Quinta-feira escrita por akire


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

O que vocês acham que vem por aí em? rs

Espero que gostem! :)



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Infelizmente, eu me curo bem rápido.

Quando finalmente acordei no meu quarto, tudo parecia girar. Eu não sabia dizer nem a forma da minha morte, mas meu corpo gritava como se um rolo compressor de centenas de toneladas tivesse me atropelado várias vezes seguidas. Eu não queria, mas levantei mesmo assim quando ouvi batidas insistentes na minha porta. Vesti uma roupa qualquer e atendi.

Eu teria que conversar sério com Helgi sobre as portas dos quartos de Valhala. Se houvesse um olho mágico ali, eu jamais teria aberto para ela.

Samirah al-Abbas tinha uma expressão mortal, como sempre, mas eu estremeci ao perceber que dessa vez era direcionada a mim.

— Sam! Que ótima surpresa – dei o meu melhor sorriso de "por favor, não me mate de novo" - Como vai o Amir?

— Você por acaso pensa nas coisas que faz? – me senti grato por ela ter usado o diálogo e não o machado preso à cintura.

— Bem, varia de momento pra momento.

Sam revirou os olhos, entrando no quarto sem cerimônias e dirigindo-se ao átrio. Quando ela finalmente se sentou ao pé de um carvalho, imaginei que já era seguro me aproximar.

— Eu sei que a manhã foi bem estranha, mas ainda não entendi o que fiz de errado, além de morrer sem me alimentar e tudo mais...

— Você acha isso engraçado?

— O quê? Não pode ser saudável. Temos que manter o organismo...

— Você vai embora, Magnus! Deixa de ser idiota – eu quase soltei que preferia conversar com ela durante o Ramadã, quando não podia ser xingado ou ameaçado, mas as palavras dela me tiraram a vontade de fazer piadas.

— Como assim vou embora? Eu não fiz nada de tão errado assim... Fiz?

Sam respirou fundo e falou em um tom completamente diferente. Por algum motivo, eu preferia que ela ainda estivesse brigando comigo.

— O que você viu no salão mais cedo, Magnus, foi meio que a cerimônia de abertura de um evento muito importante para nós. De tempos em tempos, Freya visita Valhala com uma delegação dos seus guerreiros vanires para alguns jogos e torneios, como uma manutenção da paz entre os clãs. Afinal, apesar das diferenças, vamos todos lutar juntos no Ragnarok. Obviamente, eu ainda não participei de nenhum, acontece mais ou menos a cada trezentos anos, mas, diferentemente de algumas pessoas, eu procuro saber das coisas – ela suspirou, como se estivesse se controlando para não me estrangular – Mas o ponto é que, dentre os visitantes, a deusa traz sempre três de suas filhas para que escolham um campeão cada...

— Escolham um campeão para...? – algo me dizia que eu não ia gostar do final. Samirah hesitou, procurando pelas melhores palavras.

— Aí é que está... Para a maioria dos einherjar, ser escolhido é uma grande conquista, muitos homens matariam, e de fato matam, por ela...

— Você está me enrolando... Vamos, Sam, qual é o papel do campeão? É algo perigoso? Porque, francamente, eu não estou pronto para rodar os nove mundos para impedir o Ragnarok mais uma vez esse mês – pude ver um leve sorriso despontar no rosto dela.

— Você é impossível, garoto – fiz uma reverência.

— Eu me esforço, sabe.

— Então, como você deve saber, Freya é a deusa da beleza, música e flores, mas também é a deusa do sexo e sensualidade, da atração e da luxúria... – Como a boa muçulmana que era, Sam logo tinha o rosto completamente vermelho – Naturalmente, suas filhas carregam muitos dos seus.. uh, atributos com elas. São capazes de seduzir, manipular e confundir a mente de qualquer homem que queiram, mas elas são... insaciáveis.

Confesso que me senti um pouco constrangido com o rumo da conversa, apesar de que tudo aquilo explicava perfeitamente a minha pobre situação algumas horas atrás. De alguma forma, aquilo me incomodou mais do que ter sido massacrado. Odiava ser controlado por qualquer um, como se minhas vontades não tivessem importância.

Entretanto, eu ainda não havia entendido onde entrava o "campeão" na história, nem como isso fez o hotel inteiro querer me matar ou a suposta saída de Valhala.

— Okay, isso explica como eu me senti quando fui abordado pela garota brilhante e tal, mas o que isso tem a ver comigo e o que há de tão ruim em ser o campeão? Se é para algum dos jogos ou torneios que você falou, não deve me fazer mal. Vou sempre me regenerar enquanto estiver no hotel... Certo?

— Ah, claro. Você não vai morrer, quer dizer, de novo... Você entendeu, não definitivamente. E não sei exatamente o porquê do interesse especial dela em você, – obrigado – mas os campeões são escolhidos como os... Bem, os troféus das filhas de Freya. Em cada um desses eventos ao longo dos séculos elas reivindicam um einherjar de seu interesse para seus... hm, prazeres. Mas como eu disse, muitos homens matariam por essa honra, então é lhes dado uma chance. Hoje a tarde você entrará em uma batalha semelhante aos nossos treinamentos normais, sem partidos ou alianças, somente matar ou morrer. Mas, diferentemente dos nossos treinos, só homens poderão participar. Os últimos 3 de pé conquistarão a glória de deixarem Valhala, os treinamentos e a guerra para entrarem para a coleção das filhas da deusa do sexo e... bem, viver para satisfazê-las.

Um tapa na cara teria me atordoado menos. Primeiramente, isso era muito estranho, mas logo me lembrei da história de Freya, que engravidou de sabe-se lá quantos anões diferentes em troca de joias bonitas e deu origem a toda uma linhagem de elfos negros. Tudo bem, sem julgamentos, mas não era isso que eu queria. Em uma fração de segundos, imaginei a vida sem os meus amigos do corredor 19, Mallory, T.J., Mestiço, Alex... Deuses, só de pensar em ficar longe dela me senti sufocando. A ideia de nunca ver o casamento de Samirah e Amir, ou da minha prima Annabeth e Percy, tudo para me tornar um michê eterno daquela garota me deixou claustrofóbico.

— Alex... Como ela...? Você conversou com ela? – Sam me olhou em um misto de raiva e pesar.

— Você sabe como ela é... Não assume nada, finge que não se importa, mas dá pra ver que está angustiada. – Senti um pedregulho se formar no meu estômago.

Calma, dizia alguma parte do meu cérebro, não pode ser tão radical, deve haver um jeito de esclarecer as coisas.

— Ok... Vamos com calma. – Me virei para Sam, que me observava com cara de enterro - Você disse que muitos einherjar sonham com isso e tudo mais... Maravilha, por que não deixar essa grande honra pra eles? Ela não pode me obrigar a participar, não é mesmo? Eu não tenho o direito de recusar?

— É isso que eu estou tentando dizer! Você tinha o direito de recusar, mas a partir do momento que você aceita ser o campeão, ela tem direito sobre você... – Ei, eu estava sendo manipulado! – A menos, claro, que você morra durante a batalha... – senti uma pontada de esperança.

— Então está resolvido. Eu não sou um guerreiro, sou o curandeiro. Provavelmente serei o primeiro a morrer. Não sei porque você estava tão... – minhas palavras morreram ao ver Sam rolar os olhos, como se dissesse Você realmente achou que seria tão fácil? – Ah, lá vem. Não me diga que tem mais?

— Eu não sei exatamente como funciona, mas existe uma grande vantagem em ser o campeão escolhido, ou então a escolha não faria sentido. Quando entrar no campo hoje, carregará uma espécie de benção. Assim como os outros 2 campeões, você será muito mais difícil de matar. Em todas as vindas de Freya ao longo dos últimos séculos, os campeões a participarem da batalha foram os vitoriosos.

— Ótimo, simplesmente fabuloso. Quando eu finalmente quero, não posso morrer. Talvez a gente possa chamar Surt pra uma revanche.

— Eu tinha esperanças de que você não se regenerasse a tempo. Normalmente o mais difícil para um campeão é se manter vivo até a hora dos jogos, enquanto ainda não têm vantagem, por isso você foi morto imediatamente. Qualquer einherjar homem tem o direito de te matar na primeira hora depois do anúncio; depois disso, você é intocável até que os jogos comecem. Mas claro que nem pra permanecer morto mais um pouquinho você está servindo.

Eu não tive tempo de responder, nem mesmo de processar tudo aquilo. Uma corneta soou alto nos alto-falantes das paredes, fazendo meu cérebro tremer.

Sam se levantou.

— Vamos, campeão de Valhala. Agora tudo será decidido em batalha. – Ela me lançou um sorriso esperançoso – Talvez você tenha sorte em morrer, você é bom nisso. Além disso, hoje é quinta-feira.

Ah, claro, às quintas nós temos dragões.

É, não costuma ser agradável. Mas considerando que dessa vez eu precisava morrer para continuar a minha pós vida/morte livremente, a ideia não me pareceu tão ruim. Pelo mesmo motivo, decidi deixar Jacques no quarto. Seria muito mais fácil ser atingido sem uma espada falante, autônoma e inteligente pronta pra me defender e, de acordo com ele, não era certo que ele deliberadamente assassinasse seu dono. Em outras circunstâncias, eu ficaria feliz com isso.

— Vê se morre direito dessa vez – Jacques começou, as runas brilhando em tons alaranjados - ainda temos muitas lutas juntos até o Ragnarok. Além disso, ainda estou esperando o meu épico e preciso de um segundo encontro com Contracorrente.

Decidi interpretar que ele sentiria a minha falta e me queria bem. Desci em direção à batalha.

Não vi os meus amigos no campo, o que foi reconfortante. Aparentemente eles queriam aquela glória tanto quanto eu. Por outro lado, me senti solitário e vazio sem eles. Se tudo desse errado, eu teria a chance de me despedir? Resolvi afastar aquele pensamento e me adiantei para os dragões. Morrer vai ser moleza.

Preciso dizer? Não foi.

Confesso que quando Sam disse que os campeões tinham uma vantagem eu não dei muita importância. Quando ela disse que todos os campeões venciam, tudo bem, eu pensei, então deve ser algo significativo, mas eu não estava preparado para o que realmente aconteceu.

Quando a corneta finalmente soou, minha visão ficou turva, meus pensamentos pareciam obscuros e distantes...

O que eu estou fazendo mesmo?, uma parte do meu cérebro parecia perguntar.

Lute, mate todos! Honre Singrd!, outra parte respondeu.

Olha, acho que não era bem isso... Eu conheço esse nome?

Não tive tempo de decidir qual lado tinha razão, pois cinco guerreiros com o dobro da minha altura corriam na minha direção em uma mensagem clara: você vai morrer, magrelo. Meu cérebro se apagou, uma onda de fúria inexplicável percorreu o meu corpo e eu ataquei sem nada nas mãos. Minha força de einherjar triplicara, a agilidade incomum me tornava um demônio, cortando, furando e defendendo com as armas dos próprios guerreiros. Eu não sabia exatamente como estava fazendo aquilo, mas Singrd era a única coisa que preenchia minha mente e controlava meus atos.

Os dragões atacaram, mais guerreiros surgiram, mas nada ficava em meu caminho. Em algum momento tive flashs da carnificina ao meu redor, dois furacões de espadas e lanças estavam em pontos opostos do campo. Não importava quantos einherjar se aproximassem, todos eram picotados e os campeãos não sofriam um arranhão.

Nesses segundos de distração, um gorila surgiu às minhas costas e me vi sendo jogado quase dez metros para trás. Metade dos ossos do meu corpo deveriam ter se partido com o impacto, mas aparentemente tudo estava inteiro. Me ergui, confuso. Eu mal o localizei e logo ele partia pra cima de mim como uma locomotiva. Me preparei para o impacto dessa vez, todos os meus nervos dizendo mate. De repente o gorila saltou, se transformando em um falcão em pleno ar, que desceu em um rasante, confundindo meus sentidos. Quando pisquei, o falcão já havia mudado e um guepardo de um metro e meio de comprimento surgiu ao meu lado, abocanhou meu tornozelo e me arrastou com velocidade surpreendente em direção à floresta.

O guepardo parecia me acertar em todas as árvores do trajeto intencionalmente, me deixando zonzo, mas inacreditavelmente inteiro. Quando finalmente me largou jogado em uma clareira, os sons da batalha haviam morrido. Eu não sabia se por estar longe demais ou se acabara.

Quando me levantei de novo, o animal me cercava, os olhos de cores diferentes me fitavam, um castanho e o outro mel.

— Você não está morrendo muito bem hoje em – eu não me surpreendi quando ele falou, mas sua voz me fez hesitar, o tom sarcástico soando familiar. Minha cabeça girava, como se duas forças brigassem pelo controle dentro de mim.

— Você.. Você é um homem? Mostre-se ou vá, preciso ganhar a batalha. – percebi que a voz que falava não era a minha, mas uma imitação dura e fria.

— É isso que você quer?

— Eu... Singrd... Eu devo matar todos...

Em resposta, o guepardo começou a mudar de forma novamente. Imaginei qual animal surgiria e arrancaria minha cabeça, mas quando terminou, um garoto de cabelos verdes me encarava com um sorriso desdenhoso. Com a mesma tranquilidade que mudara de forma, tirou o machado que trazia preso à cintura e jogou para mim. Agarrei-o por reflexo.

— Então me mate, Magnus. – disse Alex Fierro.

Eu cambaleei, a cabeça zumbindo. Minha mão se fechou sobre o cabo do machado com mais força, mas minhas pernas não se moviam. Mate-o, conquiste Singrd!, minha mente rugia.

— N-não, eu não quero! – consegui dizer, dessa vez eu mesmo, a minha voz; mas o controle não durou muito tempo – Você vai morrer, filho de Loki. – Levantei o machado.

— Você não vai conseguir, Singrd. – Alex falou, se aproximando devagar, com um sorriso desafiador. - Escolheu o einherjar errado, esse já é meu.

Uma descarga elétrica percorreu minha coluna ao ouvir aquelas palavras. Eu queria acabar com tudo aquilo, poder ter Alex em meus braços e sentir seus lábios macios novamente. Eu quis gritar, mas nem a minha voz respondia aos meus comandos.

— Você tem lábia, mas a influência de sua mãe não vai salvá-lo... – minha voz cuspia as palavras – Quando eu te matar, terminarei a batalha e pertencerei a Singrd para sempre.

— Ah, mas Loki não tem nada a ver com isso.. Você não é Magnus. – Alex estava a quase um palmo de mim agora, senti o peito aquecer – Na verdade, ele está lutando com você agora mesmo. Magnus é uma força da natureza, gentil e caloroso como uma brisa de verão... Mas você não pode dobrar o verão a seu favor. – Alex olhou no fundo dos meus olhos e percebi que o que ele via era de fato eu. Ele me deu uma piscadela divertida. - Além disso, ele está caidinho por mim.

A voz não teve tempo de responder. Alex acabou com os últimos centímetros que nos separavam e me beijou, um beijo suave e macio que pareceu derreter tudo dentro de mim. Senti meu corpo aquecer, como acontecia quando eu curava, mas aquilo não era eu, ela estava despertando a cura dentro de mim. Eu poderia ficar ali pra sempre, mas em um movimento súbito Alex me empurrou, puxou o garrote dourado da cintura em uma velocidade impossível e enlaçou meu pescoço, puxando por trás. Em uma fração de segundos, eu entendi: meu corpo tinha perdido momentaneamente o brilho dourado, pude sentir a exaustão de toda a carnificina anterior me drenando. Era literalmente agora ou nunca.

— Tenha bons sonhos – Alex sussurrou no meu ouvido e senti cada pelo do meu corpo se arrepiar. Há maneiras piores de morrer.

E então, claro, ele me decapitou.


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Notas finais do capítulo

Desculpa, não posso evitar, o Magnus e esse garrote já têm uma longa história hsuahsa



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