Like Phantoms, Forever escrita por Drunk Senpai


Capítulo 2
A Solidão




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Uma, duas, três... as folhas dançavam ao ritmo sereno da brisa fria que acariciava suas bochechas. Sentado num canto mais distante daquele jardim esquecido sob um céu sem estrelas, a solidão sussurrava confidencias em seu ouvido. Algumas vezes, ecoava as vozes das outras crianças, já em outras lhe trazia o murmuro indiscreto das mulheres ou a hostilidade dos homens. De qualquer modo, lhe diziam sempre o mesmo: “Garoto amaldiçoado”, “Esquisito”, “Pobrezinho”, “Mau agouro”, “Lixo de rua” ...

No fim das contas, foi tudo o que sempre ouviu, desde que se lembrava. Não podia retrucar. Sequer sabia nada sobre si mesmo, de onde viera, quem foram os pais que um dia o abandonaram ainda bebê para que a sarjeta o levasse... Não sabia o que havia de errado consigo mesmo, então no fim das contas, eles podiam estar realmente certos.

De qualquer modo, muito em breve, já não importaria mais o que eles pensavam, ou ao menos, não o que aqueles na casa de órfãos tinham a dizer. Já estava crescido demais para continuar ali por muito mais tempo, logo completaria seus 14 anos e seria incapaz de estar junto com as crianças mais novas.

Não era uma regra real, ele não precisaria ir tão logo – Foi o que uma das poucas cuidadoras que lhe dirigiam a palavra, lhe disse. Mesmo assim, não se via continuando naquele lugar por muito mais tempo. Ainda que não fosse forte como os outros garotos, nem mesmo tão saudável quanto um órfão pobre poderia ser naquelas condições, havia decidido que era seu momento de partir.

Talvez devesse ir a outro vilarejo, ou mesmo uma cidade... algum lugar onde já não mais o olhassem daquela forma. Passara toda sua breve vida naquele lugar, apenas mais uma criança abandonada, vivendo do cuidado de outros... Exceto que, não era como os outros. Nunca o fora, na verdade. Sempre estivera doente, fraco, pálido e incapaz de nutrir-se com o pouco que tinham à disposição.

O fato de não poder juntar-se aos outros garotos, expostos ao sol durante o dia, também contribuía para que nunca tivesse companhia. Além disso, era sempre mais um motivo para o verem como peculiar, se fosse dizer de forma mais educada. Mas os outros, nunca eram educados.

—Aberração! – Um menino mais velho vociferou, levando-o ao chão com apenas um empurrão, enquanto os outros riam alto, cercando-o.

Seu desejo mais profundo parecia gritar em sua alma, enquanto eles prosseguiam lhe atingindo com socos e chutes. Queria poder levantar-se, queria poder revidar... Queria que fosse deles o sangue a manchar o barro sob seus pés. Seu pranto serviria como melodia e suas lágrimas, regariam a fúria que vinha ressecando sua alma durante todo aquele tempo.

Mas isso não era possível. Seria sempre ele aquele ao chão e sempre o seu próprio sangue derramando-se do lábio partido. Mas não os daria suas lágrimas. Sequer sabia, ao certo, quando fora a última vez na qual ousou derramar alguma. Já deviam ter se passado alguns anos, certamente. Mas havia prometido para si mesmo, nunca mais permitiria um pranto sequer a si mesmo.

Não demoraria muito, até que eles se cansassem dele e partissem para outro alguém. Só precisava aguentar mais um pouco. Não podia negar, contudo, o dano que tudo aquilo lhe causava. Era difícil respirar, agora. Seu estomago doía mais do que o que normalmente já o fazia. Todo o resto de seu corpo parecia estar sendo triturado pelos golpes. Não tinha certeza de como faria para se levantar, quando aquilo estivesse acabado.

—Deixem-no em paz, seus malditinhos! – Ouviu a voz de uma das mulheres ecoar ao longe. Fora o suficiente para fazer com que os outros dispersassem e fugissem para longe de lá. Seus olhos estavam fechados, mas podia ouvir seus passos aproximando-se dele, que permanecia encolhido ao chão, lutando por um pouco de fôlego. – Ora, levante-se daí, de uma vez! – Ela ordenou. – Veja, eles já foram. – Completou, passando a mão sobre seus cabelos negros que caíam sobre seu rosto, talvez para checar seus ferimentos. – Vamos, Ulquiorra. Há alguém que quer conhece-lo.

Continuava atordoado pelo ataque, mas aquela noticia lhe confundia ainda mais. Quem iria estar ali por sua conta? Era difícil de acreditar que alguém queria vê-lo, apenas não mais que crer que pudesse haver de alguma forma um fim para aquela solidão em seu peito. Seguira toda sua vida estando só, assombrado pelos próprios pensamentos. A criança amaldiçoada, o garoto abandonado...

Poderia realmente alguém vir a vê-lo?

Fez seu caminho, com dificuldade, seguindo a mulher, depois de cuspir um pouco do próprio sangue que havia chegado à sua boca, lhe deixando com o forte sabor ferroso em sua língua.

Já não sabia o que podia esperar, daquele momento em diante, tudo poderia mudar... 


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