O Sabor do Poder escrita por Lana


Capítulo 4
Capítulo 4.


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi! Boa leitura!



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Rosalie acordou cedo na manhã seguinte, tendo dormido muito pouco devido à irritação da noite anterior. Suspirando, se arrastou até a cozinha para preparar um café. Ela parou subitamente, notando que o louro que acompanhava Alice na noite anterior estava ali. Ele estava preparando café e não parecia ter notado a presença dela, então ela decidiu fazer mais barulho enquanto se aproximava.

— Bom dia. – disse com um sorriso curto ao se aproximar.

— Ah! – ele arfou virando-se, coçando a cabeça com uma das mãos. – Bom dia. Desculpe, achei que não teria ninguém acordado por agora. Alice mencionou que eu poderia usar a cafeteira.

— É claro que pode. – ela deu de ombros, sentando-se em uma banqueta em frente à bancada. – Contanto que eu possa roubar uma xícara.

— É claro! – ele sorriu, levemente envergonhado por ser pego ali. – Ficará pronto em um minuto.

— Obrigada. E como foi o encontro com Alice ontem? – ela perguntou, tentando evitar o silêncio que provavelmente se seguiria.

— Ótimo, na verdade. – ele sorriu mais. – Alice é ótima.

— Ela realmente é. – Rosalie concordou com um sorriso.

— E o seu aniversário? – ele perguntou de volta. Rosalie franziu o cenho, perguntando-se se realmente precisava falar sobre aquilo com um estranho e decidindo-se que sim, precisava.

— Meio que não aconteceu. – ela se encolheu, fazendo uma careta. Jasper franziu as sobrancelhas.

— O que houve?

— Meu namorado idiota não apareceu. Ele desapareceu por horas e depois descobri que ele estava bebendo com amigos quando me disse que estava fazendo algo de trabalho. – ela bufou. – Então ele me ligou depois de horas falando que estava vindo para cá, mas àquela altura eu achei melhor não vê-lo, porque eu tenho certeza que quebraria o rostinho bonito dele. – Jasper deu um sorriso de lado, assentindo.

— Isso é realmente péssimo. – ele se lamentou. – Sinto muito. – ela suspirou, dando de ombros.

— Isso é que dá querer ser romântica e fazer coisas legais. – revirou os olhos.

— Você falou com ele sobre isso? – o louro perguntou e ela negou com a cabeça.

— Falei que eu tinha saído com algumas amigas. – revirou os olhos. – Não queria dar a entender que eu tinha passado a noite toda sozinha enquanto ele totalmente furava comigo, apesar de ter sido isso que aconteceu.

— Vocês deviam conversar, especialmente se está tão chateada já que preparou algo tão especial para o aniversário de vocês e ele meio que estragou tudo.

— Ele não sabia das coisas que fiz, era uma surpresa, então tenho certeza que ele não está se sentindo mal por isso. – ela resmungou. – Isso é que dá inventar de surpreender as pessoas em datas especiais, todo esse trabalho para absolutamente nada. Ótima comemoração de quatro meses, eu e o vinho preferido do meu namorado, já que ele não deu o ar da graça. – Ele franziu as sobrancelhas novamente.

— Ele não sabia da surpresa ou que era aniversário de vocês? – ele perguntou. Rosalie ergueu uma sobrancelha.

— Faz diferença? – Jasper deu um pequeno sorriso de canto antes de responder.

— Olhe, não quero que fique brava comigo, porque realmente quero ficar no seu lado bom, já que sei que a Alice te adora e eu realmente gosto dela. – começou e Rosalie riu baixinho.

— Gostar dela é um bom começo. – ela sorriu, apreciando a fala do homem.

— Mas talvez seu namorado não tenha tanta culpa. – ele concluiu e Rosalie ergueu ambas as sobrancelhas.

— O que? – rebateu e Jasper ergueu as mãos.

— Espere! Não estou dizendo que ele está certo ou que você não deveria ficar chateada, está no seu direito. O que quero dizer é que talvez ele não estivesse totalmente atento ao fato de que era um aniversário. – ele deu de ombros. – Homens raramente se lembram dessas coisas com facilidade, especialmente quando se trata de meses. E ele não sabia que você tinha se esforçado tanto para fazer algo legal para ele também, talvez se soubesse ele tivesse priorizado isso.

— Você não está ficando no meu lado bom nesse momento. – ela murmurou e Jasper sorriu, virando-se ao ouvir o apito da cafeteira e tirando o recipiente da máquina. Rosalie se levantou, trazendo duas xícaras consigo e colocando-as sobre o balcão.

— Olhe, entenda, não quero que deixe de ficar brava com ele. – reforçou, servindo-os com o café quente. – O que quero dizer é que talvez ele não tenha percebido que era uma data tão importante. Talvez para ele fosse só uma sexta onde vocês iriam fazer alguma coisa que fazem sempre e ele acabou sendo arrastado para outro lugar.

— Ainda assim! – ela bufou, querendo evitar a lógica de Jasper. – Ele marcou comigo, adiou por uma hora e me fez esperar por séculos enquanto estava fora com os amigos depois de dizer que era algo do trabalho!

— E por isso você deveria certamente estar brava. – ele assentiu, dando um gole no café puro. – Mas talvez você devesse dar uma chance a ele para explicar sobre o que aconteceu de fato ontem. – ele deu de ombros. Rosalie fez uma careta.

— Jasper, você parece um cara legal e quero que você continue no meu lado bom, mas devo alertar que pessoas sensatas raramente ficam ali. – avisou e ele sorriu largamente. – Alice é uma das poucas exceções.

— Como estou saindo com ela talvez eu possa entrar como uma extensão da sensatez? – ele sugeriu e ela franziu o nariz.

— Não sei quão feliz me deixa essa ideia. – resmungou e ele riu baixinho.

— Olhe, converse com seu namorado, explique o que aconteceu e dê a ele a chance de explicar também. Muitas coisas causam muito menos dano quando se conversam abertamente sobre elas. – ele sugeriu antes de dar um novo gole.

Apesar de contrariada, Rosalie ponderou muito sobre as palavras de Jasper. Talvez ele estivesse certo e Emmett não tivesse ideia de que data era aquela e ele realmente não sabia que ela planejara uma noite espetacular. Ainda era horrível que tivesse a feito esperar por horas para depois não aparecer, mas talvez ele realmente tivesse uma boa desculpa. Ela certamente queria que ele tivesse e era por isso que queria tanto acreditar nas palavras de Jasper.

Ela decidiu não mencionar nada sobre a foto, esperando que ele trouxesse o assunto à baila quando conversassem. Ele acabou dando uma explicação que Rosalie considerou pouco crível, falando sobre o fechamento de um contrato importante para a firma e que todos saíram juntos para comemorar e a comemoração acabou se estendendo mais do que planejado. Era verdade que James também trabalhava na empresa e ele estava na foto, mas isso não queria dizer nada. Ele poderia muito bem estar mentindo, inventando uma desculpa qualquer. Porém, ela queria tanto acreditar, queria acreditar que era algo do trabalho, que ele não a ignorara de propósito em um momento que planejara tão cuidadosamente.

No fim das contas, ela não contou sobre tudo que fizera para aquela noite – e ele realmente não percebera que era aniversário deles, tendo ficado surpreso quando ela falara aquilo no fim da ligação. Falou que estava tudo bem, evitando uma briga que poderia se transformar facilmente em algo desgastante com o que não estava disposta a lidar. Ela só se sentia cansada e o relacionamento deles estava tão bom até ali, uma briga iria destruir o clima de romance. Assim, decidiu fechar os olhos e engolir a razão que ele dera, embora não fosse tão fácil assim ignorar seus sentimentos. Ela ficou distante por alguns dias, sentindo-se magoada, até que Emmett se esforçou para ganhar seu perdão e tudo voltou ao normal aos poucos.

Já estavam juntos há seis meses agora e Rosalie não podia estar mais feliz. Era tão incrível quanto um dia fora. Naquela noite, estavam jantando em um restaurante inteiramente estranho para ambos, que Rosalie descobrira por acaso por uma mensagem de texto que haviam enviado para ela por engano.

— Nossos pratos serão escolhidos dessa forma: – anunciou, chamando a atenção de Emmett, que ergueu uma sobrancelha. – eu vou falar um número aleatório e você vai achar esse número no cardápio e pedir. Por exemplo, falarei treze, então você vai achar o prato que equivale ao número treze e essa será sua entrada. E assim por diante. E você fará o mesmo para mim. Entendeu? – ele reprimiu um sorriso.

— E se o número treze for uma bebida?

— Então sua entrada será definitivamente divertida. – ela deu de ombros.

— E se o número treze for uma sobremesa? – ela sorriu.

— Então sua entrada definitivamente vai ser compartilhada. – respondeu com uma piscada. Emmett riu e balançou a cabeça.

— Você me lembra de quão bom isso pode ser, sabia? – disse de forma amável. Rosalie sorriu, levando sua mão até a dele que repousava sobre a mesa. Ele beijou o topo da mão dela de forma delicada antes de se dedicarem aos pratos.

Acabaram tendo refeições um tanto quanto diferentes e a entrada de Rosalie fora um Petit Gateau, seguida por uma limonada suíça como prato principal e por fim bruschettas de sobremesa. Emmett por outro lado tivera em sua entrada um Sex on the Beach, seguido por uma salada de prato principal e de sobremesa um risoto. Ambos acabaram dividindo tudo o que pediam e no final da noite encontravam-se satisfeitos e de bom humor.

— Então, eu estava pensando... – ele começou a dizer quando entraram em seu apartamento. Ela ergueu o rosto enquanto tirava as sandálias baixas, deixando-as perto da porta e caminhando descalça pelo piso frio, o vestido longo colorido chamando atenção no meio do ambiente de cores neutras. – E se almoçássemos com meus pais amanhã?

Rosalie estacou no meio da sala, a caminho da cozinha. O rosto devia mostrar a confusão e a hesitação. Estava feliz até aquele momento por Emmett não ter falado de se encontrar com a família, pois sabia da índole e do não apreço deles por ela. Não que ela os tivesse em alta conta... Estava feliz porque estavam numa bolha perfeita, onde nada parecia os alcançar, mas ela devia esperar aquilo, devia saber que aconteceria eventualmente, afinal, ele falava deles o tempo todo e havia ficado claro que ainda era muito próximo de toda a família.

— Rose? – ele chamou quando ela não disse nada e ela mordeu os lábios, deslocando o peso do corpo para o outro pé.

— Você ficaria muito incomodado se eu dissesse que não? – ela tentou e o rosto dele se franziu um pouco.

— Por quê? – quis saber e ela quase revirou os olhos. Como se não fosse óbvio!

— Eu tenho um almoço com a Alice amanhã. – inventou rapidamente e Emmett ergueu uma das sobrancelhas.

— Você mora com a Alice. – constatou o óbvio.

— E com a Sarah. É sobre a escola de dança. Precisamos nos reunir e resolver algumas coisas e marcamos de fazer isso em um almoço amanhã. – completou.

— Mas é domingo. Vocês não podem fazer isso durante a semana? – ele insistiu.

— Infelizmente, não. Esse é o único horário livre que encontramos e realmente precisamos nos reunir. – mentiu enquanto se aproximava dele. – Me desculpe, Emm. Eu sei que isso é importante para você, mas realmente não posso amanhã, talvez outro dia? – sugeriu, sem qualquer intenção de cumprir. Ele franziu a testa, tendo certeza de que ela estava inventando uma desculpa, mas decidiu não forçar a barra e assentiu enquanto a envolvia em seus braços.

— Tudo bem, mas vou cobrar isso, Rose. – alertou e ela sorriu, sabendo que poderia inventar mil desculpas diferentes quando se tratava da família pouco querida de seu namorado.

Na manhã seguinte ela se despediu de Emmett quando ele a deixou em seu apartamento e foi para a casa dos pais, almoçar com eles. Ela subiu as escadas se sentindo aliviada por ter se livrado da ocasião e encontrou Alice acordando, o rosto ainda com marcas leves do travesseiro.

— Ei! – ela disse surpresa. – Não esperava te ver aqui hoje.

— Eu não podia faltar ao nosso almoço de negócios. – ela brincou e Alice fez uma expressão confusa, totalmente alheia à piada. – Emmett me chamou para almoçar com os pais dele e eu falei que não podia porque nós e Sarah tínhamos um almoço de trabalho. – explicou para a amiga.

— Muito saudável. – comentou ironicamente enquanto assentia e Rosalie fez uma careta. – Vamos almoçar fora, então? – sugeriu Alice. – Acabei de acordar e não estou com paciência para cozinhar e, acima de tudo, adoraria uma boa massa nesse momento.

            A loura concordou e pouco tempo depois ambas iam em direção ao restaurante favorito de Alice. Conversaram sobre algumas coisas a resolver do trabalho, sobre Bella e Edward e a felicidade dos recém-casados, sobre a noitada anterior de Alice na companhia de Jasper – a quem ela estava apresentando um mundo de diversão nos clubes noturnos –, sobre as mudanças que estavam fazendo no prédio em que moravam e por fim decidiram ir ao cinema juntas.

            Só voltaram para casa ao final da tarde e Rosalie viu algumas mensagens de Emmett em seu celular. Conversaram brevemente e decidiram se ver no meio da semana, já que ele precisava resolver algumas coisas do trabalho em Chicago no dia seguinte e só voltaria na quarta-feira. Assim, a loura juntou-se novamente à amiga para assistirem a uma série juntas até ser tarde o suficiente para que fossem se deitar.

— Rosalie. – ela ouviu a voz firme a chamar na terça-feira seguinte e levantou o rosto.

Seu corpo ficou estranhamente paralisado. Ela lembrava-se daquele rosto com perfeição, mesmo depois de tantos anos. Os traços finos e austeros, como se o mundo pertencesse a ele; o olhar superior e a postura altiva. Rosalie engoliu em seco e tossiu antes de responder.

— Olá, senhor McCarthy. – disse educadamente. Ela não gostava do avô de Emmett e sempre tivera a certeza de que o desgosto era recíproco. Pela forma que ele a observava, não havia espaço para dúvidas sobre aquilo.

— Gostaria de conversar com você. – anunciou, erguendo uma das mãos para sinalizar a porta da frente para ela. – A sós.

— Hum... Preciso pedir que alguém fique no meu lugar antes. – respondeu, notando pela sua postura que o homem não aceitaria não como resposta.

Ele assentiu e foi até a sala onde normalmente deixava suas coisas, avisando a Alice que precisava sair e pedindo-a que a substituísse. Alice concordou, curiosa, mas nada perguntou. Rosalie voltou com a bolsa pendurara lateralmente no corpo, e seguiu Aro para o lado de fora do estúdio. Ele abriu a porta da limusine, sinalizando que ela entrasse, e a loura escorregou para o banco traseiro.

Algo estava errado, ela tinha certeza, mas não tinha ideia do que poderia ser. Todo seu corpo parecia em alerta quando ele sentou-se ao lado dela e o carro não deu partida.

— Então? – ela incitou, preocupada.

— Chegou à minha atenção que você e meu neto voltaram a se ver. – ele disse casualmente. Ela ergueu a sobrancelha.

— Voltamos sim. – confirmou.

— Você sabe, Rosalie, que Emmett tem planos de entrar para a política daqui a alguns anos, certo? – checou e ela assentiu. – Emmett sabe o que deve fazer para que tudo siga conforme planejado, mas parece que está perdendo um pouco o foco recentemente e acredito que seja porque voltou a estar com você. – ela tombou um pouco a cabeça e mordeu o lábio inferior.

— Eu não fiz nada. – ela disse simplesmente. – Talvez ele apenas não queira mais isso.

— Ah! – o homem mais velho sorriu polidamente. – É claro que ele quer. Mas Emmett é um homem que pode se tornar bastante... passional, quando distraído.

— Eu não estou entendendo. – respondeu de forma dura. O olhar do homem sobre ela se tornou avaliativo.

— Emmett mencionou uma vez que você havia se mudado para Moscou para estudar dança. Soube que você foi muito bem sucedida na companhia de Bolshoi, e vendo seu pequeno estúdio aqui acredito que você ainda se sinta inclinada para o balé. – comentou. Rosalie ficou calada e engoliu em seco, não gostando do rumo que tudo aquilo levava. – Você não gostaria de voltar a dançar lá?

— O que? – perguntou estupefata.

— Tenho amigos influentes, Rosalie, mas você já sabe disso, não é? – ele deu um sorriso torto que a fez se lembrar instantaneamente do sorriso do namorado. Ela franziu as sobrancelhas, confusa.

— O que quer dizer? – questionou hesitante.

— Posso fazer com que você tenha a oportunidade de voltar para lá. Vai ser muito mais fácil do que da última vez e você poderia se dedicar integralmente à sua paixão. – explicou categoricamente. Rosalie ergueu as sobrancelhas, sentindo o corpo ficar subitamente mais frio.

— Você... Espere, você é a razão pela qual eu consegui a bolsa na faculdade? – sussurrou. O homem riu com desdém.

— Bolsa. – repetiu com desdém no tom. O mundo de Rosalie parecia ter parado nos eixos e ela mordeu o lábio novamente.

— Não havia bolsa. – ela percebeu com um murmuro, chocada.

— É claro que não. Uma garota com um talento medíocre não conseguiria algo daquele tipo, não sem algum tipo de ajuda, mas não me importei em dar aquela oportunidade a você. Da mesma forma que não me importo em estendê-la novamente agora. – sorriu de forma mais agradável.

— Oh, meu Deus. – ela sussurrou, sem conseguir acreditar. – Você pagou para que eu me afastasse do seu neto.

— Eu ofereci a você uma oportunidade de alcançar o que queria. – ele corrigiu rigorosamente. – E a estou oferecendo de novo.

— Você é inacreditável. – ela soou incrédula. Os olhos de Aro se tornaram mais frios.

— Você não é parte do plano para o futuro de Emmett, Rosalie. – disse de forma cortante. – E achei que a essa altura vocês dois já teriam entendido isso. Vocês dois não têm um futuro juntos e eu estou te oferecendo a oportunidade de ter um futuro que você almeja.

— Não quero nada que venha de você. – ela grunhiu, enojada. Aro manteve a boca numa linha fina.

— Não seja tola. – disse de maneira calma. – Aceite isso e vá fazer o que sempre quis fazer. – ofereceu.

— Aceite você que seu neto e eu nos amamos e a sua tentativa de me comprar não vai funcionar. – ditou com a voz irritada, abrindo a porta do carro em seguida, saindo às pressas e a batendo com força.

Entrou novamente no prédio que abrigava sua academia de dança e caminhou a passos duros até a sala da administração, Alice a recebendo com sobrancelhas erguidas de surpresa. Estupefata, Rosalie desabafou sobre o encontro, deixando Alice quase tão chocada quanto ela.

— Eu não sei o que falar. – Alice disse por fim, depois de ouvir o relato.

— Esse homem não tem limites! – Rosalie exasperou. – Meu Deus, Alice, quero colocar minhas mãos ao redor daquele pescoço e matá-lo!

— Não acredito que ele armou tudo para que você saísse do continente para que não ficasse perto do Emmett. – a baixinha murmurou.

— Como ele fez aquilo? Eu peguei documentos com a faculdade, eu não entendo.

— Bom, ele obviamente tem dinheiro suficiente para arcar com todos os seus gastos por seis meses na Europa e comprar alguém da NYU... Enquanto vive como um rei em Nova York. – a morena constatou com a voz sem emoção alguma.

— Eu não acredito que ele fez isso.

— O que você vai fazer? – Alice quis saber.

— Eu não tenho ideia. – murmurou. – Acho que preciso contar ao Emmett.

— Ele ama o avô. – Alice declarou a informação óbvia.

— Eu sei. – ela murmurou.

— Rose... Se ele chegou a esse extremo antes para separar vocês, acha que ele vai parar agora? – ela perguntou com uma expressão séria no rosto. Rosalie mordeu o lábio inferior, desviando o olhar para a janela que mostrava o dia claro lá fora.

— Não. – foi tudo o que respondeu.

Na quinta feira, depois de evitar o tópico quando vira o namorado na noite anterior, reunira coragem suficiente para contar a ele. Aproveitou que Alice passaria a noite na casa de Jasper e preparou um jantar para ela e Emmett. Querendo evitar ao máximo a conversa, com medo do que viria a partir dali, ela brincou com a comida sem muita vontade.

— Seu avô passou no estúdio na terça para me ver. – ela disse, sentada em frente ao balcão da cozinha e remexendo sem muito entusiasmo no prato de comida, enquanto Emmett já lavava algumas coisas na pia.

— É mesmo? – Emmett respondeu, empolgado. – Isso é ótimo.

Ele adorava o avô. Apesar de todos os poréns e pesares, idolatrava o homem, ainda mais agora do que antes. Via todas as suas características boas e ignorava a maioria das coisas ruins que sabia sobre o mais velhos. Na frente de Emmett, Aro era o melhor dos avôs, jamais se revelando como se revelava ao genro, por exemplo, que ficava com a fachada de policial mau. Rosalie sabia disso e por isso respirou fundo, hesitante, antes de continuar.

— Sim. Ele veio me oferecer dinheiro para deixar você. – falou enquanto levantava o rosto para encarar Emmett. Ele parou com a louça, atônito, as sobrancelhas franzidas. Fechou a torneira e secou as mãos enquanto se virava para ela.

— O que?

— Bom, não dinheiro diretamente, mas me ofereceu uma vaga na Bolshoi. – se corrigiu.

— Isso é ridículo. – o homem decretou. – Ele está feliz por mim, Rose, por nós.

— Não foi o que pareceu. – ela o contradisse.

— Você deve ter entendido errado. Falei com o meu avô sobre nosso relacionamento e ele ficou feliz por eu estar feliz. – ele disse.

— Ele mentiu para você! – ela falou, como se a constatação fosse óbvia.

— Ele não faria isso! – Emmett rebateu, o rosto bastante sério. – Você deve ter o interpretado mal.

— Eu não o interpretei mal! Ele foi muito explícito. Inclusive deixou claro que quando ganhei aquela bolsa para a Rússia durante a faculdade foi tudo obra dele. Não havia bolsa nenhuma, apenas ele querendo me mandar para longe do país! – desabafou. Emmett recuou.

— O que? – ele repetiu, as sobrancelhas arqueadas. – Isso é loucura.

— Também achei, mas acho que seu avô não se importa realmente em gastar rios de dinheiro para deixar o que quer que atrapalhe seus planos fora do caminho. – cuspiu.

— Você não está sendo justa com ele, vovô é um homem muito honrado e jamais faria isso deliberadamente. – ele defendeu.

— Emmett, ele me disse isso! – ela frisou de forma impaciente.

— E eu tenho certeza que você o entendeu mal! Ele não faria algo assim. – Emmett revidou.

— Deus, como você é cego! – ela exclamou, exasperada. – Seu avô é uma cobra, sempre foi!

— Rosalie, não fale assim do meu avô! – reclamou, irritado. Rosalie mordeu o lábio, furiosa.

— Você é cego e seu avô é um homem poderoso. Nos separou uma vez e tenho certeza que não vai parar por aqui. – alertou.

— Você não sabe nada sobre o que está falando! Não foi meu avô que nos separou, foi a sua total falta de capacidade de planejar coisas ao meu lado, de me consultar antes de tomar uma decisão enorme que afeta a nós dois! – ele rebateu, ainda mais bravo agora.

— O que? Eu... – ela mordeu o lábio novamente, com mais força, para se calar.

— Foi a sua falta de capacidade de ceder. – ele resmungou, continuando, e os olhos de Rosalie brilharam.

— Minha falta de capacidade de ceder? – repetiu atordoada. – Porque eu não tinha intenção de me casar? De ser a mãe de três filhos que cresceriam para serem cópias da sua família perfeita? – Emmett bufou, exasperado.

— Isso é o que adultos fazem, eles amadurecem e constituem famílias!

— Só no seu mundinho preto e branco a vida é assim. Não preciso me meter numa instituição falida e parir herdeiros para ser uma adulta feliz comigo mesma!

— Você poderia fazer isso por mim! – ele urrou cerrando as mãos.

— Por quê? – quis saber, levantando-se imperativamente. – Você me acusa de não ceder, mas não vejo você fazendo da minha forma! Como eu poderia ceder quando você é constantemente arrastado para o drama da sua família, que claramente me despreza, e sempre se deixa levar? Quando nos separamos eu contei a você que seu pai me ofereceu dinheiro para te deixar e você sequer se importou!

— Eu o confrontei sobre isso, Rosalie, mas isso está no passado, minha família não é mais assim. Nós cuidamos um do outro.

— Isso é cuidar, então? Tentar afastar você da pessoa que você ama porque ela não se adequa às expectativas que o seu pai tem para você? – perguntou incrédula.

— Não foi isso o que falei. – ele respondeu, o tom mais neutro.

— Não, isso só foi o que aconteceu.

— Rosalie, eu tenho um plano para o que quero para o futuro e meu pai apenas tenta assegurar que ele funcione. – disse de forma firme. – Ele não deveria ter feito aquilo e já resolvemos essa situação. Eu tenho um plano para o futuro – ele reforçou. – e eu gostaria que você estivesse nele.

Eles ficaram calados, se avaliando. Emmett estava irritado, era visível em toda sua estrutura corporal, nos ombros tensos, descendo e subindo rapidamente. Os olhos de Rosalie estavam marejados e as bochechas coradas por causa da emoção, as mãos se fechando e abrindo repetidamente.

— Mas você ainda não quer se casar. – Emmett murmurou depois de um tempo, encarando-a e parecendo exalar com mais força. – Não quer ter filhos. – Rosalie engoliu em seco. – Achei que depois desses anos, talvez...

— Eu tivesse mudado de ideia? – perguntou com desdém, bufando. – Não acredito em casamento, Emmett, e já expliquei o porquê. – ela disse firmemente. – E não quero filhos, nunca quis.

Eles se encaram longamente, os olhos repletos de palavras não ditas. A loura suspirou pesadamente enquanto ele se encostava à parede mais próxima e olhava para o teto branco. Ela engoliu em seco, sentindo o bolo enorme preso na garganta.

— Por que continuamos fazendo isso se já sabemos que não termina bem? – ela sussurrou, desolada. Emmett virou o olhar para ela, tristeza o rodeando, e se aproximou alguns passos.

— Porque não sabemos como parar. – sussurrou em resposta, uma das mãos segurando o rosto dela de forma delicada. Ela se inclinou e permaneceu alguns segundos em silêncio.

— Isso não vai dar certo. De novo. – ela falou com a voz derrotada e ergueu o rosto, afastando-o da mão do homem. Deu passos lentos até seu quarto, Emmett a olhou e suspirou, exalando o ar com forço, enquanto a seguia.

— Não, não vai. – concordou, mantendo-se à porta do cômodo.

— Nós somos a definição de insanidade? – ela perguntou, deitando-se na cama, encarando o pequeno lustre do quarto. – Insistindo novamente numa coisa que sabemos que não dá certo. Insistindo novamente em alguém que sabemos que nos machuca.

Ela não entendia como pudera, mais uma vez, abrir seu coração para alguém que já o havia partido antes. Ele deitou-se ao lado dela, de lado para poder olhar seu rosto, e acariciou a bochecha firme com dedos gentis.

— Nós nos amamos. – ele disse simplesmente, como se aquilo explicasse tudo.

— Não acho isso seja capaz de nos salvar de nós mesmos. – murmurou, os olhos claros marejados. – Não acho que exista qualquer coisa que nos salve de nós mesmos.

— Não, não há. – ele concordou com um aceno e então suspirou mais uma vez, deitando-se de costas também. Com um riso sem graça acrescentou: – Não achei que esse seria o nosso fim.

— Mas é. – ela murmurou virando o rosto para o lado oposto ao que ele estava.

No final das contas, Aro não precisara fazer nada além daquilo para separá-los. Rosalie e Emmett permaneceram calados, contemplando o novo fim que lhes recebia enquanto o relógio mudava seus números.

Rosalie não saiu do quarto no dia seguinte e falou que estava se sentindo mal, por isso, cancelaria as suas aulas do dia. Passou o dia na cama, contemplando o novo fracasso que partira seu coração como há tantos anos antes. Só saiu do conforto do colchão macio quando ouviu Alice chegando. Foi até a cozinha e abriu um dos armários, então Alice voltou do próprio quarto quando ouviu o barulho.

— Rose! Você está se sentindo melhor? – perguntou preocupada com o estado da amiga. Os olhos da loura estavam vermelhos e inchados, denunciando o choro. – Ei, o que aconteceu? – a voz agora soava alarmada.

— Emmett e eu terminamos. – disse tirando o que queria das prateleiras. – E sim, eu sei que ficarei bem. – ela disse por fim, colocando uma garrafa de vodca sobre a mesa e tirando dois copos do armário em seguida. – Mas hoje à noite eu não estou.

Alice foi até a amiga, envolvendo-a em um abraço antes de encherem os copos e sentarem-se à mesa, onde Rosalie se pôs a contar sobre a discussão e suas repercussões.

— Não entendo porque se meteu nisso de novo. – Alice suspirou enquanto a loura servia as bebidas novamente nos copos já vazios. – Você sabe que são duas pessoas completamente diferentes e que nunca dariam certo.

— Eu não sei... Ele... Eu o amo, Ali. Tanto. – ela mordeu o lábio. – Eu jamais saberia dizer não a ele, mas é como se fossemos feitos para dizer adeus.

— Deve ser incrível ter alguém que o deixe partir seu coração duas vezes. – a mais baixa murmurou para si mesma enquanto bebia um gole de seu copo, pensando sobre os relacionamentos falidos que já vivera.

— Ele é tudo que eu queria, Alice. Eu nunca conheci ninguém que fizesse meu corpo se sentir dessa forma, minha mente ficar dessa forma. É como se cada centímetro dele tivesse sido feito exatamente para mim, mas mesmo assim, de alguma forma, conseguimos fazer isso não dar certo.

— Não é sua culpa. – a amiga disse com paciência.

— Eu sei. – concordou. – Isso não torna as coisas menos piores, sabe? Eu adoraria passar o resto da vida ao lado dele, mas não dessa forma. Não sabendo que cada passo que tomamos leva a algo obsoleto, não sabendo que a família dele controla cada uma de suas decisões. E eles me odeiam, Ali. – ela deu uma risada sem humor. – Eles realmente me odeiam. Me odiavam naquela época, e Deus, certamente me odeiam agora.

— Não é sua culpa, você não fez nada, Rose.

— Eu sei. – ela repetiu. – Eu só me apaixonei pela pessoa errada e toda aquela baboseira. Sei que não seríamos felizes juntos e se insistíssemos nisso é provável que acabasse tão pior... Mas não parece tão razoável agora. – resmungou e suspirou pesadamente. – Não sei o que fazer agora. – murmurou, encarando o copo cheio do líquido transparente.

— Você faz o que sempre fez. – a amiga respondeu, apertando gentilmente a mão da loura. – Você segue em frente, se recupera e lembra a si mesma que é uma mulher incrível, independente do Emmett estar ao seu lado ou não.

— Quem diria que ter o coração partido aos vinte e cinco seria mais doloroso que tê-lo partido aos dezenove. – resmungou, virando a dose do copo e enchendo-o mais uma vez.

— Isso se chama maturidade, querida. – Alice deu um sorriso de lamento. – Você vai ficar bem, Rose. – prometeu. – Eu vou estar aqui, como sempre estive. – Rosalie sorriu, mais agradecida que nunca por ter tido a sorte de encontrar Alice.


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Notas finais do capítulo

Oi, gente! E aí, o que acharam do capítulo?

Falei que esse seria o último, porém, contudo, entretanto, todavia, vai ter mais um heheh. Espero que tenham gostado desse, e mal posso esperar para ouvir de vocês nos reviews! Inclusive, um enorme obrigada a quem deixou review! E você, fantasminha que lê e não comenta, eu também adoraria saber o que você acha! Sério, podem deixar as críticas (construtivas) virem também! Não se acanhem ahhaha.

Estou um pouco na correria por conta de estágio e final de período e loucura de formar, mas logo volto com o final e se tudo correr bem com uma nova fanfic! Hahaha

Espero que todas estejam bem e se cuidando, hein? Um beijo enorme!
Lana.



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