A New Order escrita por TiiaMeddy


Capítulo 20
Lembranças




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Mais um dia se passava naquela cidade no meio do deserto, seus moradores tendo que passar mais um dia aturando o sol escaldante. Em especial os alunos acostumados a climas frios. Erwin quase abria o casaco de sempre, passando no refeitório entre as aulas para repor o gelo de bolsos especiais do mesmo. Era como um ar-condicionado portátil feito por encomenda, seu segredo para se manter fresco durante o dia. Estava razoavelmente de bom humor, sua irmã e as comparsas ainda não fizeram nada de caótico, e os gêmeos pareciam estar ocupados. Mas estava terrivelmente assustado por ver Keith sorrindo. Naturalmente.

Hito logo o cumprimentou, ele saindo de uma sala próxima de seu destino e despedindo-se de Kim, acompanhando o loiro até a última aula que daria no dia. O bom humor de Erwin aos poucos era tomado por preocupação, as visitas de Hito à enfermaria estavam sendo mais e mais frequentes desde que o encontrou desmaiado nos corredores. E mesmo que o perguntasse, não receberia respostas. Nem dele nem de Maka ou qualquer outro. Mas tentaria se focar na aula até o fim do turno.

Sua tentativa vai embora pelo ralo ao ver um Oliver furioso com o rosto enfaixado entrando na sala e indo ao seu lugar, quase pulando duas cadeiras para frente quando a sua parceira sentou ao seu lado. O loiro obviamente estava confuso, e também só agora havia reparado que a dupla havia faltado o dia inteiro, pedindo a Akira para trocar de lugar com o colega arma, ele aceitando facilmente e Oliver mais tranquilo ao estar ao lado do amigo. O moreno não conseguia enxergar bem, as faixas cobriam parte de seus olhos, e ao perguntar o que havia acontecido, Oliver apenas o dando um olhar sem vida.

 

—O que mais seria? Erin...

—-..... como?


***FLASHBACK ON***

 

Completamente apagado durante a madrugada e repondo as energias para subir as escadas da Shibusen pela manhã, Oliver aproveitava seu quarto na casa que a garota havia conseguido para ambos, e mais ainda, com um ar condicionado. A arma alemã estava nas nuvens, aquecido pelas cobertas e não pelo sol fritando sua pele, parecendo estar abraçado por um marshmallow frio e gigante. Ele nem ao menos viu a sombra abrindo a porta, mechas de cabelo parecidas com orelhas de gato se acentuando como os olhos dourados.

Ela parecia um agente do caos, sorrindo como louca ao ver o parceiro virar-se, a expressão serena do moreno com um sorriso involuntário. O instrumento em sua mão brilha com a luz da lua entrando pela janela, um pequeno riso escapando da garota enquanto se aproximava dele. Porém, o que ela não esperava era Oliver abrir os olhos lentamente. Chamando por seu nome, Oliver então repara a lâmina nas mãos da garota, tentando levantar-se rapidamente e isso acabando por realizar um grande corte em seu rosto, da testa à bochecha esquerda. Oliver entrou em pânico, ignorando qualquer aviso da garota e encharcando os lençóis de sangue, sendo nocauteado em seguida por uma projeção de alma na garota.


***FLASHBACK OFF***

 

—Quando acordei ela tinha fechado o corte e passei o dia na enfermaria. Saí de casa mais cedo e Kise me ajudou a subir as escadas até chegar na Kim. Aquela idiota disse que estava procurando com Akira sobre a ultima deathscythe e encontraram um antigo parceiro dela que fazia experiências com o parceiro enquanto dormia. Por sorte a Kim-sensei disse que iria melhorar rápido... e sugeriu eu colocar uma tranca no meu quarto.

 

Erwin por um estante segura o riso. Porém a expressão de raiva do garoto o faz perder a linha, chamando a atenção de Hito e pedindo desculpa por atrapalhar a aula, o moreno virando a cara e o ignorando. Ainda estava difícil para Oliver ver, e como pedido de desculpas, o estendeu o próprio caderno. Ao ver que ele estava mais calmo, perguntou a ele quanto tempo precisaria continuar com as bandagens, respondendo-o que passaria o restante da semana com elas.

Com o fim das aulas, Erwin segue para a biblioteca esperando encontrar algo sobre a chamada “Marie”. Tudo o que sabia era que ela era relacionada ao Hito e que tinha cabelos loiros. Não se sabia se ela era arma ou artesã, suspeitando de ser uma arma, e possivelmente a deathscythe restante que Akira procurava. Sabia que estava sendo seguido, Oliver queria continuar com ele para terem uma testemunha ou álibi caso Erin deseje fazer algo com ele. A garota puramente porque estava desocupada. Ao perguntar ao bibliotecário, pegou alguns livros e, com a ajuda da dupla que o acompanhava, os levou a uma mesa mais afastada.

Infelizmente de nada adiantou.

Erwin deita na mesa da biblioteca, cansado mentalmente, após ter lido diversos livros inúteis sobre a história da Shibusen. Erin havia desistido no segundo, lendo agora um outro aleatório que encontrara no caminho, parecendo extremamente envolvida. Oliver trazia mais alguns, tentando motivar o loiro. Mesmo ouvindo histórias, em especial a que Akira os havia dito a meses atrás, não encontrava nada sobre ela ou Hito nos livros sobre a guerra a mais de quinze anos ou nos registros de deathscythes. Acreditavam que aquilo poderia ser algum trauma de seu professor, visto que ele sofria por vários anos, mas não encontraram pista alguma. Segurando um outro e já sentindo a vontade de viver se esvair, Erin finalmente fala algo lúcido sobre isso.

 

—Porque não procura antes da guerra? - Ambos encaram a albina com um par de mechas loiras, e vendo melhor a capa de seu livro, falava sobre bruxas antigas. - Se Maka-sensei não diz nada, como você fala, então não é algo que vão encontrar de uma forma tão acessível, provavelmente nem deve estar nos livros de uma estrela. Pegue a carteirinha da biblioteca do seu pai e procure nos níveis acima. Tente encontrar algo antes da guerra, é o mais próximo que pode chegar.

—Quem é você e o que fez com minha parceira? - Oliver estava realmente assustado em ver que sua parceira tinha mais de um neurônio. Erwin também estava, mas seu choque se resumiu a uma mudança de expressão.

—Pensei que vocês tinham pensado o mesmo. Acharam mesmo que descobririam um segredo dos professores sem recorrer a métodos proibidos pela Shibusen?

—Como você pensa nisso...?

—Nunca leram livros, viram algum filme ou assistiram animes shounen? É o básico.        

—Na verdade... a pergunta seria "você pensa?"... - Erwin completa, soltando um pequeno sorriso ao vê-la inflar as bochechas e bater na mesa, o grupo tomando uma advertência do bibliotecário.

—Se for fazer isso de novo, ao menos pense um pouco e roube a carteira da biblioteca do seu pai.

—Certo... mas... vou levar ao menos um... e... - Erwin coça atrás do pescoço, arrumando o casaco antes de pegar um dos livros que Oliver trouxe. - Obrigado...

—Tem mais uma opção... - O loiro olha para trás após alguns passos, Oliver o encarando. Ou tentando por conta das faixas. - Perguntar diretamente ao Hito. É mais difícil, ele tem que se sentir confortável o suficiente para isso, mas é melhor que investigar toda a escola.

—Eu... posso tentar... Obrigado mais uma vez... - Ele sai, indo na direção da saída, antes de ser atropelado pela baixinha que o havia seguido.

—Hey, vamos sair! Oliver está irritado comigo, vamos animar ele!

—VOCÊ ESFAQUEOU MINHA CARA!
            -SE VOCÊ NÃO TIVESSE ACORDADO, NUNCA DESCOBRIRIA E NEM ESTARIA TÃO APARENTE!
            -COMO ASSIM NÃO DESCOBRIRIA!? O QUE MAIS VOCÊ FEZ COMIGO!?

 

E, como esperado, o grupo foi expulso da biblioteca.

E também por insistência da garota, acabaram saindo em grupo pela cidade.

Acabaram explorando o Death Bazar, por não terem ideias melhores no momento. O restante da família Star e Kise se juntam a eles no caminho, o loiro olhando de forma sugestiva o amigo arma e rindo ao ver sua reação, resultando em um Kise confuso passando o braço pelos ombros do “bro”. Erwin e o irmão mais velho trocam olhares, sabendo no que aquilo resultaria.

O grupo se separa, observando os produtos disponíveis. Aquilo meio que lembrava Oliver de casa, ajudando os pais na loja de antiguidades antes de descobrir que era uma arma. Sentia-se um pouco culpado por enviar tão poucas cartas a eles, mas... agora que reparava, nunca chegaram respostas. Estava preocupado de certo modo, a meses não via seus pais. Estava se perguntando em quanto tempo viriam as próximas férias para ir até Rothenburg, seria bom voltar para casa por uns dias, assim como Kise antes de se conhecerem. E quem sabe levasse ele ou a parceira.

As saudades de casa o fizeram aproveitar o bazar e diminuir um pouco a raiva pelo corte ainda aberto em seu rosto, forçando-o a afastar as bandagens que teimavam em cobrir seu olho direito. O dia correu tranquilamente, por mais que Erin tenha comprado uma estranha coleção de facas e tesouras, Oliver a comprando novamente com comida. Para ela, que não consegue cozinhar, felizmente o suborno funcionou. Oliver também encontrou algo curioso entre as barracas, uma pequena raposa de porcelana, semelhante a uma que seus pais tinham em casa, levando-a consigo.

 

—Uma boa escolha. Cuidado, é bem frágil. – A vendedora enrola em um pedaço de jornal, entregando-a à arma.

—Teria mais uma? – Oliver sorria inocente, a mulher apenas acenando e a entregando mais uma da mesma forma, Oliver pagando-a e voltando ao grupo após agradecer. – O que houve?

—O Shinigami-sama vai fazer um anúncio. Vamos!

—Ok! – O grupo segue na direção da Shibusen, a morena da loja sorrindo, tocando a base de seu pescoço.

—Infiltração bem sucedida, Hyaci.

 

Se aproximando da escadaria, viam que mais alguns alunos se amontoavam por perto, Aya e Nathan de pé na escadaria ao lado do Shinigami-sama e Mabaa-sama. Crona estava um tanto mais afastada, ao lado de Maka, Soul e as irmãs Thompson, parecia importante. Kid parecia preocupado, respirando fundo antes de tomar a iniciativa, caminhando mais alguns passos à frente e tendo a voz potencializada pela magia da rainha das bruxas.

 

—Meus queridos alunos da Shibusen, sei que boa parte tá familiarizada comigo. Sou Death The Kid, conhecido entre vocês como “Shinigami-sama”, herdando o posto de meu pai durante a antiga guerra contra nossas atuais aliadas. Porém, como é de conhecimento geral, parte das bruxas se recusa a aceitar nossa paz, e por isso nos trazem problemas que poderiam ser evitados. E para isso que vim aqui hoje. Aos alunos da Normally Overcome Targets, a classe NOT não combatente, declaro oficialmente aberto o processo classificatório para se tornar um EAT!


******

 

—O que você fez!?

 

A morena estava furiosa, encarando uma mulher exatamente igual a ela, com exceção de sua expressão apavorada. A bruxa não conseguiu conter sua ira, derrubando um criado-mudo que estava próximo a ela, o som de objetos sendo destruídos chamando a atenção do homem da casa: igualmente moreno, porém com olhos acinzentados. Ele corre até sua esposa caída e encolhida no canto da sala, a abraçando enquanto ela, com lágrimas quase desabando, tentava explicar-se.

 

—M-Me perdoe, senhora! Mas não nos foi dito o que fazer se Oliver despertasse como arma! P-Pensei que o melhor a se fazer seria ele aprender a controlar esse lado e mandá-lo para a Shibus... – Um copo se quebrara na parede, ao lado de sua cabeça, a fazendo encolher-se no abraço.

—Então do que adiantaram os malditos dezesseis anos nessa cidade malditamente calma que parece ter parado no tempo!? Oliver ainda está vivo apenas por sua alma! Se não, estaria junto a você no outro lado! – Ela aponta para o homem, ainda esbravejando palavras de ódio enquanto revirava as estantes. – Droga, Alizon! Onde você escondeu esse inferno!?

—As únicas informações que recebemos foram “cuidem de Oliver até eu voltar”. – O “homem” continua, tentando acalmar a “mulher” em seus braços. – Não nos foi dito sua relação com a Shibusen, o que fazer se ele despertasse como arma ou o tipo de alma que possuía. Somos cópias, não videntes.

—E mesmo assim, está falando demais. Lembre-se a quem você obedece. Ainda o dei a oportunidade de viver uma vida feliz com esposa e filho mesmo tendo o matado após aquela noite. Deveria estar me agradecendo, Aaron!

 

O “homem” esboça um pequeno sorriso, sabia que ela apenas o chamaria por seu nome se estivesse fora de controle. Infelizmente, ela falava a verdade. Não sabia dos detalhes antes de seu “nascimento”, mas a aparência de seu corpo era a mesma do antigo amante daquela bruxa. Um humano, artesão aposentado, que havia tentado por fim a sua vida depois da noite que resultou em seu filho que agora estava na Shibusen. Embora, como ela o havia dito, o original se encontrava morto.

Oliver, após seu nascimento, quase teve o mesmo fim se não fosse as capacidades de sua criadora, Alizon, antiga conhecida da bruxa em sua frente. A cópia de Aaron e a cópia daquela bruxa, a falsa atendendo pelo nome de Irene, cuidaram do pequeno Oliver por quinze anos, até ele despertar como arma a quase um ano e causar o ódio da morena em sua frente.

Após tortuosos minutos que pareceram uma eternidade para ambos, a bruxa encontra o que procurava. Uma delicada estatueta de raposa branca com olhos azuis de vidro, escondida no fundo do armário da cozinha. Ao verem o animal, o pânico se instala naquelas marionetes criadas por magia, vendo o sorriso sádico de sua mestra enquanto traziam seus corpos ainda mais perto um do outro.

 

—Vocês serviram ao seu propósito. Se não tivessem feito a burrice de mandá-lo para Death City, eu poderia até pensar em mantê-los em sua vidinha de faz de conta. Pela expressão em seus rostos, essa aqui é realmente a fonte do poder de Alizon, que manteve vocês vivos por tanto tempo. Quem sabe se trouxerem Oliver de volta...

 

O casal sabia que essa não era uma opção. Conheciam a bruxa em sua frente, e tinham medo do que ela poderia fazer com a criança que cuidaram com tanto carinho. Tinham medo de que o que houvesse com Crona se repetisse, ouviram falar dos experimentos de Medusa. E, recolhendo todo o orgulho que ainda os restava, encararam a mulher em sua frente com uma expressão corajosa, a deixando entediada.

 

—Vão bancar os bons pais então... péssima escolha.

 

Soltando a estatueta, nos poucos segundos que ela estava no ar, Aaron novamente aperta o abraço em Irene, seus corpos desaparecendo em uma fumaça branca junto aos cacos do que um dia foi uma raposa branca. Quando estava seguindo mais adentro da casa, a campainha toca, ela notando um pequeno pacote sendo deixado em frente à porta. Não sabia o que era ou poderia ser, mas o abriu. Seu destinatário provavelmente era um dos que agora nem ao menos existiam, então seja lá o que for poderia ser útil.

Enganou-se ao ver uma pequena raposa de porcelana, assim como aquela que havia destruído a poucos segundos. Junto havia uma carta, uma carta de Oliver dizendo umas poucas coisas sobre ele. Estava bem, conseguia se transformar completamente, planejava voltar em breve para uma visita e... em breve começariam os testes para a classe EAT. Aquilo seria interessante, poderia encontrá-lo mais rápido que o necessário, mas... a parte de querer voltar em breve era preocupante. E a raposa certamente era criação de Alizon, então ao menos saberia onde começar a procurar por ela.

Segurando a estatueta, a morena segue até a cozinha, ligando todas as bocas do fogão, pegando a caixa de fósforos e se retirando da casa. Acendendo um deles e pondo-o de volta na caixa para criar uma chama maior, a bruxa a lança na enorme bomba no centro de Rothenburg que era aquela casa, causando a explosão da “cena do crime” naquela noite antes silenciosa.

 

—Esses imbecis vão complicar meu trabalho. Falarei com Alizon e Hyaci, quem sabe uma informante na Shibusen possa ajudar a recuperar aquele garoto. – E seguiu na direção oposta a dos humanos confusos indo até a casa tentando apagar o fogo, desaparecendo em meio ao caos gerado por ela mesma.


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