Desejo e Reparação escrita por natkimberly


Capítulo 17
Os Smith




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Um raio de sol perdido encontrou as pálpebras fechadas de Emma. A garota, depois de muito tempo pensando, conseguiu cair no sono. Os olhos castanhos, agora despertados, tentavam identificar que cômodo era esse em que estava presente. Mobília rosas, tapetes amarelos ferrugem e almofadas muito felpudas.

Então, a noite anterior não havia sido uma ilusão. Emma realmente estava dormindo em Hartfield Hall. Quando a morena se ergueu para se sentar, sentiu uma forte ardência na sua perna. 

É, querida perninha, você tem que se esforçar para melhorar para podermos dar o fora daqui! Emma não conseguia encarar o machucado, desviou o rosto para cima e observou o teto. Não sabia se gritava para que alguém viesse falar com ela ou se preferia apodrecer ali sozinha, torcendo para que seu irmão viesse magicamente a resgatar desse pesadelo. Quando percorreu a visão pelo quarto, se deparou com uma figura escura em frente da janela. Pensou que era um porta-casaco, mas o topo do objeto se mexeu para ela. 

— Despertou, finalmente.

— AHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!

Fitzwilliam deu um pulo para trás e Emma agarrou as cobertas, ignorando a dor de suas pernas e segurando o seu travesseiro como se fosse um escudo.

— O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? - Atirou a almofada na sua cara.

— Lhe acordando? - Fitzwilliam desviou da sua “arma”, agora se aproximando.

— Fingindo ser uma assombração?! 

— Abrindo a cortina da janela?!

— Você é realmente um homem muito cortês - ela zombou. - Uma pena que meu coração quase parou de funcionar com essa gentileza sua. 

— Não considero isso uma pena.

Emma atirou outro travesseiro nele com mais força, dessa vez ele acabou não sendo ágil o suficiente. Ficando enrubescido da cabeça aos pés. 

— O que você quer? - indagou ela.

— Lhe avisar que o médico acabou de chegar, aborrecida. - Teve que fazer força para não xingar de coisa pior.

A morena apenas revirou os olhos e atirou a cabeça na cama, querendo voltar a dormir.

— Independente do diagnóstico, vou sair daqui ainda hoje, nem que seja me arrastando!

— Então, boa sorte tentando!

Os dois desviaram os rostos aborrecidos. Um silêncio constrangedor reinou pelo quarto rosa, Emma percebeu que as respostas dos acontecimentos ainda não estavam completas em sua cabeça. Precisava perguntar para ele sobre tudo antes que o médico chegasse, ou pior, que Gerald desse as caras:

— Antes de eu vir para cá, você tinha  me impedido de aparecer duas vezes. Quando eu estava indo para Bath e quando me enviou aquela carta, me desconvidando. - Ele concordou com a cabeça. - Disse que iria marcar uma visita para me ver em Bath. Era para me contar sobre isso?

Os raios de sol ultrapassavam a janela e se intercalavam com a pele branca saudável de Fitzwilliam, enquanto ele se acomodou na poltrona à frente de Emma. A fitando com tanta seriedade que ela sentiu um frio na sua barriga.

— Sim.

— Há quanto tempo aquilo estava acontecendo? - indagou Emma secamente.

O homem suspirou lentamente e se aproximou para ficar mais perto dela, com a mão inquieta segurando o travesseiro que estava no chão e colocando em sua cama. Emma, não sabia porquê mas sentiu um tormento dentro de si, mas manteve a feição séria de sempre. Os dois ficaram em sua troca de olhares, em que cada segundo parecia durar horas. Emma sabia que se insistisse ele iria ter que lhe falar e Fitzwilliam sabia que ela merecia a verdade, mas procurava coragem. Quando ele abriu os lábios, foi interrompido pelas batidas na porta:

— Pode entrar - disse ele, recuando de perto da cama dela.

O médico entra na sala junto de Gerald Knightley e Charlotte Fairfax. Emma sente um mar de repúdio junto à vontade de vomitar o café da manhã que ainda nem comeu. 

— Bom dia, srta. Dashwood. Sou o doutor Shepard, vou estar avaliando a sua lesão. - O mesmo colocou a sua maleta de utensílios clínicos em cima do criado-mudo. Ele era um homem velho e sábio, pendurou seu óculos meia-lua na ponta do nariz e olhou em volta pelo quarto para a “plateia” que observava seus movimentos: - É realmente necessário todos presentes para acompanhar um exame?

A garota acamada deu um leve sorriso. Fitzwilliam virou para o irmão com um olhar que o mandava se retirar, mas Gerald não iria ceder. 

— Vocês dois não tinham que estar passeando no campo com nossos cavalos? Para fazer eles esticarem as pernas um pouco - indagou Gerald para a noiva e o irmão.

— Não sei, você não deveria estar com sua noiva preparando os planos do seu casamento?

Emma nunca tinha ouvido um silêncio tão alto como aquele que se dispôs entre os presentes. Charlotte, que estava com os braços entrelaçados com o de Gerald como se ele fosse escapar a qualquer momento, deu o seu clássico risinho amável e sibilou:

— Teremos mais convidados essa noite, mais um jantar para contar as novidades, dessa vez para os nossos amigos e deixar que o anúncio saia pelos jornais. Realmente, deveríamos estar formulando isso, querido. 

— Não dá para você fazer isso isolada? - retrucou o loiro. - Quer dizer, você entende dessas coisas melhor que eu… querida.

Parecia ter esquecido de se referir a ela com essa última palavra. A ruiva o encarou com um semblante obscuro de desconfiança, parecia morder as bochechas para conter a fala. Gerald logo se sentiu encurralado e seguiu a noiva para a saída do quarto, sem dizer nada. A jovem Dashwood conseguiu se sentir mais aliviada, mas tinha esquecido que o sr. Knightley ainda estava exposto no ambiente.

— Pode seguir o exemplo deles e ir embora, também. 

O cavalheiro fingiu não escutar, se acomodou na poltrona a frente da janela e retirou de dentro do casaco um jornal. 

— Não, obrigado - sibilou abrindo o exemplar e começando sua leitura.

— Não era uma pergunta - replicou Emma, se levantando do colchão para ficar sentada. Estendeu a perna para cima do lençol e sentiu o toque das mãos geladas do médico em sua ferida. Mordeu os lábios para não dar um grito.

Mesmo com a dor, Emma sabia que esse machucado não seria o suficiente para lhe impedir de voltar para a casa de seu irmão Charles Dashwood. Tentava pensar positivo, mas quando mais o médico analisa, pior parecia que ficava. Pense positivo, era o que Jane lhe diria, e era o que ela iria fazer. A consulta terminou e o curativo já estava feito, tinha colocado um líquido laranja em sua perna que parecia que estava colocando fogo na sua perna, por fim finalizou com os pontos. Emma sentia que Fitzwilliam não estava tão concentrado no seu jornal quando percebeu algumas vezes que o homem estava a olhando, mesmo ele desviava muito rápido.

— Dr. Shepard, - disse Fitzwilliam se levantando e caminhando para a porta - depois de você.

O médico caminhou para fora junto com ele. Emma ficou confusa, mas não iria se privar de escutar a conversa. Colocou os pés descalços no chão frio e andou até a porta, no terceiro passo ela sentiu que ia chorar. Pensou se devia se jogar na cama ou tentar ir para fora, mas sentia aquela ardência piorar na área que tinha acabado de ser amarrada com faixas brancas. Quando cogitou dar o quarto passo se apoiando na parede, Fitzwilliam aparece novamente:

— O que pensa que está fazendo? - agarrou a garota por baixo do braço para a empurrar para cama. - Não pode fazer esforços com uma ferida recém fechada.

— Queria escutar sua conversa - respondeu ela, se sentando e grunhindo de dor. Se sentia tonta e suada. Fitzwilliam percebeu seu lábio perdendo a cor, foi quando notou que a única coisa que estava em seu estômago era a fatia de torta que comeu no dia anterior. 

A última coisa que Emma ouviu foram os gritos de ordem dele para o seu amparo.

O clima em Rosings era úmido e chuvoso, assim como em Morland, na cidade dos portos. Jane estava sentada na carruagem com os olhos verdes vidrados na pequena janela. Apesar de nunca ter visitado Morland, sabia que essa era a cidade que tinha o contato de todos os barcos e navios que vinham do exterior para a Inglaterra, sejam embarcações de materiais ou de viajantes. 

Mesmo estando perto do oceano, os barulhos que chegavam nos seus ouvidos não eram de ondas, mas sim de muitas buzinas de navios e de caixas sendo despejadas no chão. Não havia areia nesse lugar, era literalmente terra firma, rochas e água. Isso era bom, pois Jane odiava praias, mas de repente lhe veio à mente que no mês anterior quem estava nessa cidade era sua irmã mais nova, Anne Dashwood. Ela precisou vir para Morland para poder partir para França para morar com sua tia March. Será que seu pai teria feito isso? Será que ela estava partindo, sem data prévia de volta? 

Sua tia não era uma mulher fácil de lidar, ela não acolheria Jane de uma maneira tão simples como fez com Anne e ela deixou claro que só queria a caçula, mas então o que Jane estaria fazendo nessa cidade medíocre? Quando ainda estava espiando as ruas, sentiu as rodas diminuírem a velocidade. O cocheiro desceu de seu assento. O que ele está fazendo? Poderia estar alimentando os cavalos.

A srta. Dashwood seguia observando como as cores da cidade eram escuras, não tinha o frescor do verde de sua casa no campo, em Meryton. Tudo em Morland era marrom e verde musgo, às vezes tinham um amarelo ferrugem. As próprias pessoas da cidade pareciam infelizes, muitos andavam encharcados e com expressões cansadas. Não havia um pescoço que não tivesse se virado para olhar a carruagem branca de quatro cavalos que chegava nas ruas sinistras da área mais miserável da cidade. Meu Deus, que fim de mundo é esse? 

A srta. Dashwood rezava para o cocheiro voltar e a dirigir para o porto, onde ela pegaria um navio e iria encontrar Anne. A França nunca pareceu um lugar tão perfeito na sua imaginação.

Houve um barulho, de uma maçaneta sendo usada. O cocheiro abriu a porta, expondo aos curiosos os olhares dos habitantes da cidade dos portos à turista. Muitos estavam surpresos com uma moça como ela estar em sua rua e não embarcando em um convés com seus criados carregando suas bagagens.

Jane desceu do veículo tão confusa quando os moradores, deu um sorriso de nervoso para alguns, mas não foi retribuída. Nenhuma mulher a sua frente era como ela, todas usavam vestidos escuros (alguns de sujeira), não usavam luvas, nem chapéu, tinham os cabelos bagunçados e rostos muito corados, provavelmente por causa da alta exposição ao sol ou por estarem ofegantes. Era impossível não olhar para a jovem de vestido azul claro limpo. 

— Quem é essa?

— Não sei, tem quatro cavalos, então é mais uma “madame”.

— Mas, o que está fazendo aqui? Devia estar no porto embarcando para algum lugar.

— O navio que ia pra aquele país lá vai sair em uns cinco minutos, ela deve estar é perdida.

Jane escutou esses cochichos e foi atrás do cocheiro, quando se virou para vê-lo o mesmo estava tirando suas malas e as direcionando para o chão.

— O que está fazendo? - indagou Jane com a garganta seca. - Deve haver algum engano. - O homem a olhou com cordialidade mas ela sentia no fundo de seus olhos um pouco de pena.

— Não há engano, chegamos ao destino.

— C-Como assim? Aqui no meio do nada? É isso que meu pai está fazendo, me deserdando?

O homem olhou para a direita, Jane seguiu seu olhar e viu uma casa escura e muito humilde. Ele colocou nas mãos de Jane a carta que seu pai havia lhe dado quando partiram, Jane olhou o envelope e lá estava o endereço. 

Barbacena Street, n. 42, Morland.

A porta da casa tinha o número 42 arranhado. Isso não pode ser real

— Entregue a carta a dona da casa - disse o cocheiro, se preparando para partir.

— Quem é ela? Quem mora nessa casa?

— Os Smith’s. 

O cocheiro deu partida, Jane sentiu um aperto no seu coração. Queria correr atrás dele e gritar para que a levasse junto, queria ter dinheiro para comprar uma passagem e navegar para onde Anne estava. Mas a loira estava sozinha, só tinha a sua presença, a carta e as suas bagagens. 

Pense positivo. Pense positivo. Ela gritava isso para si mesma, antes que as lágrimas pudessem ousar aparecer. Pelo menos, não é um convento. Abriu o portãozinho de madeira que estava quebrado com facilidade, caminhou pelo “jardim”, se é que dava para chamar aquela grama murcha, marrom e molhada de tal nome. Smith… quem que ela conhece que se chama Smith? E por que seu pai a mandaria para cá?

A srta. Dashwood bateu na porta com delicadeza e por medo dela se arrombar. Escutou gritos quando fez isso, gritos de crianças e seguidos de um forte: Calados! Jane só conseguia pensar: Como eu queria que Emma estivesse aqui, pelo menos estariamos lascadas juntas.

— Sai da frente, estrupício - disse uma voz fina, que em seguida foi revelada ao puxar a porta com tanta força que o rangido podia ter sido escutado por todos da rua.

O que não dava para escutar era o barulho do salto que o coração de Jane deu quando tomou um susto ao ver uma figura parecida com a pessoa que ela tanto almejava que estivesse com ela:

— Emma? - sibilou baixinho.

— Ahn? Quem é você?

Jane coçou os olhos verdes e conseguiu perceber que não era sua irmã que estava a sua frente, óbvio ela estava em Bath (pelo menos, devia estar). A saudade devia ter feito com que a srta. Dashwood se precipitasse, já que a moça da sua frente podia ter a cor de pele bronzeada, o corpo e o mesmo olhar de sua irmã, mas de resto não tinha nada a ver. Seus lábios eram extremamente finos e os seus dentes amarelados, sem contar o seu nariz finíssimo e encurvado que fazia com que Jane agradecesse a Deus pelo dela. Se Emma soubesse que Jane a confundiu com essa moça, com certeza a irmã nunca mais falaria com ela. 

— Você é surda? - falou a garota em tom agressivo. Ela olhava para Jane de cima a baixo com um deboche infantil, por causa das roupas ela parecia enxergar a loira como uma boba da corte. - Deve ser retardada. Vaza daqui.

Nunca foi destratada assim por ninguém, Jane sentiu o seu rosto arder quando ela fechou a porta na sua cara. Dessa vez, a dama não teve piedade e bateu aos socos sem parar até que ela abrisse. Quem ela pensa que é?

— O QUE VOCÊ QUER?

— Vou ficar hospedada aqui nessa pousada. Me chamo…

— Pousada? Só pode ser uma louca. Não conhecemos nenhuma turista.

— Deve conhecer, se não eu não teria sido enviada para esse endereço - disse mostrando o envelope. - Pode ler a carta.

— Isso deve ser um engano.

Quem me dera fosse!

— Não é um engano, está dizendo Barbacena Street, n. 42, não está lendo?

Aparentemente, Jane a irritou muito com a sua colocação. A moça ficou furiosa e fechou a porta na cara dela de novo.

— Abra essa porta, agora! Srta. Smith, você tem que pelo menos ler o que tem aqui dentro - gritava Jane, enquanto tentava girar a maçaneta. - Meu pai não me mandaria para cá por acaso.

— Dane-se o seu pai, vá embora daqui, princesinha. Se não parar de bater essa merda eu vou aí fora acabar com você.

— Até parece, magra desse jeito. Eu consigo me virar! Se me bater, amanhã vai estar nos jornais que srta. Dashwood foi agredida por um brutamonte e eu vou ter que ganhar uma indenização pela sua agressividade. 

— O que você disse?! - Outra voz apareceu atrás da madeira. 

Tem mais de uma pessoa vivendo nesse cubículo? É hoje que eu morro. Agora, Jane estava com medo de realmente apanhar feio. Nunca entrou numa briga na vida. A garota começou a recuar e agarrar suas malas quando uma mulher mais velha apareceu e possuía um rosto tão familiar quanto o da primeira. Diferente da menina mais nova, aquela senhora não estava com expressões de um cachorro raivoso, mas sim com uma cara confusa. 

— Quem é você, garotinha? - dizia a velha tirando os cabelos enozados da frente do rosto suado. Jane engoliu seco.

— Srta. Dashwood - disse fazendo uma reverência. A velha deu um riso espalhafatoso, que fez Jane se sentir envergonhada. Já não bastava a plateia de curiosos a olhar, ela ainda tinha virado motivo de piada.

— Me dê esse papel. 

A loira obedeceu. Quando a velha abriu, encontrou dinheiro vivo ali, muito dinheiro. O semblante de raiva da menina que parecia ser sua filha tinha desaparecido. 

— O que é isso? - perguntou. Se juntando à mãe para tentar ler junto mas tomou um empurrão tão forte que quase caiu. 

— Sai daqui, estrupício. - A velha maldosa continuou a ler o papel e em seguida o abraçou dando gargalhadas para o céu: - Finalmente esse velho encardido se lembrou de nós. Eu sabia que não ia tardar para isso chegar!

Jane e a menina estavam confusas. Só pode ser um engano, por favor, que seja um engano

— Ava, o que está fazendo parada como uma vagabunda? Vá pegar as malas dela. E, você, não fique com essa cara de que algum bicho invisível lhe mordeu. 

— Pra que fazer isso? Quem é ela? - indagou Ava, se recusando a carregar as bagagens. - Por que uma menina da laia dela vai ficar com a gente? - Jane queria pensar em como retrucar o insulto mas estava em estado de choque ainda.

— O que que tá acontecendo aqui? 

— Sua pentelha, cala a porra da boca e vai ajudar sua prima a carregar a merda da bagagem, AGORA!

Primas?!

Emma acordou com um susto. Sentiu um aperto no coração. Estranho. Jane veio a sua mente do nada. Devo estar delirando. Olhou para o lado e viu uma bandeja com pãezinhos, frutas e leite. Era o seu café da manhã, então ela não apagou por muito tempo. Olhou para janela para identificar a hora do dia e de novo aquele vulto na espreita:

— Você não cansa de fazer essa palhaçada? Quer me dar um susto de propósito, tenho certeza.

— Estava esperando algum sinal de vida seu - retrucou Fitzwilliam, lendo um livro.

— Pronto, estou viva. Pode sair, agora. 

— Graciosa como sempre, senhorita Emma.

— Para você, é apenas “srta. Dashwood” - replicou enquanto comia um pão. 

— Como quiser - disse Fitzwilliam cerrando os olhos. Ele se levantou da cadeira e passou por ela: - Como não almeja por uma companhia para distraí-la, fique com esse livro para ocupar a mente, então. 

Fitzwilliam o colocou perto da perna de Emma, a garota jurou conseguir sentir o cheiro de seu perfume amadeirado, mas voltou sua atenção para a comida. 

— Boa refeição - finalizou o moço se despedindo. Emma não sabia o porquê mas se sentiu um pouco ressentida de ter o tratado dessa forma.

Ele nem deve se importar, pensava. Ao terminar de começar, balançou as mãos e se esticou para pegar o tal livro para se entreter. Abriu a capa e se deparou na primeira página com um:

Díspar

por Charlotte Fairfax

Desgraçado. Toda a sua compaixão foi embora, junto com o livro que já tinha sido arremessado para o outro lado do ambiente.

Desgraçado.

Jane só conseguia pensar em quanto seu pai a odiava, odiava veemente. A loira não daria esse castigo nem para seu pior inimigo. Aquela casa fedia, fedia a mofo. Era o lugar mais horrível que já estava, e não era por causa da pobreza e sim pela imundície. Jane escutava vozes no andar de cima, quando olhou o teto percebeu diversos musgos.

Sentou-se na cadeira de madeira e ficou estagnada como uma garota congelada, o tempo passava para todo mundo mas ela não percebia. Muita informação para poucas horas. Jane nunca soube que tinha uma prima.

— Olhe para ela, está passando mal por saber que é parente da gente. Deve estar se sentindo podre. - dizia a sra. Smith, ou melhor, tia Smith.

Pelo visto, as Dashwood’s não tinham sorte de ter uma tia agradável.

— O que tinha na carta? - perguntou Ava, jogando a mala de Jane com zero delicadeza. A loira estava tão assustada que não conseguiu reclamar do ato.

— Não interessa, chame seus irmãos pra almoçar. 

Tom de pele bronzeada, cabelos escuros, olhos castanhos, corpos magros… Só pode ser uma coisa:

— Você é… irmã da minha mãe?

— Não me reconhece, docinho? Ou melhor, seu pai não deve nunca ter mencionado a minha existência, não é? Afinal, para que dizer sobre o desgosto da família, pra que sujar a imagem assim? Melhor mandar um pouco de dinheiro a cada mês para dizer que pelo menos ajuda. Mas, dessa vez parece que mandou o triplo - falou a tia Smith com uma voz maliciosa, cheirando as notas de papel. -  Por que ainda não foi chamar seus irmãos, peste? 

Ava se apressou para sair da sala, sem antes dar um olhar feio para a nova residente. A tia Smith se jogou no sofá, Jane conseguiu enxergar um mar de poeira flutuando quando ela fez isso. 

— Não sei o que você fez para o velho ter feito isso, mas deve ter sido algo muito ruim - dizia segurando a carta e relendo.

Se recusar a se casar com um duque por não o amar e gostar de um soldado foi algo ruim, então Jane estava errada mesmo. 

— Quanto tempo vou ficar aqui? - perguntou Jane. Precisava de respostas.

— Não sei, aqui não está dizendo nada. Só que você vai ficar aqui até a segunda ordem do baronetinho. Quando “mudar de ideia” é o que está escrito - Jane sentiu um ar gelado na sua barriga. 

Então, é isso, ele pretende me ganhar pelo cansaço. A srta. Dashwood deitou a cabeça no apoio da cadeira e deu um suspiro profundo. Era isso. Ela conseguiria suportar esse desafio. Uma hora seu pai iria se arrepender e voltar atrás para a procurar, irá lhe saudar e dizer que o que mais importa é a felicidade de sua filha mais velha. Isso não era apenas sobre Noah Russell, era sobre Jane não ter o livre arbítrio de se casar com quem ela quiser. A loira não ia cair fácil.

— Não se esqueça que - falou a tia Smith, amassando o papel e jogando para a fogueira: - Isso aqui não é um retiro de férias, não vai ficar sobre meu teto coçando a bunda o dia inteiro. Vai ralar duro, como os outros, ouviu princesa? - Jane assentiu e a tia colocou o dinheiro dentro do sutiã de maneira indiscreta.

Barulhos de passos infestam o ambiente, tia Smith se levantou e foi caminhando para a cozinha. Jane se deparou com uma visão que não esperava ver. Não tinha só um primo, nem dois, nem três. Mas, seis. SEIS. 

Todas as crianças correram para a mesa para pegar suas tigelas, sem reparar na presença dela. Ava era a mais velha, devia ter a idade de sua prima. Era a última da fila para montar seu prato. A tia Smith passou a fazer as contas:

— Onde está o 4? - perguntou à mais velha. Ava deu os ombros. - Espero que pelo menos esteja fazendo dinheiro.

Caramba, como são barulhentos. Não paravam de gritar e dar empurrões uns nos outros. Como eles conseguiam se acomodar todos nessa casa pequena. 

— Seis e Sete parem de brincar de tapa! - gritou a mãe. - Um, quando terminar de comer vai procurar o Quatro - disse à Ava.

Ela nem devia saber os nomes deles, Jane também esqueceria com facilidade se fosse mãe de tanta gente. 

— Não vai comer, madame? - perguntou Ava. Os irmãos, então, repararam na presença dela.

Jane se endireitou e deu um sorriso fraco:

— Estou sem fome, obrigada. 

E estava mesmo, era impossível ter apetite em uma casa tão fedida. Se comesse, não demoraria meia hora para colocar tudo para fora.

— Ela deve estar acostumada a comer creme de fruto do mar com caviar, - disse um garoto sardento que estava ao lado de Ava, parecia mais novo que ela mas era mais alto: - essa comida não é do paladar dela. 

— Pode crer - falou Ava, com aquela cara de deboche odiosa: - Me passa a concha, Ben. 

— Qual o nome dela? - perguntou o tal Ben para a irmã. 

— Já me esqueci, alguma coisa wood. 

— É Dashwood, srta. Smith - retrucou a loira. A garota deu uma gaitada:

— "Senhorita" - ela e o irmão começaram a rir até faltar ar. - Aqui não temos essas frescuras, madame. Me chame de Ava, senão quebro seu rostinho de porcelana.

Jane cerrou os punhos, que pessoas desagradáveis eram essas, não podiam ser da mesma família. Todos os primos terminaram de montar seus pratos, vieram se juntar a loira na sala, comiam com os pratos no colo sentados no sofá ou no chão. Jane pensou em contestar porque não usavam uma mesa mas pensou que não devia haver cadeiras para tantas crianças. Eles comiam e conversavam com as bocas cheia de comida, era repugnante. Os mais novos estavam ainda analisando a nova integrante da casa:

— Quem é ela, mamãe? - perguntou uma garotinha.

— Ela é sua prima distante, vai ficar com a gente por um tempo.

— E por que ela se veste assim? - perguntou de maneira indelicada um menininho parecido com ela.

— Porque ela tem dinheiro - disse a mãe secamente. 

— Por que a gente não tem? 

— Cala a boca e come! - retrucou tia Smith ferozmente.

O silêncio reinou no ambiente, até um outro menino o quebrar:

— O que tem nessas malas? - perguntou para Jane.

— Ah… Roupas, acessórios e sapatos.

— Sabe que aqui temos a regra de compartilhar - falou Ava - O que é de um, é de todos - Jane sentiu um arrepio de imaginar isso, pessoas desconhecidas pegando suas coisas.

— Nem pense em encostar nos meus vestidos de baile - disse de maneira fria, sem desviar dos olhos da prima. Ava gargalhou de novo.

— Por que trouxe isso para cá, tolinha?

— Poderia ocorrer um - respondeu Jane, como se fosse óbvio.

— Nós não temos bailes em Morland, madame. Isso é coisa de pessoas fúteis que nem a sua laia. 

Ava, Ben e outro irmão deram risadas altas com isso. Jane sentiu seu rosto ferver, mordeu a própria língua para não se exaltar.

— O que mais tem nessa bagagem que a gente possa roubar? - falou Ava com aquele sorriso amarelado horrendo.

— Bom, tem livros, mas não acho que vão ser úteis para pessoas burras como você. - Todos presentes na sala pararam de mexer seu talher e ficaram embasbacados com a colocação da prima.

A prima jogou a sua tigela de barro no chão com força ficando em pé.

— Está insinuando que eu sou burra por não saber ler? É isso sua mesquinha? Não ligo de quem você é filha, pode ser filha até do Papa, isso não vai me impedir de…

— Ava! - gritou a tia Smith, sem tirar os olhos da comida. - Senta.

— Mas, mãe, ela ofendeu todos nós!

— Você que começou, desde que eu cheguei aqui está me provocando!

— Calem a boca as duas, pragas. Esse é o espírito de família, não passam de brincadeiras. Agora, fechem a porra matraca, já estão me dando dor de cabeça.

Jane se perguntava como aquela poderia ser a irmã de sua mãe. Sua mãe com certeza não tinha nada a ver com uma pessoa tão deselegante. Ava se sentou mas prosseguiu comendo e conversando com os dois irmãos. Sentia que os primos mais novos estavam com receio dela por conta de sua fala. Jane ignorou as olhadas feias que eles lhe davam e tentou prosseguir com a tentativa de conhecer mais a cidade:

— Então, como é Morland, tia? 

— Venta bastante, quase impossível de dormir por causa das buzinas dos navios, mas você se acostuma, tem muitas gaivotas, cuidado para não ser atacada por uma se estiver com as mãos sujas de peixe. 

— Entendo. O que vocês fazem para se divertir aqui? Tem alguma biblioteca? Parque?

Dessa vez, foi a vez da sra. Smith dar risos até começar a tossir.

— Tolinha, você não conhece aqui mesmo, né? A nossa diversão é preparar o terreno para pessoas como você partir ou chegar. Não existe diversão na cidade dos portos.

Jane começou a se sentir mal por eles, como poderiam ser tão infortunados? Não era possível que o seu pai sabia de suas condições e não se ofereceu a os tirar desse buraco. Ele podia estar com dificuldades financeiras, mas o que era isso perto dessa residência, dessas pessoas. 

— Ah… Vocês têm amigos? As pessoas da vizinhança são agradáveis?

— Cada um cuida da própria vida, não temos nenhum problema com nossos vizinhos. Inclusive, Um ficou de devolver os baldes que eu peguei de Jack. Vá logo antes que aquele homem reclame. 

Ava instantaneamente corou. Os irmãos mais novos começaram a rir.

— Ah, sim. Vou hoje à tarde.

Depois de finalizarem a refeição, tia Smith fez observou que como hoje era segunda-feira então era dia de Ava lavar os pratos. Cada dia da semana era respectivo de um filho a fazer trabalho. Alguns filhos iriam se direcionar para o trabalho nas embarcações, enquanto outros iam cuidar dos animais. Jane foi guiada pela tia para o andar onde colocaria suas coisas. Era um quartinho onde estavam as coisas de todos os primos. Jane segurou a alça das suas malas com força:

— Eles… eles podem pegar? - sua tia revirou os olhos.

— Aqui somos todos iguais. Todos são tratados da mesma forma. Se quiser que algo seu não seja tocado, sugiro que esconda. 

Jane não queria se desvincular de suas coisas. Mas, no momento, era o que precisava fazer. Resolveu deixar a sua mala de vestidos e acessórios no quartinho. Prosseguiu o trajeto com a sua de livros e sapatos, que era mais pequena, em suas mãos brancas.

— Boa garota, já está aprendendo - Jane deu um sorriso forçado, no fundo só queria chorar. - Vamos agora para o quarto.

Como a loira imaginava, só haviam dois quartos na casa, um para os meninos e outro para as meninas. Haviam três irmãs Smith, com dois beliches no quarto, a sra. Smith antes dormia com elas mas passou a aderir a solidão e silêncio do sofá da sala, então Jane pegaria o seu antigo lugar. No beliche de cima. O ponto negativo era que teria que dormir no mesmo ambiente de Ava, e o positivo era que estaria longe de Ben e do outro irmão.

A tia Smith a deixou sozinha para se arrumar, mas disse que queria vê-la no andar de baixo em seguida. 

Jane aproveitou a deixa para colocar os três livros que trouxe embaixo de seu colchão e para trocar seus sapatos que estavam imundos. Vestiu um par de botas e deixou os outros escondidos no lençol. 

Não é o melhor esconderijo, mas quanto mais eu conhecer a casa vou encontrar algo melhor, pensou. Ao sair do quarto, ela não deixou de olhar nenhum canto do lugar, para identificar possíveis lugares. 

A tia Smith estava se arrumando para ir trabalhar, Jane achou isso estranho. Estava acostumada a ver os esposos trabalhar enquanto as mulheres cuidavam do lar e dos filhos. Foi aí que ela se tocou:

— Tia Smith, onde está o sr. Smith? Ele trabalha viajando?

A sra. Smith tossiu e deu uma risada, mas Jane não sentiu que era verdadeira. Talvez tivesse acabado de tocar em um ponto sensível. Foi surpreendida por um balde sendo jogado em seu peito, quase não conseguiu o agarrar.

— Já que está sem nada para fazer, vá na casa do lado devolver isso - disse a tia.

— O quê? Eu disse que ia levar - reclamou Ava. 

— Não, você vai lavar a louça e depois vai ajudar Cinco a pegar água limpa no poço. Vou com os meninos trabalhar. 

Ava fechou a cara, e Jane sentiu que ela tinha ficado furiosa. A garota foi batendo os pés até a pia e lá ficou. 

— Qual o número da casa? 

— Se vire - retrucou a “adorável” garota.

Nunca mais eu reclamo das irmãs do Sir Collins, nunca. Amelie e Mary pareciam anjos depois da srta. Dashwood conhecer o temperamento dos Smith’s. A loira agarrou os baldes e seguiu o trajeto para fora da casa. 

Tinha cinquenta por cento de chance, resolveu começar pela residência à direita. Todas elas eram parecidas. Jane bateu a porta apreensiva, será que todos os cidadãos seriam mau humorados ou agressivos que nem os da sua família? Minha família. Seu pai lhe devia uma bela explicação quando voltasse para casa. Se é que ela iria voltar.

A porta se abriu e uma figura masculina a recebeu. Ele era… bonito? Era um homem muito alto, tinha um rosto suave mas com um maxilar bem destacado e seu cabelo era uma mistura de castanho claro com loiro assim como a sua barba. Jane não estava acostumada a encontrar homens jovens com pelos no rosto. Ele pareceu espantado ao ver a moça.

— Está perdida? - perguntou o homem. 

— Ah não, mais ou menos. Quem é você, senhor?

— Jack. E você?

— Dashwo… Ah, aqui não usamos sobrenome. Sou Jane. Vim devolver os seus baldes.

— Posso saber por que estava com eles? Você não parece ser daqui

— Não sou, sou parente dos Smith - Jack ainda pareceu confuso. Como Jane não sabia o nome da sua tia, teve que citar outros: - Prima da Ava e Ben. 

— Ah sim - ele parecia esclarecido. - Não sabia que eles tinham uma prima… diferente. Vocês não se parecem. 

— É, eles são parte da minha família materna, e eu puxei a aparência do meu… pai.

Aquele que me jogou nessa cidade horrível.

— Bem, boa sorte com eles. São uma família exótica. - Jack pegou os baldes dela: - Se precisar de ajuda para se enturmar pela cidade, só chamar. Até.

— Obrigada pela gentileza. Tchau, senh… quer dizer, Jack. 

A garota seguiu seu caminho de volta para o seu lugar, sorrindo por ter finalmente achado alguém decente e agradável. Tinha algo nele que a fazia lembrar de alguém, mas talvez fosse apenas a saudades do seu antigo cotidiano de amigos. Ao entrar na casa, avistou Ava descendo as escadas e caminhando para a porta de trás com cordas na mão:

— Devolveu o que devia?

— Sim. E você lavou o que sua mamãe pediu?

— Olhe aqui, você…

— O que é isso no seu pescoço?!

Meu Deus, como Jane pode esquecer. Como conseguiu deixar a caixa de acessórios na mala do quarto. Acessórios esses suas luvas, chapéus, jóias e consequentemente… o colar que Noah lhe deu.

— Gostou? Acho que combina com meu tom de pele - se gabava Ava, ao olhar para o espelho.

— Tire isso, agora.

— Ou o quê? - indagou dando aquele sorriso de deboche amarelo.

Já era toda a sua paciência com aquele traste, Jane partiu para cima dela com tudo, empurrando ela para a parede, colocando o seu antebraço pressionando a sua clavícula magra e com a outra mão buscando pegar o que era seu. Ava deu um risada e, em seguida, deu uma cabeçada na testa da loira com força. Jane se sentiu tonta e nesse momento que sua visão embaçou, Ava lhe deu um chute na barriga. 

Jane caiu em cima da mesa, tentou se equilibrar apoiando a mão na borda. Mas, em questão de segundo, Ava agarrou a panela de ferro recém lavada e tacado com toda força na mão de Jane, que deu um grito ensurdecedor.

— Brigar com uma garota que foi criada com seis irmãos? Tsc tsc tsc. Péssima escolha - Ava segurou o colar com um pingente que tinha a cor dos olhos verdes de Jane: - É melhor torcer para isso não cair “acidentalmente” no poço.

Quando a porta foi fechada, Jane correu para a torneira para jogar água gelada na sua mão. Seus olhos já estavam cheios de lágrimas nesse momento e sua mão estava vermelha e inchada. Como odiava esse lugar. Como odiava seu maldito pai. 

Com a mão trêmula e o rosto vermelho de tanto chorar, era melhor ela ir para o quarto antes que algum outro primo maldoso aparecesse para zombar dela. Jane subiu as escadas, escalou o beliche e se acabou de gritar e chorar na cama. Não importava quem fosse escutar, precisava pôr para fora toda a sua raiva, solidão e infelicidade. Sua mão doia, mas não tanto quanto o seu coração. 

Ficou assim por cinco minutos, pondo para fora todo o fôlego de seus pulmões, até que ficou assustada por achar que estava vendo o teto se mexer. As lágrimas estavam deturpando a sua visão, mas ela não estava delirando, o teto do quarto estava se mexendo.

A tábua de madeira se levantou e pôs a mostra uma cabeça de uma criança, mas Jane não tinha visto ele pela casa:

— Quatro? - pergunta a garota limpando o rosto. 

— Oi! - o menino sorriu, tinha os olhos de Emma e o sorriso bobo iluminado de Anne: - Pode me chamar de Dan.


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