V

(meados de) setembro – início do novo ano letivo

Katie amava Nova York – isso não era surpresa para ninguém – mas, honestamente, tinha mesmo de ventar tanto? Era de se esperar que no meio de tantos prédios o vento fosse ser impedido de soprar tão forte, mas não. Especialmente em setembro.

Era quarta-feira a tarde, Katie havia sido liberada há pouco da aula – alguns minutos depois do horário, a professora Manzini aparentemente nunca terminaria sua aula no horário pré-estabelecido – e corria tentando manter todos seus papéis debaixo do braço, rumo a Monets (também conhecida como sua cafeteria preferida mais próxima do campus da NYU).

Era apenas a terceira semana de aulas do novo semestre, e ela não esperava que já tivessem tantos seminários, resenhas, ensaios e provas agendadas. Uma grande mecha do seu cabelo voou com o vento e caiu sobre seus olhos – e com vento ainda, para completar.

Chegou pouco tempo depois à cafeteria. Não estava vazia mas, felizmente, sua mesa favorita – aquela próxima à janela perto da árvore – estava desocupada. Colocou todos seus pertences na cadeira ao lado, tirou o sobretudo e o jogou por cima, respirando fundo em seguida.

Assim que pedisse seu frappé tudo se resolveria, ela tinha certeza. Para todos que diziam que frappé era uma bebida de verão, Katie lamentava dizer que estavam errados: frappé era uma bebida para qualquer ocasião. Bem, pelo menos para ela.

Pronta para se erguer da cadeira e enfrentar a fila para o balcão, foi surpreendida com um copo sendo colocado à sua frente.

— Um frappé com dose extra de café e uma pitada de chocolate em pó por cima. Ainda é o que você gosta?

Em sua mente, era como se o tempo tivesse congelado no momento em que ouviu o timbre da voz. Fazia tanto tempo que sentiu que seu coração falhou uma batida ao mesmo tempo que seu pulmão errou o ritmo da respiração, para voltarem a trabalhar logo em seguida como se não houvessem entrado em desespero junto com o cérebro de Katie.

— Talvez não seja mais o que você gosta? - ela ouviu a voz novamente.

Ergueu os olhos para se deparar com os olhos azuis de Aiden - anos podiam se passar e ela ainda tentaria inutilmente descrever o exato dos dos olhos dele, falhando miseravelmente.

— É exatamente como eu gosto - se forçou a responder, notando que o silêncio havia se estendido por tempo demais já.

Aiden sorriu com a resposta, olhando para a cadeira vaga à frente da garota. Com um aceno de cabeça, ela o convidou para sentar-se junto a ela na mesa.

Haviam tantas perguntas que ela queria lhe fazer - por onde tinha andado, o que estava fazendo, por que ele estava ali - mas não se sentia capaz de quebrar o fascínio do momento. Talvez fosse um sonho e qualquer movimento brusco poderia despertá-la do seu sono. Se limitou, portanto, a tomar um pouco da sua bebida.

Erguei seus olhos para o rapaz, encontrando-o a encarar de volta profundamente.

— Então...Não sei se você sabe, mas Columbia tem um excelente programa de artes.

Ela colocou o copo sobre a mesa novamente assim que começou a sentir o aperto dos seus dedos ao redor do vidro perdendo a pressão - ela talvez não tenha ouvido certo.

— Você entrou na Columbia?

— Bem, vamos ser sinceros, NYU era um pouco esnobe demais para mim - o sorriso de canto que surgiu no rosto dele era motivo o suficiente para o que surgiu nos lábios dela.

—- Você tá brincando comigo! Tá falando sério?

— Sabe como é, conheço uma garota que elogiou tanto Nova York que resolvi vir conhecer por mim mesmo.

— Você pediu demissão no Wired! E sumiu depois disso! - ela disparou em um discurso, tentando entender como as coisas haviam chegado a esse ponto.

— Fui fazer alguns cursos e aulas extras na North Carolina. Não sei se sabe disso, não é tão fácil assim entrar na faculdade. E eu não sabia se você ainda queria continuar a ter contato depois de tanto tempo. A propósito, Alexa mandou um abraço.

— Alexa? Ok, estou confusa agora.

— Ah, eu estava acertando os diplomas na North Carolina no final de agosto, você sabe, pra começar o semestre aqui em Nova York. Acabei esbarrando com ela no campus. Ou você achou que os ventos do destino tinham me feito vir tomar café na sua cafeteria preferida que fica a dez quilômetros da minha faculdade?

Katie riu porque, até aquele momento, ela realmente não havia parado para pensar naquilo. Fez uma nota mental de conversar com Alexa - e talvez achar um pouco ruim por não ter recebido nenhum tipo de aviso sobre aquilo (se tivesse sido avisada, por exemplo, não teria vindo com seu jeans desbotado e desgastado).

— E eu sei que a gente está tomando café agora - Aiden continuou a falar - mas eu estava pensando se a gente poderia tomar um depois. Ou não precisa ser um café. Talvez a gente possa ir, não sei, no cinema.

— Desde que seja um filme de terror - Katie brincou o rapaz, dando de ombros e sorrindo.

Aiden riu da resposta dela e, reparando como os olhos dele encolhiam e se franziam quando fazia aquilo, Katie percebeu o quão sublime a vida podia se fazer. Mesmo que um ano depois do que ela planejava.

Mas, afinal, desde quando algo que ela planejava realmente dava certo? A partir de então fez uma promessa mental de confiar um pouco mais na sublimidade da vida. Até ali estava sendo magistral, tinha de admitir.