O Sabor do Poder escrita por Lana


Capítulo 5
Capítulo 5.


Notas iniciais do capítulo

Aí está a último parte e bem rapidinha! Boa leitura!



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No ano imediato que se seguiria, os dois mal se veriam. Emmett finalmente entraria para a política, sendo recebido muito bem pelo público e se tornando um nome famoso naquela área em Nova York. Rosalie eventualmente entrou em uma companhia de dança, deixando aos poucos a profissão de professora e se dedicando mais às apresentações.

Viram-se uma vez em um jantar de Edward e Bella, comemorando um aniversário de Edward, cerca de dois anos depois do término. Não era surpresa a falta de encontros, uma vez que moravam em lugares completamente diferentes e frequentavam espaços distintos; assim, a única causa ainda comum a ambos era o casal de amigos.

Não se viram novamente no tempo que se seguiria, exceto por uma vez onde, por total acidente, cruzaram um com o outro em um restaurante. Emmett estava acompanhado por uma mulher de cabelos castanhos e aparência polida com quem Rosalie já o vira acompanhado em fotos de notícias. Ela estava acompanhada com um amigo da companhia onde trabalhava e com palavras pequenas e movimentos de cabeça curtos se cumprimentaram com distância.

Só se veriam novamente pouco depois de Rosalie completar vinte e nove anos. Era um jantar em comemoração ao aniversário de casamento de Edward e Bella, e estavam reunidos na casa do casal. Eles haviam adotado a pequena Renesmee há alguns meses, depois de alguns anos tentando sem sucesso engravidar.

Ambos estavam desacompanhados, embora Rosalie soubesse que Emmett estava em um relacionamento. Alice também estava lá, acompanhada de seu agora marido Jasper. Ambos faziam um casal peculiar – Alice com toda sua simpatia e energia e Jasper bastante reservado e introvertido – mas estavam tão felizes quanto possível juntos. Haviam acabado de retornar de sua lua de mel no Hawai – escolha de Alice, é claro – e ela arrastava o marido consigo, tagarelando sobre as belezas do lugar para quem quisesse ouvir.

Rosalie e Emmett tentaram se manter distantes durante a noite toda, mágoas e receios ainda em si, mesmo apesar de anos distantes um do outro. No final da noite, entretanto, ambos se encontraram sentados lado a lado no bar improvisado para o jantar.

— Emmett. – ela cumprimentou quando ele sentou-se a seu lado. Ela usava um vestido azul com diversas estampas coloridas, que pareciam ressaltar a juventude que havia nela. O cabelo ondulado estava mais curto agora, na metade das costas, ainda parecendo com o dia ensolarado que ele sempre gostara tanto.

— Rose. – ele disse. Pediu um uísque enquanto ela bebericava seu vinho. O gosto pela bebida acabara crescendo nela e agora tinha o hábito de toma-la em longas noites, mesmo que sozinha.

Parecia ser percebido por ambos a atmosfera que estar lado a lado causava a eles. A energia que parecia percorrer seus corpos, a familiaridade apesar da longa distância e do tempo, o sentimento acolhedor de reconhecimento.

Ela olhou-o de esguelha e viu-o revirando o copo nas mãos, o que indicava que estava pensando com cautela sobre algo. Ela mordeu seu lábio inferior, respirando fundo, e o cheiro de Emmett infiltrou-se em seu cérebro, parecendo escurecer todos os seus pensamentos. Ele vestia-se como ela sempre via em fotos, com ternos caros e bem cortados, que só ressaltavam sua postura e seu preparo físico.

— Já faz bastante tempo. – ele comentou casualmente. – Não ouço de você há muito tempo. – ela expirou uma risada curta e então sorriu.

— Não posso dizer o mesmo quando você está regularmente no meu jornal, governador. – ela brincou e ele sorriu.

— Desculpe-me por isso. – disse com um sorriso apologético. Rosalie deu um riso baixo.

— Não é sua culpa. E não é nada que eu não possa lidar. – ela prometeu e eles trocaram um sorriso.

— Eu... Eu fiquei me perguntando se a veria aqui hoje. – ele confessou.

— Por que não veria? – ela perguntou erguendo uma sobrancelha.

— Bom, não seria o primeiro jantar do qual você fugiria para não me encontrar. – ele disse e um sorriso de lado tomou seu rosto. A respiração de Rosalie se prendeu enquanto ela ficava estupefata.

— Eu não tenho ideia do que você está falando. – foi tudo o que respondeu, a voz desprovida de qualquer emoção. Emmett riu e assentiu enquanto ela desviava os olhos e dava um gole em sua taça.

— Sabe, eu fiquei me perguntando se eu devia vir também. – continuou. – Sempre tentei me manter distante porque acho que é mais fácil dessa forma. Ver você é sempre... desafiador.

— Eu... – ela fechou os lábios, incerta do que falar, divida entre fazer um comentário espirituoso ou ser honesta. Suspirou. – Eu acho que talvez você esteja certo. Além do mais, nós já sabemos como isso termina.

Ambos sustentaram seus olhares enquanto Rosalie sentia uma velha sensação a invadir. Ela mordeu os lábios quando sentiu os dedos de Emmett roçarem levemente no lado da sua mão.

— Ainda assim é incrivelmente bom te ver. – ele murmurou. Os dentes de Rosalie se pressionaram com mais força sobre a boca.

— É bom ver você também, Emm. Você não tem ideia do quanto.

Eles não sabiam dizer com certeza como ou quando, mas de repente ambos estavam no carro de Emmett. Ele os dirigiu até o apartamento onde Rosalie agora morava sozinha e de repente estavam em um dos poucos lugares onde nunca houve discussões ou discordâncias entre eles. O tempo só fazia com que ambos ficassem mais ávidos por compartilhar aquele momento e não parecia diminuir o prazer daquele encontro.

Na manhã seguinte não houve nervosismo ou expectativa para uma conversa e possível resolução. Rosalie sabia que ele estava com alguém e, além do mais, naquele momento, não tinha certeza de que se envolver com Emmett era uma boa opção – ou sequer uma opção viável.

Ele não mencionara estar em um relacionamento, mas ela sabia que sim. Ela estava em uma companhia e viajava constantemente fazendo espetáculos, então não se considerava uma moradora fiel de Nova York no momento. Sabia que Emmett era ainda muito próximo da família, afinal, não havia nenhuma tentativa de esconder aquilo. Com base em seus históricos, especialmente juntos, sabia que as chances daquilo funcionar eram mínimas e não sabia se valeria a pena arriscar. Quando Emmett tentara adentrar em um terreno perigoso na manhã seguinte, ela então o interrompera.

— Não... Não vamos fazer isso. – ela pediu, mordendo o lábio, o cabelo louro bagunçado caindo sobre o rosto.

— O que? – ele franziu as sobrancelhas.

— Essa conversa, esse momento. – ela explicou. – Você ainda viria, certo? – ela checou. – Se você está aqui... Você viria. – ela murmurou. Ele piscou, assentindo.

— Eu... É. – ele concordou, usando uma das mãos para enfiar uma das mechas do cabelo dela atrás de sua orelha. – Eu viria.

— Eu também. – ela deu um meio sorriso, parcialmente triste. – Nós ainda viríamos, mas nada mudou, Emm. – ele engoliu em seco.

— Você está certa. – ele assentiu.

— Então não vamos fazer isso. – ela repetiu. – Eu vou seguir a minha vida e você vai seguir a sua. E quando por acaso nos encontrarmos... Em um jantar na casa da Bella ou em um café ou em uma apresentação... Nós podemos vir juntos. – ela sorriu mais. – Mas não vamos fazer isso, não vamos tentar nos prender a algo que claramente não funciona.

— Isso é suficiente para você? – ele perguntou surpreso. Rosalie engoliu em seco, mordendo o lábio inferior.

— Honestamente? Não sei. – ela deu um riso curto. – Mas eu sei que ainda te amo, apesar de saber que jamais funcionaríamos juntos. E por te amar, mas saber dessa realidade, não quero nos destruir mais uma vez tentando fazer aquilo dar certo. Talvez possamos tentar algo novo? – ele acariciou o rosto dela, desenhando seu perfil com o dedão.

— Então como isso funcionaria exatamente? – ele perguntou, um sorriso lentamente surgindo em seu rosto. Ela sorriu de volta.

— Nós não tentamos nos encontrar, mas também não tentamos nos evitar. E quando nos encontrarmos, se ainda nos sentirmos da mesma forma, fazemos nossa fuga. – sugeriu com um sorriso travesso e Emmett riu. – Não quero ficar longe de você. – confessou depois de alguns minutos em silêncio. – É muito ruim só ver você em notícias.

— Eu não gosto disso também. – ele concordou, puxando-a para mais perto. Eles permaneceram em silêncio, abraçados, digerindo a situação. – O que acontece quando não for mais suficiente?

— Eu suponho que podemos parar. – ela deu de ombros. – Não há muito a se fazer se chegar a esse ponto.

— Eu não acredito que algum dia consiga parar com isso, com você. – ele sussurrou no ouvido da loura. Ela sorriu, expirando uma risada.

— Felizmente não temos que pensar sobre isso, porque por agora isso vai ser suficiente. – murmurou enquanto içava-se para juntar seus lábios aos de Emmett.

Eles mantiveram então aquela relação pelo tempo que se seguiu. Não combinavam formas de se encontrar, mas quando realmente queriam encontrar um ao outro frequentavam lugares que sabiam ser habituais para o par. Os encontros não eram recorrentes, afinal, ela viajava durante muito tempo e ele era um governador. Emmett se separou da garota com quem saía pouco tempo depois de estabelecer o acordo com Rosalie, embora jamais tivesse mencionado a razão para alguém.

Rosalie não contara a ninguém sobre aquele primeiro encontro – e não contaria sobre os que aconteceriam a seguir. Eles se viam talvez três ou quatro vezes por ano, onde desapareciam por uma noite ou um dia inteiro, mergulhados na companhia um do outro. Ela sabia que seria duramente julgada pelas amigas – podia imaginar claramente o tom de Alice e a careta que ela faria –, que argumentariam que ela estava usando aquela situação para não precisar lidar verdadeiramente com os sentimentos que ele a causava. Ela não se importava, só queria poder estar perto de Emmett e aproveitar cada momento a seu lado.

É claro que ainda o amava, isso jamais estivera em questão. Não importava quanto tempo passasse aquele sentimento não a abandonava. E parecia que a ele também não, afinal, ele estava ali, ele sempre ia. Eles não podiam se manter em um relacionamento, aquilo já havia sido percebido, e tudo bem – não precisavam ter uma relação comum para que pudessem ficar juntos. Ali, em seus momentos de fuga e felicidade, ninguém os alcançava. Não havia família poderosa, nem política, nem amigos, nem julgamentos, nem razão, nem mágoas – não havia nada além deles e amor. E Rosalie aproveitava cada um daqueles momentos com sofreguidão.

Para Emmett, aqueles momentos eram como tomar ar depois de um longo mergulho. Ele estava no caminho que havia planejado ao lado da família e seria mentira dizer que não estava realizado, entretanto, toda a vida já estava milimetricamente desenhada e ele sabia bem o que aconteceria pelos próximos dez anos. Estar o lado de Rosalie era como pegar um lápis novo, rabiscar desenhos nas bordas do texto já inteiramente elaborado em caneta e sentir as pequenas alegrias que eles traziam a cada nova leitura. Ela era sempre enérgica e bem humorada, com comentários espirituosos que ele sempre ansiava em ouvir.

No fim, eles estavam felizes e tinham algo pelo que ansiar. Aqueles momentos roubados, apesar de tudo o que eles tinham, eram incríveis por si só e capazes de aquecer seus corações.

Rosalie voltou para seu apartamento depois de um natal viajando fazendo apresentações com a companhia e um pacote a esperava na portaria. Ela o pegou, o carregando consigo e com as malas para casa. Ao chegar abriu a caixa embalada em papel pardo e se deparou com uma caixa de música que parecia ter sido fabricada há muito tempo, embora aparentasse ser muito bem cuidada. O modelo lembrava a Rosalie daquelas que conhecia quando era uma criança, tantos anos antes. Ao abrir, uma pequena bailarina subia junto com a tampa enquanto uma música melodiosa contagiava o espaço. Junto com a bailarina ela notou surgir um anel dourado que exibia algumas pequenas pedras coloridas – vermelhas, azuis, verdes, amarelas, roxas – todas batalhando lugar uma contra a outra em volta de uma pedra maior transparente.

Ela encarou, estupefata, o presente. Desenroscou o anel da pequena boneca e apreciou a beleza da peça. Ela automaticamente amara, adorando como o colorido parecia ressaltar o brilho da peça central. Ao tirar a caixinha de música da caixa pôde ver um pequeno pedaço de papel cartão cair e pegou-o, avidamente se dedicando a ler.

“Por acaso cruzei com essas coisas enquanto fazia compras de natal e foi impossível não me lembrar de você. Tanto a caixa de música quanto as cores do anel me remetem à sua personalidade, cada uma por seus próprios motivos. Espero que seu natal seja peculiar e espetacular, assim como você, onde quer que você esteja. Ansioso para o nosso próximo encontro.

— E.”

Ela sorriu, sem acreditar que ele havia feito aquilo. Não havia data, e ela sequer preguntara ao porteiro, mas imaginava que havia sido mandado há duas semanas, antes do natal. Ela amara a intenção e mais ainda a forma como ele conhecia seus gostos. O anel era perfeito para ela, apesar de possivelmente alegórico para qualquer outra pessoa. O sorriso cresceu enquanto ela observava os objetos, a caixinha de música se parecendo muito com uma que ela possuíra quando mais nova.

Ela deslizou o anel pelo dedo do meio, vendo-o reluzir em sua mão com os poucos raios de sol que entravam pela janela. Rosalie riu, encantada; também estava ansiosa para o próximo encontro. Quando se viram na vez seguinte, ela fez questão de mostrar exatamente o quanto se alegrara com o mimo que ele escolhera. Ela passara a usar o anel durante todo o tempo, inventando desculpas quando questionada sobre onde arrumara a peça.

Os anos passavam e datas comemorativas iam e vinham. Não era comum eles trocarem presentes, mas vez ou outra, quando cruzavam com algo que os fazia se lembrar um do outro, eles se presenteavam. Rosalie mandaria cartões postais de lugares por onde passava, sempre sem remente, normalmente com uma ou duas palavras. Emmett sempre mandaria pequenas caixas sem remente para seu endereço, embaladas em papel pardo e acompanhada de um bilhete em papel cartão. Ela guardava cada um daqueles bilhetes, reassegurada dentro de si de que aquele homem, embora não parecesse a olhos estranhos, pertencia a ela. Aquele coração era seu.

Os encontros acabaram se tornando mais escassos conforme os anos seguiram. Emmett estava cada vez mais engajado na política, ocupado com compromissos e se enredando sempre um pouco mais na vida desenhada que estava à sua frente. Rosalie assumira outros projetos, alguns em Nova York, outros não. As pequenas surpresas pararam de chegar e os pequenos momentos roubados se tornaram mais e mais raros. Depois de algum tempo, tinham sorte se conseguiam se encontrar uma vez por ano e depois de algum tempo, sem sequer falarem sobre aquilo, os encontros pararam.

Não foi algo planejado ou discutido, eles apenas não se viam mais. Eles nem sempre estavam na cidade quando havia jantares de amigos e Rosalie nunca mais o encontrara ao procurar por ele em seus lugares usuais. Ela sabia que ele estava envolvido com alguém de novo, mas aquilo jamais havia sido problema antes, então aquilo não a preocupava. Ele ainda a pertencia, ele sempre viria, ela sabia.

Depois de cerca de um ano e meio sem se verem, ambos se encontraram em um coquetel dado por Bella. Ela estava lançando um livro – obra na qual se empenhara por anos e que finalmente estava saindo do papel – e chamara os amigos mais próximos para celebrarem com ela e a família aquele marco.

Emmett pretendia dar apenas uma passada, estava atarefado e os compromissos e responsabilidade não paravam de chegar, especialmente no meio de uma campanha, mas ele sabia que Rosalie estava na cidade e depois de tanto tempo sem vê-la, estava ansioso por um vislumbre de seu rosto. Ele chegou atrasado por conta de uma reunião, vestido como sempre em um terno caro preto que só ressaltava sua beleza, e não demorou muito para encontra-la.

A primeira coisa que ele notou foi o cabelo louro como um dia ensolarado.

Era sempre a primeira coisa que ele notava quando a via. Fora na primeira vez e ele sabia que sempre seria. O corpo dela estava envolto em um vestido longo vermelho, com um decote em v e de alças finas, ressaltando o pescoço que era adornado por um colar fino. Na mão, ele percebeu, reluzia o anel colorido que a havia dado tantos anos antes. Ela estava incrível, como sempre.

Emmett sabia que era errado e não pretendia fazer nada naquela noite. Não podia fazer nada, afinal, havia muito em jogo agora, mas vê-la ali o fazia questionar cada uma de suas decisões de dizer não, cada uma de suas ações que os haviam afastado deliberadamente. Ela estava conversando animada com Jasper e Alice, ele reconheceu a baixinha de imediato, rindo e contando sobre algo enquanto gesticulava com a mão que não estava ocupada com a taça de vinho branco.

Ele não pretendia demorar, iria ver Bella, parabeniza-la pelo lançamento e desejar sucesso, conversar um pouco com o velho amigo e ver Nessie rapidamente antes de sair dali. Só queria ver Rosalie, precisava vê-la, mas interagir com ela estava fora de questão. Ele sabia daquilo.

Rosalie terminava de contar aos amigos sobre uma incrível experiência de um projeto com o qual recentemente se comprometera, ensinando balé a crianças de classe baixa da cidade. Era uma intervenção realizada em uma ONG que ela conhecera há algum tempo, na tentativa de, utilizando-se da música e da dança, ajudar as crianças a passarem mais tempo investindo sua atenção na educação e no desenvolvimento, longe de problemas e perigos.

Alice adorara a ideia, se oferecendo para doar algum tempo se possível, embora talvez pudesse demorar um pouco para que de fato pudesse se dedicar longamente ao projeto. Ela e Jasper estavam esperando um filho – nada planejado, puramente acidental, afinal, Alice nunca planejara engravidar aos trinta e cinco anos. Porém, ali estava ela, a barriga que revelava um pequeno aumento ressaltada pelo vestido que ela usava. O casal estava feliz, embora também surpreso, e Rosalie não podia estar mais animada pelos amigos.

Ela se afastou deles em certo momento, se aproximando do bar para pegar uma nova taça, e virou-se para observar as pessoas enquanto esperava a taça retornar a suas mãos. Podia ver Alice e Jasper conversando agora com Bella e Edward, ambas as famílias repletas de sorrisos. Um dos cantos dos lábios de Rosalie se curvou para cima. Era incrível ver os amigos tão bem e tão felizes, mas algo dentro dela se remexia de forma incômoda.

Ela amava sua vida. Estava feliz. Fazia tantas coisas das quais gostava, ajudava pessoas, investia seu tempo e seu dinheiro em causas que achava válidas, se dedicando realmente a tentar dar melhores oportunidades a quem pudesse. Entretanto, enquanto observava os amigos e suas famílias ali, não conseguiu evitar se sentir estranhamente sozinha. Todos tinham alguém. Ela... não parecia ter.

Sabia que tinha Emmett, embora não se vissem há tempos, embora ele estivesse em um relacionamento. Ele a perguntara certa vez o que aconteceria quando aquilo não fosse mais suficiente e ela não soubera que resposta dar. Bom, ali estava ela agora, perguntando-se se aquilo era suficiente. Ela não o via há mais de um ano, nem sequer uma palavra trocada, mas sabia que eventualmente se encontrariam, afinal, de alguma forma seus caminhos pareciam sempre se cruzar. Porém, quando se encontrassem, aquilo bastaria a ela?

Rosalie não era cega e sabia que o motivo para não manter um relacionamento longo com ninguém era apenas um e ele tinha nome e sobrenome. Ele era a razão pela qual ela mantinha sua vida amorosa em um longo estado de espera, como se em algum ponto eles pudessem fazer um relacionamento funcionar. É claro que era loucura e bastante sonhador, mas por alguma razão aquilo sempre a mantivera ali. Ela até tentara, mas jamais encontrara alguém como Emmett e ela sequer sabia se queria de fato encontrar. Ela o queria e apenas ele.

Foi pensando naquilo que ela o viu de relance. O garçom a ofereceu a taça cheia, mas ela ignorou, seguindo na direção na qual o vira seguindo. Com passos rápidos ela o acompanhou a tempo de vê-lo se despedir de alguém. Ela deu alguns passos à frente, se recostando à parte de fora da porta de saída.

— Indo embora sem se despedir? – ela perguntou quando ele passou pela porta aberta. Ele voltou-se para ela, levemente surpreso por vê-la ali, e parou, a chave do carro já nas mãos.

— Rose. – ele disse, a voz abraçando o apelido como apenas ele sabia. Ela mordeu os lábios, olhando brevemente para os próprios pés.

— Eu achei que você iria pelo menos dizer oi. – ela comentou. Ele se mexeu, um pouco desconfortável.

— Eu... Eu não sabia se era a melhor opção. – ele respondeu. Ela ergueu uma sobrancelha, confusa. – Eu não sabia se você queria me ver. – ele mentiu, covarde demais para contar a ela a verdade. Ela umedeceu os lábios.

— Faz muito tempo desde a última vez que nos vimos. – ela comentou, se aproximando dele até cumprimenta-lo com um beijo no rosto. – É claro que queria te ver.

A proximidade era o fim para Emmett. Era mais fácil manter-se distante quando ela estava distante. Mas quando ela estava ali tão próxima, com as mãos em seus braços, a boca tão próxima da sua e seu cheiro o invadindo, era muito difícil manter os pensamentos em ordem. Com os olhos claros cintilantes como sempre e o infindável cabelo louro brilhante, com um batom vermelho e vestido na mesma cor, Rosalie era provavelmente a coisa mais bonita que Emmett já vira. E, naquele momento, ele não sabia se queria de fato resistir a qualquer coisa que viesse dela.

— Você ainda viria? – ele perguntou, engolindo em seco enquanto observada os lábios vermelhos se curvarem levemente para cima.

— É claro que viria. – ela concordou, embora o sorriso em seu rosto parecesse mais melancólico do que qualquer coisa naquele momento. – Então, por que não me dá uma carona para casa agora, McCarthy?

Ele ergueu o braço, oferecendo-a o suporte enquanto caminhavam juntos até o carro preto que ele dirigia agora.

Um bom tempo depois, ela olhou longamente o homem deitado na cama a seu lado. Não conseguia entender completamente como o destino os havia levado até ali, ainda mais quando tentava tanto ser cuidadosa. Porém, o destino traçava pequenas trilhas contorcidas, construindo e destruindo muros e casas, até que ambos se encontrassem novamente. O respirar dele era suave e ela notou o peitoral que permanecia bem definido subir e descer por alguns segundos.

Não entendia como o destino os trouxera até ali, quando eles haviam tentado tanto, por tantas vezes, e não haviam conseguido superar suas diferenças.

Ela o amava tanto.

Não conseguia pensar em algum momento que não o amaria. Não importava quanto tempo passassem longe um do outro ou do que acontecesse. Ele havia preenchido cada um de seus vazios, espaços que ela sequer sabia que existiam, e cravado a ferro e fogo seu nome ali, tomando posse para si de tudo que tocava dentro dela.

Rosalie o observou acordar, o corpo se mexendo lentamente, até que ele por fim se sentou, olhando-a com uma calma que ela não sentia. Não esperava nada daquele momento, já tinham decidido não tentar nada novamente, mas era impossível encontra-lo e não dar vazão a todo aquele sentimento, mesmo que apenas de forma física, mesmo que apenas por uma noite.

Não havia necessidade de conversa vazia, pois o silêncio entre os dois não parecia estranho. Ele ergueu a mão e acariciou levemente o rosto delicado dela e ela se debruçou sob o toque. Ela sabia que ele estava vendo alguém, já vira fotos dos dois juntos na internet, mas se ele estava ali, significava que ainda era ela, que a outra mulher não significava nada. Sempre seria ela.

— Preciso te contar uma coisa. – ele começou de repente, a voz contida. Ela endireitou a cabeça e suspirou.

— Você está saindo com alguém. – ela se adiantou. Emmett abriu a boca, hesitante. Tomou bastante ar antes de continuar.

— Não estou apenas saindo com alguém, vou me casar em quatro meses, Rose.

Rosalie estacou, despreparada para e enxurrada de sentimentos que a atingiu. Tinha certeza de que não terminariam juntos, apesar de todas as expectativas irreais. Todos os anos, as tentativas e a família de Emmett deixaram aquilo muito claro. Sabia que ele provavelmente se casaria com alguém, uma garota criada como ele, que fosse perfeita para ser a esposa de um grande político, mas aquilo não significava nada para Rosalie se ele ainda a amasse. Sabia que ele terminaria em um casamento sem amor e alguma parte de si se confortava com isso.

Sempre imaginara aquele momento e se preparara mentalmente para ele durante os anos que compartilharam, portanto, foi com surpresa que descobriu que todo o exercício de nada valera e que ela estava tão impactada quanto possível. Emmett a observava com cuidado, sem saber o que esperar. Ela não sabia o que responder, não tinha palavras, parecia que tudo havia sumido de seu cérebro. Ansioso, ele se remexeu na cama.

— Olha, Rose, você sempre soube que não importava aonde fossemos, algum de nós sempre diria adeus.

É como se fossemos feitos para dizer adeus, ela murmurara certa vez. A frase a atingiu com força ao ouvi-lo.

Os grandes olhos claros se encheram de lágrimas e ela não conseguiu conter todas a tempo. Um leve soluço balançou o corpo esguio enquanto ela mantinha a boca fechada com força. Emmett se mexeu, puxando-a para si, não conseguindo lidar com a visão dela daquele jeito. O toque foi o estopim para Rosalie, que desabou em lágrimas.

— Me desculpe! Você sabe que não poderia ter sido melhor, Rose, não poderia ter me amado de forma melhor, mas nós precisávamos seguir em frente... Então eu segui. – ele murmurou, numa tentativa falha de fazê-la se sentir melhor.

O coração de Rosalie parecia se retorcer em formas que ela jamais imaginara ser possível e o afago de Emmett em seu cabelo era a única coisa na qual ela se permitia focar. Ela permaneceu naquela posição por um longo tempo e ele apenas a soltou quando sentiu as lágrimas findarem.

Ela continuou encostada ao peitoral dele, calada, apenas permitindo-se se manter naquele último momento de paz. Ela podia sentir Emmett inquieto e depois de algum tempo ele se afastou, procurando o olhar dela.

— Você não vai dizer nada? – perguntou. Ela abriu a boca e fechou-a em seguida.

— Eu honestamente não sei o que dizer. – foi tudo que respondeu, o olhar desolado.

Ela podia ver que ele esperava algo diferente daquilo. Talvez uma cena ou uma frase que mostrasse que ela já esperava aquilo. Ela queria muito conseguir fazer um comentário espirituoso naquele momento, mas nada poderia estar tão longe da realidade. Seu corpo todo parecia anestesiado, uma sensação desconfortável a preenchendo. Emmett se levantou então e com agilidade começou a vestir suas roupas. Rosalie perguntou-se se ele a encontraria agora. Se ela notaria algo errado. Se seu cheiro ainda estaria emaranhado ao dele, o suficiente para que sua noiva sentisse.

Depois de totalmente vestido, ele parou ao lado da cama. Parecia não haver palavras em seu idioma que compreendesse aquele momento, o teor daquela separação.

— Isso não pode acontecer de novo. – ele murmurou por fim. – Ontem já foi um erro e eu não posso me dar ao luxo de cometer erros agora, alguém pode descobrir e isso arruinaria tudo.

Nada que ele dissesse poderia magoar Rosalie mais do que aquelas palavras. A noite anterior não havia sido um erro. Ela não havia sido um erro. Como ele podia dizer que os dois juntos eram um erro? Ela sabia que aquelas palavras estavam intimamente atreladas à política. Sabia que se alguém descobrisse que o grande Emmett McCarthy estava tendo um caso seria estrondoso. Sabia que, depois de um tempo muito bem sucedido como governador, ele se candidatara ao senado e no ano seguinte provavelmente assumiria o cargo, quando claramente já seria um marido exemplar para uma esposa perfeita.

Ele esperou por uma resposta, mas ao ver que não a receberia, soltou um longo suspiro e seguiu em direção à porta. Voltou-se para se despedir dela, mas Rosalie foi mais rápida.

— Você sabe o quanto te amo. – foi tudo o que ela conseguiu falar, a voz um pouco embargada. O olhar que cruzou o rosto de Emmett naquele momento a lembrou do garoto jovem que ela conhecera em um bar qualquer, tanto tempo atrás.

— Você sabe também. – respondeu com a voz gentil, ambos sabendo que aquilo não era suficiente para mudar a realidade que compartilhavam. – Eu espero que você ache alguém que te faça realmente feliz, Rose, que não te faça sempre querer chorar. – ele desejou antes de se virar e sair, fechando a porta em seguida.

Rosalie ficou na cama, o emaranhado de lençóis a envolvendo como um mar gelado enquanto ela o assistia partir.

Emmett chegou à sua casa enquanto o sol subia pelo céu, trazendo um amanhecer bonito e agitado. Britanny deveria chegar naquela tarde depois de visitar os pais durante o fim de semana. Ele tinha a manhã livre e aproveitou aquele momento para tomar um longo banho frio.

Não era sua intenção sair da festa com Rosalie. Sabia que não podiam continuar com aquilo para sempre, sabia que aquilo era perigoso e que um simples rumor poderia destruir sua carreira, mas não soubera como evitar. Ele queria aquilo, queria uma despedida que fosse. Queria estar ao lado dela pelo menos uma última vez e sabia que a devia um aviso, uma conversa cara a cara. Não que tivesse havido uma conversa, afinal, ela mal falara. Ele esperava qualquer coisa que não o silêncio que recebera, mas já devia estar acostumado a se surpreender com Rosalie àquela altura.

Almoçou com a família, na casa dos avós. Aro, agora já com seus oitenta anos, permanecia um senhor altivo e disposto, dando ordens como se ainda estivesse envolvido em todas as coisas a seu redor. Embora pudesse ser parcialmente verdade, ele já havia se afastado de sua empresa, deixando-a nas mãos de seus herdeiros. Ele estava especialmente pensativo naquele dia, conversando muito pouco e principalmente observando a reunião familiar regular. Perguntou a Emmett sobre a noiva e sobre a campanha política, assentindo enquanto ouvia as informações que o agradavam.

Ele voltou para casa ao entardecer, encontrando a noiva já de volta. Eles compartilhavam uma grande e bonita casa, não muito longe da dos seus próprios pais e avós. A garota, que vinha de uma família poderosa de outro estado, estava empolgada de estar de volta, tagarelando sobre as coisas que fizera e os amigos que vira. Durante toda aquela noite, Emmett não conseguira tirar Rosalie da cabeça, comparando-a em cada aspecto com a noiva que agora dormia tranquilamente em seus braços.

Depois de vê-la foi difícil mantê-la distante de sua mente. Ela o assombrara durante semanas, enquanto ele se forçava a se manter nos trilhos, sem se permitir qualquer deslize. Enquanto almoçava em uma quarta-feira, cerca de um mês depois do lançamento de Bella, ele viu o nome da morena aparecer no visor de seu celular.

— Bella! – ele atendeu. – Que bom ouvir de você.

— Emm, oi. – ela respondeu, não parecendo entusiasmada. Ele franziu as sobrancelhas ao ouvir o tom de voz preocupado.

— Você está bem? – ele quis saber.

— Estou. – ela respondeu rapidamente. – Eu só... Eu... – ele a ouviu suspirar do outro lado da linha. – Olha, aconteceu algo e na verdade eu não sei por que estou te ligando. Só achei que talvez você quisesse saber.

— O que aconteceu? – ele perguntou, alarmado.

— Rosalie, ela... Ela sofreu um acidente. – ela contou. – Na verdade, ela foi atropelada e está no hospital.

— O que? – ele arfou, largando o garfo que ainda estava em sua mão com barulho.

— Ela está bem, eu acho. – ela continuou. – Quer dizer, o Edward diz que ela vai ficar bem, que ela teve sorte. Ela passou por uma cirurgia e está no Mount Sinai.

— Deus... Eu... – ele fechou os olhos com força e balançou a cabeça. – Obrigado por me avisar, Bella.

— Não por isso. – ela respondeu. – Eu tenho que ir, Nessie está chamando. Tchau, Emm.

— Tchau. – ele murmurou antes de desligar.

Colocou o aparelho de lado, encarando, sem qualquer vontade de terminar sua refeição, a comida sobre o prato à sua frente. Sua cabeça parecia levemente turva, como se algo a tivesse preenchido com fumaça. Ele pegou o telefone de sua mesa, usando a discagem rápida para falar com sua secretária a instruindo a ligar para o hospital e conseguir informações sobre o estado de saúde de Rosalie.

O dia passou muito lentamente enquanto ele lutava contra sua vontade de ir vê-la. Sabia que aquilo era um risco grande demais, ainda mais naquele momento. A secretária conseguira as informações, embora não sem esforço, e o contara que ela já passara por uma cirurgia e ainda estava sedada, possivelmente passaria por uma segunda nos próximos dias, mas que de forma geral o quadro era bom.

Aquilo não parecera suficiente para que a mente de Emmett se acalmasse, assim, ele acabou cancelando o resto dos compromissos de seu dia e permaneceu em seu escritório, contemplando em horror tudo o que poderia ter decorrido daquele acidente. Imaginou como seria nunca mais ver Rosalie. Nunca mais assisti-la dançar, escondido no fundo de uma plateia grande. Nunca mais vê-la de longe, caminhando rapidamente pelas ruas ou em algum evento. Nunca mais ver o sorriso largo ou o cabelo radiante.

Apesar de se manter distante, não podia imaginar a vida sem a visão de Rosalie. Ele sempre a via. Mesmo se mantendo distante, sua visão era um pequeno raio de sol que se infiltrava pelas rachaduras das paredes que o prendiam na vida desenhada que escolhera para si. Sua visão era o único refúgio que ele se permitia.

Seu celular tocou novamente e ele olhou ansioso para a tela, achando que poderia ser alguma nova informação sobre a loura, mas era apenas seu pai. Ele atendeu, ouvindo rapidamente o que quer que ele falasse e assentindo automaticamente. O pai o lembrara sobre os documentos que ele precisava entregar a Aro naquele dia, alguma coisa sobre licitações, e Emmett ergueu-se, decidido a fazer isso de uma vez.

Ao chegar à casa dos avós, falou rapidamente com Sulpicia, e seguiu até o escritório onde o avô se encontrava. Cumprimentou-o e trocaram algumas palavras, entregando-o os documentos em seguida. Aro assentiu e tirou-os do envelope, encarando-os com precisão. Emmett estava prestes a sair quando a voz do avô o parou.

— Emmett, soube que aquela sua ex namorada sofreu um acidente terrível. Rosalie, é como ela se chama? – Aro comentou com a voz polida enquanto ainda olhava para as folhas. – Que horrível os motoristas estão hoje em dia, não? Nem sequer prestam socorro às vítimas.

— O que? – ele franziu as sobrancelhas, voltando-se para o mais velho. – Como você soube disso?

— Eu sei de tudo. – ele respondeu erguendo os olhos. Emmett sentiu o corpo todo gelar, como se um súbito frio passasse por dentro de suas roupas.

— Você teve algo a ver com isso? – ele perguntou, o tom metade acusatório, metade temeroso, a realização subitamente o tomando. Aro riu.

— Claro que não, garoto. – jogou a ideia de lado. – Que coisa horrível, eu jamais faria algo assim, Emmett. Falando assim parece até que não me conhece.

— Vovô...

— Se eu fosse você iria para casa hoje à noite e levaria minha bela noiva para jantar em um lugar especial. – o mais velho sugeriu, voltando a olhar para os papeis em sua mão. – O casamento está chegando e tenho certeza que a pobre garota tem estado sobrecarregada lidando com tudo isso. Você sabe como são as mulheres.

— Vovô. – ele repetiu, o tom mais firme, mais alerta. Aro ergueu os olhos gélidos.

— Se eu fosse você tomaria muito cuidado com as decisões que tomo tão perto da eleição. – continuou, a voz uma réplica do olhar. – Você sabe como as pessoas são bisbilhoteiras e como com pouco esforço podem descobrir coisas suficientes para estragarem anos de trabalho duro. – a boca se manteve em uma linha fina então. Emmett engoliu em seco, sentindo um peso estranho na garganta quando sua mente começou a leva-lo em uma direção à qual ele sempre evitava ir. – Agora preciso me preparar para um encontro com os Blackbirds, então vejo você mais tarde.  – voltou os olhos para os documentos mais uma vez, em uma clara despedida. – Espero que a garota consiga se recuperar sem muitos problemas e que nada pior aconteça com ela.

Emmett encarou a figura pacífica do avô, sentado na cadeira grande do escritório, e franziu os lábios. Dirigiu-se até a porta, fechando-a atrás de si com um estrondo.

Todo o corpo estava se sentindo quase entorpecido enquanto sua mente lutava para não aceitar a ideia que pousava ali. Não era possível que Aro tivesse chegado tão longe. Ele sabia que o avô podia chegar a extremos, já havia visto isso ao longo do tempo e havia aprendido a lidar com a situação. Entretanto, colocar a vida de alguém em risco, colocar a vida de Rosalie em risco... Ele não podia acreditar. Ele não queria acreditar.

Foi para casa e passou o resto do dia ali, inquieto, sem conseguir se manter parado enquanto a mente estava em situação caótica. Evitou a noiva, trancando-se no escritório, e mantendo-se ali até a noite. Saiu então, falando a ela que precisava ir a uma reunião de emergência que surgira, deixando-a confusa ao sair de casa rapidamente.

Pegou o carro e dirigiu acima do limite de velocidade até o hospital, parando no estacionamento e mantendo-se ali por horas a fio enquanto debatia consigo mesmo se deveria ou não entrar. O avô sabia de tudo, o que quer dizer que sabia que ele mantivera um relacionamento com Rosalie durante todos aqueles anos e claramente não estava feliz. Ele fora muito sutil ao dar o aviso, mas não poderia ter ficado mais claro para Emmett.

  Ele decidiu por fim entrar e usando seu nome e influência conseguiu sinal verde para visitar um paciente àquela hora. Ele entrou sorrateiramente no quarto dela, encontrando-a desacordada. Estava ligada a diversos aparelhos que faziam um barulho constante e parecia bastante machucada. Ele viu a perna engessada e os hematomas e todo seu corpo se contorceu. Ao lado da cama um pequeno pacote com seus objetos pessoais estava sobre uma pequena mesa e ele viu o anel colorido reluzir. Era sua culpa ela estar ali.

Se apenas ele tivesse conseguido se manter distante... Mas jamais imaginara que aquilo aconteceria. Ele sentou-se ao lado da cama, acariciando levemente os cabelos louros. Parecia haver uma angústia inominável retorcendo seu interior e ele suspirou, descendo as carícias para o rosto da loura.

O avô era incontrolável e Rosalie estava certa, embora ele se recusasse a ouvir. Acariciou o lábio inferior dela com o dedão, lembrando-se do hábito que ela tinha de mordê-lo sempre que se sentia minimamente nervosa ou ansiosa. Se antes acreditava que era perigoso se envolver com ela, agora tinha ainda mais certeza, embora não só pelas razões anteriores. Jamais poderia colocar a vida dela em risco. Aquela tinha que ser a última vez.

Ele permaneceu ali por mais algum tempo, tomando para si cada um dos detalhes que ele amava sobre aquela mulher. Remoendo cada um dos momentos que compartilhara com ela, os bons e os ruins, e tentando se convencer a nunca mais se aproximar dela, para o bem de ambos. Depois de algum tempo saiu do quarto silenciosamente, deixando para trás aquele capítulo de sua vida e decidido a trancá-lo para sempre.

Ela acordou somente na manhã seguinte, se sentindo dolorida e exausta, e viu Alice chegar poucos minutos depois. A amiga tentou animá-la, dando boas notícias e falando como todos estavam preocupados, como ela sairia dali logo e como tudo melhoraria em um piscar de olhos. Rosalie ouviu, sorriu, acenou, tudo que achasse que fosse fazer Alice parecer menos ansiosa. Recebeu outras visitas ao longo do dia e conversou pouco com todas, ainda meio sonolenta por causa da medicação.

Em algum momento daquele dia percebera o anel de Emmett em seu dedo. Não se lembrava de estar usando-o quando acordara da primeira vez e tinha a impressão de que alguém dissera que todas as suas coisas estavam guardadas, mas o anel brilhava em seu dedo, pedras coloridas refletindo em sua pele. Ela encarou-o por um longo tempo, perguntando-se se ela mesma o colorara e não se lembrava ou se alguma das amigas o colocara, mas a ideia não parecia promissora. Nada vinha à mente e ela continuou a observar o anel enquanto a luz do sol que entrava pelas janelas jorrava seus raios contra as pedras.

Rosalie sabia quando ele ia se casar – é claro que sabia, havia notícias sobre o assunto em todos os lugares e, além do mais, ela vira o convite na casa de Bella. Então, durante todo aquele dia, ela esteve ansiosa, inquieta, ligada a qualquer portal de notícia que falasse algo a respeito. Ela queria ver fotos, queria ver a expressão de Emmett, queria ver em seus olhos que ele estava se casando, mas não por amor. Queria ver em sua expressão que ele estava entrando em uma igreja não porque estava apaixonado por outra mulher, não porque amava outra pessoa, mas porque aquilo era o que sua família esperava dele.

Não vira nada. Parecia não haver paparazzi suficientes no mundo para que alguém tirasse uma foto daquele momento e postasse em algum lugar. Ela pegou o celular, hesitante, encarando o número que não discava há anos. Seu coração e seu estômago se reviravam enquanto ela apertava a opção de discar.

— Alô? – a voz soou hesitante ao atender, quase surpresa. Ela respirou, hesitando também ao falar.

— Se o mundo estivesse acabando você viria, certo? – ela testou. A linha continuou em silêncio enquanto ela ouvia a respiração pesada dele do outro lado. – Certo? – ela insistiu, a voz mais urgente agora.

— Nós não fomos feitos um para o outro, Rose, e tudo bem. – foi tudo que ele respondeu.

Ele não desligou automaticamente, a linha permanecendo muda enquanto Rosalie recepcionava o impacto daquelas palavras. Ela ouviu quando uma voz grave chamou o nome de Emmett, avisando que já era hora. Ouviu-o responder. O silêncio voltou a tomar conta da troca enquanto ela encarava o vazio, a mão segurando o aparelho com força.

— Rose, eu... – ele murmurou, a voz repleta de sentimentos não ditos. – Adeus. – disse antes de desligar.

Rosalie permaneceu com o celular colado ao ouvido, sem conseguir se mexer ou fazer qualquer coisa, com as últimas palavras ressoando em um eco repetitivo em sua mente. Ela tinha ciência de que naquele exato momento ele estava caminhando por uma igreja, indo em direção a um altar e que em poucos minutos estaria dizendo sim a outra mulher. E eles dois... Nunca mais existiriam. Era uma vez um tempo em que eles eram um casal, mas apenas eram, passado.

Agora, naquele momento, não havia nada que ela pudesse fazer além de ficar ali e perde-lo para sempre.


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Notas finais do capítulo

Tchanan! Acabou! Espero que vocês tenham gostado, ou pelo menos não odiado o final kkkkkk me contem, o que acharam? Podem ficar bravas, sei que tinha gente esperando que nosso casal superasse tudo, embora quem me conhece já tivesse sacado que esse não era um final feliz hehehe

Antes de tudo, eu AMEI que fantasminhas apareceram no capítulo passado! Vocês não tem ideia do quanto me deixou feliz ver vocês comentando! Por favor, apareçam de novo e me contem o que acharam kkkk e às minhas eternas companheiras de todos os capítulos, vocês são maravilhosas demais! Obrigada por toda a companhia e pela paciência kkkk.

Acabei sendo super rápida porque esse último capítulo meio que tava saindo dos meus dedos sem controle, daí não tive pra onde correr kkkkk aliás, falando em capítulo saindo pelos meus dedos sem que eu consiga parar, eu postei uma nova fanfic! Essa vai ser long e ela tem uma pegada um pouco diferente do que estou habituada a escrever, mas tô curtindo bem escreve-la. Se alguém quiser dar uma checadinha, o link é esse: https://fanfiction.com.br/historia/797522/Verdade_ou_Desafio/

Bom gente, acho que é isso. Um enorme obrigada a quem leu até aqui, espero que tenham gostado! Quem quiser mais fanfics da Rose e do Emm tenho cerca de um milhão delas no meu perfil hahaha sintam-se à vontade (e se quiserem comentar pra me deixar feliz eu vou amar hahaha).

Bom, acho que é isso. Um beijo enorme!!
Lana.



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