Brick by brick escrita por WinnieCooper


Capítulo 6
As pessoas que não podem se tocar, se beijam através da barreira




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A caixa foi uma grata surpresa, como se Hermione tivesse lido sua mente cansada de brigas, querendo uma trégua. Relembrar todos aqueles momentos guardados em objetos lhe causou risos e pequenas lágrimas formadas no canto dos olhos. Lembrava do dia que tinha se fantasiado de homem aranha para a festa de Hugo, o amor pelos filhos lhe fazia virar um pai aracnídeo. Assim que fechou a caixa, percebeu Hermione rodeando o lugar, foi para a cozinha pegar um copo d’água, sentou-se na poltrona para ler o jornal, fingiu estar preocupada com Bichento que brincava com um casaco de lã antigo de Rose. O próximo a dar o passo precisava ser ele, e foi o que fez. Foi até a dispensa e pegou um embrulho que estava guardando, voltou a sala e esticou o pacote a ela.

― ...Eu ia te dar na noite da inauguração da... Enfim... – ele coçou a cabeça depois dela pegar o pacote e o olhar intrigada. – Eu ia te pedir para usar naquela noite, Gina me ajudou a escolher, mas a cor fui eu. Adoro te ver de vermelho.

Hermione não conseguiu expelir palavra nenhuma. Abriu o pacote vagarosamente. Encontrou um vestido longo vermelho, era de um tecido leve e delicado, com mangas curtas somente nos ombros, um decote pequeno entre os seios e uma fenda do lado direito.

Ela não conseguiu lhe agradecer ou dizer qualquer outra coisa.

― A gente podia jantar juntos amanhã. Sem brigas... Eu imaginei que depois da inauguração da loja, fossemos comer no seu restaurante favorito, você pediria risoto de legumes e depois atacaria um medalhão de filé mignon porque apesar de ser terça-feira era um dia especial e poderia comer carne. Tomaria o melhor vinho e dançaria comigo no meio da rua na volta para casa.

A mulher sorriu, esticou sua mão para toca-lo no rosto, lhe fazer um carinho de agradecimento, então se lembrou da doença.

― Seria o cenário perfeito. – sussurrou.

― Eu posso ir ao mercado, faço a comida e você...

― Eu faço a decoração no nosso quintal. Posso colocar a mesa lá fora...

― Perfeito...

― Perfeito...

Ficaram se encarando longos minutos. Ron mexeu em seu relógio de pulso e viu a hora. Já era tarde.

― Pode dormir no quarto se quiser, eu faço uma barreira para que o vírus não...

― Não quero te perturbar e te deixar dormir desconfortável, eu fico por aqui mesmo...

― Não há necessidade Ron... Sempre dormimos juntos...

 ― Eu não vou aguentar se dormir perto de você... É melhor ficarmos separados.

Ela concordou com a cabeça. Imaginava o que ele não aguentaria, ela também não se seguraria se ele a abraçasse.

Dormiram sorrindo naquele dia. O dia seguinte passou sem brigas pela primeira vez desde que ficaram confinados em casa. Hermione aproveitou a calma: escreveu boa parte do dia, ligou e conversou com os filhos, observou Ron cozinhar ao longe. Ele assistiu série na sala, mas não prestou muita atenção. Concentrou-se nela digitando no computador, na delicadeza dos detalhes da decoração que ela preparou nos jardins. Luzes penduradas ao redor das folhagens, algumas velas flutuando sob a mesa. Um buquê de rosas vermelhas no centro com sousplats vermelhos para os pratos. Estava tudo pronto esperando os dois.

Hermione resolveu tomar um banho de banheira, colocou vários perfumes na água, não “domou” seu cabelo, deixou-o secar ao natural – Ron adorava quando ela o deixava assim. O vestido lhe caiu perfeitamente no corpo, colocou um salto alto que só usava em eventos importantes. Encaminhou-se para os jardins.

Ron a esperava sorrindo, estava com uma camisa azul marinho e uma calça jeans. De repente se viu apaixonada por ele, como quando tinha 14 anos e lhe deu um abraço agradecendo seu apoio mesmo depois de supostamente Bichento ter acabado com Perebas... Foi ali, ou antes, na certa quando se sacrificou no jogo de xadrez gigante para que Harry e ela prosseguissem. Tinha 40 anos, e nenhuma vergonha de ainda sentir seu coração se acelerar por um simples sorriso dele.

― Você está linda.

E ela estava mesmo. Incrível como ainda se surpreendia quando a via de vestido e salto alto, sentiu-se de volta ao baile de inverno quando a viu a primeira vez arrumada e percebeu sem entender que não queria só uma amizade com ela. Amava quando Hermione deixava seu cabelo ao natural depois do banho, o vestido estava perfeito em seu corpo. Seu perfume tinha um cheiro diferente e especial em sua pele, um cheiro que ainda o fazia perder a razão mesmo depois de mais de vinte anos juntos.

Ele esticou a cadeira para que ela se sentasse como um cavalheiro. Colocou o prato de ambos na mesa, risoto de legumes, e uma tigela com salada caesar e filé mignon. A garrafa de vinho no meio.

Comeram. Riram. Começaram a lembrar de tudo, o quanto são bons como casal, como se completam até na educação dos filhos.

― Você está certa em relação a Rose... Sei que pego leve demais com ela às vezes. – Ele dizia enquanto a servia de vinho pela terceira vez.

― Não... Você é infinitamente melhor que eu com ela, Hugo também... Ele é igualzinho a você... Eu só sou a mãe chata e exigente.

― Rose só é esperta e dedicada por causa de você...

― Hugo é todo passional por causa de você. É inteligente de uma forma diferente, como você...

― Fizemos um bom trabalho com eles não é?

― Um ótimo trabalho.

Sorriram, a barreira invisível os separavam. Ele não conseguia desgrudar os olhos dela, da maneira como se deliciava com a comida, seus olhos brilhantes e seu sorriso que não saia do rosto.

― Está tudo tão delicioso, Ron... – o batom já havia saído da boca pela pressa que comia.

Ele de repente lembrou-se.

― Está sentindo cheiro e está com apetite?

Hermione parou de comer e o olhou pesando no que ele havia constatado.

― Surpreendentemente estou... Acho que estou melhorando!

― E isso significa... – ele ergueu as sobrancelhas para ela.

Hermione rapidamente entendeu o que ele queria dizer.

― Não significa nada, Ron... Ainda precisamos ficar afastados um do outro durante alguns dias... Até o resultado do exame chegar...

― E se o exame der negativo?

― Aí podemos finalmente chamar nossos filhos para ficar aqui conosco.

Agora que estava fazendo as pazes com ela, não sabia se queria tanto assim a presença dos filhos tão cedo na casa. Ao mesmo tempo se desse positivo e ela estivesse com a doença e ele não, não sabia se aguentaria ficar mais tempo naquela casa sem tocá-la.

― Queria que nós dois estivéssemos com a doença. – transpareceu seus pensamentos em voz alta.

―Ron... – ela o repreendeu. – Essa doença não é brincadeira, só hoje vi que mais...

― Sei que não é brincadeira. Mas se nós dois estivermos com a doença eu não preciso mais ficar longe de você e ficaríamos isolados mais uns dias. Poderíamos...

― Entendi aonde quer chegar.

Ela podia imaginar a loucura que fariam se ficassem trancados juntos isolados por alguns dias. Quase desejou que ambos estivessem mesmo com a doença.

Ron esticou a varinha e pediu para que uma música clássica d’As Esquisitonas tocasse.

― Quer dançar? – ele esticou a mão em frente a barreira.

Hermione pousou a sua no ar, como se estivesse depositado acima da dele. Dançaram sozinhos, sem se tocar, mas juntos, se tocando em imaginação. Ron a conduzia e ela o imitava, a rodava a puxava para perto de si, sorriam o tempo todo.

― Aperfeiçoou seus passos de dança. – Ela comentou no momento que a música se tornou lenta.

Ron pousou sua mão na barreira invisível.

― Tenho vários talentos escondidos... – ela pousou sua mão por cima da dele na barreira. – Inclusive te sentir, mesmo sem sentir...

Hermione encostou seu rosto na barreira, como se estivesse pousando no peito dele.

― Posso melhorar essa aproximação.

Ela esticou a varinha e fez a barreira amolecer, como se fosse um plástico, os protegia, mas agora sentiam um ao outro.

Voltou a repousar a cabeça no peito dele, começaram a se mexer lentamente, dançavam e se abraçavam. Mesmo separados ela sentia ambos corações pulsar num mesmo ritmo.

Hermione ergueu seu rosto assim que a música terminou, Ron a observava, seus olhos expeliam amor e desejo. Ele encostou sua testa no plástico invisível, ela ergueu seus dedos e o tocou fazendo-lhe carinho, passou por toda extensão de seu rosto, dedilhou seus ombros, num compasso ritmado. Ron fechou os olhos para aproveitar todas as sensações do toque suave dela em si, não aguentando mais, abaixou um pouco sua cabeça e encostou sua testa na dela. Abriu os olhos e percebeu que Hermione estava com os seus fechados, só esperando o beijo. Então ele a beijou, com um pedaço de plástico os atrapalhando, mas a sentia em si, a sentia retribuir e pedir por mais, ouvia ela suspirar de desejo e se derreter em seus braços com um beijo incompleto.

― Hermione, eu não me importo...

Ele estava ofegante, ela abriu os olhos, negou automaticamente sua proposta de tirar o que estava impedindo-os de ficarem juntos definitivamente.

Ele voltou a beija-la, mãos passando por todos os lados, abraços incompletos, beijos que não se aprofundavam. Podia ver o desejo nos olhos dela, assim como existiam nos seus. Então ele pensou que se tirasse a barreira e a beijasse, ela não teria mais desculpas para o parar de prosseguir.

― É melhor pararmos... – ela sussurrava em sofreguidão, sentindo os beijos dele por seu pescoço.

Ele saiu de perto dela e concordou com seu pedido muito facilmente. Ficaram se encarando, Hermione não notou quando ele pegou sua varinha e mandou que aquele plástico sumisse. Quando percebeu o que ele estava fazendo, Ron já segurava sua cintura e beijava sua boca.

Queria lhe bater, dizer que não, que ele era louco, que estavam no meio de uma pandemia, que precisavam respeitar o distanciamento.

Mas os lábios dele trabalhavam por si, sentia-se uma garota redescobrindo seu corpo todas as vezes que Ron a pegava pela cintura, a tocava nos seios, fazia sua pele do corpo inteiro se arrepiar gritando desejo.

Ele sentia-se um fraco. Fraco por sucumbir a sua volúpia de tê-la, quando não podia. Um fraco por ser um adulto irresponsável que agora levava a mulher que estava com as pernas agarradas em sua cintura até o sofá da sala. Sentia-se um fraco ao perceber que ela sempre seria a dona de suas brigas, seus aprendizados, seu orgulho, e suas fantasias. E que agora deixava ela conduzir os beijos, as carícias e os prazeres.

Ela sentia-se suja. Suja por permitir que ele a beijasse e nem contestar. Suja por permitir que ele saciasse seu desejo e ao mesmo tempo acender ainda mais a vontade de o amar por inteiro. Mesmo sentindo-se suja, acariciava seu corpo, beijava suas sardas e desejava que ele fizesse o mesmo em si.

Ele já não se sentia mais fraco, sentia-se um delinquente. Um delinquente retirando seu vestido, um delinquente invadindo seu corpo e lhe entregando o prazer que ela tanto pedia em seus olhos, um delinquente ao fazê-la gritar por mais, implorar por mais, ao fazê-la esquecer todos os protocolos de saúde e sucumbir a tentação de lhe amar.

Deixou de ser fraco e delinquente e passou a se sentir culpado depois de tudo terminar. Hermione estava entorpecida deitada sobre seus braços com um sorriso no rosto que não indicava nenhum remorso. Amava vê-la daquela maneira, de uma forma que nunca havia se mostrado a nenhum outro homem. A face que só Ron conhecia.

Hermione o olhou depois de todas as carícias que haviam trocado, depois de todo acordo e respeito as normas de saúde serem quebrados, o encarou sentindo-se irresponsável, acariciou seu rosto.

― Desculpe, Ron, eu não devia...

― Shiiiu – a calou com um beijo. – Não falaremos disso agora.

E aconchegaram-se nos braços um do outro sem pensar nas consequências, apenas aproveitando os prazeres que um isolamento forçado poderia lhes proporcionar.

 


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo foi um pouco difícil de escrever para mim, primeiro que não sei escrever cenas de sexo e não queria parecer vulgar, segundo queria escrever um beijo pela barreira, mas não sei se consegui descrever direito e terceiro, tenho medo da reação de vocês quanto a imprudência desses dois. O próximo capítulo é o último. Tomara que gostem da resolução que dei. Obrigada a todos que estão lendo e comentando. ♥️



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