não tive como revisá-lo... essa brincadeira aqui deu 100 páginas e eu estou até vesga de olhar para tela e tentar achar algum erro!
Até qualquer dia!!
xoxo



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