Todos os Erros escrita por Lizzy Di Angelo


Capítulo 8
O que os olhos falam




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Parou a vassoura a poucos centímetros do chão, tão perto que bastaria esticar os pés para tocar a grama macia, mas por vários minutos Wood os manteve ali, sem coragem de interromper os soluços dela. Ainda se sentia um pouco nervoso, mas já estava recomposto o bastante, ao contrário de Ilíria. Os dedos finos agarravam seus ombros com tanta força que começava a suspeitar que ficariam marcas ali, contudo, não se importou, se dedicando a esfregar as mãos nas costas dela lentamente e dizer alguns “está tudo bem”. Quando o sentimento de urgência passou, abraçá-la se tornou um pouco íntimo demais, principalmente se levasse em conta que ela estava sentada em seu colo.

Ficaram ali até que os soluços diminuíssem, as lágrimas parassem e a respiração se tornasse quase normal, e então Ilíria não sabia mais se queria se enrolar naquele abraço ou se queria fugir e fingir que nunca tivera um ataque de choro em cima de Oliver Wood. Permitiu-se mais um segundo ali antes de desatar suas pernas das costas dele, soltar suas mãos, virar o rosto para o lado e limpar as lágrimas sem que ele visse, o momento já era estranho o suficiente sem isso.

Não sabia mais o que fazer, então apenas observou o jeito como ela tentou esconder o rosto para secá-lo, logo antes de apoiar uma das mãos novamente no ombro dele, usando-o para conseguir descer da vassoura. As pernas bambearam, automaticamente voltou à mão para a cintura dela, impedindo-a de cair. Os olhos escuros subiram para olhá-lo, então finalmente pode ver o jeito como seu rosto se tornara um pouco inchado e avermelhado, seu coração se apertou. Então ela se soltou, sentando na grama como se ainda não confiasse no próprio corpo.

A garota apertou a grama entre os dedos, querendo se agarrar ao chão, então trouxe as pernas até o peito e encostou a testa nos joelhos, não podia olhá-lo. Apertara Oliver com tanta força graças ao pânico, mas para o seu azar, se lembrara de há quantos anos não recebia um abraço no meio do caminho até o chão. Era tão frustrante já ter perdido tanto, sentir que seu coração nunca mais estaria inteiro, que aceitara de vez o abraço que parecia capaz de protegê-la de tudo, torcia para que ele não tivesse notado como por alguns segundos o choro ficara ainda mais forte. Tudo o que queria era afundar no chão de tanta vergonha.

O grifinório desceu da vassoura, soltando um suspiro ao perceber que não fazia a menor ideia de como conduzir a situação. Caminhou para o lado ao avistar a vassoura quebrada no chão, se surpreendeu ao ver ela lhe observando quando fez menção a voltar para perto, e o jeito como desviou os olhos rápidos demais foi o suficiente para que soubesse que ela pensara que ele iria embora e a largaria ali, mas simplesmente não era esse tipo de pessoa. Abaixou-se de frente para ela, estendendo as mãos para que ela pudesse pegar os dois pedaços de madeira que restaram, assistiu em silêncio o modo como ela traçou as próprias iniciais, gravadas no cabo em prata.

—Sinto muito. —era a única coisa que poderia dizer.

—Acho que antes ela do que eu. —a resposta tirou uma leve risada dele, mas podia ver pelo modo como ela segurava que estava realmente chateada, gostava da própria vassoura tanto quanto ele.

—Como foi parar lá? —franziu as sobrancelhas ainda confuso quanto a isso, jogavam tanto na chuva quanto no sol, e ainda assim nunca vira uma pessoa pendurada nos aros. Teria sido muito mais previsível se tivesse dado com o corpo contra uma das arquibancadas, mas aparentemente previsibilidade não combinava com ela.

—Eu olhei para os aros e me perguntei se conseguiria fazer barra neles, a resposta é não. —sacudiu a cabeça desdenhosamente, mas se fixou nele ao ver a sobrancelha arqueada, pedindo por uma resposta de verdade. —Acho que fui azarada.

—Alguém realmente não gosta de você. —a resposta dele poderia tê-la feito rir.

—Até onde eu sei, essa pessoa poderia ser você, Oliver Wood. —devolveu sarcástica, e quando enfim se sentiu firme o bastante para levantar, se impulsionou para cima.

—Seria trabalho demais considerando que fui eu a te tirar de lá. —voltou a ficar de pé, batendo as mãos para limpá-las antes de agarrar a vassoura novamente.

—Tem um ponto, Wood, mas ainda vou provar que está atentando contra minha vida. —o modo como falou arrancou uma gargalhada dele, não saberia dizer qual dos dois estava mais chocado.

—Não sei se Heather ficaria feliz com isso. —seu sorriso de lado mostrava que era uma piada, começaram uma caminhada para fora do campo, definitivamente ambos já haviam tido voo o suficiente para um dia só.

—Provável que não. —pensou um pouco antes de completar: —A menos que ela seja a mandante, quem teria mais coisas contra mim do que a pessoa que convive comigo? —estreitou os olhos quase como se considerasse isso de verdade, antes de continuar: —Ainda não fiz nada grande o bastante para merecer seu ódio, e gosto de pensar que faço por merecer.

—Ódio por mérito próprio eu nunca tinha ouvido falar. —foi a vez dela rir.

Sentia-se um pouco melhor, e embora não fosse a maior fã do grifinório, era reconfortante ter sido ele a chegar no momento certo, porque soubera conduzir perfeitamente a conversa até algo seguro, roubando os pensamentos dela sobre como era assustador estar só há tanto tempo. Eles voltariam mais tarde, sempre voltava a pensar nisso, mas ao menos fora distraída por tempo o suficiente para que não tivesse mais lágrimas, poderia estar vermelha e inchada, porém isso ainda era muito melhor do que pendurada no ar ou afogada em lágrimas em pleno campo de quadribol.

O resto do caminho foi silencioso, se olharam ao chegar ao castelo, os olhos dele poderiam querer perguntar “você está bem?”, os dela poderiam dizer “obrigada por me salvar”, mas a boca de nenhum dos dois se moveu quando se separaram.


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