Guerra é Guerra escrita por Nc Earnshaw


Capítulo 9
Lua de sangue


Notas iniciais do capítulo

Estou muito feliz com o curso que esta história está tomando! Estamos quase no finzinho e tenho ela guardada no meu coração. Agradeço a cada um de vocês que estão acompanhando e comentando, obrigada!



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Capítulo 8

por N.C Earnshaw

 

O TÉDIO FEZ COM QUE SEUS PENSAMENTOS ficassem livres e fossem para uma direção que ele tentava a todo custo evitar. A solidão trazia junto consigo memórias cálidas, porém dolorosas, de um tempo que ele adoraria voltar e reviver. A saudade apertava seu peito quando ele recordava da risada bondosa da sua mãe, do olhar orgulhoso que seu pai o lançava quando achava que ele tinha feito algo correto e, principalmente, da proteção e abraço do seu irmão mais velho, Itachi. 

Em outrora, aquelas lembranças apenas o faziam sentir ainda mais ódio, fortalecendo assim seu desejo por vingança. Ele lembrava de trazê-las à tona quando acabava cedendo perante as investidas de Sakura e Naruto. Perder o foco de sua vingança não era uma opção. 

Um limpar de garganta o fez consciente da presença do outro no cômodo. Após chegarem do hospital, Charasuke se trancou no quarto de mau-humor, resmungando sobre “o quanto era azarado”. Sasuke deixou ele fazer o que quisesse, não estava com paciência para suportar os chiliques do seu sósia. 

O Uchiha percebeu ele dar um passo à frente com insegurança, fazendo-o arquear uma sobrancelha e erguer o rosto para encarar seu eu de outra dimensão. Pelo que tinha analisado da personalidade dele; tão distinta da sua própria, não era dado a timidez. Sendo assim, estranhou que os olhos dele não encontrassem os seus.

Charasuke encarou o teto, o chão e as paredes, buscando coragem dentro de si para perguntar algo que estava o corroendo desde a primeira vez que saíra pelas ruas de Konoha. 

— Não vi nenhum Uchiha hoje — comentou, tentando soar casual. A verdade era que seu coração apertava e um nó se formava em sua garganta, temendo as respostas para todas as suas dúvidas. 

Sasuke ficou em silêncio. Nem sequer tinha passado por sua mente que na outra dimensão o massacre poderia não ter acontecido. E doeu. 

— Eu ficaria preocupado se visse. — A voz do ninja soou amarga. E ele desgostou ainda mais de Charasuke. Não era justo ter perdido toda a sua família e aquele imbecil continuar com a dele normalmente. 

— Não seja irônico — vociferou o outro Uchiha* cerrando os punhos para evitar que Sasuke percebesse suas mãos trêmulas. — Caso tenha esquecido, eu sou você! E eu quero saber o que aconteceu com a minha família

— Mortos. Estão todos mortos. 

Sasuke se levantou de supetão, não dando a mínima para a reação do outro. Não queria ouvir mais perguntas, não desejava mexer numa ferida que estava começando a cicatrizar. Tinha seus próprios demônios para enfrentar e não precisava adicionar mais nenhum na conta. 

— Está mentindo! — Sua camisa foi puxada, fazendo-o cambalear para trás e rosnar em resposta. Sasuke se virou e empurrou Charasuke para longe de si com um olhar de asco digno de um rei. Com choque estampado no rosto, o Uchiha* caiu de bunda no chão, mas ele não riu. Não conseguiu achar graça naquela cena, por mais que tentasse. 

O ódio que Charasuke sentia era tanto que estava quase ativando o sharingan. Aquele cara estava brincando com a mente dele da forma mais cruel que poderia existir. 

Droga! Sua família não estava morta! Não podia estar

— O que aconteceu? — indagou com apenas um fio de voz, sem forças para se erguer. O corpo trêmulo não seria apoio o bastante para que conseguisse ficar de pé. 

Sasuke continuou em silêncio, perdido na dor que tomava conta de si. 

— O que aconteceu? — gritou Charasuke, segurando as lágrimas que queriam escorrer pelos seus olhos. 

Algo dentro dele o lembrou que aquelas pessoas que morreram não eram, de fato, sua família, e sim do Sasuke daquela dimensão. No entanto, amava-os tanto que apenas o pensamento de nenhum deles existir em algum lugar daquele universo maluco, quebrava seu coração por inteiro. 

— Quer saber como eles morreram? — A risada de escárnio de Sasuke enviou arrepios por todo o seu corpo. A expressão de loucura no rosto dele não era algo que ele havia visto alguma vez em toda sua vida. 

Ele tentou demonstrar não se sentir intimidado, mas a puxada de ar que deu o entregou. Estava difícil até mesmo de respirar. 

— Quer saber como eu perdi toda a minha família? 

Os passos pesados do outro Uchiha indo em sua direção o fez se arrepender de ter insistido. Aquela aura negra ao redor dele, os olhos escarlates com um sharingan que ele próprio nunca sequer pensou em ter um dia e o desejo latente de justiça, eram provas concretas do quão diferentes eles eram. 

Charasuke fechou os olhos com força logo que entendeu as intenções de Sasuke, mas não foi rápido o bastante. 

A entrada do clã era exatamente igual à dele mesmo. Os portões altos tinham o símbolo do clã bem no centro, exibindo o quão orgulhosos os Uchihas eram de sua linhagem. Uma árvore de Sakura, ao qual ele adorava observar durante a primavera desde que se apaixonara por uma garota de cabelos rosa cujo nome era dado em homenagem a essa mesma espécie de árvore, continuava exatamente ali, ao lado esquerdo do portão e exatamente doze passos da primeira residência do distrito. 

Uma voz dentro de Charasuke berrou para que ele parasse e se libertasse daquele genjutsu estúpido. Entretanto, a curiosidade sempre tinha sido sua pior inimiga, e ele precisava ver com seus próprios olhos o que tinha acontecido com a sua família. 

O corpo de Seiji foi o primeiro que ele avistou. 

Seiji era um garoto sério demais, tinha a mesma idade que a sua própria e adorava brincar de ser ninja. Sua família, por ser tão distante da família principal, não tinha despertado o sharingan por décadas. Mas Seiji mudou isso. 

Com 12 anos, ele ativou o sharingan em sua primeira missão com seu time genin, e se tornou o orgulho do seu pai, Raijin. O homem adorava se gabar por aí sobre o quanto seu filho era incrível, o quão determinado ele era quando queria alguma coisa… Aparentemente, naquela realidade, ele nunca teve oportunidade de mostrar para todo mundo nada disso. 

Não muito longe de Seiji, Raijin jazia de bruços. 

Morto. 

Suas pernas o levaram correndo até a casa principal, e ele não conseguiu evitar reconhecer cada um daqueles corpos sem vida, jogados como sacos de lixo pelas ruas como se não fossem pessoas boas. Como se não fossem pessoas da sua família que ele amava mais que qualquer coisa.

A porta da sua casa estava entreaberta e Charasuke sentiu o medo querer paralisá-lo, mas não permitiu. Abriu a porta com um empurrão e entrou na casa como se não tivesse com o coração sangrando pela perda. 

A iluminação da lua foi o suficiente para que ele pudesse distinguir as duas figuras jogadas lado a lado. O cheiro de sangue fresco quase feriu suas narinas e ele deu um passo para trás, não querendo se aproximar. 

Ele quis fugir. Desejou voltar à sua própria realidade para garantir que sua família se encontrava bem e viva. 

Com as mãos trêmulas, ele as juntou na frente do corpo e se libertou com um fraco sussurro. 

— Por que fez isso? — acusou assim que Sasuke apareceu novamente em frente aos seus olhos. — Por que me mandou pra lá? 

— Você queria saber — rebateu o ex-vingador, nada afetado pelas lágrimas que escorriam pelo rosto do seu sósia. 

Charasuke ofegou. 

— Quem… Quem fez aquilo? 

— Está morto — declarou, nada ansioso para explicar toda a sujeira por trás da morte de sua família. 

Sasuke não quis presenciar a cena deplorável. Lembrava-lhe demais de si mesmo pouco tempo depois do massacre, quando era apenas uma criança e a vingança tomava conta de si. 

Deu as costas a Charasuke sem culpa, mas antes que desse sequer um passo, foi atingido por uma pergunta. 

— E-ela sofreu? 

Sasuke sentiu vontade de gritar, e mordeu a bochecha com força para se conter, sentindo o gosto do seu próprio sangue ensopar sua língua. Sabia bem a quem o outro se referia. 

— Não. 

Era Mikoto. Sua mãe. 

Sakura pendurou o jaleco no braço e arrumou a bolsa de alça jogada sobre o seu ombro, antes de bater na porta de Sasuke. 

A exaustão de ter feito duas cirurgias seguidas no meio da madrugada, fazia-na apenas desejar se deitar em sua cama e não levantar por dois ou três dias. No entanto, deixar Sasuke e Charasuke sozinhos por mais tempo não parecia ser uma boa ideia. 

Ela bateu na porta novamente, estranhando a demora para ser recebida. A Haruno sabia que Sasuke acordava muito cedo, então tinha certeza que ele estava de pé há muito tempo. 

“Será que eles saíram?”, pensou. 

Um suspiro cansado saiu de seus lábios quando o pensamento de que teria que caminhar até sua casa passou por sua mente. Ela, inclusive, até cogitou se sentar no chão e tirar um cochilo bem ali, mas seu corpo se virou para ir embora mesmo que a ideia lhe tentasse. 

O barulho da porta rangendo enquanto se abria a fez voltar-se para a entrada do apartamento. 

— Sasuke-kun? — chamou, dando um passo à frente para tentar enxergar o rosto dele melhor, já que o interior do apartamento se encontrava em um completo breu. 

A face de Sasuke estava obscurecida, mas alguma coisa dentro da kunoichi a enviou um alerta de que algo estava errado. 

— Onde está o Charasuke? 

— Saiu com o Dobe. 

Sakura assentiu e o lançou um sorriso leve. 

— Posso entrar? 

Sasuke sumiu de suas vistas e a garota logo o seguiu. Assim que pisou os pés na sala de estar, descobriu o motivo de tudo estar tão escuro enquanto ainda era dia. As cortinas estavam fechadas e todas as luzes apagadas. 

Ela pendurou o jaleco na entrada e jogou a bolsa no chão antes de fechar a porta. Sua mão foi direto até o interruptor para acender a luz, mas a voz de Sasuke a fez parar. 

— Ele perguntou porque ainda não viu nenhum Uchiha. — A voz dele estava mais sombria que o normal, e a kunoichi sentiu vontade de chorar assim que seu cérebro processou o que ele tinha dito. 

— E você contou? — Ela desejou poder alcançá-lo. Desejou com todo o coração aninhá-lo em seus braços, acariciar seus cabelos e dizer que tudo ficaria bem. Entretanto, o medo de ser rejeitada quando havia conseguido colar todos os caquinhos do seu coração, a impediu. 

— Eu mostrei a ele. 

— Mostrou a ele? — questionou, arregalando os olhos. — Oh!... E o que mais vocês conversaram? 

Ela se repreendeu pela pergunta. Não adiantava forçar Sasuke. Apesar de não ser dado a desabafos, ele chegava a falar uma vez ou outra sobre os seus sentimentos, sobre o tempo fora de Konoha e algumas raras vezes sobre o seu clã, mas sempre no tempo dele. Insistir somente piorava as coisas. 

— Sakura… — O timbre rouco sussurrando seu nome sempre a deixava arrepiada. Contudo, a decepção de ser novamente rechaçada não a deixou aproveitar, pois já imaginava o que viria depois de “Sakura”. Sakura, não se envolva nos meus assuntos. Sakura, não é da sua conta. Sakura, você é irritante. — Preciso saber de uma coisa. 

A fragilidade que ele demonstrou não passou despercebida por ela. 

Sasuke caminhou até ficar quase colado a garota. As respirações se misturavam tamanha a proximidade, e a Haruno sentiu vontade de se inclinar mais para frente e beijar aquela boca macia que parecia ainda mais tentadora no escuro. 

— Posso responder qualquer coisa que quiser saber. 

“Por que não se oferece logo numa bandeja, idiota?”, repreendeu-se mentalmente, querendo se estapear. 

— Sakura… — A pausa dramática quase custou a vida da kunoichi. — Você ainda tem sentimentos por mim? 

Como reagir quando a pessoa que você amou por anos e anos pergunta se você ainda tinha sentimentos por ela? Céus! É claro que ainda tinha! As inúmeras declarações não foram suficientes para demonstrar todo o seu amor? 

— O quê? — Sakura se fez de desentendida, sentindo uma súbita vontade de sair correndo dali. 

— Você ainda me ama? 

Caramba. Caramba. Caramba! Aquilo estava mesmo acontecendo? É claro que amava! Amava com todo o seu coração! 

— Está com algum problema? — provocou, sabendo que Sasuke se irritaria e pararia ali mesmo com a interrogação. Não se encontrava nenhum pouco preparada para ter aquela conversa. Não quando tinha passado meses e mais meses tentando se convencer que eles dois eram apenas amigos. 

— Você não é estúpida, Sakura. 

“Obrigada?”, pensou a Haruno ironicamente. 

— Ainda sente alguma coisa por mim?

Ela nem sequer pensou em negar. O amor que sentia por Sasuke era imensurável. Sakura amava os defeitos e as qualidades, e desejava passar cada segundo do resto da sua vida ao lado daquele homem. 

— Eu… 

“Eu te amo”, era o que diria. Mas o apartamento foi invadido por dois idiotas, e ela não teve qualquer oportunidade de se declarar. 

— Ei! O que estão fazendo aí parados no escuro? — gritou Naruto acendendo a luz.

Sasuke grunhiu, irritado. Com o seu melhor amigo idiota e a outra praga que tinham colocado em sua vida bem ali, não tinha como conversar com Sakura. 

— Pare de gritar, imbecil. Ninguém aqui é surdo! 

Sakura suspirou, colocando a mão na testa. 

“E lá vamos nós…”.


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