A casa e as crianças

Já estava de noite quando Dean e Katherine passaram em alta velocidade pela Rodovia Centennial. Haviam conseguido um carro vermelho de uma senhora na cidade e, para a vampira, usar a compulsão nela tinha sido pior do que com o policial.

Entretanto, ela precisava deixar sua moral de lado, Sam estava em perigo e ela faria de tudo para socorrê-lo.

— Contorne a casa, não quero que Constance nos veja.

— Mas o Sam…

— Confie em mim, Dean. O melhor ataque é o que vem de surpresa — Ela fala apontando com o dedo anelar o caminho — Estacione, seguiremos a pé daqui em diante.

— Podemos usar o carro, sabe? — Dean retruca, parando o veículo.

— Constance Welch é um espírito vingativo, Dean. Não precisamos chamar tanta atenção assim.

O irmão mais velho suspira, saindo do carro e carregando sua arma com balas de prata e sal.

— O que pretende fazer com essa pistola? — Katherine sussurrou, andando a passos silenciosos, contornando o terreno da casa — Por favor, não me diga que pretende atirar em um fantasma.

— Isso é exatamente o que eu vou fazer — Ele resmunga — Alguma ideia brilhante para matar um espírito que teve os ossos cremados, senhorita Ravens…

Porém, antes que Dean pudesse destilar a sua raiva e frustração em Katherine, um urro de dor ecoa pelo ar, penetrando os ossos dos dois com força, fazendo-os tremer de medo.

— Sam! — A voz do Winchester mais velho soa furiosa, como se ele pudesse estrangular Constance Welch com as próprias mãos.

Três disparos são feitos e quando Katherine alcança Dean, sua visão é tomada pelo Impala preto, Sam e a mulher de branco. O irmão mais novo arfava de dor, preso dentro do carro, enquanto Constance Welch tinha suas mãos no peito musculoso dele. Os seus gritos eram de pura dor e desespero.

Num ato impulsivo, Sam coloca suas mãos no volante e acelera em direção a casa, atravessando a parede de madeira podre e fazendo com que uma onda de fumaça tomasse conta do local. Katherine assistia a tudo isso atônita, havia esquecido o que era ser um Caçador: era saber que a qualquer momento você poderia morrer e, ainda assim, ter forças para confiar na própria intuição.

— Sammy! — Ela grita saindo da inércia e avançando em direção a casa antiga em questão de milisegundo.

Quando colocou seus pés no arco da porta de entrada, uma parede invisível a interrompeu, forçando a mulher a observar os Winchester lutando contra a mulher de branco. Esse é um dos pontos negativos de ser um vampiro, você nunca pode entrar em uma casa sem ser convidado, a não ser que o domicílio não tenha dono específico ou sirva apenas como aluguel.

Dean dispara sua arma, enfraquecendo o espírito e, logo em seguida, Sam a empurra para a escada. Gotas de água escorriam pelo teto, consistentes e melódicas.

— Mamãe, você voltou para casa — Uma voz infantil percorre o ambiente, atingindo Katherine como um soco no estômago.

Os filhos de Constance Welch, um menino, o mais velho, e uma menina.

— Bem-vinda de volta, mamãe — O garoto fala, abraçando-a, sendo acompanhado de sua irmã.

A mulher de branco urra no momento em que seus filhos a tocam, era como se estivesse vendo os seus piores pesadelos e sendo queimada por lava, tudo ao mesmo tempo. Era um grito de medo tão profundo que poderia facilmente ser confundido com os de um Banshee, soava falho, fino e desesperado, como uma porcelana atirada em uma fogueira.

Os espíritos de Constance e seus filhos desaparecem no ar, como se nunca tivessem existido. O pesadelo da Rodovia Centennial havia, finalmente, terminado.

Katherine soca a barreira invisível que a impedia de entrar na casa, chamando a atenção dos Winchester. Sam é o primeiro a sair da casa e logo é sufocado pelo abraço apertado da vampira.

— Está tudo bem, eu estou bem — Ele fala, acariciando de leve o cabelo castanhos dela.

— Da próxima vez que eu falar para você me esperar, por favor, me espere — Katherine sussurrou, precisando respirar fundo duas vezes para não socá-lo — Entendeu?

— Mandona.

— Seu puto irresponsável! — Ela fala, se afastando se seu toque, atingindo-o com força no ombro.

— Hey, essa fala é minha! — Dean resmunga, segurando com força a pistola em suas mãos.

— O que achou que ia acontecer no momento em que atirou em um fantasma? — Sam pergunta, cruzando os braços

— Eu podia ter sido atingido.

— Ainda bem que minha mira é boa.

— Não, não é — A voz de Katherine e Sam se misturam como uma só, fazendo Dean sorrir.

Os irmãos continuaram a trocar ameaças “amigáveis” até o carro, sendo seguidos por Katherine que mal conseguia conter o sorriso em seu rosto. O sentimento de êxtase ocupava a alma dos três, a calmaria depois do momento de pura adrenalina, isso resumia a vida de um Caçador, resumia a vida de um Winchester e Katherine, apesar de saber o que viria logo em seguida, não estava triste por ter sido puxada para a vida bagunçada de Dean, Sam e John. Pelo contrário, estava feliz em vê-los, de poder escutar suas risadas.

Talvez essa deveria ser a vida que ela devia seguir. Talvez, depois de hoje, Sam entenda o que realmente significa ser um Winchester. Quem sabe, depois de sua faculdade ou de seu casamento com Jess, ele volte a participar das caçadas com seu irmão. É um futuro improvável, mas não custa nada sonhar...