Desejo e Reparação escrita por natkimberly


Capítulo 10
Royal Albert Hall


Notas iniciais do capítulo

oi



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Royal Albert Hall era um dos teatros mais prestigiados de toda a Inglaterra, tinha uma decoração sofisticada com tapetes vermelhos, pinturas e estátuas. Emma e Gerald entraram juntos e a garota aproximou dele e o disse:

— Por que não me disse que estávamos vindo para cá? Olhe a minha roupa, estou vestida simples demais!

 As pessoas a volta deles estavam extremamente glamourosas, como se estivessem indo tomar chá da tarde no Palácio de Kensington.  Uma mulher usava um chapéu tão grande que Emma achava que caberia um dos cachorrinhos de Sir Collins dentro:

— Não contei porque essa é a graça da surpresa - disse Gerald, em seu ouvido -, e você não precisa desses chapéus horrendos e vestidos exagerados para ser a menina mais bonita daqui.

— Pare de ficar me bajulando! - disse Emma. - Posso perguntar como você conseguiu ingressos para ver o show de última hora?

— Então, eu não consegui. - Gerald deu um sorriso amarelo, e ela soltou seu braço nessa hora. Ele segurou sua mão, antes que ela desse um ataque de perguntas: -  Calma, deixe que eu dou um jeito.

— Dar um jeito?! Todos já nos olham feio por conta da minha vestimenta, e você agora vai me fazer passar a vergonha de ser barrada na porta da entrada por não ter nosso nome na lista. Gerald, eu ainda mato você.

Emma estava quase virando e voltando para Windsor, mas Gerald pediu um voto de confiança e pediu para ela se acalmar. Como eles já estavam lá, Emma cedeu.

Eles entraram na fila e a morena estava agitada, com medo de tomar um “não” e ser puxada pelos seguranças para fora do teatro. Quando chegou a vez deles, o homem os olhou da cabeça aos pés e perguntou desconfiado os seus respectivos nomes:

— Senhora Knightley - disse Gerald olhando para sua par. Emma arqueou as sobrancelhas, mas tentou manter uma expressão de naturalidade, mesmo desconfiando do que ele estava fazendo. -  E, eu, Mr. Knightley, Fitzwilliam Knightley.

 Isso foi estranho para Emma, mas, por algum acaso, fez a expressão do homem mudar de desconfiado para de surpresa. Ele perguntou como o “Fitzwilliam” estava, se havia chegado em Londres há muito tempo. Chamou uma outra pessoa para levar o casal para um lugar reservado e perguntou o porquê Mr. Knightley não havia avisado que estava vindo.

Gerald deu uma desculpa que jurava que havia mandado seu criado o avisar, mas ele provavelmente se esqueceu.

 O outro homem chegou, era alto, muito magro e com um nariz tão grande que Emma se assustou, ele se ofereceu a levá-los até uma das cabines no alto do teatro, onde apenas os dois ficariam. Era bom demais para ser verdade, até que ele começou a questionar Gerald como estavam os negócios, em tom de receio. O loiro respondia, secamente, apenas o necessário, que nem o verdadeiro Fitzwilliam.

Chegando perto de cabine, o moço, com um sorriso horrível e desconfortável de se ver, olhou para Mr. Knightley e o perguntou:

— Mr. Knightley, não me leve a mal, mas tenho que dizer que, se minha memória não falha, já o encontrei outra vez por aqui, e você tinha cabelos mais, como eu posso dizer? Mais escuros, quase negros, por acaso, os pintou? E, me lembro de o ver acompanhado de uma moça mais… arrumada.

Emma nem ligou para seu comentário ofensivo, pois já estava se preparando para sair correndo e se arrepender pro resto da vida de ter se envolvido nisso, será que eles poderiam ser presos por falsa identidade? Gerald deu uma gargalhada, a garota não conseguiu distinguir se era de nervoso ou um sinal que ele ainda estava interpretando seu papel, o que quer que seja, a deixou angustiada.

— Qual seu nome, Mr.? - ele perguntou ao senhor magrelo insuportável.

— Mr. Green. - ele o respondeu, estava com a mesma expressão de desconfiança de Emma.

— Mr. Green, sinto em dizer que você se equivocou, foi um grande engano, pois aquele deveria ser meu irmãozinho, Gerald Knightley, ou o senhor, está precisando consertar seus óculos.

“Que desculpa péssima” pensou Emma, a garota já tinha certeza que eles haviam sido desmascarados. Até que Gerald colocou a mão em seu bolso e tirou de lá um papel amarelado, o entregou ao Mr. Green.

— Aí está. Minha identidade, como pode ver.

 Até Emma estava curiosa para pegar o papel e ver o que tinha escrito. Mr. Green leu e releu o papel, e ficou completamente sem graça, não sabia nem como se desculpar pelo seu “erro”. 

Gerald puxou Emma para perto dele pela cintura com tanta força, que ela tomou leve um susto e quase derrubou seu buquê de rosas brancas:

— Agora, Mr. Green, assumo que você percebeu que eu estou em um encontro - Gerald arrancou o papel de sua mão, e continuou em um tom de voz sério: - e você já me irritou bastante com suas perguntas impertinentes, então, recomendo que saia da frente, pois da próxima vez que me incomodar, ou pior, incomodar minha garota, com seus infames comentários, pode ter certeza de que eu darei um jeito de você voltar do inferno que te trouxe.

Mr. Green deu inúmeros pedidos de desculpa e se retirou de vista rapidamente, com medo de ser demitido ou até pior...

Gerald fez um sinal para que Emma entrasse na cabine, a garota obedeceu, e, quando as cortinas se fecharam atrás deles, os dois começaram a rir tanto que a morena estava quase chorando.

— Isso foi genial! - ela disse sorrindo - Me desse esse papel agora, quero ver como você o fez aquele velho ficar com aquele olhar de cachorrinho medroso. - Gerald a entregou, e era a identidade do Fitzwilliam. - Mas, espera, isso aqui é real? É dele mesmo? Parece extremamente real, como conseguiu fazer tão perfeita, tem até o selo e a assinatura.

— Eu tenho meus contatos, agora, posso lhe dizer que barato para conseguir isso, não foi nem um pouco. Eu tive que roubar a real identidade de Fitzwilliam e levar para os meus camaradas a copiarem, ficou perfeito não?

— Você conseguiu falar que nem o seu irmão! O mesmo tom de voz, e os movimentos! - Emma falava entusiasmada - E, aquelas suas últimas palavras, você quase fez o Mr. Green desmaiar de desespero. 

— Está orgulhosa de seu marido? - ele a perguntou sorrindo, Emma ponderou e respondeu:

— Completamente, meu querido - ela disse em tom dramático, colocando sua cabeça em seu ombro, como uma donzela em perigo faria. 

Quando ergueu seu rosto, os dois estavam muito próximos, Emma conseguiu ver seu olhos olhando para cada detalhe de seu rosto. Ela estava se afundando naqueles olhos azuis claro com o oceano, ela sabia que não iria sair dessa tão cedo. Antes que se desse conta do estado de transe, as luzes do teatro se apagaram e um holofote se direcionou ao palco. A peça estava começando.

Os dois se endireitaram, completamente sem graça. Emma perguntou baixinho o que eles iriam assistir:

— Sua querida Jane me disse que você tem uma afeição por Shakespear, então me lembrei na hora que hoje teria uma apresentação de Hamlet, por isso cheguei em seu quarto tão ofegante, senão, iríamos perder a hora. 

“Ai, Jane, estou te devendo uma” pensou Emma. Quando o primeiro ato começou, ela se lembrou de tirar uma dúvida:

— Por que você teve de dizer que era seu irmão? Qual a influência dele aqui? Para o deixarem entrar assim.

— Fitzwilliam é um homem de negócios, ele é, por parte, dono desse lugar, e de outros, por isso eu uso sua identidade, para entrar de graça. - Ele disse se aproximando dela, mas ainda sem tirar os olhos do ator que estava em cena.

— Entendi, - ela o respondeu, tentou prestar atenção no que estava acontecendo no palco, mas desistiu, pois preferia conversar com ele, logo se virou de novo e disse: - Você sabe que não pode me trazer para cá toda vez que pisar na bola comigo, não sabe?

Ele sorriu e chegou tão perto de seu rosto, dessa vez encarando seus olhos castanho escuro, como quem soubesse exatamente o que estava causando nela, Emma sentiu sua respiração parar e seu coração saltar levemente:

— Então, pelo visto, na próxima vez vou ter que te levar para o nosso Museu Britânico, - ele disse dando um beijo em sua bochecha - e, depois para o Hyde Park - continuou dando outro no canto mais próximo de sua boca. - E, por fim, se eu realmente te chatear de verdade, eu dou um jeito de te levar para o Palácio de Kensington, para você conhecer a rainha, o que me diz?

Gerald estava passando seus dedos brancos e longos pelo rosto fino e, agora, rosado de Emma. Ela resolveu se render ao seu encanto e o disse:

— Eu acho que é o plano perfeito. 

Ambos sorriam. Ele segurou seu queixo delicadamente e direcionou seus lábios suaves para os dela. Quando Emma sentiu o gosto de seu beijo, sentiu borboletas voando pelo seu corpo, era como se ela estivesse provando um pedaço do paraíso.

Quando se separaram, Emma não conseguia não esconder seu sentimento de desejo, ela o queria apenas para si. 

— Acho que eles vão nos odiar por isso - ele disse parecendo que seu rosto branco estava tão vermelho quanto uma maçã, estava se referindo às pessoas das outras cabines, que olhavam a ousadia dos dois de estarem demonstrando esse nível de afeto em público.

Emma olhou em volta e percebeu alguns olhares de repressão. Voltou-se para o Mr. Knightley e passou seus dedos morenos em seus cabelos loiros, enquanto ele fazia alisava sua coxa, o que era o ponto fraco dela:

— Que se danem eles. 

— Ela disse o beijando ardentemente. Emma pensava que os outros que a olhavam feio, já tinham vivido sua juventude, e se não a aproveitaram, não era culpa dela. Ela não iria desperdiçar a sua.



 

Jane já havia desistido de tentar vencer Sir Collins no xadrez, era impossível. Ele quando percebeu que ela estava entediada, começou à deixar vencer, mesmo que ela percebesse, achou um gesto fofo. Quando estava prestes a derrubar sua torre, foi interrompida por uma voz irritante, chegando na sala:

— Onde está Gerald? - era Mary, a irmã mais nova de Sir Collins. 

— Deve ter ido dormir. - Jane respondeu rapidamente, tentando evitar que fossem procurar por ele. Mary a olhou com desgosto e disse enojada:

— Eu acabei de voltar do quarto dele, fui acordar ele para treinar valsa comigo, mas ele não está lá. 

Jane se surpreendeu por ela nem se importar se ele precisasse de descanso, foi o importunar de todo jeito. “Que menina deplorável” pensou. Mary se sentiu perto de Anne e começou a ficar mexendo em suas unhas, balbuciando reclamações consigo mesma, até que todos escutaram algumas vozes vindo do outro lado da casa:

— Deve ser ele! - ela se levantou e foi na direção dos passos.

“Droga”. Jane se levantou e a segurou pelo braço, dizendo que deveria ser algum criado que foi levar água para os cachorros. Mary arrancou as mãos de Jane com tanta veemência que parecia que Jane tinha alguma doença super contagiosa.

Mary, então, encontrou o seu querido Gerald pendurando seu grande casaco e tirando seu chapéu:

— Onde estava? Isso são horas? - ela questionou com aquela voz super fina. Quando Gerald ia responder, ela percebeu que estava segurando um buquê de rosas brancas: - O que é isso? - as coisas começaram a ficar claras na sua cabeça de vento - Ah, Gerald, são pra mim? Você foi essa hora da noite colhê-las? Que amor! Tudo bem que essas não são minhas flores favoritas, prefiro tulipas, mas está pro gasto. Venha, vamos dançar! 

Ela segurou seu braço e o puxou, ele nem teve tempo de agradecer a Jane, pelas dicas valiosas. Jane ficou se perguntando onde Emma estava, até ver uma silhueta saindo de trás do armário de taças de vinho.

— Ainda bem que sou magricela, senão, não iria ter conseguido me esconder daquela monstrinha - ela disse, ajeitando seu cabelo.

— Emma! - Jane exclamou baixinho - É uma pena que ela tenha levado suas flores, odeio ela, nem parece ser irmã de Sir Collins, com aquele comportamento. Mas, enfim, me conte tudo!

As duas subiram sigilosamente para seu quarto e Emma disse tudo, detalhe por detalhe, para a Jane, que estava boquiaberta e completamente alegre. Jane estava imensamente feliz pela irmã, as duas ficaram pelo quarto comemorando e Jane pedia mais e mais coisas.

— Eu não consigo acreditar, Emma. Vocês se beijaram, e ainda em um teatro! Não consigo imaginar o quão corajosa você foi. Eu estou com inveja! Aí vocês dois são perfeitos um para o outro, eu quero que vocês me dêem sobrinhos loirinhos logo!

— Não vai ter nada de sobrinhos, você sabe que não quero ter filhos, Jane.

— Ah, pare com isso, pelo menos, um casamento vai ter sim! Nem que eu me vista de padre e diga que vocês estão unidos para todo sempre.

— Até parece, mas e você, como está indo? O Sir Collins a incomodou enquanto estive fora? Gerald me disse que vocês estavam jogando xadrez.

— Por incrível que pareça, eu estou o achando muito agradável desde que saímos de Meryton, ele é uma bom amigo.

— Jane… - Emma falou mudando o tom para um sério - cuidado para não o fazer acreditar que você o quer como mais que amigo, senão ele pode acabar se iludindo, e seria terrível para o pobrezinho.

— Emma, não seja louca, ele não deve achar que gosto dele só porque estou sendo legal, na verdade, eu acho que ele e Anne combinam bastante, sempre conversam sobre qualquer assunto com o mesmo entusiasmo, parece que se conhecem há anos. Irei usar meus poderes de cupido para juntar eles dois, que nem fiz com você e Gerald. Agora, pare de falar de mim e volte a contar sobre hoje, pelo amor de Deus!

Ela continuaram conversando até que o sono as consumisse. Emma pensou tanto naquela noite, que acabou sonhando com ele, já Jane estava esperançosa, se perguntando quando que ela iria sentir tudo que sua irmã mais nova estava sentindo, será que iria ou morreria sozinha?

Ambas acordaram com o sol vindo da janela, cegando seus olhos. Quando desceram, perceberam que Sir Collins era o único que não estava presente. Mr. Knightley as contou que ele estava resolvendo as tais questões do trabalho, o que deixou Anne desanimada pois não teria a sua companhia preferida para conversar presente pelo dia inteiro. Todos se sentaram para tomar o café da manhã, Emma e Gerald às vezes trocavam alguns olhares rapidamente, mas ele era sempre interrompido pelas irmãs Collins, implorando por sua atenção para o perguntar sobre onde o seu irmão mais velho andava, ou se havia visitado sua prima, Charlotte. 

O grupo passou dois dias tranquilos em Windsor, passeando um pouco a cavalo, andando pelo jardim ou até iam, às vezes, à algumas lojas na cidade. Esse último, Emma teve o infeliz desprazer de resolver aceitar o convite desesperado de Gerald para o acompanhar, junto com as irmãs Collins, até a suas boutiques de vestidos favoritas.

Era começo de tarde, a morena estava sentada em uma mesinha branca no jardim, escrevendo uma pequena carta para o seu pai, o contando que tudo estava indo bem e que o Sir Collins já estava prestes a terminar suas questões, ou seja, logo, voltaria toda sua atenção às visitantes de Meryton, quando foi surpreendida por Gerald sentando-se rispidamente em sua frente, ele parecia ofegante e suas feições demonstravam um desespero velado.

— Aconteceu alguma coisa? - perguntou Emma, afastando a sua pena branca do papel.

— Preciso lhe pedir um pequeno favor, mas você tem que prometer aceitar.

— Nunca faria isso, diga logo o que quer, que eu penso no seu caso - ela respondeu, voltando seus olhos castanhos à sua escrita.

— Emma… - ele tentou a ganhar com voz que era, supostamente, para ser fofa, mas percebeu que ela, agora, o ignorava. Tido como vencido, Gerald prosseguiu: - Está bem, você sabe como as irmãs do William podem ser… exaustivas, às vezes.

— Se com “exaustivas”, você quis dizer extremamente mimadas e insuportáveis, eu concordo. Mas, diga, o que tem aquelas beldades?

— Bom, você talvez fique chateada comigo, mas eu estava planejando de fazermos algo juntos hoje, só nós dois. - Nesse momento, Emma desviou-se de seu afazer e passou a o olhar.

— Interessante, agora ainda não entendi o porquê eu ficaria chateada com isso ou o que isso tem haver com aquelas pestes. 

— Aí que fica o problema, elas resolveram que queriam ir para o centro, fazer compras em boutiques de vestidos, coisas para o baile, e elas estão me enchendo desde sets horas da manhã para eu as acompanhar, porque Amelie quer que eu dê a opinião do que Fitzwilliam gosta, e Mary…

— Mas, você disse que não vai, não é? - Emma o cortou, ficava indignada e se perguntando o porquê Gerald aguentava aquilo. - Se veio aqui me contar que cancelou qualquer que tenha sido seus planos comigo, para ir fazer comprinhas com elas, era melhor nem ter vindo. 

 Ela não gostou de ouvir aquilo, mas não estava enfurecida nem nada, pois Gerald não era sua propriedade e ela mesma não queria passar o tempo inteiro com ele, não era uma pessoa grudenta e abusar de sua companhia poderia fazer eles se enjoarem de si mesmos. Por isso, ela não estava nervosa, apenas focada em termina sua cartinha, Gerald ponderou e prosseguiu:

— Emma, eu vim aqui para implorar que vá conosco até lá, se eu negar ir, elas irão fazer um inferno em minha vida, acho até que Amelie choraria, não posso ser rude com elas, pois são minhas amigas de longa data, mas não tem nenhum problema em convidar você para ir com a gente. Por favor, me livre desse sofrimento de ter que ouvir tantas coisas do universo feminino.  

— Está louco se pensa que eu vou sair do conforto de Windsor, para aturar elas.

— Mas, você vai estar na presença da pessoa mas agradável da Inglaterra, vulgo, eu mesmo. Vamos, me salve dessa.

— Olhe, depois você não diga que eu nunca fiz nada por você.

Emma se levantou, pegou seus pertences e caminhou para dentro da residência para se arrumar. Gerald continuou sentado em seu lugar, à espera das três moças, até que as Collins chegaram, Amelie disse:

— Vamos logo, antes que anoiteça. 

— Falta a Srta. Dashwood. Estou esperando ela.

Amelie e Mary se entreolharam confusas e voltaram para ele, Mary o perguntou:

— Posso saber por que chamou ela? Qual a necessidade? - tinha um tom de ciúmes em sua voz.

— Porque ela é uma companhia agradável e vocês poderão discutir sobre seus assuntos femininos com ela, garanto que ela será muito melhor do que eu, e, ainda, quem sabe, começar uma amizade entre vocês - ele disse dando um sorriso, mas pela cara que as duas irmãs fizeram, ele percebeu que não eram nada fáceis de agradar: - Vocês precisam aprender a serem mais amistosas com as pessoas, se a tratarem mal, não saio com vocês nunca mais. 

Mary ficou extremamente assustada com sua afirmação e prometeu que iria ser o máximo educada que seus modos permitissem, até porque não é a primeira vez que Gerald fica chateado com sua frieza em relação à terceiros. Já Amelie, nem se importou com o que ele disse.

Emma surgiu e quando viu as duas garotas altas, brancas, dos cabelos pretos e olhos azuis, sentiu uma espécie de repúdio dentro de si, mas manteve sua compostura e não foi nem educada demais, nem grossa demais.

Chegando na loja, elas começaram a correr para um lado e para o outro, catando cada vestido mais exagerado que o outro e colocando nos braços da vendedora. Parecia que Emma e Gerald haviam sido esquecidos, então, quando Emma foi puxar assunto com ele, Amelie a disse:

— Ainda bem que Gerald a trouxe conosco, Srta. Dashwood. Imagina que vexame seria se nós acidentalmente comprássemos vestidos semelhantes, ou até pior, se comprássemos o mesmo vestido para o baile! Que vergonha, não consigo nem imaginar que embaraçosa seria a situação.

— Isso não tem chance de acontecer, Srta. Collins, pois não vou comprar nenhum vestido, irei usar o mesmo que usei no meu baile recente do meu vizinho, Mr. Preston.

Amelie fez uma cara de espanto, pareceu que Emma havia dito que achava bailes inúteis e desnecessários. Amelie até pensou em perguntar o motivo dessa decisão, mas lembrou que o que importa é que elas não tem riscos de ficarem parecidas na data especial. Gerald, que andava junto com Emma, enquanto ela olhava alguns vestidos, mas sem pegar nada, a perguntou o motivo dessa escolha dela, a garota o respondeu:

— Tive uma conversa muito sincera com seu irmão há alguns dias, ele me contou que meu pai está com problemas com dinheiro, então, pensei que não seria muito vantajoso para ele ter suas três filhas gastando quinhentas libras com vestidos para usar em apenas uma noite. Nós três temos vestidos em perfeito estado, não é necessário.

 Gerald achou uma bela atitude, mas percebia no olhar dela que ela não gostava daquilo. Ele se arrependeu de ter a chamado para vir junto, pois não tinha ideia dessa delicada situação e não esperava que ela fosse ficar mal por querer que ela e suas irmãs estivessem que nem Amelie e Mary estão, saltando de um lado para o outro e discutindo qual roupa veste melhor sua silhueta, ou qual cor combina mais com seu tom de pele. 

As Collins separaram as roupas que queriam e foram até os provadores e ordenaram que Emma e Gerald se sentassem e dessem suas opiniões sobre qual era o mais bonito, óbvio que a análise de Emma não importava tanto quanto a do Mr. Knightley.

Elas vestiram diversos vestidos, as atendentes não aguentavam mais ajustar as roupas nelas,  parecia que nunca iria acabar. Já haviam visto os vestidos de todas as cores possíveis, Gerald não tinha mais paciência para responder o que achava ou o que Fitzwilliam acharia. Emma não entendia como Amelie não desistia da ideia de Fitzwilliam ir para o baile, era impossível ele vir de tão longe para ficar com uma presença tão chata como a dela.

Emma foi dispersa de seus pensamentos quando viu Mary saindo do provador com um vestido lilás, era uma milagre Mary ter gostado de um vestido daqueles, pois ele não era exagerado e cheio de detalhes desnecessário. Era lindo e delicado. Emma ficou hipnotizada, se aproximou para Gerald e o disse baixinho:

— É perfeito, um dos mais lindos que ela provou.

Era primeira vez que ela tinha elogiado algum vestido que as Collins provaram, e ele percebeu que aquele tinha feito um efeito sobre ela.

— Gerald, o que acha? Estou bonita ou está muito básico? - Mary perguntou se admirando enquanto caminhava com ele de um lado para o outro.

— Acho que você está… horrível.

Mary quase tropeçou e deu de cara com a parede, se virou para ele furiosa. Emma virou surpresa. “Está louco?” pensou, quase deu um empurrão por ter falado assim com o vestido.

— O que disse? Não gostou?

— Não me leve a mal, minha querida amiga. Mas não combina com você, se eu fosse você não usaria um vestido desse nunca mais. Está péssimo!

Mary ficou extremamente confusa, pois achava um vestido belíssimo, mas se Gerald não o aprovava, então ela nunca mais vestiria aquilo. Voltou-se para dentro do provador para tirá-lo. 

Emma indagou para ele:

— Como pode dizer aquilo? Aquele foi de longe o mais bonito que ela vestiu hoje, ela estava linda nele.

— Exatamente por isso que ela não podia levar ele.

Ela não entendeu, mas preferiu não prosseguir, até porque Amelie havia aparecido pedindo a opinião dele de outro que estava usando.

Enfim, o passeio terminou com elas comprando suas roupas. Voltaram para Windsor ao anoitecer, tinha sido um passeio completamente chato, na visão de Emma, não se divertiu nada. Chegando na sala, Jane estava sentada no sofá, alisando os pelos negros do cachorro de Sir Collins e Anne estava, por medo do animal, sentada em uma cadeira distante escrevendo seus poemas tranquilamente. 

Jane perguntou à Emma sobre o dia e ela a disse que foi um completo desperdício de tempo, Gerald a ouviu reclamar, mas não disse nada, preferiu subir para seu quarto.

Na hora de dormir, Emma estava muito cansada e deitou-se na cama ao lado de sua irmã. Quando Jane estava se levantando para apagar as velas, foi surpreendida por uma batida na porta. Quando abriu não viu nada além de um bilhete no chão. 

— Para você, Emma.

— Como assim?

Emma sentou-se e abriu o pedaço de papel.

Sei que não foi como você esperava hoje de manhã, como não quero sujar minha imagem de melhor companhia, me encontre na cozinha daqui a alguns minutos. Com amor, G.


 

— Emma, ele está desesperado para te ver. Desça logo e vá ver o que ele quer falar com você! - Jane implorava para Emma se levantar da cama.

— Não vou, estou morrendo de sono, e sem paciência para sair de Windsor. 

— Então, vai deixar ele lá sozinho esperando por você? Isso é muita maldade, até para você. 

Jane estava certa, ela não aguentaria a culpa de ter deixado ele abandonado lá. Então, levantou de pijama e desceu as escadas. 

Chegando lá, encontrou Gerald comendo um pedaço de pão, ele também não estava tão arrumado.

— Aqui é incrível, tem todo tipo de comida.

— Sabe que se nós encontrarem aqui, estamos em problemas, não é?- ela disse bocejando de sono. - Você me fez vir aqui essa hora da noite para roubar comida, Gerald?

— Vim aqui para tentar retribuir o dia horrível que eu fiz você passar. Então, o que quer fazer? Assaltar o armário de comida… Jogar algumas coisa na sala de jogos… Ficar a sós na biblioteca… Sou todo seu.

— Você é muito engraçado, mas não pense que eu sou esse tipo de garota, espero que a peça de Hamlet não tenha lhe passado uma impressão errada de mim, pois eu não sou assim. - Ela disse mantendo uma postura séria, cruzando os braços. Gerald se aproximou dela e segurou sua cintura magra com suas mãos grandes.

— Jura? Que pena, vou sentir falta daquela Emma, espero encontrar ela novamente no baile, enquanto dança comigo.

Emma sorriu de lado e o disse para ele se divertir com sua namorada Mary Collins, Gerald fez uma cara de nojo e a disse:

— Pode ter certeza que vou fazer de tudo para me livrar daquela pulga. Mas, não vamos falar disso agora, para onde quer ir? - Emma pensou e disse rapidamente:

— Para o jardim, quero me deitar na grama e olhar para as estrelas, porém, agora que você falou em comida, quero pegar algumas frutas.

Ambos pegaram um pouco de alimentos e saíram pelas portas dos fundos. Emma sentou-se no campo e mordeu um pedaço de sua maçã, Gerald estava comendo um pedaço de bolo. Uma brisa forte de fim de verão batia nos cabelos de Emma, que estavam bagunçados. Ela se virou para Gerald, pegando um pedaço de seu bolo:

— Por que você ficou daquele jeito? 

— Que jeito? - ele perguntou, desnorteado.

— Quando eu ajudei Fitzwilliam a ir à Rosings, você nem parecia você. Até agora não entendi porque aquilo o irritou.

Gerald parecia surpreso em ouvir aquilo, seus olhos azuis claro pareciam perdidos pensando no que dizer:

— Eu e meu irmão não nós entendemos muito bem, não acho que entenderia. - Ele estava certo, Emma não compreendeu o que quis dizer com aquilo.

— Se não quiser se abrir comigo, tudo bem, mas queria saber mais sobre você e sua família, porque parece que só quem é um livro aberto sou eu. E, se você não confiar em mim, então não acho que estamos indo bem.

Gerald sentou mais perto dela e passou seus braços longos em seus ombros:

— Quer saber sobre mim? Então, vamos lá: Meu nome é Gerald Knightley, tenho 26 anose nativo de Londres. 

— Você entendeu, Gerald, pare de brincadeiras. Eu sei que você esconde algo de mim.

— Se está se referindo a mim e meu irmão, sobre porque não nos damos bem, irei contar então. Meu pai era um negociante muito famoso e rico, eu e Fitzwilliam sempre tivemos tudo de bom que o dinheiro pudesse comprar, nunca faltou nada em nossa casa, mas nosso pai ficou doente, há dois anos, e o império dele tinha que ser passado para seu herdeiro, Fitzwilliam, como era o mais velho, conseguiu ser dono de todos os contratos e dinheiro do nosso falecido pai, não deixando nada, nem uma parte para mim.

— Como assim? Mas, ele era seu pai também, ele não deixou nenhuma parte do dinheiro para você também?

— Fitzwilliam o persuadiu a não fazer isso antes de falecer, ele dizia para nosso pai que eu não era confiável, e que só ele poderia manusear a fortuna deixada com sabedoria. Então, meu pai concordou com ele e deixou a casa, o dinheiro e o todo o seu legado, no nome do meu irmão mais velho, me deixando completamente sem nenhum bem ou dinheiro para chamar de meu, me deixando completamente dependente do meu irmão mais velho.

— Mas, que horror. Eu sempre soube que seu irmão era um miserável de alma, mas nesse nível? Estou completamente devastada, como você aceita ser tratado assim por ele? Por que não arruma algum trabalho?

— Porque eu sempre quis, assim como meu irmão, seguir os passos de nosso querido pai, mas ele diz que só a espaço para um Knightley, não me deixando nem ao menos tentar, ele acha que sou um irresponsável. Eu tinha muito respeito por ele, ele só é dois anos mais velho que eu, então na nossa infância, éramos inseparáveis, porém quando nossa mãe morreu, quando eu tinha quinze anos, ele começou a ficar distante de mim, tanto ele, quanto meu pai. Eu, até hoje, acredito que isso tem haver com todos dizerem que eu lembro muito ela, talvez por causa dos cabelos claro. Enfim, depois de todas as coisas horríveis que ele disse de mim para nosso pai, nós dois nunca voltamos a ser como antes. Isso me entristece, pois sinto falta dele, mas sei que para ele ter ficado fechado desse jeito, deve ser porque eu o devo ter decepcionado ao longo da vida.

Nesse momento, Emma se jogou em os seus braços e o abraçou, não achava que ninguém merecia passar pelo que ele havia passado, e talvez por isso, ele tinha tanto medo de se abrir com alguém. 

— Não se sinta culpado, nunca mesmo. O que aquele traste fez com você, foi imperdoável. - Ela afastou seu rosto de seu ombro e o olhou com pesar nos olhos castanhos. - Você não merecia isso, Gerald.

— Emma, não fique assim, isso já faz dois anos, não sinto mais rancor, como sentia antes. - Ele disse alisando o rosto de Emma com suas mãos frias. - Na época, não reagi a isso calmamente, como você pensa, fui estúpido, imprudente e extremamente rancoroso. Estou completamente feliz que consegui tirar toda a raiva de mim, me sinto como era antes, espero que um dia possa me perdoar por todas as besteiras que fiz. Me sinto tão bem perto de você, Emma, você não faz ideia. 

Quando ele terminou de dizer isso a beijou, não com tanto ardor como no teatro, foi um beijo suave e calmo. No fim, os dois se deitaram na grama e ficaram olhando as estrelas, Emma estava com o rosto em seu peito, conseguia escutar seu coração bater, já Gerald acariciava as ondas de seu cabelo. A noite terminou quando Gerald percebeu que Emma estava adormecida em cima dele, então ele a levou para seu quarto em seus braços. Jane foi acordada com Gerald pondo sua irmã na cama.

— Ela realmente tem um sono muito pesado - foi o que Jane ouviu, mas estava tão confusa e sonolenta que nem respondeu: - Boa noite, Srta, Dashwood.

E a porta se fechou.


 

A partir desse dia, que as Dashwoods sentiram que eram turistas de verdade, pois apenas quando Sir Collins terminou de resolver seus problemas do trabalho, que as Dashwoods começaram a conhecer a cidade de Londres de verdade, já que ele as levou junto com Gerald, aos melhores pontos turísticos, e, para a felicidade de Jane e Emma, Amelie e Mary se recusaram a ir junto, pois já conheciam a cidade o suficiente e queriam montar a lista de convidados para o baile com muita calma e dedicação fazer os convites à mão.

E, assim, se passou a primeira semana, as irmãs estavam amando a viagem e não queriam voltar à Meryton tão cedo. Os cinco estavam agora visitando um parque, pois era um dia muito quente. Jane sempre convencia Anne e Sir Collins fazerem companhia a ela, para que Emma e Gerald ficassem juntos. Às vezes, ele roubava um beijo dela, quando os outros não estavam olhando, o que fazia Anne perguntar em voz alta o porquê sua irmã estava agitada ou enrubescida.  

Quando estavam andando pelas trilhas, Anne e Sir Collins estavam conversando sobre árvores, enquanto Jane estava pensando sobre como será que estava a vida em Meryton. Sir Collins percebeu que ela estava muito quieta e a perguntou no que estava pensando:

— Estava pensando como estava meu pai, Charles e… e o Mr.Russell. - Ela disse o último nome com uma sensação de pesar.  - Mas, esqueçam de mim, continuem a conversar, eu imploro.

Sir Collins negou, dizendo que não aguentava a vê-la com esse olhar de tristeza, a perguntou se tinha alguma coisa que pudesse fazer para que ela se animasse um pouco.

— Pode me dizer, o que você costuma fazer quando está descontente? - ele a perguntou, quando Jane ia o responder, foi interrompida por Anne:

— Ela costuma comer doce, ela só sabe fazer isso. 

— Anne! Agora, ele vai pensar que eu sou uma gulosa.

Sir Collins disse que tinha entendido, logo afirmou que se lembraria disso. Jane não entendeu o que planejava, mas ficou feliz que pararam de falar sobre ela e voltaram aos seus assuntos encabulados.


 

Faltavam um dia para o tão aclamado baile. Windsor estava uma loucura, móveis estavam sendo mudados de lugar, criados novos chegando, instrumentos sendo colocados no salão e cozinheiros profissionais chegando. Todos estavam no salão, Jane e Sir Collins estavam brincando com seus porquinhos-da-índia, enquanto ele a contava como foi difícil consegui-los, Anne estava, como sempre, entretida lendo seu livro, e Emma, Gerald e as Collins estavam sentados tendo uma conversa sobre a tão aguardada noite seguinte. Emma, na verdade, não conseguia terminar uma frase sem ser cortada por uma das irmãs, o que fazia Gerald a fazer mais perguntas e ignorar as outras, o que deixava Mary nervosa.

O dia passou voando, e quando menos percebeu, Jane estava em seu quarto prestes a dormir, escrevendo uma carta para seu pai, contando sobre sua estádia em Windsor, quando escutou batidas na porta. Pensou que era Gerald, querendo ver Emma, para saírem escondido ficar juntos no jardim. Mas, era um empregado da casa.

— Em que posso ajudar? - Jane perguntou docemente. 

— Srta. Dashwood, vim lhe informar que há alguém a espera de ver a senhorita no andar de baixo, urgente.

 Ele disse e se retirou, sem nem a deixar perguntar quem seria. Jane disse a Emma, que estava na cama lendo seu livro, que iria ver o que era.

 Jane sentia e queria, que fosse uma certa pessoa que a viesse ver, será que seria possível que ele viesse, mesmo de tão longe? Era seu questionamento ao colocar a mão na maçaneta na grande porta, que vai revelar o que está a sua espera.


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