Guerra é Guerra escrita por Nc Earnshaw


Capítulo 8
Dangos e sorrisos


Notas iniciais do capítulo

:) ♥



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Capítulo 7

por N.C Earnshaw

 

SASUKE NÃO IMAGINAVA que aquela cena tão cotidiana fosse mexer tanto com seus sentimentos. Charasuke se encontrava na sala de estar, zapeando entre os canais de sua televisão enquanto Sakura e ele cozinhavam. Segundo o ninja de outra dimensão “não conseguia nem ferver água sem queimar”, então ajudá-los estava fora de questão. Era um alívio, não podia negar, uma vez que podia apreciar o cantarolar baixinho da sua companheira de time enquanto ela mexia nas panelas, os pés leves se movendo para pegar algum ingrediente que faltava e admirar, mesmo não demonstrando, o sorrisinho de felicidade que escapava no canto dos lábios da kunoichi ao qual ela não conseguiria conter nem se fosse para salvar sua própria vida.

Observar Sakura trabalhando trazia um gosto de lar que há muito não tinha experimentado, e o Uchiha não lembrava a última vez que tinha sentido aquele sabor agridoce em sua língua. No entanto, seu coração reconhecia a sensação de paz e calmaria, de pertencimento e, principalmente, de amor. Os cabelos eram rosas e mais curtos, mas se ele fechasse os olhos com determinação, quase conseguia enxergar a imagem de sua mãe cozinhando para a família. 

Parecia ter sido em outra vida quando chegava da academia com o estômago roncando e ajudava sua querida okaasan a preparar o melhor jantar que seu pai e seu irmão teriam na vida. Ele não se importava que comessem a mesma refeição todos os dias. Sempre estava determinado a surpreender seus heróis e receber um tapinha nas costas, por mais que tentasse esconder o quanto o reconhecimento o agradava. 

No final, ele sempre era recompensado com tomates suculentos. Quando Itachi zombava dele por ser “tão interesseiro”, o pequeno Sasuke negava ser este o motivo para tamanha dedicação. Comeria sua fruta favorita mesmo que não ajudasse sua mãe. A real razão para ele fazer isso todos os dias, sem falta, era o sorriso orgulhoso que sua mãe o dava sempre que ele fazia alguma coisa certa. Ela acariciava os fios rebeldes e sussurrava com uma voz doce…

— Muito bem, Sasuke-kun! — Por um instante achou que tinha voltado ao passado, entretanto, a realidade logo o trouxe de volta e ele percebeu que era Sakura, não sua mãe, que o elogiava com tanto carinho. A realidade não o decepcionou. Na verdade, esquentou seu coração de uma maneira que apenas Sakura conseguia. — Esses dangos estão ficando perfeitos! 

— Hum! — Ele sorriu de canto e virou o rosto para o outro lado, não querendo que Sakura visse suas bochechas corando. — A sopa de tomates está com um cheiro bom — devolveu o elogio de uma forma simples, não resistindo ao aroma magnífico que exalava da panela que a Haruno mexia com tanto afinco. 

— Uau — brincou Sakura, arregalando os olhos teatralmente, mesmo que por dentro estivesse gritando de alegria. — É o melhor elogio que você já me deu.

Sasuke bufou com escárnio e enrolou o pequeno dango que tinha em mãos, tentando conter o sorriso que queria escapar dos seus lábios. 

— Não é verdade. 

A kunoichi desligou o fogo da sopa e mexeu no macarrão da outra panela para que não grudasse. No rosto, tinha uma careta desacreditada.

— Por favor! — debochou a garota. — Cite dois elogios que você já tenha feito pra mim, Sasuke Uchiha.  

O silêncio do ninja fez Sakura segurar uma risada. Estava adorando a cumplicidade do momento, pois não era todo dia que seu companheiro de time soturno e introvertido queria jogar conversa fora. 

— Você não consegue achar nenhum porque é péssimo em elogiar as pessoas. 

Sasuke aceitou o desafio, e procurou em sua mente algo que conseguisse provar para a Haruno que ele sabia sim, distribuir elogios. 

— Eu disse ao substituto no treino da semana passada que ele poderia sobreviver por uns quatro ou cinco minutos se lutasse comigo sem que eu usasse o sharingan. 

Sakura jogou uma colher na direção de sua cabeça, mas ele desviou sem muito esforço.

— Sasuke-kun tem ideia do quanto isso soou arrogante até pra você? 

Ele deu de ombros e a encarou de esguelha. 

— Kami! Você tem sim! — Sakura não aguentou segurar a risada ao ver o canto do lábio de Sasuke repuxando em um sorriso. Ele era um maldito arrogante que se achava superior à maioria dos seres humanos, mas era o seu maldito arrogante e ela teve que usar toda sua força de vontade para não agarrá-lo. “Vocês são apenas amigos, Haruno! Não se atreva a estragar isso”, repreendeu-se. 

A risada de Sakura era gostosa de ouvir. Sempre foi, na verdade. Na época em que eram apenas genins, apesar de ele fingir não se importar, confessava que adorava assisti-la rindo de canto de olho. 

— Você se tornou uma médica excelente, Sakura. Admiro sua força de vontade. — O Uchiha não pensou nas palavras antes que elas escapassem, mas logo que as pronunciou, percebeu que era um pensamento seu que guardava desde a época que lutaram na guerra. Sakura evoluiu de uma forma surpreendente que o encantou no instante em que seus olhos identificaram sua mudança. 

Ela chegou a pensar que iria desmaiar. A kunoichi, inclusive, teve vontade de verificar se não estava presa em um genjutsu. Era i-na-cre-di-tá-vel ter ouvido aquelas palavras saindo da boca do garoto que passou anos e anos amando. Sakura queria sair gritando e correndo por Konoha para todos saberem que os anos de esforço tinham valido a pena. Ela, finalmente, possuía a admiração de todos os membros do time 7.

— N-não precisa dizer isso porque te forcei.

— Sakura… Não seja idiota. — Ele revirou os olhos e se aproximou alguns passos de onde ela estava parada, invadindo seu espaço pessoal. — Acho que seu macarrão está queimando.

— Droga! — xingou a Haruno assim que se virou de frente para o fogão. A massa tinha passado do ponto e grudado completamente na panela. 

Sakura flagrou os olhos de Sasuke brilhando em divertimento, e teve que se controlar para não estragar aquele rostinho perfeito com um soco potente. 

— Ainda pode comer os dangos. — Ela teve vontade de mandá-lo enfiar aqueles dangos perfeitos no traseiro perfeito dele, mas se controlou ao se dar conta que Sasuke Uchiha estava tentando ser gentil. 

— Espero que o gosto faça jus a aparência — cedeu Sakura, jogando a panela na pia com frustração. 

Sasuke escondeu um sorriso. 

— Não ache que porque preparou um almoço de merda conseguiu ela pra você. — Sasuke suspirou ao ouvir a voz de Charasuke, tão idêntica à sua, atrapalhando seu momento de paz. Aquele cara estava lhe dando nos nervos. E ele se perguntou se seria um crime tão grave assim matar a sua própria versão de outra dimensão… Provavelmente. Mas a cada hora que passava a sentença de prisão não lhe parecia tão desagradável. 

O Uchiha ignorou completamente a presença do outro, não querendo incentivá-lo a continuar o possível monólogo. Desejava apenas limpar suas armas para a próxima missão e relaxar um pouco após comer tanto. 

— Não vou perder a Sakura de novo — ameaçou Charasuke, sem paciência. 

Sasuke ergueu uma sobrancelha em questionamento. Como assim, de novo? Ele abriu a boca para questioná-lo, embora, no fundo do seu ser já tivesse a resposta. O Sasuke Uchiha de outra dimensão não se importava com a Sakura de verdade. Ele apenas estava projetando os sentimentos nela que foram rejeitados pela Sakura* dele. 

— Meninos, — interrompeu a Haruno com os olhos arregalados e a respiração acelerada. — preciso ir até o hospital. 

— Alguma emergência? — A pergunta de Sasuke não a surpreendeu. Aquele, de fato, não era o dia do seu plantão, e o Uchiha era atento o bastante para saber os seus horários. Entretanto, esqueceu que tinha prometido ficar no lugar da Ino; já que era o aniversário de namoro da Yamanaka e de Sai. 

— Não — negou ela, agradecendo mentalmente por ter passado em casa antes e pego suas coisas. Inclusive seu jaleco. — Esqueci que tinha plantão hoje. 

Sasuke assentiu enquanto Charasuke se mantinha em silêncio pensando em se oferecer para acompanhá-la. 

— Bem, — Sakura ficou sem graça ao perceber os olhares fixos dos dois, nela. — já vou indo. 

— Eu te acompanho, gatinha! 

— Vou com você. 

Os dois se encararam raivosos ao darem conta que falaram juntos. 

Sakura riu. 

— Tá legal! 

Charasuke teve que usar um henge novamente para sair de casa. Seria complicado demais explicar a toda população de Konoha porque dois Sasuke’s perambulavam pelas ruas ao lado da médica mais famosa do país do fogo. A presença do original ao lado dela já era motivo bastante para fofocas. 

O trio se mantinha em silêncio, compenetrados demais em apreciar sua amada vila naquela hora do dia. Era o final da tarde e o sol estava começando a se pôr, dando um ar quase etéreo as ruas e montanhas que cercavam o lugar. O vento frio devido à aproximação do inverno fazia os pelos dos seus corpos se arrepiarem, mas a sensação era muito gostosa para terem ido à procura de roupas mais quentes. 

Sakura andava em passos rápidos em direção ao hospital, xingando-se mentalmente por ter esquecido do compromisso e estar mais de 20 minutos atrasada. 

“Tsunade-sama vai me matar!”, pensou aflita. Sua chefe era um tanto rigorosa em relação aos atrasos. O fato de Sakura ser sua pupila a fazia ser até mais rígida que com os outros membros do staff, pois estava sendo treinada para um dia, muito próximo, tomar seu posto de diretora e cuidar de toda a saúde da população de Konoha. 

Ela suspirou aliviada ao ver a entrada do hospital se aproximando e se preparou mentalmente para a bronca que levaria se sua mestra tivesse se dado conta de sua ausência. No entanto, a presença de um antigo paciente parado no local a fez sorrir largamente. Era gratificante ver alguém que esteve à beira da morte em suas mãos, são e salvo, vivendo sua vida normalmente. 

Sasuke reparou na súbita alegria que iluminou a expressão da kunoichi e seguiu seu olhar, dando de cara com um homem um pouco mais velho que eles encarando Sakura com uma ansiedade incomum. Na mão direita um buquê de rosas enorme e na esquerda um pequeno pacote que o Uchiha apostava ser algum tipo de doce. Era de conhecimento universal o quanto a doutora Haruno era quase uma formiguinha em relação a chocolates e afins, e vivia recebendo presentes de seus pacientes. 

Charasuke não estava tão relaxado quanto a sua cópia. Achou um ultraje daquele outro dar um buquê inteiro para sua Sakura quando ela tinha rejeitado mais cedo sua única flor. Ele tentou se consolar dizendo a si mesmo que o que importava era os sentimentos transmitidos com o presente, não o presente em si, mas não conseguiu manter esse pensamento quando viu a animação que Sakura tratou o outro homem. 

— Muito obrigada, Hiroshi! É muito gentil da sua parte. Vou colocar essas flores na minha sala! 

Hiroshi corou como um pré-adolescente, fazendo Sasuke voltar atrás com a sua ideia. Não era um paciente grato que dava um presente à Sakura, mas um admirador apaixonado. 

— Haruno-san, — disse o civil tentando ganhar confiança ao se ver encarado por dois ninjas. Sendo um deles o famoso Sasuke Uchiha. — posso lhe fazer uma pergunta? 

— Claro! — A garota esqueceu do seu atraso e deu toda a atenção ao homem tímido a sua frente. Hiroshi era um paciente querido que passou semanas internado ao ter um começo de infarto. O fato dele ser tão novo, não mais que 30 anos, espantou a médica e a fez lutar ainda mais pela vida dele. 

— Q-quer… — Ele puxou o ar com força. 

“Aquilo estava mesmo acontecendo?”, perguntou-se Sasuke em choque. Aquele cara não tinha amor à vida mesmo ao querer chamar sua companheira de time para sair bem debaixo do seu nariz. 

— Que flores lindas, amor! — interrompeu Charasuke dramaticamente, jogando o braço ao redor do ombro de Sakura e a puxando mais para si. Ele fitou Hiroshi em desafio. — Minha gatinha adora receber presentes. 

O rosto do homem se entristeceu ao perceber que chegou tarde e Sakura já tinha um alguém. Ele assentiu para o loiro, dando-se por vencido. 

— Já vou indo então. — E saiu sem prolongar a despedida.

Um tapa no ombro fez Charasuke choramingar. 

— Por que fez isso? — inquiriu Sakura, indignada. 

— Eu estava tentando te ajudar! 

— Em quê, pelo amor de Deus? — vociferou a Kunoichi vermelha de raiva. Charasuke abriu a boca para se justificar, mas foi interrompido. — Quer saber? Não fala nada! Já estou atrasada o bastante e não tenho paciência pra lidar com mais um idiota. 

Charasuke observou sua figura de desejo sair pisando duro e suspirou. Sasuke, que se mantinha calado, deu um sorriso satisfeito. Era bom demais não ser o foco da raiva da Haruno. 


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