Problema complicado, solução simples escrita por Bianca Lupin Black


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Obrigada à Esmeralda, ThaísRomanoff e AnneSalvatore pelos comentários no capítulo anterior! Seus comentários são um presente para mim, sério!
Espero que gostem.



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As pernas de Julie a levaram para uma maratona ao redor da casa. Era o primeiro jogo da temporada, a escola inteira assistiria. Ainda eram onze horas e o baú de Rose já estava revirado.

Talvez a camiseta azul fosse uma boa escolha, já que combinava com as cores do time. Mas as temperaturas começavam a baixar, então os shorts e regatas ficariam no armário, à espera de uma tarde abafada. A blusa branca de mangas compridas a manteria a salvo de um resfriado e levantava a bandeira do espírito escolar.

“Julie?”, disse Ray. “Os meninos estão chamando para ensaiar.”

“Eu já vou!”

Pegou maquiagem e o celular e enfiou na bolsa. Luke esperava no portão.

“Você está bonita.”

“Oh. Obrigada”, Julie abriu seu sorriso de covinhas.

No canto da sala, roupas por passar se acumulavam. Provavelmente Minecraft, fanfics e composições tinham a ver com isso.

Alex atacava a bateria sem dó. Reggie dançava freneticamente, dedilhando o baixo.

“Oi, Julie”, disseram. “Oi, namorado da Julie.”

Segurando – mas não muito – a gargalhada, Julie sentou na cadeira, murmurando com a melodia a qual Luke logo se juntou com voz e guitarra.

“Que harmonia...”, Luke olhou para a banda.

“Perfeita”, Julie olhou para ele.

Os olhos de Luke eram grandes, atraentes e marrons. O destino de viajantes em busca de conforto e horizontes magníficos. Ele fez anotações sobre o que acabaram de tocar. Sua testa ganhava uma marquinha bem no meio quando ele escrevia, encurvado para proteger suas ideias das ameaças físicas – provavelmente Reggie com qualquer coisa molhada.

Apesar da posição certamente prejudicial em que Luke se encontrava, Julie conseguiu entender uma frase – considerando a caligrafia dele, era uma vitória e tanto. A mão dele ficava tão bonita segurando a caneta que ela queria tirar uma foto, postar no Instagram e depois emoldurar.

“Ela também precisa de um babador”, disse Reggie, fingindo um cochicho. Alex caiu na risada.

“Calem a boca!”

“Você deveria ser mais gentil”, Luke imitou a voz dela. “Eles só querem o seu bem.”

Uma pequena discussão explodiu. Alex e Reggie assistiam como se fosse uma partida de tênis, suas cabeças seguiam os sons e os gestos.

“Devíamos pará-los?”

“Devíamos fazer pipoca”, Reggie deu de ombros. “Algo me diz que ainda veremos muitas cenas como essa.”

O ensaio durou uma hora e quarenta. Julie agitava um público invisível, mas seus olhos permaneciam voltados para a banda, no espaço entre o baterista e o baixista.

No último acorde, Luke declarou que era hora de ir. Quando viu a cara de Alex, Ray abriu todas as janelas do carro.

O sol brilhava o bastante para garantir que não choveria. Os jogadores chegavam aos pouquinhos durante a montagem do equipamento. Um deles, loiro e baixinho, passou por ali – com o olhar concentrado em apenas um dos membros da banda – para dizer que gostara do vídeo.

“Ele gosta de você”, Alex comentou baixinho, preparando a mesa de som com Julie.

“Quem? Nick? Ele mal fala comigo.”

“Nesse caso, tenha cuidado. Ele não parece ser um cara babaca, mas esses são os mais perigosos.”

“Um deles já partiu seu coração?”, ela o fitou, plugando um cabo de microfone.

“Não. Eu costumava ser assim. Sei como é precisar de atenção para se sentir válido. Não é uma vida boa.”

Julie assentiu, desenrolando o cabo da guitarra.

“Valeu por se preocupar, Alex”, ele retribuiu com uma piscadinha.

“Por falar em preocupação, posso te usar como contato de emergência caso meu encontro não dê certo? Os garotos vão capotar assim que acabarmos aqui.”

“Meu garotinho tem um encontro? Quero que me conte tudo depois.”

“Pode contar com isso”, ele abriu a bolsa do tambor.

Dando batidinhas no microfone, ela riu. Descendo os dedos pelo encordoamento, Luke iniciou a passagem de som. Animaram os espectadores que lotavam as arquibancadas.

Se não fosse o banquinho da bateria, nem Alex ficaria parado. Reggie e Julie pulavam como bonecos de mola. Os meninos faziam floreios com os instrumentos. Julie balançava os braços e a plateia fazia o mesmo com os celulares, capturando gols e músicas.

Manter o olhar longe do atacante foi mais difícil para Alex do que não beliscar um bolinho de chocolate recém-saído do forno logo de manhã, com aquele aroma doce que circulava por toda a loja. Por um microssegundo, ele percebeu como o garoto acenava para a arquibancada após ter marcado. Apesar da diferença de altura, Alex se via – até demais – nele.

De orelhas quentes, voltou a prestar atenção nas baquetas. Não que fosse necessário. Então, ergueu o olhar para Julie. Luke tinha razão, a garota era um imã e disputava o centro das atenções pau-a-pau com os minutos finais da partida.

Era de conhecimento geral que o time da LFH tinha jogadores melhores e estava acabando com a equipe visitante. A vitória foi confirmada por um gol de Nick – que o goleiro tinha total capacidade de impedir, de acordo com a opinião de Reggie – e a banda comemorou aumentando o volume ao máximo, ouvindo os pedidos entusiasmados.

O corpo de Reggie inflou de alegria ao ouvir alguém pedir um country da Taylor Swift, e ele gritou de volta:

“Eu nem te conheço, mas já sou seu amigo!”

Em seguida, uma garota pediu que tocassem “aquela da live”.

“A que eu mostrei no porão”, Julie explicou para um Luke com cara de ponto de interrogação.

Alex e Reggie abandonaram seus postos para assistir à performance ao lado de Flynn. Luke sentou na beirada do palco com o violão, no ângulo perfeito para olhar Julie.

A plateia fazia coro em alguns trechos, surpreendendo a vocalista. O vídeo fora ao ar no meio da madrugada! Como tantas pessoas sabiam a letra?

“Obrigado por virem”, disse Luke. “Nós somos a Sunset Curve.

“Contem pra geral!”, Julie o interrompe.

“E esta cantora incrível ao meu lado é Julie Molina.”

“Vocês foram uma plateia maravilhosa”, Alex berrou.

A multidão se dispersou, os instrumentos foram guardados e Alex se despediu, dizendo que chegaria em casa um pouco mais tarde.

“Tome cuidado”, gritou Reggie, causando uma revirada de olhos coletiva. “Quê? Eu sou um amigo preocupado.”

“Sei”, Luke apoiou o case da guitarra nas costas. “Eu preciso de um banho.”

“Dois”, Julie andava como se as bolsas da bateria fossem sacolas de compras. “Eu preciso dormir”, reclamou quando carregam tudo de volta ao porão.

“Bons sonhos”, Luke desejou.

“Sonhe comigo”, ela se esticou para beijá-lo na bochecha antes de atravessar a rua. “Boa noite, Reggie!”, eles acenaram enquanto ela caminhava pelo corredor externo.

Luke passeou um pouco pelas redes sociais de Julie e descobriu que havia uma multidão digital acompanhando-a onde quer que fosse. A atividade mais recente foi uma transmissão ao vivo da canção chamada Wake up.

Na noite no porão, Luke encontrou o poema mais bonito que seus olhos tiveram o privilégio de ler. E agora, ele descobria que além de tocar piano muito bem, ela sabia tocar a alma de quem a ouvisse. Queria pular o muro da casa dela e agradecer pelo que a música dela o fez sentir.

Julie acordou com o chiar do carvão. Num salto, passou na cozinha para o café da manhã. Carlos pediu que ela o ajudasse a treinar enquanto o almoço não ficava pronto.

“Seu vídeo está bombando”, ele comentou na sexta rebatida.

“A banda é realmente boa. Eles merecem”, ela jogou a bola.

“Com certeza, mas eu estava falando do seu vídeo de ontem. Tem quase dez mil visualizações.”

A bola caiu no gramado. Julie precisava ficar de olho em suas contas. A chegada de Victoria distraiu o caçula, dando a Julie tempo para abrir seu perfil no Instagram. Alguém chamado M enviou uma mensagem, queria confirmar se era ela no clipe da Sunset Curve. Respondeu que sim e perguntou em que poderia ajudá-lo.

Enquanto a sobrinha recebia elogios da tia, a família pôde ouvir vozes conhecidas chorando sobre o gás acabado.

“Seus filhos estão no portão”, Carlos beliscou uma batatinha assada.

“Você abre?”, Ray pediu, olhando para a garota.

“Por que não damos uma cópia da chave para eles?”, ela sugeriu ao passar por uma confusa Victoria.

Os braços cruzados e cenho franzido de Reggie, somados a um olhar torto direcionado a Luke contavam a história do botijão vazio. O rosto calmo de Alex deixava claro tudo o que aconteceu na noite anterior.

Mudo, Reggie achou um lugar para assistir Ray virando espetinhos na churrasqueira sem parar. Luke foi de bom grado ajudar Carlos com os arremessos. Alex agarrou a mão de Julie e a rebocou até a garagem.

“E então? Como foi?”

Alex deu um gritinho, jogando-se na cama para poder balançar as pernas no ar.

"Ele é tão fofo!"

“Conte tudo! Eu estou curiosa.”

Alex respirou fundo e começou a contar.


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