Capítulo 12 - Incendiando. 

—  Olha...

— Deixa que eu falo James. - Victoria pediu interrompendo o loiro e se aproximando do casal - E se formos amantes mesmo? O que vocês tem a ver com isso?! - Questionou com as mãos na cintura e um leve ar superior. 

— Eu sabia! Sempre soube que você era um golpista, James! - Alice disse estalando os dedos - Traindo a Isabella debaixo do teto dela com essa vagabunda aí, tem que ser muito mau caráter mesmo pra fazer uma baixaria dessas com alguém.  - Olhou para os dois completamente enojada. 

Mas ambos não estavam nem um pouco preocupados com a repulsa dela. 

— Como fizeram ela parar no hospício? Pois está evidente que isso tudo é uma armação covarde da parte de vocês. - Jasper perguntou constatando o óbvio.  

— Isso é você quem está dizendo. Por acaso tem provas? - James o questionou com um ar irônico - Isabella teve uma crise nervosa, um surto psicótico causado pelo aniversário da morte da Renée. O resto é mera especulação e teorias mirabolantes da parte de vocês. - Afirmou dando de ombros. - Sobre eu e Victoria, é pura impressão também. Pelo jeito nesta viagem vocês se encheram de alucinógenos, só pode. - Limpou os lábios com o cotovelo. 

— Cínicos! Hipócritas! Tenho nojo de vocês, nojo! Mas não pensem que isso ficará assim! Vou tirar minha amiga daquele hospício e quando ela voltar pra essa casa, vai coloca-los em seus devidos lugares. E sabe onde é? Na sarjeta! 

— Iremos esperar. Sentados, de preferência, para não cansar. Mas por enquanto, o dono da casa ainda é o senhor Swan e tenho certeza que o que ele quer neste exato momento, é que vocês sumam desta mansão e não voltem nunca mais - Caminhou até a porta abrindo-a para eles - Fora daqui, os dois. - Apontou a saída. 

— Acham que venceram, não é? - Jasper sorriu irônico - O jogo ainda vai virar, nos aguardem. Eu vou a justiça, a imprensa e onde for necessário, mas vocês vão pagar. - Ameaçou saindo do local rapidamente ao lado da esposa.  

— E agora James? Será que esses dois fofoqueiros podem nos prejudicar de alguma forma? - Victória indagou fechando a porta. 

— Não, estou com a presidência provisória da empresa graças ao documento que a Isabella assinou, ou seja, posso fazer o que quiser lá dentro até o mês acabar,no mínimo. Se eles encherem meu saco, vou é dar um jeito de tira-los da diretoria e pronto. - Avisou sentando-se na poltrona do sofá e a mulher sorriu, sentando no colo dele e o beijando com urgência. 

~*~

Após se alimentar e tomar um banho que não fora tão relaxante assim pela tensão do momento, Isabella voltou a andar sozinha de um lado para o outro no quarto, tentando descobrir a melhor forma de agir a partir de agora. 

— Doutor Cullen vai me ajudar e isso é ótimo, mas não posso esperar muito tempo. Tenho que tomar uma atitude antes que James sei lá, torre minha fortuna inteira e faça a empresa da minha família falir. Aquela paciente disse que todos vão tentar fugir.  Será que devo ir com eles? Ou seria melhor contar ao Cullen da fuga, afinal, uma fuga em massa prejudicaria muito a imagem do sanatório e ele vem sendo tão bom comigo. Não merece passar por uma coisa dessas, acho. Não, não posso contar. - Mudou de ideia fazendo sinal de negativo com a cabeça - Não sei até que ponto posso confiar neste médico. E se ele estiver junto com James nessa armação toda? Céus, estou tão confusa que até estou falando sozinha, como se realmente fosse louca. - Constatou guardando seus pensamentos apenas para si. 

~*~

— E aí Jasper? O que vamos fazer? - Alice questionou enquanto o marido dirigia até o sanatório onde Bella estava internada para que a visitassem.  

— Bem, você vai ver a Isabella e contar à ela tudo o que vimos, entender como aconteceram as coisas. Já eu, vou tentar apagar o incêndio que se tornou essa internação da Bella. A imprensa está em cima, precisamos aproveitar isso pra desmascarar o James em público, manchando a imagem dele na TecnoLux, mas com cuidado para não prejudicar a empresa. Também precisamos contratar um advogado para ver como podemos impedir que James roube a fortuna da nossa amiga. Deixe isso comigo também, apenas foque em mostrar pra Bella que ela não está sozinha.  

— Jaz, minha vontade era de enfiar a mão na cara daqueles dois. Mas é isso, o que não podemos é deixar o James vencer depois de todas as maldades que aprontou com a Bella. 

— Não vamos deixar, confie em mim. - O loiro garantiu beijando a mão da esposa suavemente. 

[...]

— Alice! - Bella gritou correndo de encontro a amiga após receber sua tão aguardada visita - Que bom que você voltou! Preciso tanto do seu apoio! - A abraçou com força. 

— Vim assim que soube dessa sua internação absurda. - Segurou as mãos da amiga - Como você está?

— Confusa, triste, com ódio. Amiga, James me enganou! Ele continua negando, mas eu sei que foi ele quem armou tudo. Não sei como, mas foi ele quem deu um jeito de me enlouquecer naquela casa. E as vezes, acho até que conseguiu de vez. - Desabafou chorando muito. 

— Tenho certeza que ele não conseguiu.  Mas sim, foi ele mesmo. Tive a prova quando fui até sua casa há pouco. - Comentou deslizando a mão pelo rosto da amiga para secar suas lágrimas - James estava lá com a governanta. Victória o nome dela, não é? 

— Espera... Você tem certeza do que está afirmando? - Bella perguntou engolindo em seco - Isso até chegou a passar pela minha cabeça, mas... Tem certeza mesmo? É real?

— Sim, são amantes. A boca do James estava manchada de batom, assim como a da sua funcionária vadia. Sinto muito. Além do mais, ela estava usando suas coisas, jóias, sapatos, tudo - A morena contou vendo Isabella baixar a cabeça triste para depois, erguer a cabeça e engolir em seco.

— Então é isso. James se casou por interesse como você tanto me avisou. Mas eu, cega de paixão, não percebi. Ou simplesmente, não quis acreditar. Aquela água de salsicha trabalha na minha casa há quase quatro anos. E durante todos esse tempo, James estava me traindo com a empregada debaixo do meu próprio teto, se duvidar até na minha cama. Juntos, decidiram que iriam enfiar a idiota aqui em um manicômio para roubar minha fortuna. 

— O plano perfeito. - Alice cruzou os braços. 

— Quase perfeito. Pois eu descobri e não, não enlouqueci ainda. - Fechou os punhos - Eu vou sair daqui e quando isso acontecer, aqueles dois vão se arrepender de ter nascido. Eu juro. Aqueles monstros vão se arrepender de todo mal que me fizeram. - Prometeu trincando o maxilar. 

— Sua expressão está diferente. Você está tão... 

— Mudada? Rancorosa? Não é só isso Alice, estou com ódio. E este ódio vai me fazer sair daqui e me vingar daqueles desgraçados da pior forma possível, colocando-os atrás das grades.

— Bella...

— Não vou mais chorar - Interrompeu a amiga, respirando fundo - Porque eles não merecem minhas lágrimas, já chorei o suficiente. Agora tenho que por a cabeça no lugar e sair logo daqui. O doutor Cullen quer que eu fique mais alguns dias até me acalmar, mas quero ir embora logo. Amanhã mesmo. 

— Está bem, vou conversar com seu médico e explicar seu desejo - Ambas se abraçaram novamente - Vai dar tudo certo, Bella. Tenho certeza. 

[...]

— E aí? Está mais confortável neste lugar? - Edward questionou quando foi visitar sua paciente em um quarto comum, sem camisa de força e aparentemente, mais controlada.

— Sim, mas quero ir embora amanhã mesmo Edward. Não faz sentido ficar mais tempo neste hospício como se fosse uma desequilibrada, como James queria que eu fosse. Preciso voltar pra casa e assumir o controle da minha vida novamente. É isso que quero agora. - Deixou claro se aproximando dele e o olhando nos olhos. 

— Ainda acho que você deveria passar alguns dias aqui para se acalmar um pouco mais, mas entendo que sinta necessidade de voltar e resolver logo essa situação. Hoje não ficarei na clínica pois terá uma festa lá em casa para comemorar os trinta e três anos de casados dos meus pais, mas amanhã cedo te darei alta. Só quero que saiba que sempre, sempre estarei aqui. - O ruivo prometeu segurando as mãos dela com delicadeza - E se precisar do meu depoimento para comprovar sua sanidade mental, até mesmo na justiça, pode contar comigo. 

— Obrigada Doutor. - Bella apertou as mãos dele - Por tudo mesmo, de coração. Nunca esquecerei o que fez por mim nesses últimos dias. Você foi a primeira pessoa que acreditou em mim e isso foi muito, muito importante. - Em um ato raro nos últimos dias, Bella sorriu. 

— Você tem um sorriso lindo. Espero que depois que resolver sua vida e tudo que tanto lhe aflige, você possa sorrir mais vezes. 

— Vou tentar, prometo. - Bella disse dando um rápido abraço no médico, quase de despedida. 

[...]

Já era madrugada e depois de se alimentar, Bella tinha acabado de pegar no sono depois de várias tentativas fustradas. 

Seu sono nunca foi tranquilo. 

Sempre se sentia desconfortável, mas desta vez era diferente.

Estava quente. 

Muito quente. 

Algo estava arranhando sua garganta, lhe fazendo tossir de tempos em tempos e seu nariz, também se sentia incomodado por um estranho cheiro. 

— Hum... - Murmurou virando-se do outro lado da cama e tossindo mais uma vez. 

De repente, Bella ouviu gritos. 

— SOCORRO!! 

Levantou-se da cama rapidamente e acendeu a luz do quarto, vendo que estava tudo embaçado e com muita fumaça que vinha de fora do quarto. 

— O que está acontecendo? - Perguntou-se esfregando os olhos e piscando várias vezes, em busca de melhorar a visão. 

Os gritos e barulhos se intensificaram com o passar dos segundos. 

Quando olhou para a porta, a mesma se abriu e Penélope apareceu com outras duas mulheres, todas eufóricas. 

— Vamos Bella, a hora é agora! - Ela gritou apressada, dando tapas na porta. 

— O que está havendo?! - A morena perguntou confusa. 

— Penélope colocou fogo na cozinha do hospício e estamos aproveitando a confusão toda para fugir. - A mulher ao lado de Penélope respondeu entre gargalhadas - Vamos garota! Ou prefere morrer aqui queimada? Não deve ser nada gostoso, não acha? 

— Vou com vocês. - A empresária garantiu saindo do quarto seguida delas. 

— SOCORRO!! SOCORRO! - Conforme andava pelos corredores, Isabella ouvia mais e mais pedidos de ajuda. 

Algumas vezes, Penélope abria a porta para os pacientes fugirem com elas. 

Em outras, simplesmente xingava e ignorava. 

Bella então parava e abria as portas, com medo que os que ficassem para trás, morressem queimados no incêndio. 

O cheiro da fumaça estava cada vez mais forte e o fogo, se espalhando com velocidade. 

Penélope e os pacientes tossiam muito, assim como os demais enfermeiros que tentavam a todo momento salvar e ao mesmo tempo, impedir que os pacientes conseguissem concretizar a fuga. Alguns ficavam pelo caminho, desmaiando ou perdendo forças para continuar devido a intensa fumaça.

O sanatório parecia mais um labirinto, repleto de corredores longos e estreitos. 

— Precisamos abrir esse portão. - Uma das pacientes falou quando as três pararam em frente ao mesmo - Depois desse falta só passar pelo jardim e pular o muro. 

— A Kay foi buscar as chaves na sala do Doutor que está vazia, voltará em instantes. - Penélope avisou tossindo um pouco quando Kay apareceu - E aí? Trouxe? 

— Aqui. - Kay, que era morena e corpulenta ergueu a chave para o alto e Penélope sorriu - Sabe... No caminho vi tanto fogo. E gostei dele. Mudei de ideia e agora, quero ver todas nós queimando aqui. 

— Ta maluca? - Penélope revirou os olhos - Dá a droga da chave. 

— Claro que tô maluca, estamos em um hospício - Kay gargalhou - Mas como disse, vamos todas morrer aqui. Agora. - E simplesmente abriu a boca, enfiando a chave nela e engolindo-a. 

— NÃO! - As pacientes gritaram ao ver a cena. 

Kay ficou de joelhos e passou a tossir ainda mais, enquanto as meninas chutaram e batiam nas portas, pedindo socorro. 

— Tem que ter outra saída... - Isabella disse apavorada - Tem?

— Tem na cozinha, mas está em chamas também. Vamos morrer aqui! Não quero morrer queimada, não quero! - Desesperada, Penélope passou a gritar junto com as outras pacientes. 

Estava quente. 

Cada vez mais quente. 

Isabella via pessoas correndo de um lado para o outro do salão.

Algumas queimando vivas. 

Outras, tentando pular as janelas e abrir a porta. 

Todas chorando, gritando, desesperadas. Seu corpo todo tremia e, de seus olhos só lágrimas saíam. 

Estava cada vez mais difícil respirar por conta da fumaça e tudo girava ao seu redor.

O fogo também estava cada vez mais perto. 

Sem mais forças, a morena acabou desmaiando, sentindo que aquele era realmente seu fim.