Rose-Colored Boy escrita por Atlanta Claremont


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Amiga espero que goste :)



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Essa parte eu chamo de desastre

Já começo jurando que fiz tudo que podia para ser uma boa filha e me manter distante, desde que meu pai pediu para que não me aproximasse de Scorpius Malfoy, naquele primeiro dia de embarque a Hogwarts.

Supere-o, ele pediu. E é claro que eu faria qualquer coisa pela aprovação dele, isso incluía tornar-me a melhor aluna da escola, presidente do clube de poções, monitora e jogadora de quadribol. Como eu conseguia fazer tudo isso sem surtar? Olha, sinceramente, não tenho a mínima ideia, mas confesso que estava à beira de um colapso. E o pior, é que todo meu empenho em manter-me o mais afastada possível do filhote de doninha todos esses anos pareciam estar indo para o ralo, isso graças ao professor Longbotton e seu bendito evento de natal.

Primeiro, vocês precisam saber que o natal em Hogwarts sempre foi algo simples, nó só enfeitávamos a escola para os alunos que não iam para casa, eles tinham um farto banquete na véspera e pronto. A decoração ficava a cargo dos monitores, nada muito trabalhoso ou que tomasse muito do nosso tempo. Mas não esse ano, dessa vez Alice teve a brilhante ideia de fazermos um show de talentos seguido de um baile antes de todos os alunos irem para suas casas, e como esperado, o professor e vice-diretor Longbotton, que por acaso também é o pai dela, acatou.

— Aposto que ela teve essa ideia só pra poder passar mais tempo agarradinha com James - comentou Lucy ressentida, enquanto seguíamos em direção a sala de reunião.

— Você sabe que precisa superar isso né?- digo a ela pela milésima vez só nesse ano. Aquilo já estava me cansando, Lucy era apaixonada por James desde sempre, mas definitivamente não ia acontecer.

— Eu já superei Rose, você sabe. Mas eles dois juntos.... só é meio ridículo, eu acho - ela respondeu cruzando os braços desdenhosamente.

Não existia absolutamente nada de ridículo em James e Alice juntos, eles eram perfeitos um para outro, lideres, influentes e populares. Mas eu é que não ia dizer isso e deixar Lucy ainda mais chateada, só Merlin sabe o que eu tenho que aturar quando ela fica mal humorada.

Quando chegamos na sala de reunião dos monitores vou direto pegar uns sanduíches que ficam a disposição em cima de uma mesa com vários lanches, em Hogwarts sempre tem comida e eu estava morrendo de fome. Não havia tido tempo de almoçar e já era quatro horas da tarde, depois da reunião ainda teria treino de quadribol.

" É agora ou nunca", pensei enquanto atacava um sanduíche de presunto quando ouvi uma voz familiar:

— Amor - era Lorcan, meu namorado que veio sorrindo na minha direção – por que você não pega o pão integral? - sugeriu substituindo meu sanduiche por outro que ele havia escolhido tão rápido quanto o balaço que eu queria jogar na cabeça dele. Quis morrer naquele instante. Como assim sanduiche integral? Lorcan vivia fazendo comentários depreciativos sobre a minha aparência, querendo controlar minhas roupas, meu cabelo, maquiagem... Agora resolveu controlar o que ia comer também.

Minha indignação deve ter ficado muito aparente, pois em questão de segundos ele me deu um beijo dizendo:

— Só estou preocupado com a saúde do meu amor.

'' Com certeza que está seu idiota'', pensei. Mas acabei falando:

— É claro que sim - com o meu melhor sorriso falso que poderia dar.

Por Morgana, que ódio! Por que eu namoro esse menino mesmo? Sei lá, mas vocês precisam entender que nem sempre foi assim, nos conhecemos desde sempre, ele foi o único garoto que já beijei, e duvido que ele já tenha beijado alguma outra garota também. Mas atualmente meu relacionamento com Lorcan estava parecido com aqueles chicletes que perdem o sabor, mas mesmo assim você ainda continua mascando e mascando até sentir a boca doer. Enfim, tentei afastar esses pensamentos que andavam me assombrando já havia um tempo e foquei na reunião que iria começar.

Sentamos todos em um semicírculo, cada monitor perto dos seus colegas de casa, todos comentavam animadamente sobre suas ideias para o ''brilhante'' evento quando o professor Longbotton chegou fazendo com que ficassem em silencio.

— Papai - Alice disse correndo em sua direção - Revirei meus olhos automaticamente. Sei que não deveria, Alice não é uma pessoa de toda ruim, só acha que é dona da escola por ser filha do vice-diretor. Mas quando nos encontramos nas férias ou em algum evento social fora da escola a companhia dela é até agradável. Pena que passamos muito mais tempo juntas na escola do que fora dela.

Logo atrás do professor vejo meu primo Albus chegando com seu fiel escudeiro, Scorpius Malfoy. Aff! Todos esses anos e ainda não entendi como meu primo tão querido foi parar na sonserina, e pior, virou amigo do filhote de doninha. Mas enfim, nada com que eu já não soubesse lidar, era só fingir que ele era invisível e estava tudo certo, eu era ótima em ignora-lo e até que ele era bem colaborativo nesse quesito. É obvio que às vezes precisávamos fazer algumas coisas juntos, como agora, mas sempre conseguimos nos manter em uma distância apropriada. Ou conseguíamos, porque foi exatamente nesse dia que meus piores pesadelos começaram a se tornar realidade.

— Os responsáveis pela divulgação do show de talentos serão Albus e James Potter - Disse o professor Longbotton com aquele sorriso animado que costumava carregar o tempo todo, enquanto dividia as tarefas do evento. Os alunos estranharam as duplas serem divididas por monitores de casas diferentes, mas até que fiquei animada com a possibilidade de fazer dupla com Lucy, de todas as minhas primas ela a era única que tinha a minha idade e com quem eu me dava melhor, não que eu não me desse com a outras, mas Lucy era como uma alma irmã, se é que vocês me entendem. Fiquei desolada quando ela foi pra Corvinal e eu pra Grifinória, mas acabei superando com o tempo, já que isso não abalou nossa amizade. Porém, minha animação e expectativas duraram apenas alguns segundos porque logo em seguida o professor anunciou:

— Rose Weasley e Scorpius Malfoy serão responsáveis pela decoração do salão.

— Como é? - Questionei sem entender se tinha ouvido bem.

— A senhorita e o senhor Malfoy ficarão responsáveis pela decoração da festa já que são excepcionalmente bons em feitiços.

Explicou o professor, como se essa fosse uma justificativa plausível o suficiente para me submeter a tamanha tortura.

De repente múrmuros começaram a preencher a sala. Toda a escola sabia que eu e Malfoy não nos dirigíamos a palavra, inclusive o professor, não entendi o porquê do empenho em atormentar minha vida justo agora, porém segui quieta fingindo que não estava nem um pouco abalada com a situação. Sustentei minha pose. Olhei para o Malfoy sentado na outra extremidade da sala ao lado de Albus, seu rosto era indecifrável e pela primeira vez na vida quis saber o que ele estava pensando, provavelmente em nada, sempre duvidei que esse loiro aguado de cabelo bagunçado pensasse. Mas meus devaneios foram interrompidos pelos sons de cadeiras se movendo, aparentemente a reunião tinha acabado.

— Tenho certeza que seu sogro me odeia - falei bufando enquanto seguia James para o campo de quadribol.

— Bobeira. Você ouviu o que ele disse? Você o Malfoy são os melhores da escola em feitiços. Pior sou eu que ter que convencer os alunos a participarem desse show de talentos ridículo.

— Ideia da sua namoradinha - disse a ele que riu sem graça. Demorou séculos para James finalmente sossegar com uma garota, zoar ele por isso com certeza é meu passatempo favorito - E você é a pessoa mais popular dessa escola James, as meninas subiriam no palco e fariam um strip-tease se você pedisse - completei enquanto tentava acompanhar os passos rápidos do meu primo mais velho.

James riu, ele sabia que era verdade, não teria nenhuma dificuldade em convencer ninguém a participar do show de talentos. Ele era bonito, daquele tipo de beleza que chamava atenção de qualquer um, homem ou mulher. Era popular e sabia disso. Ser capitão do time de quadribol e filho do Harry Potter ajudava ainda mais. Se James Potter estava na organização de um evento, com certeza ele daria certo.

O treino seguiu como sempre, chato e cansativo. James me fez apanhar o pomo vinte cinco vezes antes de se dar por satisfeito. Jogar quadribol era mais do que uma obsessão, era a sua vida.

— Você bateu seu recorde de velocidade hoje Rose - comemorou ele enquanto guardávamos as vassouras - Mamãe vai ficar muito satisfeita quando eu contar, sua vaga no Harpias de Holyhead já está praticamente garantida se seguir assim até o ano que vem. E não quero falar nada pra equipe agora - continuou num sussurro quase inaudível - mas vou passar o bastão de capitã do time pra você.

Nesse momento dei meu segundo melhor sorriso falso do dia. Por algum motivo a ideia de liderar o time de quadribol embrulhava o meu estomago, eu já estava cansada sem mais essa responsabilidade, mas como eu diria isso sem decepcionar praticamente toda a família? Fácil, culparia minha querida mãezinha.

— Não sei não James, mamãe quer me eu me especialize em leis da magia sabe? Como ela fez. Estou estudando feito uma louca pra isso. – O que de fato não era nenhuma mentira. Não que eu amasse leis mágicas, mas minha mãe não ficaria nem um pouco triste se eu desistisse do quadribol pra me dedicar a mais algum clube de estudos. Já o papai.... Hugo não conseguia nem subir numa vassoura, sua esperança estava toda em mim.

— Você estuda como uma louca para qualquer coisa Rose. Pode ser jogadora, e depois se aposentar igual minha mãe fez. E então, vai ter bastante tempo para trabalhar com coisas chatas. Dá pra agradar todo mundo assim.

"Agradar todo mundo, menos a mim mesma", pensei.

Meu corpo estava doendo assim como minha cabeça, mas precisava ir a biblioteca pegar um livro para o trabalho de runas antes de ir dormir. Estava tão cansada e distraída que não percebi quando esbarrei em umas pessoas derrubando uma pilha de livros.

— inferno, presta atenção! - falei sem pensar

— Prima - exclamou uma voz conhecida. Quando percebi Albus e Scorpius estavam parados bem na minha frente rindo da minha desgraça e do meu descontrole.

— Vão ficar aí rindo ou me ajudar antes que venham e nos expulsem daqui? - Falei irritada. Meu dia já tinha sido ótimo, uma confusão na biblioteca era tudo que eu queria pra completar.

Os dois prontamente me ajudaram a guardar os livros no lugar, e antes que eu pudesse falar alguma coisa ou fugir Albus disse:

— Acho que vocês precisam combinar como vão fazer com o negócio da decoração da festa né? Vejo você depois Scorp, boa noite Rose - e dizendo isso saiu antes que eu pudesse expressar qualquer reação. As vezes eu só queria jogar um avada no Albus.

Scorpius estava parado na minha frente, tão sem ação quanto eu, provavelmente lançando uma maldição não verbal no meu primo se soubesse como. Reparei que ele havia finalmente cortado aquele cabelo loiro ridículo que descia pelos ombros, agora estava até com uma aparência decente. Não que ele fosse feio, era só um pouco, como posso dizer?... Estranho, na verdade era até original. Pensando bem, eu tinha era inveja da forma como ele andava como se não se preocupasse com a opinião das pessoas, privilégios de ser um Malfoy, eu acho.

— O que você tem em mente?- perguntei quebrando o clima tenso que estava entre nós.

Ele me olhou confuso, provavelmente aquela foi a primeira vez que me dirigi a ele em seis anos estudando na mesma escola, meus planos era que isso nunca fosse necessário, mas como infelizmente não seria mais possível era melhor acabar rápido. Felizmente ele também tinha esse mesmo pensamento pois falou:

— Não sei, com tanto que não de muito trabalho. Só quero fazer isso logo e acabar o quanto antes.

— Ótimo, precisamos testar os feitiços antes e limpar os enfeites antigos. Me encontre amanhã depois do almoço na sala de tranqueiras. Pode ser ?

— Tudo bem - Respondeu mal humorado, virando as costas e saindo.

"Ótimo", pensei "vai ser um dia lindo".

A sala de tranqueiras ficava no sétimo andar e era onde guardavam os enfeites de natal e mais outras coisas velhas e empoeiradas, ou seja, tranqueiras.

Cheguei um pouco antes do Malfoy e resolvi ir olhando algumas coisas. A sala tinha desde vassouras velhas a pequenos duendes que seriam limpos e enfeitiçados para usarmos na decoração. Isso daria um trabalho enorme, nessas horas eu odiava ser monitora. No fundo da sala, perto da janela havia um lençol cobrindo alguma coisa que desconfiei ser um piano, não imaginam a minha surpresa quando a suspeita foi confirmada. O piano era grande e antigo, mas ainda transmitia a beleza e o refinamento que o instrumento possuía. Cai na tentação de tocar algumas notas, fazia muitos anos, mas eu ainda lembrava alguma coisa. Como era mesmo aquela música que a vovó cantava pra mim quando pequena? Have Yourself A Merry Little Christmas. A letra começou a surgir na minha cabeça assim que comecei a lembrar das festas de natal que fazíamos na casa da vovó Molly.

Have yourself a merry little Christmas

Let your heart be light....

Cantei lembrando de como adorava ser abraçada por aqueles braços gordinhos e do cheiro de biscoito de canela que ficava na sua cabeleira ruiva.

....From now on your troubles will be out of sight

Have yourself a merry little Christmas...

Continuei com ainda mais entusiasmo, fazia tempo que não cantava assim, apesar de ser uma das coisas que eu mais amava. Depois que a vovó morreu simplesmente deixei a música de lado.

...Have yourself a merry little Christmas

So have yourself a merry little Christmas now...

Terminei com lágrimas nos olhos, é só umas lembranças da vovó Molly e já perco a pose de durona. Havia esquecido como cantar aquecia meu coração, ''quem canta seus males espanta'', ela costumava dizer. Fazia tempo que não me sentia como agora, lembrando de como era fácil estar com alguém que não esperava nada de mim. Nada, a não ser que fosse eu mesma. Mas esse sentimento foi logo dissipado por palmas altas vindo na direção da porta.

— Não sabia que cantava assim tão bem Weasley - comentou Malfoy com um sorriso animado.

— Eu não acredito que você estava me espionando - levantei furiosa.

— Ei, a gente ia se encontrar aqui, lembra? Você mesmo que combinou, não tenho culpa de chegar e encontrar você fazendo um show.

— Deixa de ser ridículo, eu não estava fazendo show nenhum. Você é que é um sem noção que fica espionando as pessoas.

Ele me encarou displicente:

— Definitivamente isso não vai dar certo, você parece um trasgo das montanhas. Não sei onde eu estava na cabeça quando aceitei participar dessa palhaçada ridícula.

Que garoto abusado! Apesar de também achar que tudo isso era mesmo uma palhaçada ridícula.

— Ah então por que aceitou? - perguntei furiosa

— Porque achei que os alunos mereciam um festa feliz e com personalidade, diferente de você - respondeu insolente

Fiquei sem ação, o que ele queria dizer sem personalidade? O que ele sabia sobre me mim pra dizer se eu era feliz ou não? Se bem, que pelo meu humor já dá pra vocês terem uma pequena noção da resposta.

— Sua cobra venenosa... Escuta aqui Malfoy, você não sabe nada sobre mim ou sobre a minha vida! - esbravejei nervosa. Queria voar na cabeça desse menino abusado.

— O que tem pra saber além de que você é uma chata, que nunca faz nada original ou espontâneo? Que é a pessoa mais entediante e previsível desse castelo? - disse enquanto me encarava de cima a baixo como olhar de desdém.

— Você que é ridículo, eu posso fazer o que quiser - retruquei. Eu é que não ia ficar escutando sandices de Scorpius Malfoy, por mais que lá no fundo também concordasse com elas.

'' Perfeita-Rose'', meus primos sempre me chamavam assim, o que me deixava extremamente irritada, mas pra eles era mais fácil, não eram filhos de Hermione e Ronald Weasley, dois dos três bruxos mais famosos do século, tem um peso alto nisso aí. Todos esperam que você seja perfeita, que não faça nada de errado, que ande sempre na linha. Acaba que não sobre muito espaço para ser espontânea ou criativa.

— Ah é? Então eu te desafio - propôs Malfoy com sua postura sonserina afrontosa.

— E eu aceito - disse ainda mais pomposa.

Pois é, eu disse isso aí mesmo. Me arrependi no segundo seguinte? Me arrependi. Por que será que eu me odeio? Que ser humano normal aceita um desafio quem nem sabe do que se trata?

— Você aceita?- ele parecia confuso, acho que não esperava tamanha burrice da minha parte, mas vou fingir que é coragem, Grifinória me escolheu pra isso.

— É, eu aceito Malfoy - confirmei com a minha pose mais audaciosa possível. Uns chamariam de impetuosidade, eu só chamo de falta de amor próprio mesmo. Porém, depois desse circo todo não ia dá nenhum motivo pra o Malfoy me chamar de covarde.

— Desafio você a cantar no show de talentos - Se jogar um cruciatus não levasse direto pra Azkaban podem ter certeza que teria jogado.

— O que? Não, claro que não - Isso não vale! Quem escolhe esse tipo de desafio? Humilhação pública não estava no meus planos natalinos. Definitivamente eu não ia cantar na frente das pessoas, ele devia estar delirando, só podia ser - Escolhe outra coisa - respondi ''quase'' implorando.

— Não, ele recusou - Esperava o que? Que eu desafiasse você a me beijar?Não obrigada, eu passo.

— Por que você acha que eu iria querer a sua boca asquerosa na minha Malfoy? - questionei confusa. Albus ainda vive insistindo que esse menino é legal, só se legal for sinônimo para diabretes da cornualha - Pois eu prefiro cantar fantasiada de unicórnio a beijar você.

— Ótimo, então estamos combinados.

— Estamos - disse saindo determinada, furiosa e com certeza arrependida.

— Ei, Weasley. E a decoração? ele gritou atrás de mim.

— Amanhã Malfoy, amanhã.

Eu poderia muito bem jogar um caixa de anjinhos pela janela agora.

Essa parte eu chamo de surpresa

Merlin, onde eu estava com a cabeça pra aceitar isso? Cantar na frente de toda a escola. Sim, eu amava cantar, mas era uma coisa minha, minha e da vovó, fazer isso pra escola inteira era outra coisa completamente diferente. Namoral, eu odiava o Malfoy, e me odiava mais ainda por ter concordado com isso.

Como se não bastasse todo o estresse do dia ainda tive que aturar meu namorado com mais das suas opiniões e comentários sempre tão gentis e caridosos.

— Tem que ser muito idiota pra participar dessa bobeira de show de talentos - respondeu Lorcan quando Albus perguntou se ele não gostaria de participar - Isso é coisa de gente otária - Meu namorado achava que era superior a todos os outros mortais da face da terra porque era bisneto de Newt Scamander, uma famoso mazizoologista. Completamente diferente do irmão gêmeo Lysander, que era um dos meninos mais legais que já conheci, e que ganhou uma bolsa para estudar em Castelo Bruxo, uma escola famosíssima por formar bruxos especialistas em animais e plantas. Lorcan fingia que não, mas morria de inveja do irmão, tinham um relacionamento complicado mesmo longe. 

— Eu vou participar - falei pela primeira vez em voz alta, como uma forma de tornar a situação toda real. Todos olharam surpresos, com certeza não era o tipo de coisa que a Rose certinha faria.

— Por que vai se prestar esse papel?- perguntou Lorcan incrédulo - Isso não tem nada a ver com você Rose, desde quando você é artista?

''Desde sempre se você prestasse atenção em alguém que não fosse você mesmo''.

— Vou fazer porque eu quero - respondi sem pensar muito. As palavras ficaram ecoando na minha cabeça, Lorcan me olhou como se eu tivesse enlouquecendo. Pela primeira vez na vida eu estaria fazendo algo que eu queria, supostamente, é claro. Ninguém precisava saber do desafio, ninguém a não ser Lucy.

Decidi que já estava de saco cheio de me estressar e fui no salão comunal da Corvinal procurar minha prima.

— Você vai o que?- exclamou surpresa - Rose o que deu em você? Acho que além de mim a única pessoa que já te ouviu cantar nesse castelo foi a Murta que geme.

Eu sempre cantava no banho.

— Malfoy me ouviu cantar e me desafiou- respondi infeliz.

— E por que você aceitou? - questionou confusa.

Ok, por que eu aceitei? Porque sou idiota sem um pingo de respeito próprio!

— Ahh sei lá Lucy! Não queria que ele ficasse achando que sou covarde - E talvez porque lá no fundo fosse uma coisa que eu sempre quis fazer, mas nunca tive coragem.

— Olha francamente, não entendo esse negócio de vocês. O Scorp é um menino muito legal Rose, e você saberia se não fosse tão cabeça dura. Aposto que nem você sabe o porquê não gosta dele.

— Scorp? desde quando chama ele assim? Tá confraternizando com o inimigo agora? - De uns tempos pra cá Lucy começou a andar mais com Albus e consequentemente Scorpius, já que um nunca largava o outro, mas daí virar melhores amigos já era demais.

— Tá doida menina? Scorpius é o melhor amigo do Albus, nosso primo, e diferente de você não tenho nenhum motivo pra não falar com ele. E sinceramente, acho essa ideia de você cantar ótima, é maravilhosa cantando. Já passou da hora do mundo descobrir isso.

Eu nunca conseguiria ficar irritada com a Lucy por muito tempo. Ela é uma amiga incrível, sempre me incentivando, mas não consegue entender o quão difícil é pra mim pensar em fazer qualquer coisas que possa decepcionar as pessoas a minha volta, principalmente meus pais. Preferia ser filha do tio Percy, papai dizia que ele era um mala, mas isso deve ter sido num passado muito distante, porque agora era uns dos meus tios mais legais, e olha que eu tenho vários. E o melhor, tinha um trabalho chato e comum, como todos os pais deveriam ter.

Mas tarde quando cheguei a sala das tranqueiras, Scorpius já estava lá, limpando duendes e bolinhas coloridas. O ignorei como de costume e comecei a revirar algumas caixas. Estava distraída em limpar enfeites de natal quando lembrei:

— Merlin, esqueci que hoje tinha treino de quadribol! - gritei virando uma caixa de anjinhos no chão.

Malfoy me olhou confuso.

— Nunca faltei um treino na vida, James vai me matar.

— Sinceramente Weasley eu nem sei porque você joga no time, nunca vi ninguém pegar um pomo de maneira mais desanimada em toda minha vida.

Eu ia protestar mas ele me olhou como se dissesse ''É serio mesmo que vai negar?'' Revirei os olhos respondendo:

—Todos os meus primos jogam quadribol, meu pai jogou quadribol, minha tia é jogadora profissional. Só não queria quebrar a tradição familiar, não tem nenhum problema nisso.

— Não, não tem, é só que...- ele falava desviando o olhar- Quando ouvi você cantar ontem parecia muito mais feliz do que quando joga. Na verdade acho que foi a primeira vez que vi você sorrindo de verdade, sabe?

Esse comentário me deixou surpresa e curiosamente ele tinha razão quanto a isso. Eu gostava muito mais de cantar do que de quadribol, na verdade eu acho que nem gostava de quadribol, só jogava porque era o que meu pai queria.

—Mas como? - perguntei intrigada - Como você parece me conhecer melhor do que a maioria das pessoas a minha volta?

Ele abaixou o rosto encabulado e encarou as próprias mãos, como se fossem a coisa mais interessante do mundo. Reparei em como o cabelo dele caia sobre seus olhos acinzentados e suas bochechas ficavam rosadas quando ele se constrangia.

—Rose - falou com um certo receio, percebi que meu nome tinha uma sonoridade muito mais bonita na voz dele

— Por que nunca quis ser minha amiga?

Definitivamente eu não estava esperando por isso.

— Eu... eu... eu não sei - disse por fim- Acho que só fiz o que esperavam de mim - respondi pensando no quanto isso era ridiculamente absurdo. Esperei que ele falasse alguma coisa, mas só se virou e continuou a limpar. Ele pareceu decepcionado com a resposta, mas não tanto como eu estava. Após alguns minutos inventei que estava cansada

Será que podemos continuar amanhã? - perguntei. É claro que era só uma desculpa pra ir embora e fugir do clima ruim que tinha ficado.

— Tudo bem - ele respondeu - mas não vai perder nenhum compromisso inadiável? - quis saber preocupado.

— Não, não vou- e dizendo boa noite me despedi.

Durante toda a noite fiquei pensando nas coisas que tínhamos conversado. Ele parecia tão diferente do que eu passei todos esses anos imaginado. Como ele poderia ter tanta razão sobre mim? Parecia me conhecer melhor do que as pessoas que vivam ao meu redor, Lorcan nunca soube como eu me sentia, ou se percebeu, nunca se importou. Mas eu estava sendo ridícula em pensar essas coisas, Scorpius ainda era um Malfoy e ser amiga dele não fazia parte do roteiro da minha vida.

No dia seguinte terminamos de limpar todos os enfeites natalinos e treinamos os feitiços que usaríamos no dia da festa. Foi tudo muito quieto e tranquilo até que ele perguntou:

— Já sabe qual musica vai cantar no show de talentos?

Merlin essa história ainda! Pensei que ele esqueceria.

— Ainda não - respondi enquanto acendia e apagava uma estrela com a varinha.

— Sabia que não teria coragem.

Porque ele tem que ser assim tão insuportável?

— Eu disse que cantaria não disse? Mas não tenho o dia atoa como você, só não tive tempo para pensar nisso ainda .

É, estava tudo indo tranquilo demais.

— Você é quem sabe - respondeu dando os ombros - mas ouvir dizer que o produtor da Alquimia Music estará aqui.

— Henry Jones? O que lançou as esquisitonas? Eu nem sabia que ele ainda era vivo.

—Pode acreditar que está vivo e é um grande amigo da Diretora McGonagall.

Devo ter feito uma careta de incredulidade muito engraçada porque ele começou a rir e eu não consegui me manter séria com a ideia dessa amizade nada convencional. Henry Jones foi um cantor de rock muito famoso, considerado vanguardista e inovador pra musica bruxa. Após se aposentar criou um gravadora responsável por lançar os maiores talentos do mundo. O homem era um gênio, mas estava sumido havia anos. Não consegui imaginar em que momento da vida que ele e a diretora McGonagall viraram grandes amigos. Após conseguirmos controlar nossas risadas Scorpius foi até o piano que tinha no fundo da sala e começou a tocar. A agilidade com que seus dedos se moviam pelas teclas me deixou impressionada, o som parecia sair sem esforço, eu estava hipnotizada.

Eu conhecia muito bem a música que ele estava tocando, e ele percebeu eu cantarolando, pois pediu pra que eu cantasse.

— Ahh não - Não queria que minha voz atrapalhasse o som que saia daquelas cordas.

— Canta, por favor- ele insistiu.

Comecei a acompanha-lo. No início bem baixinho, mas depois fui elevando a voz, era tão fácil como se já tivéssemos feito isso juntos várias e várias vezes. Minha voz preenchia toda sala, era como se uma vida, que eu não conhecia, saísse de dentro de mim, eu me sentia livre, como se eu pudesse fazer qualquer coisa.

...But it's always darkest before the dawn

Shake it out, shake it out

Shake it out, shake it out, oh woah

Quando terminei estava sorrindo como se aquele fosse o dia mais feliz da minha vida, tudo bem, um exagero, mas provavelmente o melhor momento em muito tempo.

— Rose alguém já te disse o quanto sua voz é incrível? - disse ele muito gentilmente - Tenho certeza que quando Henry Jones te ouvir vai se interessar por você.

— Não seja ridículo.

— Não, eu estou falando sério, você é muito talentosa. Como minha mãe diria uma joia musical.

— Foi ela que te ensinou a tocar?

— Foi sim, ela musicista.

É claro que eu não tinha ideia qual era a profissão da mãe do Malfoy até então, mas agora fiquei com uma vontade gigante de conhece-la. Dever ser incrível ter uma mãe musicista e não uma com um cargo tão burocrático.

— Pois sorte a sua, a minha é Ministra da magia - respondi voltando pra realidade - ter uma filha cantora definitivamente a faria surtar.

— Não vejo nenhum problema nisso. Eu acho que seria incrível - ele disse sorrindo - Bem, acho que já terminei meu trabalho por aqui.

—Scorpius - de repente falar o nome dele parecia legal - obrigada.

— Não foi nada - respondeu - E Rose... vê se não chora de saudades de mim. Sabe? Até o dia do show.

— Não seja ridículo Malfoy- e virei pra que ele não me visse sorrindo. Um pouco de rivalidade nunca era demais, afinal ainda éramos um Malfoy e uma Weasley


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Notas finais do capítulo

Musicas do capitulo
have yourself a merry little christmas- Frank Sinatra
Shake It Of- Florence and the Machine



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