Mais uma chance escrita por Sereia de Água Doce


Capítulo 29
Vinte e nove




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A música estreou oficialmente nas rádios na sexta pela manhã, e tinha sido uma comoção. Enquanto Bia, Shizuko, Pedrinho e Julie tinham ido para a loja de discos para ouvirem o lançamento com Félix e Martin, Daniel tinha escutado na loja de instrumentos com seu chefe estourando outro confete em seus ouvidos após os elogios do apresentador. Mas…. porque o single estava tocando pela quarta vez em duas horas? Achando ter sido algum problema no disco de reprodução, Julie teve uma queda de pressão quando no final da tarde Rick ligou para o seu celular quase histérico, informando que a música tinha ficado no top 3 do dia de pelo menos CINCO ESTAÇÕES DE RÁDIO!

Martin foi mas rápido e conseguiu pegá-la antes que ela batesse com a cabeça no chão, enquanto Félix assumia o telefone - tendo a mesma queda de pressão que a garota, sendo acudido por Bia e Shizuko, que não tiveram a mesma força que o baixista e deixando ele bater com as costas no chão.

—Você tá legal, Félix?! - Bia se ajoelhou ao seu lado preocupada.

—Eu ouvi isso mesmo que eu ouvi? - Ele perguntou se apoiando na amiga para se levantar.

—Bem, eu não sei o que você ouviu, mas provavelmente sim.

Aquela posição logo na estreia era uma coisa boa, muito boa! Quando a segunda chegou, Rick apresentou os dados do final de semana e tudo indicava que precisavam produzir o clipe oficial o mais rápido possível - e enquanto ele ainda não estava disponível, as visualizações do feito independentemente só cresciam.

Eles precisaram apenas de uma rápida reunião para discutirem o conceito do clipe, já que Rick tinha passado a maior parte do final de semana imaginando tudo. Para começar, trabalhariam com a apresentação dos garotos no festival. Se eles se apresentaram como fantasmas, usariam aquele conceito, e se a própria banda fazia referência a algo que é anormal, seria aquilo.

Os Insólitos teriam caça fantasmas em seu primeiro clipe.

—Você tá de brincadeira, não é garoto? - Daniel tinha sido o primeiro a se opor. Não tinham passado por tudo para ainda serem fantasmas no final.

—A culpa não é minha se você se apresentou assim no festival do Peche. Vão lembrar automaticamente disso quando estrearem, temos as gravações de todas as apresentações, inclusive! Podemos usar isso como divulgação do antes e depois.

—E como seria isso? - Martin tentava entender o conceito.

—É bem simples! Colocamos uma casa velha, empoeirada, bem estereotipada mesmo. Julie tenta fazer contato e vocês aparecem de máscaras respondendo a ela, e temos a banda no final.

—Só tem um problema nisso tudo: o único cara que conhecemos que morava em uma casa velha e empoeirada foi quem trouxe a gente de volta, então não acho que seria uma boa brincar com ele agora. - Félix ponderou. - Porque não gravamos aqui? Faz mais sentido os músicos fantasmas assombrarem uma loja de instrumentos ou uma gravadora do que uma casa.

—Quem assombraria uma loja de instrumentos?! - Rick estranhou.

Todos apontaram para Daniel, que fazia uma cara feia.

—Cara, você leva a música a sério demais….

—O que faz de mim um bom profissional, eu acho.

No final do dia todos estavam de acordo com o roteiro do clipe, marcando a gravação para o final de tarde do dia seguinte. Por ser uma situação atípica, todos os compromissos foram cancelados, estando presentes apenas o pessoal indispensável no prédio.

Pessoal indispensável e Manu Gavassi, que insistiu em ficar para ver a gravação do clipe do seu amigo. Se ela iria ficar, teria que ajudar - logo sendo transformada em mais um fantasma, aquele que de fato assombraria o local, com os rapazes apenas salvando Julie e formando uma banda.

Mas se Ruth podia brincar, Raquel também podia!

Enquanto Félix e Martin ficavam assombrados em como Manu caracterizada ficava idêntica a Débora, a fantasma pairava no ambiente, assustando Martin quando ele se virou para o lado. Demorou, mas a antiga colega de escola entendeu que poderia interagir com eles apenas durante a gravação, mas jamais com Manu.

Eles começaram a gravar por volta das 16h, seguindo um roteiro:

Eu sei, que o tempo não para

Mas não me esqueço de nada

Está em mim, espero que esteja em você

Tudo o que posso dizer

Julie começava a percorrer os corredores escuros da gravadora, munida com uma lanterna e um gravador em suas mãos. Apesar do áudio estar cortado, ela foi instruída a simular uma tentativa de contato com o sobrenatural, o que não foi um problema para ela.

—Tem alguém aqui? Pode me falar quem são vocês e o que estão fazendo na minha casa?

—Nós somos músicos, e você nos libertou do nosso disco- Daniel não aguentou, respondendo aos apelos da garota por trás das câmeras.

Julie não esperava receber uma resposta, com sua expressão de espanto sendo genuína.

—E para onde vão agora? Vão ficar por aqui?

—Não temos outro lugar para ir.

—Mas como vou saber que não estão me olhando quando eu estiver me trocando?

—Aí você vai ter que confiar na gente.

A produção armou para os aparelhos em sua mão tocarem como se fossem respostas - ao menos achavam que tinham sido eles, quando na verdade a presença de Débora bem a frente de Julie levava à loucura os medidores.

É que aprendi a sentir cada dia

Ganhar, perder, o que importa é estar viva

E desistir não é opção pra ninguém

A hora certa sempre vem

A próxima cena estrelaria os primeiros sinais de assombração, com Manu aparecendo montada.

—Você não precisa fazer uma expressão de susto, a sua simples presença já deve ser o suficiente para causar espanto. - Félix ajudou, mas como poderia explicar para ela dicas de assombração?

A participação dela foi rápida: um jogo de luz e sombras, reflexos e muito nylon puxando e atirando coisas no chão, com Julie se assustando e correndo e sendo perseguida por ela - mas cá entre nós, os frames capturados de Débora ficaram muito mais incríveis e realistas do que a cantora.

Fecho os meus olhos e ouço a sua voz

E de repente não estou sozinha, vamos nós

Não sei se é normal

Mas sei que essa é minha vida e ponto final

No meu coração

Eu ouço toques invisíveis me dizendo a direção

E então os três mascarados surgiam! Com muitos efeitos especiais, eles brotaram bem a sua frente, com um pouco do áudio vazando - e com ele instruções para cuidar de Manu.

—EU SEGURO ELA! - A raposa gritou segurando a fantasma enquanto a ovelha e a vaca corriam com a caçadora.

—Acho que estamos fazendo um excelente trabalho. - Félix sussurrou para Manu, que tentava escapar do seu abraço.

O que não faria muito sentido, já que na edição não passaria de uma explosão de luz.

—Prefiro vocês sem as máscaras. São mesmo necessárias?

—É uma longa história, mas são a nossa marca registrada. Daniel já arrumou muita confusão com Rick sobre elas, por isso ninguém mais as questiona.

—Mas como vão fazer campanhas publicitárias assim? Vender a sua marca?

—Da mesma maneira que o comercial de Toddy faz. É tipo a Hannah Montana, temos o melhor dos dois mundos: a fama e a privacidade. - Félix disparou a tagarelar, ainda abraçando Manu, sequer percebendo que as câmeras já haviam saído do enquadramento.

Fingir pra quê?

Fugir da verdade

Dizer que não sinto saudade

O que passou, deixou uma história em mim

Mas que está longe do fim

Enquanto Félix tentava conter Manu, Daniel e Martin escondiam Julie em uma sala escura, com ela tentando contato com eles. Enquanto Martin tinha problemas de comunicação e ficava instável, Daniel era quem mais conseguia se manter visível, deixando, se comunicando mais pelos aparelhos de medição eletromagnética do que pela voz.

Quando o diretor pediu que fizessem uma cena onde eles tentavam se tocar mas não conseguiam, demoraram alguns takes para fazerem a  expressão certa, já que mais riam em uma piada particular do que conseguiam se manter no personagem.

Mas ao contrário das suas lembranças, o contato foi finalizado pela aparição de Manu, fazendo com que os dois fantasmas ficassem para trás protegendo a garota enquanto ela fugia mais uma vez.

Agora eu vejo as luzes no horizonte

E sei onde posso chegar

Tudo valeu sim, tudo que senti

Nada pode apagar

Julie então conseguiu abrigo em um estúdio abandonado, que tal como a música apenas tinha suas luzes ligadas. Curiosa, ela foi até um dos microfones centrais, cantando o restante da música, com os fantasmas brotando ao seu lado e a acompanhando - assim como acontecia em um universo paralelo com a desculpa de serem hologramas.

Rick tinha decidido que durante a edição intercalariam partes do show no festival com as gravadas no estúdio, mostrando que eles tinham ido para a frente.

—____________

Trabalhando a todo vapor, a edição do MV ficou pronta na quinta à tarde, com Rick enviando por e-mail para eles primeiro, anunciando que a estreia aconteceria no dia seguinte no horário de pico da MTV e da Mix TV.

—Aquela era a Débora?! - Julie se surpreendeu ao telefone com Martin.

—E eu não sei como ninguém percebeu durante a gravação!

E aquilo era verdade, embora Manu não se lembrasse de ter gravado tantas cenas, era impossível de ter um clone seu a ajudando. Félix levou um susto ao notar as duas contracenando juntas, imerso em pensamentos e lembranças, mas logo voltando à realidade.

O lançamento tinha sido outro sucesso! Com recorde de audiência nos dois canais, as visualizações no clipe independente e no lançamento triplicaram em questão de horas! Mais e mais pedidos de direitos autorais chegavam para a gravadora, assim como permissão para uso do videoclipe e pedidos para entrevistas.

O êxito deles tinha sido tão grande que o primeiro pagamento veio mais do que gordo - um misto de direitos autorais pela composição das músicas e porcentagem em cima do que ganharam apenas naquele primeiro mês - e ainda nem tinham começado os cachês!

Embora a meta dos rapazes fosse o apartamento, os três se reuniram e fizeram o que tinham mais necessidade no momento: ficaram comunicáveis com o mundo, comprando três celulares. Não eram os mais modernos, mas tinham tecnologia o suficiente para trocarem mensagens e entrarem na internet.

Nem Julie, Shizuko ou Manu teriam sossego agora.

A Apolo 81 finalmente estava on.


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