Ultima Ratio escrita por Akemihime


Capítulo 6
À sua maneira




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“Aquela garota sempre dizia que se seu amor não fosse aceito, ela faria o mundo em pedaços. Naquele dia outra garota a mostrou que sua estranha forma de amar não era o suficiente. Talvez nunca seria”

 

•••

 

— Isso não é o suficiente, Touya!

Ele fechou os olhos com a voz firme do pai que gritava ao longe.

Ele sempre gritava.

— Libere mais chamas!

— Sinta sua pele esquentar!

— Sinta seu corpo queimar, continue!

E ele fez isso tudo.

Como sempre fazia.

A dor se espalhava por todo o seu corpo conforme seu poder ia sendo liberado cada vez mais. A cada dia que se passava.

E mais e mais.

E mais.

Até que um dia foi demais.

 

•••

 

Yaoyorozu não teve tempo de processar muito bem onde estava depois que conseguiu atravessar o portal do inimigo.

Tudo o que ela pode perceber logo após abrir os olhos, alarmada, foi um corpo sendo pressionado contra o seu. Ela foi jogada ao chão quase imediatamente, vendo a vilã colegial sobre si sorrir de modo estranho.

Logo em seguida veio uma dor em sua perna, semelhante a uma picada de abelha.

Isso bastou para que Momo conseguisse força para erguer os seus braços, se desvencilhando da vilã e se colocando de pé.

Um arrepio percorreu pelo seu corpo ao ver que a garota a sua frente estava com uma espécie de seringa em sua mão, o objeto cheio com um líquido vermelho que só poderia ser uma coisa.

Momo lançou um rápido olhar para sua perna, vendo o pequeno filete de sangue onde a agulha tinha penetrado instantes antes.

Ela sabia que algumas peculiaridades precisavam do sangue do inimigo para serem ativadas. Era o que tinham revelado sobre o tão falado Stain, quando ele foi finalmente derrotado.

E ao julgar pela expressão sorridente no rosto da vilã, Momo já assumia que aquilo se aplicava a ela também. Ainda mais levando em conta que a seringa estava ligada a um aparelho maior preso às costas da garota.

Momo não sabia o que poderia vir dali, mas certamente não seria coisa boa, principalmente agora que a vilã continha uma parcela de seu sangue.

E, enquanto olhava com cautela para ela, Momo já pensava em seus próximos movimentos. O que deveria fazer? Deveria atacar ou esperar? E quanto Todoroki e os outros? Ela estava preocupada, não poderia demorar muito ali.

— Você é amiga do Izuku-kun? Você o ama também? — a loira perguntou, parecendo genuinamente curiosa, o que pegou Momo totalmente de surpresa.

— O que? — foi tudo o que ela conseguiu falar, confusa.

— E a Uraraka-chan? Você a ama, não é? — Toga abriu um sorriso, parecendo se lembrar da garota enquanto falava.

Yaoyorozu se sentiu mais desconfortável e surpresa do que com medo da vilã. Não imaginava que alguém da Liga dos Vilões poderia ter qualquer ligação ou interesse em seus amigos, o que ela sabia sobre Midoriya e Uraraka?

Mas Yaoyorozu não se atreveu nem ao menos responder Toga, sem saber exatamente o que pensar sobre aquilo. E, ao ver sua falta de resposta, a loira fechou o sorriso, olhando para a seringa em sua mão, guardando-a no aparelho em suas costas.

Toga suspirou, parecendo não muito satisfeita com o silêncio recebido.

— Você não parece amar nenhum dos dois — Ela pegou uma faca curta que sempre carregava consigo, apertando em sua mão e olhando novamente para Momo, seu semblante sério. — E se você não ama, merece morrer!

Foi rápido o ataque.

Quase tão rápido quando ela tinha jogado Momo no chão ao chegarem naquele local instantes antes.

Mas dessa vez Yaoyorozu estava preparada e foi capaz de desviar com mais facilidade, ainda mais depois de ver o que a garota tinha em sua mão.

Ela não tinha mostrado sua individualidade ainda, mas por aqueles ataques deu para perceber que não era ruim em luta corpo a corpo.

E Toga não desistiu no primeiro ataque, voltando a atacar Momo consecutivas vezes, tentando em vão acertá-la. 

A estudante também sabia se movimentar e tinha bons reflexos para desviar de sua faca, até mesmo quando parecia estar encurralada contra a parede, ela se agachou rapidamente, desviando por um triz de Toga, se afastando logo em seguida.

Momo sabia que não adiantava ficar na defensiva e não poderia fazer isso sempre, precisava ser rápida se quisesse ir atrás de Todoroki, mas ainda assim ela permanecia relutante. E, ao olhar para o rosto da vilã, ela sentiu um arrepio percorrer seu corpo. Toga estava séria, ela atacava com precisão e rapidez, atacava para matar.

E aquilo não deveria impressionar Yaoyorozu, afinal a garota em uniforme colegial estava na Liga dos Vilões, mas ainda assim não deixava um bom sentimento nela. A verdade é que ainda não tinha se acostumado com o fato de que vilões conseguiam agir daquela forma fria e sanguinária.

Mas precisava tomar alguma decisão para derrotá-la, independente de como aquela vilã poderia ser. Momo não poderia permanecer assim.

Ela suspirou assim que desviou de mais um ataque, dando alguns passos para trás, para ganhar uma distância. Toga parou mais a sua frente, olhando enquanto Momo erguia uma das mãos e deixava sua peculiaridade agir.

A palma da mão brilhou e, com a outra mão livre, Momo foi segurando rapidamente uma lança de metal, com a ponta afiada, que tinha criado.

Toga continuou observando-a, mas não fez nenhum comentário. Então, como se aquilo não tivesse a abalado de forma alguma, ela partiu para cima de Yaoyorozu novamente com sua faca na mão.

Mas dessa vez quem teve que se desviar foi Toga ao ver a lança indo rapidamente em sua direção. Ela se esquivou com facilidade, mas não estava preparada para o chute que recebeu logo em seguida.

Toga foi ao chão, exatamente como Momo havia ido anteriormente.

Com as posições agora invertidas, era Momo quem estava com o corpo sobre o seu, sentada em sua cintura e com a ponta da lança ameaçadoramente em seu pescoço.

— Para onde vocês levaram o Todoroki-san? — Foi a primeira pergunta que fez ao ver que tinha uma vantagem sobre a inimiga.

Mas Toga, no entanto, sequer pareceu ouvir sua pergunta. E com a atenção de Yaoyorozu focada na face da vilã, ela foi incapaz de perceber quando a mão livre de Toga alcançou o aparelho que continha seu compartimento de sangue nas costas.

E quando Yaoyorozu desviou seu foco para jogar longe a faca que estava na outra mão da loira, foi o momento em que Toga usou para colocar sua máscara de ingestão de sangue no rosto.

Momo percebeu que tinha algo errado quando sentiu todo o corpo da vilã tremer sobre o seu.

Ela ficou alarmada, vendo a máscara no rosto dela, mas confusa demais para entender o que era aquilo.

Quando finalmente entendeu, Momo estava olhando não para a vilã loira de uniforme colegial. Ela estava olhando com espanto para sua colega de classe, Uraraka Ochako.

A lança em suas mãos se abaixou levemente do pescoço da outra, sua reação de surpresa sendo exatamente o que Toga precisava para conseguir empurrá-la para longe e voltar a ficar de pé.

— Ochako-san… — Momo murmurou, mas o suficiente para a garota a sua frente ouvir.

Toga abriu um enorme sorriso.

— Eu suguei o seu sangue e não o usei, porque achei que você não amava eles — ela falou, parecendo estranhamente feliz —, mas você ama a Ochako-chan sim, não é? Ela é incrível mesmo!

A cabeça de Yaoyorozu estava agitada demais com aquilo. Era como se algumas peças finalmente estivessem se encaixando. A peculiaridade da vilã permitia que ela se transformasse em alguém ingerindo o sangue da pessoa, estava confirmado isso. Mas então significava que ela realmente tinha encontrado com Ochako e, pior, conseguido uma amostra de seu sangue assim como tinha conseguido de Momo.

Mas até onde se estendia aquela habilidade de transformação era o que a preocupava.

E, independente disso, Yaoyorozu não poderia se deixar abalar.

Aquela a sua frente parecia com Ochako, mas não era ela. Era uma integrante da Liga dos Vilões e ainda precisava ser parada de qualquer forma.

— Se você acha que se transformar na Ochako-san vai me parar, está enganada — Momo se colocou em posição de ataque novamente, segurando firme sua lança entre os dedos — Não importa o quanto se esforce para parecer com ela, você continua sendo uma vilã.

Aquilo fez Toga se esquecer de sua pergunta ainda sem resposta. E o sorriso novamente desapareceu de seus lábios.

— Eu me transformo nas pessoas que amo para me aproximar ainda mais delas — Ela falou, sua voz saindo exatamente como Uraraka — Ochako-chan tem tanta confiança… e é com essa confiança que vou acabar com você.

Momo não soube como, mas outra faca brotou nas mãos da garota e ela se perguntou quantas armas ela ainda tinha escondidas em seu corpo. Mas não pode ficar presa a esse pensamento por muito tempo, se concentrando em esquivar dos ataques e procurar alguma abertura para contra-atacar.

Era mais difícil do que parecia.

Ela sabia que aquela não era Ochako, mas lutar contra uma pessoa possuindo sua aparência e voz não era exatamente simples.

Aquela era uma habilidade cruel para cair justamente nas mãos de um vilão.

Então, quando Momo conseguiu uma abertura e utilizou isso para, com sua lança, bater na mão da inimiga, fazendo a faca dela voar longe, a estudante congelou, sem saber o que fazer a seguir.

A ponta da lança mais uma vez perigosamente perto do pescoço da vilã e tanto ela quanto Momo estavam imóveis.

Como ferir uma pessoa que se parece tanto com uma amiga?

Quando Yaoyorozu fazia sua cabeça para conseguir terminar aquela luta de uma vez por todas, ela finalmente percebeu que algo estava errado.

Seu corpo parecia absurdamente mais leve quase como se estivesse… flutuando.

Ela olhou para Toga e depois para baixo, percebendo que estava ganhando uma altura cada vez maior em relação a inimiga.

Yaoyorozu se mexeu de forma inquieta, sem conseguir fazer nada em pleno ar.

Agora já quase atingindo o teto, ela olhou para Toga na forma de Ochako lá embaixo. Ela parecia ainda mais surpresa do que Momo, encarando as próprias mãos.

— Eu posso usar… a individualidade da Ochako-chan…

Ela uniu as pontas dos dedos, exatamente como Uraraka costumava fazer.

E Yaoyorozu apenas se preparou para o impacto.

Não era uma queda grande, pois estavam em um espaço fechado, mas mesmo assim Momo sentiu o seu braço estalando quando caiu. O impacto fazendo com que pequenos pontinhos pretos aparecessem em sua visão, o choque da dor deixando-a momentaneamente confusa.

Mas ela não podia se deixar abater e, com muito esforço, ignorando a dor latente em seu braço, Yaoyorozu se colocou de pé, com dificuldade. A lança já não estava mais em suas mãos, mas ela não se importou muito, preocupada com o próximo ataque que a inimiga poderia realizar.

Teria que tomar o dobro de cuidado agora que mal conseguia movimentar um dos braços.

— A Ochako-san jamais faria algo assim, como pode dizer que a ama e fazer essas coisas? — finalmente exclamou para a adversária, incomodada demais com aquilo já.

Já era difícil ver a vilã utilizar a aparência e voz de sua amiga, mas vê-la usando sua habilidade como se fosse dela daquela forma era demais para Momo. Ela confiava demais em Uraraka para saber que ela jamais se voltaria contra os amigos daquela forma, jamais usaria seu poder contra eles.

Ver a vilã fazer aquilo era pior do que podia imaginar.

— Eu não te odeio — A garota respondeu, dando de ombros — mas você quer atrapalhar os planos do Dabi-kun, então não posso deixá-la passar daqui. A Ochako-chan entenderia.

— Não, não entenderia! Você não a conhece e nem o Midoriya-san! — Ela era louca, Yaoyorozu percebia. Ela dizia amar Ochako e Midoriya, mas não passava de uma vilã que só queria derrubar todos eles, alegando que fazia aquilo tudo por amor.

Era confuso.

— Dabi-kun é da Liga, eu tenho que defender ele, assim como a Ochako-chan defenderia o Izuku-kun e… — Toga parou por um momento, parecendo perceber algo — Significa que eu amo o Dabi-kun também?

Momo estava perdendo a paciência. Ela sentia a irritação crescer dentro de si.

Então, de repente o som de uma grande explosão interrompeu a conversa das duas, fazendo ambas as garotas olharem em volta, uma curiosa e outra preocupada.

Não parecia ter sido muito perto, apesar delas sentirem o chão tremer em seus pés.

A irritação foi momentaneamente esquecida por Momo. E a imagem de Todoroki desaparecendo enquanto seus dedos quase o alcançavam no túnel do corredor veio em sua mente.

— O que eu estou fazendo perdendo meu tempo aqui? — falou para si mesma em voz baixa, preocupada.

Se aquela explosão fosse onde Todoroki se encontrava, ele certamente estava com problemas encarando sozinho os inimigos.

Não era hora de ficar discutindo com uma vilã que claramente tinha problemas mentais. Era hora de se preocupar com Todoroki e ir ajudá-lo o mais rápido o possível.

— Para onde vocês levaram o Todoroki-san? — perguntou para Toga pela segunda vez desde que começaram a lutar.

Mas, dessa vez, a vilã pareceu prestar atenção em sua pergunta, tendo em vista que observava Momo com aparente curiosidade. Como se tivesse feito uma pergunta estranha.

E, vendo que apesar disso ela continuou em silêncio, Yaoyorozu pressionou mais.

— Me diga, onde ele está? O que vão fazer com ele?

Dessa vez Toga reagiu. Ela abriu um sorriso ainda maior do que antes, seus olhos brilhando, o que ficava particularmente estranho para as feições de Uraraka.

— Oh, você ama o Todoroki-kun?

Momo não estava preparada para aquilo.

— O-o quê?!

E Toga parece ter se aproveitado daquele momento para levar a mão novamente em sua máscara, puxando-a para o rosto de forma que pudesse beber mais sangue.

Seu corpo começava a se transformar, os cabelos castanhos ficando cada vez mais longos e escuros, enquanto ela continuava a falar.

— Sim, você ama ele! Eu posso sentir isso! — A vilã parecia estar adorando aquele momento, como se tivesse descoberto a melhor coisa. Ela sorria agora com o corpo completamente transformado, se tornando uma cópia perfeita de Yaoyorozu bem a sua frente.

Enquanto isso, Momo estava surpresa e confusa demais para conseguir sequer responder de forma coerente.

Como ela falava aquilo como se fosse tão óbvio? Yaoyorozu gostava de Todoroki, mas nunca tinha pensado assim, nunca tinha…

Não.

Foco, Momo! Agora não é hora para isso!

As palavras de Toga não importavam, suas provocações não poderiam ser levadas a sério. Não quando o maior problema era ela ter se transformado em Yaoyorozu.

Aquilo não era só estranho, era preocupante.

E fez Momo imediatamente questionar se, além de se transformar nela, a vilã seria capaz de reproduzir sua habilidade também.

Ela havia usado a habilidade de Uraraka há pouco, mas até mesmo a garota parecia surpresa de ter conseguido aquilo. Não deveria ser algo que estivesse acostumada a fazer, não deveria ser simples.

Mas, mesmo se fosse algo simples para a vilã copiar a individualidade de qualquer pessoa que assumisse a forma, isso não significava que conseguiria usar com facilidade a individualidade de Momo.

Pela primeira vez desde que chegara ali, Momo esboçou um pequeno sorriso.

Aquele tinha sido o maior erro da vilã, ainda mais se ela contava com a chance de usar sua individualidade.

“Ela pode ter se transformado em mim, mas não vai ser tão simples usar minha habilidade de criação”.

Então foi naquele momento que soube que estava na hora de terminar a luta.

Tinha que aproveitar aquela oportunidade.

— Acho que está na hora de explodir algumas coisas aqui também — Momo murmurou, abrindo os botões de sua camisa e revelando sua barriga que imediatamente começou a brilhar.

Toga interrompeu seu discurso de como Yaoyorozu de fato amava Todoroki e como, por isso, ela passou a amar Yaoyorozu também. E agora a olhava com cautela, sem entender o que estava por vir.

Mas Momo também não deu tempo para que ela pudesse entender.

Um enorme canhão incompleto se projetou para fora de sua barriga, apontando para Toga que não estava tão distante assim.

A vilã até tentou se mover, se esquivar de modo rápido, como vinha fazendo nos ataques anteriores, mas Momo tinha previsto isso dessa vez.

Uma corda saiu de sua mão e ela enlaçou a inimiga, apertando-a de maneira firme, para que não saísse do lugar.

Para que continuasse na mira do canhão.

Momo sorriu.

E não demorou para o som de mais uma explosão tomar conta do ambiente.

 

•••

 

O impacto do tiro de canhão fez com que Yaoyorozu fosse jogada com força para trás, seu corpo batendo forte contra a parede.

Pequenos pontos pretos começaram a bloquear sua visão com a dor, mas ela respirou fundo, se livrando de suas criações. Se controlando para não perder a consciência, apesar das condições em que se encontrava.

E enquanto Momo tinha sido jogada contra uma parede, Toga tinha sido jogada contra a parede oposta pela bala do canhão. A força sendo tamanha que não só atingiu a vilã, mas fez com que a parede em que ela foi atingida fosse ao chão, causando um pequeno desabamento na área da explosão.

A poeira dificultou um pouco para Momo enxergar o que realmente tinha acontecido, mas quando finalmente se colocou de pé de modo firme, ela deu alguns passos com cuidado em direção aonde Toga se encontrava.

Forçando a visão um pouco e espantando a poeira com as mãos, foi que Momo finalmente conseguiu ver a vilã — agora em seu verdadeiro corpo —, deitada inconsciente no buraco aberto no que tinha sido uma parede daquela sala fechada.

Os destroços estavam caídos ao redor de Toga, assim como boa parte do teto que havia cedido.

A luz da lua brilhava de modo fraco naquele ponto, dando visibilidade necessária junto com as poucas lâmpadas ainda presentes no local, para que Momo pudesse enxergar um pouco melhor.

Ela respirou fundo.

Sentia todo o seu corpo fraco e cansado, sem falar das dores que finalmente apareciam agora que a adrenalina da luta tinha diminuído.

Mas não era hora para sentar e se recuperar.

Momo precisava continuar e ir atrás de Todoroki, ainda que não soubesse nem onde ela mesma se encontrava.

Aquela foi a primeira vez que Momo se permitiu observar a sala para a qual tinha sido transportada.

Era escura, pequena e não possuía qualquer tipo de móvel, parecendo apenas um lugar abandonado, mas ainda assim claramente no subsolo, ao julgar pela falta de janelas.

Ao seu lado, Yaoyorozu via uma porta e à sua frente, tinha o buraco na parede causado pela explosão. Dois diferentes caminhos. Mas ela não pensou muito sobre qual seguir. O caminho que tinha aberto à força pela parede estava escuro e, dando uma rápida espiada, Momo imaginou que poderia ser mais um daqueles corredores que estava com seus colegas assim que os vilões apareceram. Aqueles corredores davam para os túneis, e Momo não tinha a intenção de voltar naquele momento, precisava seguir em frente.

Então, ela girou a maçaneta da porta que estava ao seu lado. Por sorte, estava aberta. Yaoyorozu não sabia se teria forças para arrombar nem uma porta àquela altura, tendo em vista a condição que seu corpo se encontrava.

Ela apenas torcia para que aquela caminhada pela busca de Todoroki fosse tranquila e sem vilões, assim, quem sabe, poderia se recuperar ao menos um pouco para poder utilizar sua criação, se fosse realmente necessário, quando encontrasse o amigo.

Assim que abriu a porta da sala que estava, Yaoyorozu se deparou com um corredor. A luz fraca de várias tocas ao longo das paredes do corredor deixava o ambiente um pouco mais iluminado, mas não menos reconfortante. Não quando as tochas continham fogos azuis, semelhantes demais às chamas do vilão que tinha visto mais cedo.

Yaoyorozu passou a andar pelo corredor de forma lenta. Embora quisesse ir mais rápido, precisava também ser cautelosa, não sabia quantos inimigos se encontravam ali embaixo.

E a última coisa que queria era se deparar com mais um vilão antes de saber onde Todoroki estava.

Mas sua atenção ao seu redor foi momentaneamente deixada de lado quando Yaoyorozu escutou um som estranho em um ponto mais a frente.

Ela se jogou contra a parede, mas não precisava. O som não vinha exatamente do corredor.

Yaoyorozu avançou mais um pouco, vendo finalmente uma porta fechada à sua direita. O som vinha dali de dentro e parecia estar havendo algum tipo de luta. O barulho cessou em dado momento, dando espaço para as vozes exaltadas.

Uma em particular sendo bastante familiar.

Ela sentiu um arrepio e tocou a maçaneta, sem pensar duas vezes, logo a soltando com surpresa.

A maçaneta estava quente. Quente demais para o ambiente em que se encontrava.

Mas isso não abalou Yaoyorozu.

Todoroki estava ali, ela tinha certeza.

Ainda que não tivesse entendido o que ele tinha dito, aquela voz era dele. E ele não estava sozinho, era possível ouvir a voz do vilão Dabi ali também. Todoroki poderia estar com problemas e uma porta trancada não impediria Momo de chegar até ele.

Ela tomou distância, o máximo que o corredor apertado permitia, e impulsionou seu corpo para frente com força, ignorando a dor que se alastrava pelo seu braço machucado da luta anterior.

A porta se abriu com seu peso, parecendo já estar fragilizada pelo calor das individualidades que entraram em conflito ali dentro.

Momo demorou apenas uma fração de segundos para entender o que acontecia naquela sala fechada.

E, ao perceber tudo, ela não teve tempo de pensar e muito menos de dizer qualquer coisa.

Não quando viu Todoroki ao longe ajoelhado e de cabeça baixa, enquanto o vilão, mais próximo de Momo, sorria.

Dabi ergueu os braços, projetando as chamas azuis na direção de Todoroki, que permanecia imóvel.

E tudo o que Yaoyorozu teve tempo de fazer foi correr.

Ela corria, com o braço estendido, brilhando com sua individualidade sendo ativada.

“Que seja rápido, por favor!”

Ela se colocou à frente de Todoroki bem a tempo, com o braço levantado, e fechou os olhos, se preparando para receber o ataque caso não conseguisse realizar sua criação.

Yaoyorozu sentiu o calor, mas não de forma direta como esperava.

E, com isso, abriu os olhos, temerosa.

O escudo — feito às pressas e utilizando o seu último resquício de energia — tinha sido criado e protegia fortemente não só ela, como Todoroki que estava logo atrás.

Momo se ajoelhou, ficando a altura do amigo que ainda estava no chão. Ela se virou para ele, preocupada.

— Todoroki-san, você está bem? — perguntou, vendo que o garoto não reagia. 

Seus olhos se arregalaram ao ver que, atrás dele, Endeavor se encontrava preso em uma cadeira, aparentando estar mais fraco do que nunca, com a cabeça também baixa, provavelmente inconsciente. Não era de se surpreender, ele estava com muitos ferimentos pelo corpo todo para suportar acordado.

E aquela era a pior situação possível.

Momo voltou a olhar para Shouto ao ver que ele não respondia.

— Todoroki-san, o que aconteceu?! — perguntou novamente, de modo mais alarmante do que da primeira vez, ficando mais preocupada ainda com a falta de reação dele.

Todoroki nunca agia assim, não diante de algum vilão.

E ele continuou sem responder, sem sequer encará-la.

Algo realmente estava errado.

— Tsc, Toga não conseguiu acabar nem com uma criança? — A voz de Dabi ao fundo a despertou para ele.

O vilão ainda estava de pé, melhor do que ela e pronto para derrubá-los.

Se Todoroki não reagisse, eles realmente iriam morrer. E o pior é que ele não parecia nada pronto para lutar.

— Todoroki-san, precisamos levantar, precisamos lutar. Se não fizermos isso…

— Ele vai morrer aqui. — Dabi a interrompeu, olhando firme para Momo — Ele, nosso Herói nº 1… e agora você.

O vilão levantou as mãos novamente em direção a eles e Momo sentiu o desespero crescer dentro de si.

Ela olhou novamente para Shouto, alarmada. Mas o garoto não tinha sequer se movido, apenas ergueu sua cabeça para encará-la, como se quisesse confirmar que era mesmo ela.

E os olhos dele estavam banhados em lágrimas, o que fez o coração de Yaoyorozu se apertar dentro do peito.

— Me desculpe, Yaoyorozu.

Momo queria dizer muitas coisas, queria, acima de tudo, tentar compreender o que tinha acontecido.

Mas ela não teve tempo.

Novamente, tudo o que Momo conseguiu fazer foi erguer seu escudo, se preparando para o impacto ao ver as chamas brotarem das palmas das mãos de Dabi.

Com sorte, seu escudo ainda os protegeria pelo menos daquele ataque.

E depois? Bem, depois teriam que contar com a sorte. Ou um milagre.


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