Quinta-feira escrita por akire


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Pelo menos deu tudo certo... né? haha

Divirtam-se! :)



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Eu talvez nunca entenda a lógica de sonhar enquanto morto, mas lá estava eu pairando no limite da existência mais uma vez, quando fui jogado em um sonho.

Me vi parado à beira de um abismo escuro e sombrio, com vozes me chamando das profundezas. Meu coração martelava no peito; não era um sonho, eram fragmentos de uma lembrança. Eu tinha voltado àquele momento inúmeras vezes em meus sonhos, mas a aflição e a dor eram intensas como novas. Quando ouvi minha mãe, senti que não suportaria. O poço sem fundo que levava a Helheim parecia me atrair, era forte demais. Senti o mesmo desespero de quando estava em Niflheim me sufocar. Dessa vez eu pularia, meus amigos não podiam me ver, eles nem saberiam. Então um novo fragmento surgiu.

Todas as vezes que revivera aquele momento eu só havia sido tomado pela dor e ressentimento, fazendo a cena que se seguiu parecer quase irreal, esquecida em meio ao meu sofrimento.

Eu sei, disse Alex, quando finalmente encontrou minha mão e segurou-a, me impedindo de despencar diretamente para Helheim, eu também estou ouvindo, mas você não pode segui-los. Seu tom de voz era gentil, como eu nunca havia escutado. Enquanto ela me afastava para longe da borda, segurando minha mão, vi o poço se fechando e o sonho mudou.

Ainda estávamos em Niflheim, mas regredi no tempo. Alex e eu caminhávamos com dificuldade no meio do gelo, agarrados um ao outro como à própria vida, na tentativa de permanecermos vivos ainda mais um pouco. Mais uma vez me senti revivendo o momento, o frio sugando todo o calor do meu corpo, meus pulmões e garganta gritando em protesto. A runa Hearth havia se apagado e eu sabia que morreria ali, toda a minha força se extinguindo. Então vi Alex estancar ao meu lado e me virei para encoraja-la, mesmo que minha própria energia se esgotara. A proximidade me permitia sentir o seu hálito de limão e o cheiro cítrico que emanava do seu corpo. E então ela me beijou pela primeira vez, fazendo meu peito inflamar.

Eu não ia morrer sem fazer isso., ouvi-a dizer, quando se afastou levemente.

Tão certo como naquele momento, tive a certeza de que aquele beijo foi tudo o que me permitiu chegar até a margem.

De repente tudo rodou. Eu estava de volta à minha cama no quarto de Valhala.

***

Pisquei, a claridade abrupta ferindo minha retina. Demorei algum tempo para organizar meus pensamentos. Lembrei de toda a insanidade daquela quinta-feira (pior.dia.de.todos), flashs girando ao meu redor, como se buscassem seu devido lugar na minha memória. Eu não sabia ao certo quanto tempo passara morto, Quantos torneios malucos e possessivos eu ainda seria obrigado a participar?, mas um único pensamento parecia coerente naquele momento. Eu estava vivo e livre, mais uma vez graças a Alex Fierro.

— Alex... – o nome escapou dos meus lábios em um sussurro quase inaudível.

— Ai que meigo. – soltei um grito abafado ao perceber que não estava sozinho. Corri os olhos pelo cômodo, procurando a fonte do som, apesar de saber exatamente quem falara.

Confesso que o meu cérebro recém-ressuscitado demorou para localiza-lo, mas, em minha defesa, meus olhos procuravam por um garoto alto em uma mistura de verde e rosa, não o minúsculo gatinho preto que se enroscava na minha poltrona. Quando finalmente o vi, seus olhos castanho e mel me encaravam, o que já seria bastante assustador se ele fosse um gato normal. Em um movimento ágil, ele pulou para cima da minha cama sem fazer ruído algum e instintivamente ergui a mão para acaricia-lo, percorrendo os dedos por todo o pelo macio, sentindo o gato ronronar e se esfregar ao meu corpo ainda coberto pelos lençóis. Quando minha mão se aproximou da sua cauda cheia e fofa, o gato virou de supetão e mordeu a minha mão.

— Ei! – o gato apenas me dirigiu um olhar satisfeito diante da minha indignação e desceu da cama, já se metamorfoseando.

— Você é muito apressadinho, Chase, ainda nem me levou pra jantar – disse Alex, com um sorriso divertido nos lábios. Corei ao perceber do que ele falava.

— Mas não foi isso que eu... eu só... Ah, qual é, era um gatinho... – sua gargalhada preencheu o quarto, o que me obrigou a sorrir – Mas doeu tá, isso é muito injusto.

— Relaxa, Magnus, não é sempre que eu mordo... – seu tom me fez ter certeza que meu rosto nunca mais voltaria a ser branco.

— Argh, você é insuportável! – ele me mostrou a língua em resposta, me fazendo sorrir ainda mais. Deuses, eu era mesmo patético — E então, pode me atualizar? Quanto tempo estive morto? – rolei para a beira da cama, sentindo meu corpo inteiro protestar. Vi o garoto me lançar um olhar preocupado.

— Você deveria ir com calma, o esforço de ontem te drenou demais.

— Ontem? — o encarei, incrédulo. – Normalmente eu me curo muito mais rápido que a maioria.

— Ontem, querida. A donzela dormiu por 25 horas seguidas. – apesar do sarcasmo claro, detectei cansaço em sua voz e me senti imediatamente culpado.

— E você? O que aconteceu depois que eu morri?

— Ah, depois que você estava morto, eu era um dos três últimos de pé, então agora sou posse de Singrd por toda a eternidade.

— O QUÊ? Você não pode ir... E-eu.. Não, tem que haver outro jeito e... – quando busquei seus olhos novamente, vi que o garoto segurava o riso, claramente se divertindo com o meu desespero. – Eu te odeio, Fierro.

— Ah, mas a sua reação foi até fofa. – fiz um gesto não muito amigável pra ele, fazendo-o rir ainda mais, como se assistisse a um cachorrinho tentando ser bravo. – Tsc, tsc, Magnus, sua valquíria não aprovaria esse comportamento... Mas na verdade eu ainda consegui morrer a tempo. O dragão ficou bem satisfeito em fazer as honras.

— Acho que ainda não te agradeci apropriadamente. - Com algum esforço, consegui me manter sentado na beirada da cama – Ninguém teria conseguido me matar com Singrd no controle... Se não fosse por você, agora eu... Prefiro nem pensar.

— Na próxima, tente não agir como um idiota e sair aceitando qualquer oferta de uma garota bonita.

— Se eu não te conhecesse bem, diria que está com ciúmes... – ele cerrou os olhos e passou uma das mãos casualmente pelo garrote dourado preso à cintura – Mas é claro que eu te conheço muito bem para imaginar algo assim.

— Bom garoto. Agora que tal você usar toda aquela coisa ensolarada e terminar de se curar? Seus amigos estão preocupados e querem te ver no jantar. – assenti vagamente e me coloquei de pé, andando cambaleante até a estante em que deixara Jacques. Quando não o encontrei, me virei com um olhar indagador para Alex, mas percebi que ele me observava de uma forma curiosa. – Hmm, acho que Jacques está em um encontro com uma adaga ou coisa do tipo.

— Depois me pressiona para arrumar um segundo encontro com Contracorrente. Não sei se consigo me curar sozinho agora, não nesse estado... Por que está me olhando assim? – ele apenas ergueu uma sobrancelha em resposta. Desci o olhar para o meu próprio corpo, esperando encontrar algum pedaço faltando, mas tudo que vi foi um corpo completamente normal e... Só de cueca. Senti meu rosto corar. – Por que você não me avisou?

— O quê? Não estou vendo problema algum... – ele piscou pra mim – O quarto é seu, pode ficar à vontade.

Em um misto de vergonha e satisfação, tentei retornar à cama, mas meus joelhos falharam e eu teria me espatifado no chão da forma mais vergonhosa se não fosse pelos movimentos ágeis de Alex.

— Achei que eu tivesse dito pra você ir com calma. – meu coração disparou ao sentir os braços dele ao meu redor, mantendo meu corpo firmemente junto ao seu.

Quando eu finalmente o fitei, senti seu hálito morno em meu rosto, nossos narizes a cinco centímetros de distância. Eu podia ver a preocupação em seus olhos heterocromáticos, o que me fez sentir imediatamente culpado, mas algo em seu olhar demonstrava bem mais... anseio, desejo. Essa certeza me atravessou como uma descarga elétrica. Deixei de lado qualquer pensamento. Não sei dizer quem ficou mais surpreso quando eu finalmente o beijei.

Seus lábios eram desesperadamente macios e úmidos; uma sensação gostosa e calorosa se espalhava pelo meu corpo, me preenchendo e fazendo tudo parecer melhor enquanto o beijo lento tomava conta de mim.

Havia semanas que eu praticamente sonhava com aquilo. E Alex fazia questão de tornar minha situação ainda mais difícil. Sempre me provocando com comentários sarcásticos e olhares insinuantes, como se me desafiasse a tomar uma atitude. Talvez eu fosse realmente ruim com esse tipo de coisa, ou apenas tivesse medo de estragar as coisas, mas é bem difícil pensar direito quando Alex sorri pra você, te beija, te mata e depois te encontra para os jogos com os amigos e age como se nada diferente tivesse acontecido.

Mas no momento nenhum desses pensamentos importa, porque eu finalmente beijei Alex Fierro. Sem saídas inesperadas, sem entrar em desespero (Frey todo poderoso, help!). Simplesmente deixei os meus instintos comandarem.

Não sei bem quanto tempo ficamos ali; eu só conseguia sentir o gosto viciante da sua boca e o calor que parecia irradiar do meu próprio corpo. Talvez eu estivesse até brilhando.

Quando nós finalmente nos separamos, puxei o ar com dificuldade, tentando me lembrar como aquele sistema funcionava. O garoto a minha frente não parecia muito melhor, mas um sorrisinho presunçoso brincava em seus lábios. Inferno de sorriso lindo. Ele abriu a boca por um instante, certamente para me brindar com algum comentário espirituoso e totalmente desconcertante. Antes que isso fosse possível, e antes que perdesse o surto de coragem, eu o puxei novamente para mim.

Não importava o quanto aquele beijo era estupidamente bom, nem o quanto a sua língua quente na minha e suas mãos em meu pescoço me faziam derreter. Eu queria mais. Dirigi os nossos corpos até a parede mais próxima, com energia e força renovadas, prensando o garoto com o meu corpo. Mas acho que fui com entusiasmo um pouco demais.

— Ow! - Alex reclamou, quando colidiu com a parede. Imaginei que ele fosse se esquivar dos meus braços, me estrangular com o garrote ou algo do tipo - Eu gosto disso.

Seu olhar era tão libidinoso quanto possível, sua pupila era uma finíssima fenda, como se algo do gato houvesse ficado nele depois de se transformar. Quando ele ronronou baixo, eu achei que fosse explodir. Pude sentir cada átomo do meu corpo inflamar quando ele uniu novamente os nossos lábios para um beijo agora urgente, puxando com força o meu cabelo e me arrancando suspiros involuntários. Deuses, como eu esperara por aquilo. Subi uma mão pela sua coluna, conscientemente roçando os dedos por sua pele exposta pela camisa desalinhada e arfei quando ele apertou o corpo ainda mais contra o meu.

— Você parece animado... - sussurrei suavemente em seu ouvido e pude ver os pelos da sua nuca se arrepiarem. Ponto pro Magnus.

Eu não sei dizer de onde viera isso, mas subitamente senti a necessidade de falar. Queria falar tudo o que eu sentia e o que eu gostaria de fazer com Alex ali mesmo, prensado naquela parede. Hesitei por um instante; tinha medo de estar indo longe demais, não queria fazer nada que ele não quisesse, mas aquele maldito filho de Loki me fazia ter os pensamentos mais impuros enquanto beijava o meu pescoço, descendo uma de suas mãos calmamente até o elástico da única peça de roupa em meu corpo. Eu podia sentir sua respiração entrecortada na minha orelha, arfando de prazer. Toda a minha incerteza foi pro lixo.

— Você é delicioso, Alex Fierro - eu inverti a situação, beijando-o profundamente e logo passando minha atenção ao seu ouvido, maxilar, pescoço e cada pedaço exposto de pele. Respirei fundo, sentindo o inebriante cheiro dos seus cabelos. Ele apertou minha bunda de súbito, como se um espasmo passasse por seu corpo, me deixando ainda mais excitado. - Há tantas coisas que eu gostaria de fazer com você agora...

— Então o que você acha de calar essa boquinha linda e me mostrar? - o seu sorriso era desafiador e completamente obsceno, o que só me fazia delirar ainda mais. Como Alex faz isso comigo?

Eu não pude conter o sorriso. Imaginei se ele parecia tão indecente quanto o do garoto à minha frente, mas logo me concentrei em acatar à sua ordem. Separei os nossos corpos apenas o suficiente para livrá-lo da camisa verde e rosa, jogando-a em algum lugar atrás de mim. Subi as mãos pelo seu abdômen, peito e braços, pensando no quanto eu queria lamber cada um daqueles lugares, e um pouco mais. Me adiantei para o fecho da sua calça, ansioso para igualar os pontos. Era totalmente injusto que ele estivesse com aquele tecido grosso e incômodo atrapalhando meus toques, enquanto o fino pano da minha cueca mal podia conter o calor de seus dedos.

Eu quase não tive tempo de tocá-lo, pois um barulho alto e próximo demais me fez descolar uns quinze centímetros do chão.

—Magnus! Onde voc- ouvi um ruído alto, que poderia ser o meu pescoço quebrando com a velocidade que me virei para olhá-la. Na porta do quarto, completamente vermelha e estupefata, estava Samirah Al-Abbas. - O que... vocês dois... vocês...?

— Calma, mana, respira. - Obviamente, Alex foi o primeiro a se recuperar. Passou as mãos pelo cabelo casualmente e abaixou-se para pegar a camisa jogada aos pés da cama, vestindo-a tão rápido quanto eu havia tirado.

— Eu não acredito que estava morrendo de preocupação com os dois e vocês estavam.. estavam.. - ela fez um gesto vago com a mão, apontando para nossos corpos acusadoramente. Seus olhos se desviavam dos meus como se a imagem a sua frente a ferisse.

— Agradecemos a preocupação, maninha. Eu só estava ajudando o Magnus aqui a se curar mais rápido - o olhar do garoto era completamente divertido - Olha só, parece que ele está ótimo!

— E-eu estou ótimo - eu consegui dizer, o que pareceu bastante idiota. Como Alex podia se recuperar tão bem?

— Viu só? Vamos, Sam, vamos deixar o nosso morto se vestir. O jantar já foi servido? - ele puxou Samirah levemente pelos ombros, direcionando-a até a saída, e virou-se discretamente para mim, me analisando de cima a baixo rapidamente, com seu sorriso característico estampado - Eu definitivamente estou faminto.

Eu respirei fundo algumas vezes, agora sozinho em meu quarto, tentando colocar cada pensamento em seu devido lugar. Deixei meu corpo tombar na cama macia, controlando minha respiração e meus batimentos cardíacos que faziam meus tímpanos doerem.

Pensei em toda a loucura daquela quinta-feira (sério que tudo aquilo aconteceu no dia anterior?). Todo o problema com Freya e Singrd parecia esquecido em um passado distante, sem importância. O gosto de Alex Fierro ainda estava em minha boca, seu cheiro cítrico continuava impregnado no quarto, me deixando em um delicioso torpor.

Com um esforço absurdo, finalmente me levantei. Procurei por minhas roupas e me preparei para descer, pensando quanto tempo levará para que Sam consiga me olhar de novo. Sorri involuntariamente.

Depois de uma odiosa quinta-feira, ainda bem que existem as sextas.

E, claro, Alex Fierro.


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Notas finais do capítulo

Aaah, e aqui chegamos ao fim! Poxa, Samirah! hushaus

Muito obrigada a todos vocês que chegaram até aqui! ♥

Não deixem de comentar e me dizer o que acharam ^^

Beijos, e até a próxima :)



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