Os Teus Acordes escrita por Nami Buvelle


Capítulo 2
Mas e quem é Tomás, afinal?




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“Vamos... Falta tão pouco, vamos, vamos, vamos!” Pensou com insistência, enquanto olhava com ansiedade o ponteiro de seu relógio de mesa se apressar.

A cada movimento do ponteiro, uma gota a mais de suor.

“Vai, 97%... 98%...”

Marcava cinco e quarenta e dois e sua mãe, sempre severamente pontual, chegaria a qualquer momento a partir de três minutos. A internet não travaria em três minutos, certo? Aquilo parecia bastante improvável.

“98%...”

Escutou a batida da porta de um carro.

“Inferno!”

A contagem congelou em 98% - era improvável, mas não impossível - e sua mãe, como havia avisado que chegaria às 17:45h, chegou. Foi para o quarto cumprimentar o filho e admirar sua disciplina e empenho nos estudos da medicina. Exceto pelo fato, é claro, de que Tomás não estava estudando.

— Oi, meu anjinho. – Silvia abriu uma fresta entre a porta e a parede do quarto, foi até Tomás, puxou um de seus cachinhos e lhe deu um beijo na testa. - O que você anda aprendendo, hein?

Quando seu olhar se desviou para o monitor, a expressão suave e tranquila que carregava de mais um dia satisfatório de trabalho se transformou em uma insatisfeita e indignada. Ainda assim não franziu demais os cenhos: aquilo poderia causar rugas.

— Mãe...

— Anjinho, já te expliquei que você tem em mãos a oportunidade que muitos anseiam, certo? Privilégios. Eu saio todos os dias, pontualmente às 7:52h, para estar no consultório às 9h, a fim de te proporcionar tais privilégios. Não é exaustivo, eu diria. Talvez um pouco cansativo, porém é o preço do sucesso e de sucesso eu entendo bem. E por entender bem, gostaria que você estivesse em busca do seu, ao invés de estar entretido com qualquer baboseira online.

— Não é exatamente uma baboseira, essa é uma nova música que escrevi e...

— Basta! Já te vi escrevendo músicas! Sei o quanto demora para juntar inúmeras palavras desconexas no papel e encaixar qualquer batida ritmada por trás. - Silvia forçou o desligamento do computador e sinalizou para que Tomás levantasse.

Contrariado, se levantou e olhou para o chão, para o teto, para qualquer lugar que não para a mulher que não respeitava seus sonhos. Ela lhe acariciou as bochechas.

— Eu tinha um sonho também, meu amor. - Amenizou a voz, lendo seus pensamentos. - Não deixei de sonhar, apenas convenientemente transformei eles ao meu bel prazer e satisfação. Hoje tenho uma linda casa, um lindo corpo, um lindo trabalho e um lindo filho que, infelizmente, não entende exatamente como a vida funciona.

Tomás rangeu os dentes. Silvia, analisando a postura do filho, reparou em tal insatisfação com deleite. Sabia que o próximo passo seria o garoto se sentar e estudar, para agradar a mãe e sair o quanto antes naquele sábado. Esse era acordo tácito.

Silvia lhe beijou novamente a testa e saiu, deixando a porta encostada. Tomás respirou fundo e se acomodou na escrivaninha.

“Hamburgão?” Escreveu para Zachary.

A resposta não tardou sequer três minutos.

“Você tem sorte de eu já ter completado todas as quests de hoje.”

Zachary não mudaria nunca... Tomás riu. Só precisava ler um pouco sobre biologia celular para conversar durante o jantar com sua mãe e pôr em prática a famosa – e tão valorizada por ele – arte da encheção de linguiça. Não havia tempo a perder!


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