Um Feliz e Encrencado Natal escrita por Carol McGarrett


Capítulo 2
Às Compras


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo ficou dividido em quatro partes, porque, como não é novidade para quem lê as minhas histórias eu exagerei!!
Boa leitura!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/797794/chapter/2

2.1. Elena

— Como é possível que esteja nevando mais do que ontem e anteontem?? – Gritei assim que levantei da cama. – Só pode ser brincadeira! – Murmurei e me enfiei em mais uma blusa só por precaução.

Desci a escada com a cara fechada e olhando a previsão do tempo para todo o dia, além das compras que eu teria que fazer, Chris estava para chegar, se tudo desse certo, o voo dele chegaria no meio da tarde.

— Bom dia, dorminhoca! – Mamãe me saudou assim que me viu. – Tem feito frio nessa terra... – Comentou o excesso de blusas que eu usava.

— E como tem... – Falei. – Bom dia para a senhora! E aí, sonhou com a netinha? – Brinquei enquanto enchia uma xícara com café e muito açúcar.

Ela começou a rir.

— Não, Elena, não sonhei com criança nenhuma. – Me respondeu rindo e depois encarou a minha escolha de bebida. – Acho que temos uma convertida...

— Pois é... foi a única coisa que conseguiu me deixar acordada para as provas finais. E, depois de várias garrafas para virar a noite estudando, eis me aqui, mais uma rendida ao gostinho do café!

— Eu ainda acho que aí tem mais açúcar do que café! – Papai falou às minhas costas.

— Bom dia, papai! – O abracei e depois prestei atenção na escolha de roupa dele. – Tá vendo, eu não estou tão exagerada assim! Olha o sobretudo que papai pegou! Tá frio pra caramba! – Falei para mamãe que só balançou descrente a cabeça.

— Quais os planos de hoje? – Ela mudou de assunto enquanto papai a cumprimentava.

— Bem... de tarde eu vou às compras com Liz.

— E vai usar o pobre do namorado da ruiva como escravo. – Papai completou o raciocínio.

— Isso também. – Pisquei para ele.

Mamãe riu.

— Liz está domesticando o namorado dela direitinho, aqueles dois não vão demorar a se casarem...

Eu quase me engasguei com o café que tomava, pois me lembrei da aliança que ele tinha dado a Liz.

— Bem... Liz me disse que já tem até aposta rolando no grupamento do Sean... mas ela não quer nem pensar em casamento...

— Vai mudar de ideia. Mas voltando às compras, você fez uma lista do que vai precisar?

— Sim, está no meu celular. Alguns presentes eu comprei pela internet e só vou buscar mesmo. Outros ainda vou ter que andar um pouquinho, espero que Liz possa me dar uma ajuda em alguns.

— Certo. E quanto isso vai me custar? – Papai falou por trás do jornal.

Fiz cara de inocente e dei de ombros.

— Bem... pai, vou comprar presentes para todos... barato não vai ficar...

Ele bufou, agora eu não saberia dizer se era por conta do que eu havia dito ou se era por algo que ele havia lido.

Olhei para a minha mãe que fez um sinal para deixar para lá.

— E vocês, vão conseguir chegar mais cedo?

— Tudo depende do que está para aparecer e como eu não quero zicar o dia, não vou fazer nenhuma previsão.

— Justo. Precisam que eu compre algo específico? Já que vou estar no centro e com motorista, posso passar em qualquer lugar! – Falei ao me levantar e tirar a mesa do café. – Pode deixar que arrumo, estou com a manhã livre.

— Não, filha. Não precisamos de nada. – Papai me respondeu.

— Querem que eu leve o almoço de vocês?

Os dois se olharam.

— Não... vamos evitar um combo: você, cozinha, carro e neve!

— Tudo bem... então eu vou dar uma limpada na casa e depois decorar a árvore e a casa.

— Por favor, filha, sem idas ao Pronto Atendimento. – Papai me falou ao dar um beijo na minha testa e sair pela porta. Mamãe parou e me olhou com uma sobrancelha levantada.

— Você disse que Sean vai levar você e Liz para as compras.

— Sim. – Confirmei.

— E o Chris? Onde ele vai estar?

— Ah!! Ele chega hoje de tarde, lá pelas três horas se toda essa neve deixar. Deve nos encontrar onde quer que estejamos. Muito provavelmente irá me trazer para casa, já que o pai dele ia deixar o carro dele no aeroporto ou coisa assim.

— Vocês quatro, soltos no centro de D.C.?

Eu tentei não rir, mas não teve jeito.

— Eu vou sobreviver, mamãe.

— Estou mais preocupada com as pessoas ao redor de vocês. Melhor pedir para a Garcia ficar de olho em você.

— Credo mãe! Até parece que somos um bando de pessoas vindas da Idade da Pedra!

— Precaução nunca é demais, filha. E, por favor, tome cuidado.

— Aqui ou na rua?

Ela olhou para a sala de estar e depois para mim.

— Nos dois lugares, nós duas sabemos que ser desastrada é o seu charme! – Me deu um beijo na testa e se foi.

Me vi parada no meio da sala enorme e de frente para a árvore que não tinha um mísero enfeite, aliás, papai nem tinha tirado a etiqueta de preço da pobrezinha.

— Então vamos lá! – Falei e comecei a reorganizar os móveis para que ficasse mais espaçoso para os presentes e para as pessoas que viriam.

Só a organização dos móveis, me tomou quase uma hora, a parte boa, me esquentei e consegui me livrar de um moletom. Agora a parte dois: buscar os enfeites e distribuí-los pela casa. Logicamente enfeitar telhado estava fora da minha alçada por duas questões: primeira, eu sou um imã para acidentes e não quero arriscar quebrar a cabeça subindo em uma escada e escorregando do telhado; segundo vamos evitar a altura de todas as formas....

Assim, rumei para o sótão atrás das caixas onde os enfeites estavam, só para abrir a porta para que a escada descesse eu levei um tempão, as (des)vantagens de ser baixinha. Lá em cima, depois de uma crise de espirro, achei as caixas.

— Meu Deus! Tem quanto tempo que alguém não limpa esse lugar?! – Olhei para a camada de poeira que cobria as caixas e me arrependi de ter tido essa ideia absurda, tenho certeza de que minha rinite vai me atacar.

Depois de tomar dois tombos na escada, consegui descer com as decorações natalinas para a sala, espalhei tudo no chão e comecei a selecionar o que ia para a árvore, o que ia para a varanda, o que ia para o jardim e o que eu ia colocar na escada...

Três horas e meia depois, alguns tombos, dois dedos cortados com as luzinhas da árvore, um pequeno galo na cabeça – bati a cabeça em um dos galhos da árvore e isso me empurrou para trás e acabei batendo a parte de trás da cabeça na parede... – A árvore estava pronta.

Passei para a varanda e lá, graças à Deus, nada de ruim aconteceu, e fui até rápida, já que estava um frio de rachar, o mesmo com as árvores do jardim, já que eu não queria ser o Olaf do lugar!

Peguei as luzinhas assassinas e cortadoras de dedos e a enrolei no corrimão da escada. Conseguindo a proeza de tropeçar no fio e quase rolar por três degraus..., mas eu não caí – ALELUIA!! o/o/o/o/o/! Com tudo no lugar, acendi toda a casa de uma única vez, e não, nada pegou fogo! Esse devia ser o meu dia de sorte!

Estava admirando o meu trabalho de quase uma manhã inteira quando o meu celular tocou. Era uma mensagem.

Dentro de uma hora estou passando aí. Esteja pronta.— Era Liz.

Olhei a sujeira que todo aquele glitter e galhos de árvores e fitas tinham feito no chão, em uma hora eu tinha que limpar tudo aquilo e ainda me arrumar.

Vai ser apertado.

Catei a vassoura para juntar a sujeira mais grossa, varri toda a casa, dá para acreditar que tinha glitter até no quarto dos meus pais?! Como essa coisa voou até lá é um mistério para mim! Depois peguei o aspirador de pó para garantir que nada ficasse para trás, um paninho no chão e tudo estava um brinco e eu ainda tinha vinte e cinco minutos.

Corri para me arrumar e escolhi as roupas mais quentes que tinha, eu teria que andar ao ar livre, não queria arriscar virar um picolé!

Quando acabei de passar o hidratante nos lábios, escuto uma buzina.

Que a festa comece!

—--------------------------      

2.2 - Elizabeth

Acordei com o batuque dos saltos da minha mãe subindo e descendo a escada. Me estiquei toda para achar o meu celular, tenho certeza de que ele caiu na minha cara noite passada, afinal, eu me lembro de estar alternando entre conversar com Sean e ver as notas da faculdade e o grupo da sala - onde eu dou uma de Leroy Jethro Gibbs, só observo as tretas e não falo nada, - só que eu não me lembro de ter me despedido de Sean... de ter feito log out no site da faculdade ou de ter colocado o celular no criado. Assim, aquela coisinha estava em algum lugar no meio da minha cama...

Vasculhei tudo e não achei nada, olhei no chão e ele não estava lá. Assim, sacudi as cobertas e...

— AI!!! – Claro que o bendito ia voar bem na minha testa.

— Que foi Liz? – Papai gritou do outro lado da porta.

— Nada... só o celular que caiu na minha cabeça. – Falei. – Bom dia! – Aproveitei a oportunidade para ver as horas. Eram 6:30 da manhã. Estiquei a cabeça para ver pela frestinha da cortina e o dia estava branco. E nem adiantava querer voltar para a cama, papai já tinha ouvido o meu grito e logo mamãe....

— Liz, bom dia, filha! Você vai enfeitar a casa agora de manhã?

Eu ia dizer que logo mamãe iria se materializar no meu quarto para me arrastar para fora, mas nem precisou, ela já estava lá dentro e toda trabalhada na elegância.

— Bom dia, mamãe! Sim, eu vou começar a enfeitar a casa.

— Sean vai enfeitar o telhado? O seu pai falou algo assim.

— Bem... não falei nada para ele, mas se ele me ver lá fora, é bem capaz que queira ajudar... – Fui sincera.

— Bem, então pula para fora dessa cama e vamos tomar café, você tem um dia cheio. – Ela falou e saiu puxando as minhas cobertas.

— Tá bom.

Quinze minutos depois, me sentei à mesa com meus pais, ainda estava com sono, mas não reclamaria, Natal é só uma vez por ano e nem é todo ano que somos os anfitriões.

— Por acaso você ainda estava dormindo quando escolheu a roupa? – Mamãe me perguntou.

Dei uma olhada para o que estava vestindo. Calça de ginástica e o moletom do papai...

— Eu estou de férias... vou ficar rodando dentro de casa igual a uma barata tonta a manhã inteira, mamãe... – Me defendi.

Ela deu uma risada.

— Tudo bem. Vai sair que horas?

— Quando terminar tudo por aqui, pois se caso falte algo, eu posso comprar de uma vez e não terei que voltar no centro amanhã.

— Inteligente. E quanto isso vai me custar?

Papai se ajeitou na cadeira, cruzando os braços sobre o peito e encarou minha mãe.

— Não faço ideia, de verdade.

Claro que ela não gostou da resposta.

— Mas pense pelo lado positivo. – Desviei o assunto. - O seu presente vai cair no cartão do papai! – Abracei meu pai, que não gostou nadinha da notícia.

— Quando eu começar a trabalhar, os presentes de vocês sairão do meu bolso, e eu prometo recompensá-los. – Jurei.

— Só quero ver. – Papai murmurou. – Vai precisar de mim?

— Uhn... ajuda é sempre bem-vinda. Mas o senhor já... – Foi quando olhei para o canto da sala e vi uma árvore ali.

— Desde quando aquela árvore está ali? – Perguntei confusa, podia jurar que ontem ela não estava ali.

— Fiz seu pai me levar cedo para buscá-la, menos uma coisa para você!

Se os saltos de mamãe me acordaram às 6:30... e isso já é cedo, que horas eles se levantaram para comprar essa árvore?

— É melhor nem perguntar. – Papai sussurrou para mim quando mamãe se levantou da mesa e foi deixar a caneca dela na pia da cozinha.

— Pode deixar que eu lavo! – Falei.

— Temos que pará-la, mamãe está sem controle! – Falei assustada.

— Depois do ano-novo passa. – Ele me respondeu e nós dois acompanhamos os passos apressados dela no andar de cima.

— O senhor tem certeza? Eu nunca vi a mamãe se levantar tão cedo por conta de uma árvore!!

— Está tudo bem aí embaixo? – O assunto da conversa perguntou do alto da escada.

— Sim. – Respondemos.

— E por que tão quietos?

— Não são sete da manhã, mamãe! Dá um desconto, meus Divertidamente estão em coma!

Ela pareceu satisfeita e voltou para terminar de se arrumar.

— E o senhor, vai fazer o que hoje?

— Garantir que a sua mãe não escravize mais ninguém para amanhã à noite.

— Quando é o seu último dia no NCIS?

— Amanhã.

— Teremos comemoração em dobro, então?

E algo clicou na minha cabeça! A agitação de mamãe não era por conta do Natal aqui em casa, era porque ela estava aprontando alguma coisa como despedida de papai do NCIS.

Como uma boa filha resolvi não falar nada e deixar que os dois que se entendessem pra lá.

Ouvimos o clicar dos saltos dela na escada e papai logo se levantou, como foi o costume nos últimos doze anos, ele sempre a levava para o trabalho na última semana do ano. Nunca entendi a tradição, mas sempre achei fofo. Esse era o primeiro ano em que eu não estava dentro do carro com eles...

— E nada de esgueirar o Marine Suicida para dentro de casa, hein? – Papai me alertou.

— Não vou... vamos sair só de tarde, mas não vou negar ajuda se ele se oferecer.

— Ele no telhado e você aqui embaixo.

— Pode deixar! Tenham um excelente dia no trabalho!! Vejo vocês à noite. Querem que eu traga o jantar?

— Ótima ideia! – Mamãe me respondeu, me deu um abraço e saiu.

Fiquei sozinha em casa, mas não demorei para começar a organizar tudo, papai, ou talvez, foi a agitada da minha mãe mesmo, já tinha deixado as caixas com as decorações no chão da sala, eu só tinha que separá-las e distribui-las pela casa.

Terminei a árvore, parti para decorar a sala e nem a lareira escapou, enquanto eu ia enfeitando tudo o que aparecia na minha frente, ia cantando e dançando e lógico quase morri de susto quando Noemi apareceu no meu campo de visão... na verdade eu quase que coloquei um chapéu de Papai Noel na cabeça dela sem ver que era ela ali!  

 - Noemi!!! Bom dia! – Eu a abracei e depois realmente coloquei o chapeuzinho na cabeça dela.

— Buenos días, Liza! Y ¡muchas gracias!

— E, então... o que achou da nossa sala?

Noemi deu uma volta por toda a sala e depois abriu um sorriso.

— Você e sua mãe tem o mesmo dom para decoração. – Me falou com seu forte sotaque. – Ficou muito bom, agora só faltam os presentes.

— Isso eu vou resolver de tarde! Mas ainda falta isso aqui. – Apontei para a caixa cheia de luzinhas.

— Vai colocar em volta da casa?

— Esse é o plano!

Noemi fez uma careta.

— Só não caia do telhado, Liza. Seu pai iria parar no hospital se algo te acontecesse.

— E eu não sei? – Peguei a vassoura e comecei a limpar a sujeira que ficou na sala.

— Isso é minha obrigação.

— Nossa. A casa é grande e ainda está muito cedo, não são nem nove horas! Vamos dividir isso aqui e em um piscar de olhos tudo estará arrumado e eu vou lá para fora brincar de enfeitar. – Pisquei para ela e começamos a arrumar a casa.

Foi mais rápido do que previ e logo me vi obrigada a abrir a garagem, puxar aquela enorme escada de lá e apoiá-la na lateral da casa.

— Bem... – Murmurei encarando as luzinhas.

— Melhor desembolar primeiro. – Noemi veio me ajudar.

— Noemi, eu tenho treinamento Jedi para desembolar isso! – Brinquei e vi que ela não entendeu muito bem e resolvi me explicar. – Eu desembolo os fios dos meus carregadores e o do meu fone de ouvido todo santo dia e mais de uma vez por dia, isso aqui vai ser moleza!

Só que desembolar um fio que mal tem um metro de comprimento é uma coisa... desembolar luzinhas que tem mais de quinze é outra... e eu levei um tempão, sentada na porta de casa, desembolando aquilo.

— Acabou? – Perguntei para Noemi com medo de aparecer mais um fio de 100 km de extensão.

— Acho que sim, vai precisar de ajuda?

— Acho que dou conta. – Falei e olhei para cima. – E Noemi?

Ela se virou na minha direção.

— Se eu cair, do chão eu não passo! – Brinquei, peguei o grampeador gigante de madeira que meu pai tinha, ajeitei na bolsa que carregava e subi na escada.

Confesso que lá de cima deu um medinho de cair, mas fingi não me importar e me sentei na beirada do telhado para começar a parte final da decoração.

— Devagar e sempre.... – Falei quando coloquei o primeiro metro e comecei a me questionar se aquilo era estritamente necessário.

E lá ia eu, grampeando o fio no lugar e puxando as luzinhas devagar para não as quebrar, cantando o refrão da música que ouvia, até que....

— Não sabia que você era parente do Tarzan!

Eu levei um susto daqueles e quase que meu namorado tem a testa grampeada! Ainda bem que ele tem reflexos rápidos, porque o meu único reflexo foi soltar o grampeador de madeira e me segurar para não me esborrachar no chão igual a jaca!

— Quer que eu caia daqui? – Sibilei enquanto ainda tentava me equilibrar propriamente entre o degrau da escada e o telhado.

Sean me encarou.

— Se você caísse eu te pegava.

— Tá bom... vou fingir que acredito. Sou um tanto mais pesada do que esse grampeador aí. – Resmunguei e voltei a minha atenção para o que estava fazendo.

— Não vai querer ajuda?

— Já tô quase terminando.

— Não é o que parece. – Meu lindo namorado deu um passo para trás e ficou observando a casa, mas eu tinha a nítida impressão de que ele mais me olhava do que olhava para o que já estava enfeitado.

— Desde quando você é o senhor entendido em decorações de Natal? – Cruzei os braços e olhei para baixo.

— Desde que eu sei que você vai precisar disso! – Ele mostrou o grampeador. – E, tem mais uma coisa.

Juro que fiquei com medo de perguntar, ele tem o dom de, sempre que eu pergunto algo que ele deveria falar, vir com uma desculpa esfarrapada de que, como ele me respondeu, eu lhe devia algo em troca.

— Eu não tenho o dia todo. Vai falar ou vai ficar aí embaixo me secando?

Ele abriu aquele sorriso lindo que quase sempre me deixava toda mole e começou a subir a escada. Assim que chegou na mesma altura onde eu estava, me estendeu o grampeador, mas não o soltou.

— Você me deve.

— Eu te devo o que? – Confesso que ficar muito perto dele me deixava sem ar, e isso não era lá uma coisa muito boa quando se está no alto de uma escada.

— Talvez a sua liberdade por todo o feriado, ou pelo final de semana.

— É mesmo? E por quê?

E Sean só levantou o grampeador mais alto.

— Seu pai não iria ficar nada contente se isso aqui quebrasse, por sua culpa.

— Minha culpa?! Foi você quem me assustou!!

— Eu não te assustei, Elizabeth. Você que é distraída demais para não ter me notado lá embaixo. Estava parado ali a quase dez minutos, esperando que você olhasse, mas acho que a música é mais interessante do que eu.

— Eu vou fingir que você não falou que ficou por quase dez minutos me olhando... isso é estranho de um nível absurdamente preocupante. - Contra-ataquei.

Ele só tombou a cabeça. E eu tive que sacudir a minha para voltar à realidade.

— Agora dá uma licencinha que eu tenho que terminar isso daqui antes do almoço, se eu quiser fazer as compras de Natal ainda hoje.

Ele desceu um degrau, mas, mesmo assim, ficou por lá, meio que me apoiando para não cair, bem, essa seria a desculpa perfeita caso papai aparecesse do nada na porta de casa, é claro.

— A Elena ainda vai? – Quis saber.

— Sim.

— Isso só pode ser castigo.

— Você falou isso ontem e eu continuo falando que não. Poxa, Sean, sei que ela é doida, tem sérios problemas de coordenação, mas é a minha melhor amiga! Não sei se você sabe, mas andar com seguranças e ter uma família onde tem pessoas que são completamente loucas não é lá um bom cartão de visitas... assim, não consegui ter muitos amigos na escola.

— Porque você é uma nerd.

— Isso também. – Respondi com um muxoxo. – Mas o fato de que a Elena também tinha que andar com seguranças e tem uma família bem peculiar... acabou nos unindo, assim as duas garotas apelidadas de aberração no Ensino Fundamental acabaram virando amigas.

— Isso depois que vocês duas deram um show em um concurso de soletrar...

— Quem te contou essa?

— A Garcia, no aniversário da Elena em que fomos no ano passado. Mas ela não entrou em detalhes.

— E não me peça... foi uma confusão só... até hoje me pergunto como meu pai e o Sr. Hotchner não se mataram naquela época e hoje conversam como velhos amigos... – Tagarelei. – Agora dá licença que tenho que enfeitar a lateral.

Ele me ajudou a descer e depois não me deixou escalar mais a lateral para terminar o trabalho.

— Eu grampeio e você vai ajeitando as luzes. Será mais rápido. – Informou.

— Tem certeza?

— Lizzie, você leva o triplo de tempo só para mirar o grampeador no fio e não na sua mão... confie em mim, será mais rápido!

— Se você está dizendo... – Estiquei o fio e ele, sem nem olhar, grampeou de primeira. – Seu exibido! – Olhei descrente para a rapidez com a qual ele fazia uma tarefa que eu levava quase um minuto,

Com meia hora, toda a frente da casa tinha luzinhas e agora a nossa casa estava combinando do o restante da rua. Queria enfeitar a árvore que fica no passeio, mas eu não tinha nem luzinhas, nem extensão que chegasse até ali.

— Muito obrigada! – Agradeci a ajuda bem-vinda de Sean.

— Tem um preço.

— Lá vem você! – Reclamei e ele me roubou um beijo, bem na hora em que Noemi saía para me avisar que o almoço estava pronto. – Vai almoçar aqui, ou Dona Pam exige a sua presença?

— Dona Pam, também conhecida como Sua Sogra que está reclamando que você nunca mais almoçou com ela desde o Halloween, quer a minha companhia, eu só saí porque achei que você estava prestes a se matar dependurada nesse telhado. Então resolvi que salvaria a sua vida.

— Vou fingir que acredito em você, pela segunda vez nesse dia... – Brinquei.

— Agora, falando sério. Que horas te pego?

— Daqui a uma hora e meia é muito tempo?

— Para que uma hora e meia para se arrumar e almoçar?

— Eu te mando mensagem quando estiver pronta, e só para constar, eu tô toda empoeirada! Não vou sair parecendo que caí dentro um sarcófago! – Dei um tapa no ombro dele. – Agora vai lá e almoça com a sua mãe... e diga a ela que eu vou almoçar aí antes de voltar para a Faculdade.

— Ela vai te cobrar isso. – Ele falou ao atravessar a rua. – E Lizzie?

Olhei para ele que já estava na porta da sua casa.

— O combustível é por sua conta!

— O seu ou o da pick up? – Cutuquei.

— Os dois! Como você quer que eu aguente uma tarde inteira andando atrás de você e de Elena sem tomar café?

Fiz uma careta na direção do Marine mais bobo que conheço, depois peguei as caixas das luzinhas e entrei em casa, agradecendo que o aquecedor estivesse funcionando, afinal, as pontas dos meus dedos estavam congeladas.

Uma hora e meia depois, mandava mensagem para Sean dizendo que estava pronta e outra para Elena dizendo que em menos de uma hora estaríamos lá.

— Você levou noventa minutos!! Como você conseguiu demorar tanto? – Sean falou assim que entrei na pick up dele.

— Para de reclamar, eu te falei que eu ia demorar.

Ele encarou a minha roupa.

— Jeans, bota, um suéter, um casaco e um cachecol não são tão difíceis de escolher e você nem está maquiada... Não era para demorar tanto.

E, mentalmente, eu concordei com a minha mãe. Homens definitivamente não entendem nada de moda e muito menos de como se vestir.

— Será que podemos ir? – Perguntei, ignorando completamente o falatório dele.

— Tem certeza de que não esqueceu nada?

Dei aquela conferida básica na minha bolsa – na verdade era uma das muitas bolsas da minha mãe, mas peguei emprestado com o consentimento dela.

— Sim, tudo aqui. Vamos pegar a Elena primeiro.

E meia hora depois paramos na porta da casa dos Hotchners, Sean, sem paciência para outro caso de demora crônica em se arrumar, apenas buzinou.

— Você sabe que depois que a sobrinha dela nascer, você jamais vai poder repetir esse ato abominável!!

Ato abominável?

— Sim, buzinar parece que você está chamando um cachorro! Por que não ligar, ou mandar uma mensagem dizendo que chegou e está do lado de fora esperando a pessoa?

Sean me encarou e eu o encarei de volta. Só desviamos o olhar quando Elena pulou no banco de trás.

— Nossa! Essa coisa é tão alta quanto a pick up do Tio D, quase que eu não dou conta de subir! – Entrou falando e depois fez uma careta e soltou: - Não tô interrompendo nenhuma DR importante, estou?

— Não, Elena, não está... eu só estou tentando ensinar boas maneiras para esse Marine aqui. – Dei um tapa na cabeça de Sean.

E a encarnação da Mortícia Adams deu uma risada.

— Vocês dois não batem bem não! – Falou. – Para onde primeiro?

— Vamos resolver os presentes da sua sobrinha, depois podemos olhar o restante com calma, o que acha?

— Vamos para lojas de bebês! Eu tô morrendo de curiosidade para ver a cara do pessoal quando vocês dois entrarem lá! – Elena começou a rir sem parar, e Sean me olhou com a sobrancelha levantada.

Definitivamente minha amiga tem problemas.

— Aqui, Elena, você, por acaso, bateu a cabeça muito forte caindo da escada quando era mais nova? – Sean perguntou enquanto ela ainda tentava recuperar o fôlego.

— Devo ter batido... Tio Spenc jura que tem uma fissura cicatrizada na minha radiografia da minha cabeça.

— E ele só viu uma fissura? Mais nada? – Questionei.

— Sim, só isso.

Foi a vez de Sean começar a rir.

— E o que foi agora? – Elena não gostou de não entender a piada, já que eu também estava rindo.

— Preste atenção no que você acabou de responder e no que perguntei.

Elena ficou pensando, e cada vez que ela demorava, Sean ria ainda mais.

— Eu boiei! Não me façam pensar muito... o meu final de semestre foi terrível!!

— Nem tem como você pensar muito agora, né? – Falei.

— Não, não tem. – Ela concordou comigo toda inocente. E eu tinha certeza de algo não estava certo com Elena, já que, normalmente, é ela quem faz as piadas e as entende mais rápido do que eu!

Comecei a gargalhar.

— Qual é, Lizzy, o que foi?

Eu não conseguia parar de rir. Foi Sean quem teve que explicar.

— Sua radiografia... só mostrou a fissura, você confirmou que foi SÓ A FISSURA.

— E se só tem a fissura na sua radiografia, isso significa que não tem mais nada, nem cérebro, assim você, logicamente, não poderia pensar nem hoje, nem no final do semestre.

Elena se encostou no banco e fechou a cara.

— Não teve graça... nenhuma. – Ela chutou o meu braço.

— Ah, teve sim e você sabe disso. – Falei esfregando o meu cotovelo onde o salto dela bateu.

— Não teve não.

— Mas tá igual a um bebê.... Morgan dá muito esses ataques. – Comentei.

Elena me ignorou pelo tempo em que levamos para chegar à loja de produtos infantis. Lá dentro, ela, precisando de uma opinião, não teve outra saída a não ser me perguntar qual dos dois vestidinhos ela levava.

— Acho melhor levar o que é para crianças de 12 meses, afinal, quando for verão de novo, a pequena já vai estar aí.

— Boa... não tinha pensado nisso. – Me respondeu e Sean deu uma risada. – E não comecem com isso de novo. – Lá foi ela chutar meu namorado na canela. Tive que tirar Sean de perto dela ou os dois iam acabar saindo no tapa, ou melhor, Elena ia sair batendo nele e acabar se machucando no processo.

Enquanto rodava a parte de enxoval feminino da loja, com Sean bem atrás de mim, procurando a coisinha mais fofa que poderia dar para a minha sobrinha emprestada, Elena apareceu toda feliz:

 - Lizzy! Sean! – Ela vinha sorridente e eu deveria ter previsto que dali não sairia nada de bom. - Eu achei o presentinho perfeito para o bebê de vocês! Olha que body perfeito!! – Ela falou alto e tentando controlar a risada.

Definitivamente o body era muito fofo, todo camuflado em tons clarinhos de verde, parecia uma mini farda, só que os dizeres em glitter, também verde, falavam o contrário.

Sou a Princesinha do Papai

Era o que estava escrito. E Elena o segurou bem alto e olhava para nós sugestivamente, junto com o olhar da Filha do Diretor do FBI, vinham outros vinte ou trinta – a loja estava lotada. – e cada pessoa que ouviu a primeira frase que saiu da boca de Elena me olhava espantada, tentado desvendar de quantos meses eu estava, ou seja, uma cena muito desagradável. E eu senti o meu rosto mudar para um tom de vermelho muito forte, algo que, para quem estava vendo a cena, só poderia indicar que estávamos ali porque eu estava esperando um bebê.

— Tá bom, Elena, já chega! – Sibilei tentando me esconder atrás de Sean para que os olhares curiosos deixassem de me perseguir.

— Eu não, como uma excelente tia que sou, vou dar dois presentes para minha afilhada. – Ela falava e encarava a nós dois, e depois olhava para a minha barrida como se houvesse realmente um serzinho crescendo ali.

— Elena para! – Tornei a falar. – Sim, você vai dar dois presentes para a sua afilhada, a filha do seu irmão! Agora vê se para de chamar a atenção para nós!

Elena parou e colocou a mão na cintura.

— Você pode estar toda envergonhada, mas o Marine aí. – Ela apontou o queixo na direção de Sean. – Acho que ele gostou do que ouviu, pois esse sorrisinho não me engana. Além do mais, eu já ouvi os boatos das apostas... sei que tem gente falando que vocês dois vão logo, logo se casarem... bebês são a sequência natural, ou seria consequência, do casamento! – Disse toda convicta.

— Você me paga por isso! – Falei e voltei minha atenção para os itens de enxoval.

Elena saiu rindo.

— Enquanto você fica no enxoval, eu vou olhar sapatinhos.

— Nem nasceu e essa bebê terá uma coleção de sapatos... – Sean comentou perto de mim.

Comecei a rir.

— Você está preocupado com a Elena ser a tia descontrolada dos sapatos? Sean, não se esqueça que essa bebê vai ter como tia Penélope Garcia, a Oráculo do FBI, a hacker mais estilosa do mundo, Elena não é páreo para a fúria de compras que PG é, acredite em mim.

Nós dois olhamos para onde Elena estava, andando de um lado para o outro, com várias caixinhas de sapatos nas mãos.

— Daqui a pouco ela cai. – Sean falou.

— Então vá lá, seja um gentleman, e a ajude com tudo aquilo, antes que ela derrube alguma estante da loja. – Falei quando Elena se desequilibrou e esbarrou em uma pilha de fraldas.

— Acho melhor fingir que a gente nunca viu pessoa tão estabanada! – Ele falou fazendo uma careta enquanto Elena encarava a pilha de fraldas para ver se mais nenhuma iria cair.

— Como você quiser. Então, rosa ou lilás? – Mostrei as duas mantas que estavam nas minhas mãos.

Ele fez uma cara de dúvida, como se rosa e lilás fossem a mesma cor para ele.

— Deixa pra lá... vou levar a rosa mesmo, combina com esse kit de berço aqui!

— Nem sabia que isso existia. – Ele comentou.

— Nem eu, mas achei bonitinho, é de nuvenzinhas! Cinzas, rosas e brancas!!!! – Falei sorrindo.

— Vai levar mais alguma coisa, um sapato, talvez? – Me provocou.

— Não. Isso está bom tamanho. – Respondi e fomos para o caixa. – Onde está Elena?

Ele, sendo mais alto do que eu, só precisou esticar o pescoço.

— Na área destinada aos bichinhos de pelúcia. Se ela for levar tudo aquilo que está perto dela, Elena vai falir o pai dela.

Passei os presentes e estava esperando embrulhá-los quando Elena, e sua compulsão por compras, chegou no caixa.

— Sean, ainda bem que você tem uma pick up... assim tudo isso vai caber na caçamba.

Sean só concordou e murmurou no meu ouvido.

— Imagina quando for o bebê dela!

— Chris vai estar perdido!

— Alguém tem que avisar para ele. – Meu namorado estava, para dizer o mínimo, assustado com o tanto que Elena tinha comprado.

— Acho que ele já sabe, ou pelo menos já deve ter uma noção. Mas, como se trata da Elena, creio que quando ela estiver grávida, ninguém vai deixá-la sair de casa, se ela não tem equilíbrio nenhum estando magrinha assim, imagina carregando uma bola de pilates na barriga? – Falei e peguei os meus dois embrulhos, agradecendo a atendente e desejando a ela e a sua família, excelentes festas.

—  Seanzinho do meu coração, esses embrulhos são para você carregar! – Elena brincou e mostrou todas as compras.

Sean olhou para ela e depois para mim.

— Eu tô de boa aqui.... pode ir lá e ajudar a tia louca.

Foi o que ele fez, na verdade, Elena não carregou nenhuma sacola, foi toda linda desfilando (na verdade patinando) pelo estacionamento enquanto Sean e eu carregávamos as compras dela.

— Dá pra abrir logo as partas? Eu tô congelando aqui!

— Eu até abriria, mas estou com as mãos ocupadas, Elena.

E minha amiga apenas bufou.

Depois de por tudo na caçamba, e olha que era coisa pra caramba, fomos para o shopping, onde eu esperava achar tudo o que precisava.

— Eu comprei algumas coisas online... – Elena falou. – Então mais da metade é só passar nas lojas e pegar.

Sean faltou pouco jogar as mãos para cima e cantar Aleluia!

— Eu comprei alguns online também, mesmo esquema, mas outros... eu vou ter que entrar nas lojas.

Quantas lojas? — Era perceptível o desespero na voz do meu namorado.

— Então, Sean. Tá vendo a cafeteria ali. Eu pago a conta. Me espere aqui que eu já volto. – Dei um beijo nele e saí arrastando Elena comigo.

Rodamos boa parte do lugar, pegando os presentes que já tínhamos comprado e Elena reclamava no meu ouvido.

— Achei que você ter trazido o seu namorado significava que nós não teríamos que carregar as sacolas!

— Calma aê! Ele é meu namorado! Cadê o seu para carregar as suas sacolas?

— Deve estar chegando. – Ela falou.

— E eu não queria que ele viesse, porque eu tenho que pegar o presente dele e não quero ele veja.

— E o que você decidiu? Pela faca mesmo?

— Nada... isso a Corporação dá para ele. Mas isso... – Apontei para a loja. – Não dão e eu sei que ele adora tocar violão, e que o Rick, acabou pisando no velho vilão dele.

— Boa ideia, mas ele vai ver o formato da caixa.

— Elena, e você, como uma boa amiga, vai falar que é o presente do Chris! Acorda!

— Bem, então a caixa do PS5 que está aqui, é o seu presente par ao Sean. – Ela falou e trocamos os embrulhos.

— Sem problemas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Elena é folgada, né? Além de não ter noção nenhuma!!
Já chegando com a última (e gigante) parte desse conto de Natal às avessas!
Muito obrigada a você que leu!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um Feliz e Encrencado Natal" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.