Ultima Ratio escrita por Akemihime


Capítulo 2
Filho querido e secreto do All Might




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“Você tem uma ligação especial com All Might e não precisa ser um gênio para perceber isso. Eu não sei do que se trata essa ligação e não me interesso, mas preciso que você a use hoje. Não por mim, não por você, mas para ajudar ele, para ajudar Todoroki”.

 

•••

 

Dessa vez, Shouto só não foi capaz de se ajoelhar ou sair correndo graças ao professor Aizawa que segurava fortemente o seu ombro, dando-lhe equilíbrio.

Pelo canto de olho ele podia ver Yaoyorozu com as mãos cobrindo a boca, completamente em choque. Os outros ao redor não deviam estar muito diferentes, dividindo a atenção entre a televisão e Todoroki.

Todoroki sentia como se sua cabeça estivesse girando com tudo o que aconteceu.

A luta contra o Nomu, depois o aparente alívio da vitória, apenas para então um novo vilão surgir e conseguir piorar ainda mais toda a situação.

Como ele poderia se manter calmo diante daquilo tudo?

Mas o mais importante não parava de latejar em sua mente: Endeavor estava agora nas mãos da Liga dos Vilões. O Herói nº 1 corria perigo. Não. Seu pai corria perigo.

Seu pai. Aquele que parecia inabalável. Como uma rocha que nunca parecia capaz de se quebrar.

Shouto pode nunca ter tido uma relação boa com seu pai, mas sempre achou Endeavor uma pessoa extremamente forte e capaz de tudo, com uma presença imponente e por muitas vezes ameaçadora.

Por isso estava surpreso. A pessoa que ele nunca imaginava que fosse passar por uma situação assim, estava agora em perigo.

E isso era mais assustador do que a simples impressão de que Dabi, aquele misterioso vilão, o conhecesse de alguma forma.

Shouto sentia como se seu estômago estivesse embrulhado, e foi só quando a transmissão foi cortada na televisão que ele pareceu despertar de seu torpor de desespero, a mão de Aizawa em seu ombro não sendo mais suficiente para impedir que o garoto se ajoelhasse novamente.

Todo o seu corpo suava frio e tremia sem parar, e Todoroki sabia muito bem que a causa daquilo não era sua peculiaridade.

Ele permaneceu dessa forma, com os joelhos e as mãos no chão, sem saber por quanto tempo, até que por fim sentiu sua respiração se acalmando e o choque aos poucos ir passando, junto com os sintomas daquele desespero, embora uma enorme inquietação permanecesse dentro de si.

E quando conseguiu colocar os pensamentos em ordem, somente uma coisa permaneceu forte em sua mente.

“Eu preciso fazer alguma coisa”.

Ele ignorou todos ao seu redor que tentavam balbuciar palavras de conforto, se levantando de repente, no entanto logo a mão de Aizawa retornou ao seu ombro, dessa vez impondo mais firmeza e mantendo-o em seu lugar.

— Nem pense em sair correndo por aí, Todoroki. — Ele logo o advertiu. Seu tom de voz mais sério do que nunca antes, deixando clara a sua ordem. Sua outra mão já estava em uma das faixas em torno de seu pescoço, deixando claro que impediria o garoto custe o que custar.

Aizawa suspirou quando Todoroki parou de tentar se movimentar, sentindo o ombro do garoto em sua mão relaxar.

Ele o soltou, ainda olhando-o com cautela, logo então voltando a falar.

— Estou indo buscar informações sobre o paradeiro de Endeavor e a situação das bombas, quando descobrir, você será o primeiro a saber sobre tudo, enquanto isso não faça nada estúpido.

— Mas o meu pai...! — Shouto exclamou, sentindo lágrimas brotarem em seus olhos, porém sendo logo interrompido.

— O seu pai é o Herói nº 1 de todo o Japão, não o subestime. — Aizawa continuou, firme. — E lembre-se que você é apenas um aspirante a herói, ter obtido sua licença provisória não te faz capaz de enfrentar qualquer perigo, especialmente se for movido ao desespero.

Todoroki fechou os punhos com raiva enquanto Aizawa se distanciava dele, já com o telefone em mãos, entrando em contato com os outros heróis.

— Todoroki-kun...? — Midoriya ao seu lado o chamou, preocupado.

— Vou para o meu quarto. — Foi tudo o que Todoroki disse, ignorando o amigo e todos ao redor, caminhando firme para o elevador.

Ele sabia que não conseguiria ir facilmente até a cidade de Kyushu, aonde seu pai tinha lutado contra o Nomu, visto que não era exatamente perto de onde estava, mas ainda assim o garoto se sentia mais agitado do que nunca. Ele não poderia simplesmente sentar e esperar por respostas.

Foi quando sentiu seu celular tocar no bolso de sua calça, e ao ver o nome de sua irmã no visor, ele logo atendeu.

— Shouto! — Ela exclamou, aliviada por ter conseguido falar com ele, mas em sua voz também havia aquele tom agitado que esteve presente em Shouto até o momento. — Você viu a luta, não viu?

— Sim. — Ele respondeu, sem querer prolongar mais aquela conversa. Fuyumi deveria estar desesperada, mas ela não o ajudaria em nada naquele momento.

— Estou com mamãe no hospital, Natsuo também está aqui, você deveria vir pra cá também...

— Não posso sair agora.

Fez-se um silêncio do outro lado da linha com a resposta de Shouto, e quando ele pensou que a ligação poderia ter caído, outra voz surgiu ao telefone.

— Shouto, você está preocupado, não está? — Era sua mãe.

Ele sentiu seu corpo congelar no lugar, sem saber como falar com ela naquele momento.

— Eu... — Ele começou, mas desistiu, fechando a boca com força. Estava preocupado com seu pai, e perceber isso o deixava ainda pior.

Aquele homem tinha feito tantas coisas horríveis com sua mãe e ainda assim Shouto estava ali, preocupado com ele...

— Não se culpe por se sentir preocupado. Ele é seu pai. — Ela falava com muito mais calma do que Fuyumi, como se pudesse ler a sua mente. — Enji está tentando mudar, você sabe disso provavelmente mais do que eu.

Shouto não disse nada, de forma que sua mãe então continuou.

— Você é uma pessoa boa, Shouto, tenho certeza que é capaz de perdoar seu pai no tempo certo. Mas, Shouto... não faça nada imprudente, por favor, é só isso que te peço.

— ... Tudo bem. — Ele murmurou por fim, sabendo que falara aquilo mais para acalmar sua mãe. A última coisa que ela e seus irmãos precisavam era se preocuparem com ele também naquele momento.

Todoroki Rei não pareceu acreditar muito em suas palavras, mas desejando que ele ficasse bem, ela desligou o telefone, fazendo Shouto prometer que a ligaria caso acontecesse alguma coisa.

Ele então sentou no chão frio de seu quarto, com as mãos na cabeça, pensando em como lidar com aquela situação.

A noite estava começando a cair e Todoroki sabia que não conseguiria ficar parado por muito mais tempo. Ele tinha consciência de que Aizawa estava com medo que ele fosse por conta própria tentar salvar o pai, e, mesmo sabendo exatamente como era arriscado enfrentar a Liga dos Vilões, Shouto não se importava nem um pouco com o perigo.

Ele não podia ficar de braços cruzados esperando respostas.

Um tempo mais tarde, ele não soube exatamente quando, professor Aizawa apareceu na porta de seu quarto dizendo que haviam encontrado as bombas que foram colocadas nos prédios em Kyushu e todas já foram devidamente desarmadas. Dabi não estava blefando quando disse que explodiria tudo caso Endeavor não fosse com ele.

Quanto a seu pai, nenhuma informação nova foi lhe dada. Aizawa apenas disse que vários heróis já estavam se reunindo com detetives e a polícia local de Kyushu para investigar alguns possíveis locais do esconderijo dos vilões, mas nada era muito claro ainda. E isso apenas deixou Todoroki ainda mais nervoso.

Depois de advertir novamente o garoto do quão perigoso era agir sozinho e que o melhor a fazer era esperar por mais informações, Aizawa partiu.

E como se não tivesse escutado todas as ordens do professor, Todoroki esperou pacientemente a noite chegar e logo se colocou de pé, mais determinado do que antes. 

Ele colocou o celular no bolso depois de checar mais uma mensagem de Fuyumi, não se dando ao trabalho de responder, e então saiu de seu quarto.

Àquela hora, todos já deveriam estar dormindo, visto que o corredor até o elevador estava completamente escuro e todo o dormitório parecia silencioso.

Era melhor assim. Todoroki não queria colocar ninguém em perigo por um sentimento egoísta e desesperado seu. Aquele era um problema seu e resolveria sozinho.

Ele não acendeu nenhuma luz pelo caminho enquanto atravessava a sala compartilhada do dormitório rumo a porta de saída. Com sorte, não encontraria nenhum segurança ou professor fazendo patrulha do lado de fora e poderia escapar sem ter grandes problemas.

Mas pelo visto estava enganado...

— Onde pensa que vai sozinho, meio-a-meio idiota? — Aquela voz masculina e agressiva só podia ser de uma única pessoa.

Todoroki se virou, encontrando Bakugou mais atrás dele. E ele não estava sozinho.

— O que vocês estão fazendo aqui? — Ele perguntou surpreso olhando para Bakugou, Kirishima, Iida, Midoriya e Yaoyorozu.

— Nós vamos com você, Todoroki-kun! — Midoriya falou, parecendo decidido.

Aquilo definitivamente não era o que ele havia planejado.

— Não. Eu não vou colocar nenhum de vocês em perigo.

— Nós não estamos pedindo sua permissão. — Bakugou disse com o punho fechado — Nem pense que pode tentar me salvar e achar que não vou retribuir isso.

— Achei que você tinha dito que não tinha sido salvo por ninguém... — Kirishima comentou baixinho, sorrindo debochado.

— Eu disse que ele “tentou” me salvar! Eu me salvei sozinho, vocês só tentaram! — O outro exclamou com raiva, ganhando vários “shhh” em seguida dos amigos. Eles não podiam acordar ninguém afinal.

— Não me interessa. — Todoroki voltou a falar — Vocês não vão.

— Todoroki-san... uma vez você me disse que havia votado em mim para representante de classe porque confiava em mim e me achava capaz de fazer aquilo, — Yaoyorozu falou então, se aproximando mais dele — então peço que confie em mim novamente agora. Eu quero te ajudar.

Todoroki nunca havia visto Yaoyorozu agir de forma tão determinada antes e aquilo o surpreendeu, deixando-o momentaneamente sem palavras.

— Nós estamos com você. — Midoriya disse mais uma vez, sorrindo.

— E vamos nos assegurar de não fazermos nada estúpido como antes. — Iida completou, lançando um olhar significativo para Todoroki e Midoriya. Ele nunca mais deixaria acontecer o que aconteceu quando enfrentaram Stain.

— Da última vez, quando fomos atrás do Bakugou, por pouco não acabamos expulsos. Não sei se teremos a mesma sorte novamente — Todoroki falou por fim, mesmo sabendo que os amigos já tinham vencido aquela luta contra ele. Eles iriam acompanhá-lo de qualquer jeito.

— Na verdade... quanto a isso, não vamos ter muito problema dessa vez.

— Ahn? Como assim, Midoriya? — Kirishima quem perguntou, confuso.

— Porque vocês têm a minha autorização para partir. — Outra voz foi ouvida logo atrás de Todoroki, vindo da porta de saída.

O garoto se virou, se surpreendendo ao ver justo All Might parado bem ali.

O antigo Herói nº 1, agora com aparência mais magra e abatida, olhava para os alunos a sua frente. Somente Midoriya e Yaoyorozu não pareciam surpresos por vê-lo ali.

— All Might! — Iida exclamou em surpresa, logo assumindo sua tão familiar postura responsável e preocupada. — Mas… por que vai nos ajudar? E se nos deixar sair, irá ter problemas com o diretor também!

“Você pode ser demitido”, foi o que quis dizer, embora o risco que All Might corresse de se meter em problemas com o diretor era consideravelmente menor do que o deles se tudo desse certo. Essa era a vantagem de ser o antigo símbolo da paz.

All Might sorriu, mostrando o polegar.

— Não se preocupe com isso, meu jovem. — No entanto, logo seu sorriso se fechou e ele olhou sério para todos — Quando o jovem Midoriya pediu minha ajuda, eu não concordei. E ainda não concordo completamente com a ideia de irem sozinhos, mas sei que quando colocam algo na cabeça, ninguém pode impedi-los. Então, ficarei do lado de vocês. Mas somente se me prometerem não se meterem em encrencas. Deixem a verdadeira luta para os profissionais. Só estou permitindo a saída de vocês com essa condição.

Ele encarou cada um dos alunos, demorando segundos a mais em Todoroki, Midoriya e Iida. Cada um deles concordou com um aceno de cabeça, com Iida afirmando que tomaria conta de todos, como um bom representante de turma deveria fazer.

 

•••

 

Sair da escola não foi tão difícil depois de encontrar All Might.

Todoroki tinha a suspeita de que Aizawa deixaria os guardas não só do prédio da Heights Alliance em alerta, mas como também os guardas do portão principal da escola para uma possível fuga dos alunos da turma 1-A.

Aizawa os conhecia muito bem, afinal.

Mas com All Might os encobrindo e com Midoriya e Yaoyorozu sempre um passo à frente, observando os guardas e buscando por pontos cegos, eles conseguiram escapar sem maiores dificuldades, se afastando o máximo o possível da escola a passos rápidos e determinados.

E assim continuaram, caminhando o mais silenciosamente o possível pelas ruas escuras, evitando pontos muito iluminados e principalmente evitando chamar a atenção de alguém pelas ruas que, graças a hora, estavam mais desertas do que costumavam ficar durante o dia.

— Todoroki-san, espera — Yaoyorozu chamou o garoto de repente, parando de andar. 

Ele logo parou também, olhando confuso para ela enquanto os outros paravam um pouco mais a frente ao perceber que eles estavam ficando para trás.

— O que foi?

Ela ergueu o braço se concentrando ali por um instante e logo sua pele começou a brilhar. Segundos depois Momo pegou um simples boné preto feito com sua peculiaridade.

— É melhor você colocar isso — Ela ergueu o boné para ele então — Nós já nos vestimos para não chamar muita atenção, mas o seu cabelo pode acabar te entregando.

— Ah... — Todoroki murmurou, pegando o boné das mãos da garota e colocando-o — Certo.

Ela observou o cabelo dele sendo escondido pelo boné e mordeu os lábios, erguendo sua mão hesitantemente na direção de Shouto ajudando-o a ajeitar alguns fios de cabelo que ficavam a frente mais à mostra, escondendo-os.

Todoroki, embora surpreso, permaneceu quieto enquanto a garota o ajudava. E quando ela se afastou, ele a encarou ainda sem se mover.

— Obrigado, Yaoyorozu.

E a forma como falou era séria, porém com uma carga de emoção a mais do que tudo que havia dito mais cedo para os amigos.

Ele realmente estava agradecido dela estar ali ajudando-o. Todoroki sabia o quanto a garota prezava não desobedecer as regras, não cometer atos irresponsáveis ou algo do tipo. Ela era a vice representante de turma por um motivo, afinal.

Por isso, estar ali ajudando-o em algo assim sem que alguém a obrigasse fazia com que Todoroki se sentisse ainda mais grato.

Ele confiava em Yaoyorozu e tinha plena convicção em sua capacidade. Se ela estava ali, significava que não o deixaria sozinho e se esforçaria para não colocar ninguém em perigo.

E por isso, por todo seu esforço e dedicação, não só para com ele, mas também para com seus amigos, Todoroki era sim muito grato.

— Já acabaram de perder tempo? Podemos ir agora? — Bakugou exclamou de repente um pouco mais a frente, chamando a atenção dos dois que até então estavam se encarando em silêncio sem nem perceberem isso.

Eles pareceram despertar da momentânea distração, voltando a caminhar a passos apressados.

— Estamos indo para a estação de trem, certo? Kyushu é muito longe daqui. — Todoroki perguntou depois de um tempo, notando que seus amigos já haviam planejado toda a rota deles antes mesmo do garoto.

— Sim, tem um trem que sairá meia noite — Iida respondeu, ajeitando seus óculos — Se formos rápido, conseguiremos pegá-lo, se não, teremos que esperar até amanhã.

— Poderíamos usar o avião particular da minha família, mas temo que até chegar lá já possam ter notado nosso desaparecimento...

— E isso te deixaria em mais encrencas ainda, Yaoyorozu-san — Midoriya completou enquanto Kirishima exclamava algo como "um avião particular?!".

Ela não respondeu de imediato, continuando a andar a passos apressados junto com os garotos, mas logo Todoroki pôde ouvi-la ao seu lado, dizer de modo baixo e mais para si mesma do que para eles.

— Nós temos problemas maiores no momento para me preocupar com as broncas que posso levar depois...

E nisso, Todoroki não pode deixar de concordar.

Sua maior preocupação agora era seu pai e o estado em que ele se encontrava. Depois que conseguisse encontrá-lo e garantir que não estava morto, só então ele se permitiria ficar preocupado com coisas menores como os problemas que poderia ter se metido por sair da escola daquele jeito.

Além do mais, tinha que confiar na solução que aparecera mais cedo.

Tinha que confiar que All Might os ajudaria.

Mesmo sem saber como Midoriya conseguiu com que o antigo herói n.º 1 os ajudasse daquela forma.

 

•••

 

Horas antes...

— Jovem Midoriya, o que faz aqui? — All Might perguntou ao ver o garoto bater timidamente na porta da sala dos professores.

— Eu… preciso falar com você, All Might. — Ele murmurou, agradecendo por perceber que Aizawa não se encontrava na sala junto dos demais. — A sós.

All Might se levantou, sentindo que o que quer que o garoto fosse falar com ele, o assunto deveria ser sério.

E enquanto Midoriya guiava o antigo herói nº 1 para algum corredor afastado da escola, ele não deixava de pensar sobre a conversa que tivera com Yaoyorozu logo depois de Todoroki subir para seu quarto.

— Yaoyorozu-san, algum problema? — Midoriya perguntou quando Momo o chamou para conversar separadamente dos outros alunos, ganhando olhares curiosos não só de Uraraka, como também de Bakugou, Kirishima e Iida, estes últimos já imaginando que a garota poderia estar pensando em algum plano para ajudar Todoroki.

Yaoyorozu olhou séria para Midoriya, que engoliu em seco, percebendo que o assunto realmente era sobre Todoroki.

— Sei que você planeja se juntar ao Todoroki-san para procurar pelo pai dele mais tarde. — Ela foi curta, direto ao ponto.

— O-O que está dizendo? Eu… — Midoriya exclamou, nervoso, mas desistiu de tentar disfarçar conforme via a expressão no rosto dela. Quem estava querendo enganar, afinal? Era óbvio aquilo. — B-bem… eu não posso deixá-lo ir sozinho.

— Isso é bom — Yaomomo falou, fazendo o garoto olhar surpreso para ela. — Porque eu também vou com vocês. E já tenho um plano para nos ajudar a escapar da escola, só que preciso da sua ajuda para isso.

Midoriya sabia que ela se importava com o amigo, mas não imaginava que Yaoyorozu fosse se juntar aos dois tão facilmente assim, e muito menos surgir com aquele plano para eles.

Ela era inteligente, disso não restava dúvidas, mas o fato de perceber que Midoriya e All Might eram próximos e tirar uma vantagem disso foi realmente surpreendente.

Ele agora só precisava fazer a sua parte. Se conseguisse a cooperação de All Might, seria mais fácil para saírem dali e de fato conseguirem ir atrás de Endeavor.

Foi pensando nisso que Midoriya finalmente parou em um corredor silencioso e afastado de qualquer olhar curioso, seja de professor ou aluno.

Ele fechou os olhos por alguns segundos, reunindo coragem. Não era hora para o Midoriya-fã-do-All-Might agir, era hora de falar sério e deixar a admiração de lado.

Abrindo os olhos e cheio de determinação, Midoriya decidiu ir direto ao ponto.

— Eu preciso da sua ajuda para sair da escola mais tarde.

All Might piscou uma. Duas. Três vezes. Ele esperou que Midoriya falasse mais alguma coisa, principalmente algo como “brincadeira, achou que era sério?” ou algo do tipo, mas nada veio em seguida.

Então sua reação foi a única esperada quando viu que o garoto realmente falava sério.

— O que?! — Exclamou mais alto do que pretendia, automaticamente cuspindo um pouco de sangue em seguida. Agora tinha entendido porque Midoriya o guiou até um lugar completamente vazio para dizer aquilo.

Mas Izuku continuou com um olhar determinado e sério para o homem que admirava. Com os punhos fechados ao lado do corpo e expressão séria em seu rosto, ele começou a explicar.

— Eu sei que Todoroki-kun vai fugir para tentar encontrar Endeavor, e não há nada que posso fazer para impedi-lo, então vou com ele e estou pedindo a sua ajuda para conseguir sair daqui sem que ninguém suspeite!

— Você… Não pode estar falando sério, jovem — All Might disse agora com a voz mais controlada, mas não menos surpreso. Desde quando Midoriya falava de modo tão decidido assim com ele…? E aquele pedido?! Aquele pedido era simplesmente absurdo! — Não há como eu, um professor, te dar autorização para sair atrás de vilões perigosos assim…

— Não estou pedindo autorização para o meu professor — Midoriya interrompeu — Estou pedindo ajuda do antigo portador do One For All para me ajudar a salvar o pai do meu amigo.

All Might suspirou, sem saber o que dizer e quanto mais pensar sobre aquilo.

Quando Gran Torino disse que Midoriya Izuku era igual a ele quando era mais novo, All Might riu e achou que era até mesmo uma coisa boa, mas agora ele entendia ao que seu antigo professor se referia. Midoriya tinha o mesmo ar heróico e por vezes imprudente que All Might sempre teve.

Aquele espírito de herói que estava pronto para ajudar todos em qualquer momento, sem se importar com mais nada a sua volta.

Aquilo era algo bom, claro.

Mas não deixava de ser algo perigoso também. E era aí que a preocupação de All Might se encontrava.

Ele olhou mais uma vez para o garoto a sua frente que não havia se movido nem um centímetro, permanecendo com o mesmo rosto impassível e postura determinada. Ele estava de fato disposto a fazer aquilo.

All Might conhecia aquele olhar. E imediatamente soube que mesmo que negasse e tentasse prender Midoriya em seu quarto do dormitório, o jovem conseguiria dar um jeito de escapar e ir de encontro ao jovem Todoroki que precisava de ajuda.

All Might sabia, pois, quando mais novo, já o trancaram em uma sala para não sair sendo um herói imprudente e ele simplesmente quebrou a parede e fugiu mesmo assim. Gran Torino quase o matou quando descobriu mais tarde.

— Eu não concordo com isso. — Finalmente disse para Midoriya, que estava em silêncio até então, esperando por uma resposta sua. A expressão do garoto não se alterou e All Might quase riu disso. Era realmente como ver uma imagem sua do passado. — Mas, sei que você vai seguir adiante com ou sem a minha ajuda. — Ele continuou e Midoriya confirmou com a cabeça. — Então… apesar de não concordar, eu vou te ajudar. Não como professor, mas como seu mentor.

Porque ele deveria orientar o futuro símbolo da paz, ele deveria orientar Midoriya a seguir um caminho de herói, mesmo que corresse perigo nessa empreitada.

— Mas só vou ajudar se você me prometer que se a situação ficar séria, você vai procurar ajuda. — Ele disse, no fundo sabendo que Midoriya poderia não ter tempo de evitar uma luta séria. Era um risco, mas ainda assim…

— Eu prometo. — Midoriya não hesitou em responder. — Não vamos nos arriscar demais, quanto a isso não se preocupe, All Might.

A experiência de lutar contra Stain havia ensinado a Midoriya isso. Ele não se arriscaria além do necessário dessa vez, e não deixaria Todoroki fazer o mesmo.

— Além do mais, não será só eu que irá com Todoroki-kun procurar por Endeavor, Yaoyorozu-san também vai… Ah, e provavelmente Iida-kun também! Aliás, isso me lembra que o Kacchan parecia desconfiado, então ele pode querer ir conosco… E o Kirishima-kun...

E enquanto Midoriya continuava a falar sem parar, All Might cuspiu sangue de novo com a nova informação, logo elevando sua voz em tom surpreso:

— O que?!


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