O Segredo de Pendragon escrita por Dandy Brandão


Capítulo 15
Capítulo 14 - Palavras Necessárias




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Capítulo 14 – Palavras necessárias

Reino de Corbeau, início da noite

 

“Você nunca mais ouse se arriscar assim na minha frente. Nunca mais!” A frase de Aisha ecoou entre o rei e o duque. A moça não precisou comentar sobre as roupas molhadas de Valkyon, apenas o olhar dela sobre as vestes do rei foi o suficiente e, antes mesmo dele falar qualquer desculpa ou falar sobre sua descoberta, ela soltou o braço dele, olhando bem em seus olhos, dizendo:

 “Conversamos mais tarde.”  

E Valkyon acatou a decisão dela. De certa forma, já sabia o que a moça tinha a lhe dizer.

Mesmo depois daquelas descobertas, por mais que estivesse ansioso, Valkyon seguiu com os protocolos e fez uma breve visita ao rei Dhiego de Corbeau no período da tarde. O jovem teve um leve receio de que Aisha estivesse indisposta a acompanhá-lo, mas, ao contrário: a moça soltou os cachos, arrumou-se com suas joias, um belo vestido azul-turquesa, e acompanhou-o sem citar qualquer coisa que aconteceu mais cedo, como se tivesse esquecido do fato.  Ela até mesmo parecia mais aberta a conversar com o duque Zayin, que também seguiu com eles.

Os três foram prestar as devidas honras ao rei, aproveitando para reforçar a amizade preservada entre os dois reinos durante anos. O jovem rei ainda estava se adaptando àquela posição, então fazer visitas e estabelecer parcerias era importante para um bom reinado.

O rei Dhiego era um homem já de meia-idade, esguio, a pele escura como obsidiana, de estatura um pouco mais baixa que o jovem rei. Ele os recebeu gentilmente,  já tinha uma relação cordial com a rainha Tia e esteve presente nas principais cerimônias no reino de Pendragon, fez questão de falar sobre esses bons momentos e, também, prestar condolências pela morte de Valarian. Mal sabia o rei que Valkyon estava naquele lugar justamente para saber se aquele fato era real ou não... Mas o rei de Pendragon não citou aquele fato a Dhiego. Apenas disse que estava de passagem e que estava hospedado no castelo do Duque Zayin... Este que se mostrava bastante amigo do rei de Corbeau, o que não era incomum e, na verdade, beneficiou-os, pois o rei não o questionou muito sobre sua estada no reino.

Eles se acomodaram na sala de visitas, recheada de quadros com obras pertencentes à família Corbeau e passaram algumas poucas horas ali, conversando sobre a situação de seus próprios reinos, de locais vizinhos e rememorando histórias de Pendragon...

— A rainha Tia era uma grande governante, lembro bastante de sua coroação, o quanto ela foi forte em assumir o reino em condições tão nefastas. — o rei Dhiego respirou fundo antes de continuar e todos os três, o rei, a princesa e o duque, estavam atentos às suas palavras. Valkyon em especial, já que tanto amava Tia.  — Primos dela de Mainyu não acreditavam em sua potência e, eu acredito bem... Que eles até tentariam roubar o trono de sua mãe.   

Aquilo não foi uma surpresa para nenhum deles. Aisha, aproveitando a deixa, perguntou:

— Por quais motivos, majestade? — Ela já sabia bem, mas queria que alguém dissesse em alto e bom som.

— Ah, minha querida... Eles são meus vizinhos, escute bem o que eu digo. — ele se inclinou para frente e esticou um dedo o rosto dos três. Os olhos escuros de Dhiego se estreitaram — Não mexa com as cobras de cabeças de fogo. Eles disputam poder mágico e, quanto mais forte, maior influência política se ganha naquele reino. Até hoje tenho minhas dúvidas sobre como o Ahriman conseguiu poderes... O método tradicional de descendência de linhagem não foi.

A pergunta que Zayin fez mais cedo piscou na mente de Valkyon: “Você nunca parou para se perguntar por que sua família, por mais que se unissem com eminentes feiticeiros, nunca conseguiu desenvolver uma linhagem mágica?”

Quando respondeu que sua família não gerava feiticeiros, ele esqueceu daquele ser de cabelos vermelhos e olhos de fogo que esbanjava um poder, mesmo sem ser um grande feiticeiro.  

Mas o jovem rei não teve muito tempo para pensar sobre o assunto...

 — Aquela família ali é um caos. — continuou Dhiego — Não confiam, nem são leais a ninguém. Eles têm um espírito muito diferente dos Pendragon. Peço perdão pela indiscrição, majestade, mas me sinto na obrigação de avisá-lo. Você é novo e está iniciando o seu reinado, não quero que se deixe enganar por eles.

Ele voltou ao seu lugar na poltrona acolchoada.

— Eu o agradeço pelo aviso, majestade. — ele curvou a cabeça levemente, e questionou a si mesmo se Dhiego sabia sobre a estada de Ahriman em Pendragon.

Ele trocou um olhar atento com Aisha e, no profundo escuro dos olhos dela, estava ciente de que a moça queria acrescentar algumas palavras ao pequeno discurso do rei de Corbeau, o que não demoraria muito a acontecer.

 

Ao cair da noite, depois do jantar, Zayin e Sig preparavam as soluções alquímicas necessárias para verificar os fios de cabelos encontrados e, enquanto isso, Valkyon recebeu um pequeno recado para encontrar-se com Aisha na estufa do castelo. Ele ainda não tinha explorado muito do local – em verdade, Valkyon pouco teve tempo de visualizar as dependências daquele castelo, mas achou uma boa oportunidade para conhecer.

Ele foi acompanhado por um mordomo muito reservado, que o deixou em um corredor grande e iluminado pela luz da lua. Enquanto caminhava, aos poucos sentiu o cheiro de flores e, ao fundo, quanto mais seguiu pelo longo corredor, visualizou que a estufa era uma grande estrutura de vidro transparente, coberta por folhas e rosas vermelhas por todos os lados.

Porém, antes mesmo de chegar até lá, escutou duas vozes a conversar:

“Seu mestre é muito bom para você, Sig. Te presentear com essa estufa enorme, com todos os tipos de flores e ervas.”  a voz era de Aisha, eloquente e polida como de costume.

“Ah, sim...” Sig aparentava estar tímido, sua voz estava mais baixa, no entanto, perfeitamente audível de onde Valkyon estava. Ele continuou a andar, em um ritmo mais lento, sem querer atrapalhá-los. “Ele me acolheu quando eu não tinha mais ninguém. Sem o mestre Zayin, eu não teria nada. Nem ninguém. Sua alteza entende isso.”

Valkyon parou de repente e, quis, por um instante, ver a reação de Aisha.

“Eu... Eu entendo bem.” A voz dela se alterou um pouco, meio estremecida por apenas alguns instantes, mas logo volto a eloquência de antes. “Ele é sua família, sua única família.”

“Desculpe se a deixei desconfortável... Eu...”

Valkyon andou mais alguns passos e logo o barulho de suas botas pôde ser escutado pelos dois, que pararam de falar de imediato.

Assim que Sig notou quem era, tratou de se explicar:

— Eu... Hã... Vim buscar algumas ervas para as soluções. Vou voltar ao trabalho, majestade” ele se curvou rapidamente e saiu com uma pequena cesta cheia de ervas desconhecidas ao rei. Valkyon mal teve tempo de lhe responder.

— Acho que aqui podemos conversar com mais leveza... — Aisha sorriu, mesmo que de forma discreta. Valkyon olhou ao redor, as plantas enveredam pela cristalinidade do vidro, as rosas vermelhas formam um cinturão que serpenteiam até o teto, como se quisessem alcançar a lua.

Realmente deixa o ambiente mais confortável para qualquer conversa.

— Você veio aqui mais cedo? — ele se aproximou da moça, cuidadoso. A princesa se sentou em um banco de madeira pintado de branco, também decorado com plantas rasteiras, esperando que ele a acompanhasse.

— Não. Eu só fiquei curiosa com o trabalho do Sig hoje à noite e quis acompanhá-lo. — ela observou os movimentos dele, enquanto Valkyon se acomodava ao seu lado — Tudo isso que eles estão preparando agora noite... Se você tem algo a me contar, diga logo.

Ele respirou fundo e baixou os olhos, sem respondê-la de imediato. Mais cedo, tinha falado sobre o fragmento, mas não citou nada sobre os fios de cabelo, até que se confirmassem ser verdadeiros. Ainda não conseguia expressar bem o que sentia ao ver aqueles fios, tão límpidos e sedosos, como se tivessem acabado de ser separados do couro cabeludo.

Ela compreendeu a hesitação do rapaz, e resolveu dar continuidade à conversa e soltar o que estava preso em sua garganta.

— Sabe, Valky... — Aisha se aproximou — Eu não fui atrás de você mais cedo, não foi por meu ferimento.

Ele voltou a olhar para ela, esperando o que estava por vir.

— Foi um motivo bem idiota, para falar a verdade. Eu fiquei magoada... — ela respirou fundo e baixou o tom de voz — E tive medo. Fiquei paralisada quando vi você entrar naquela mata escura com alguém que eu não confio, para perseguir uma criatura perigosa que provavelmente quer te fazer mal.

Valkyon, de olhos estreitos, apenas conseguiu comentar, em voz baixa:

— Você se feriu. Mesmo que de leve, poderia ficar pior se não fosse tratado logo. Você é forte, mas, naquele momento, pensei que era importante te poupar, Aish.

A voz de Valkyon estava doce e calma enquanto dizia aquelas palavras, baixando a guarda como só conseguia fazer perto da princesa. E ela também deixou vazar o que realmente sentiu:

— Mas, mais do que nunca... Quando eu te vi entrando ali, eu me lembrei... De momentos que eu realmente não queria recordar. — as mãos dela se apertaram no colo, mas a moça preservou a fala firme — Eu sei que pode ser egoísta o que digo, mas... EU — ela enfatizou a palavra — Eu quero te proteger e, da próxima vez, eu não vou paralisar.

Ela esticou o corpo para ficar mais perto dele, a lua minguante refletia na superfície dourada dos olhos de Valkyon. A mão de Aisha pousou sobre os dedos fortes e pouco delicados de Valkyon, ela a segurou forte, como se segurasse sua própria vida entre os dedos. O rei devolveu o gesto.

— Eu prometo. E você — ela esticou o dedo de sua mão livre. — Deve me prometer... Que não vai mais se colocar em perigo assim!

 

 

Reino de Pendragon, início da noite

Claire foi pega de surpresa naquele dia: Ahriman realmente cumpriu a sua promessa e foi contra a fiança do seu antigo guarda. As Valquírias ficaram em festa e algumas até pareciam ganhar simpatia em relação a ele. O homem continuaria preso, pagando pelo crime de desonrar a ordem estimada do reino de Pendragon. Entretanto, Claire sentia que algo estava errado... E ela precisava conversar com Ezarel sobre isso.

Mas, antes, a determinada valquíria tinha de executar a sua missão: ela se colocou ainda mais disposta. Obrigou-se a tomar a pequena poção comprada por Ezarel no mundo élfico, enfiando a gotinha na boca como se tomasse uma aguardente forte.  A chance perfeita estava à sua frente: estava a seguir Ahriman, e ele finalmente foi à prisão mais uma vez, algum tempo depois da reunião, já no finalzinho da tarde.

O sentimento de tomar aquela poção foi totalmente estranho, vendo seu corpo sumir aos poucos, na sombra de um corredor estreito e mal iluminado nos confins do castelo.

Porém, assim que começou a andar tranquilamente, desviando de todos, vendo tudo que acontecia sem sequer ser percebida ou vista, ela começou a gostar daquela missão. Correu em direção aos portões da prisão antes que se fechassem e seguiu os passos de Ahriman, ainda mantendo certa distância. Ele sabia que o rapaz era um feiticeiro – não muito talentoso, como diziam – mas ainda alguém com poderes mágicos que, talvez, poderia identificá-la de alguma forma.

Tomando estes cuidados, ela seguiu e adentrou na sala de visitas junto com o príncipe de cabelos vermelhos.

Antes mesmo de ele se acomodar à mesa, o homem esbravejou, mantendo a voz baixa, mas agressiva:

— Você me prometeu que pagaria a fiança! Por que foi rejeitado? Você votou contra! — o homem não ousou se aproximar do príncipe, mas estava reclinado sobre a mesa, as mãos fortes espalmadas sobre a madeira lisa prestes a partir o móvel ao meio.

Ahriman nem sequer se abalou com a reação do homem, mas também não sorriu. Apenas levantou o olhar para ele, dizendo:

— Fique calmo. Nossos planos mudaram.

— Nossos planos? — o homem inclinou a cabeça, ainda incrédulo.

— O meu plano também é o seu plano, fique tranquilo.

Claire observou Altair baixar a cabeça, fechando os olhos em seguida, e ela não precisava pensar muito para entender que ele estava completamente subordinado àquele homem nobre. Ahriman não precisou dizer nada, Altair apenas se sentou e cruzou os braços. Manchas rosadas surgiram por trás de sua barba loira, o peito crescia e subia, a respiração rápida, mas ele conteve seus impulsos, esperando o que vinha a seguir.

— Sua alteza pode me dizer, então? — a voz do homem escondia uma agressividade velada.

— Eu não posso lhe contar em detalhes agora... Mas tenha certeza que o dinheiro de sua suposta fiança ainda será utilizado, para outros fins...

— Por que não pode...

— Os últimos detalhes ainda estão em acerto. — ele interrompeu a fala do homem, cujo rosto se tornava ainda mais rosado.

— Sua alteza, eu não posso permanecer aqui por mais tempo.

— E você não vai permanecer. Apenas aguarde. — ele fez um sinal com a mão, pedindo paciência para o homem, que respirou fundo, cerrando bem os olhos. Estava claro para Claire que todo o desejo dele era lançar um soco no rosto de Ahriman, mas obviamente o medo falava mais alto.

— Se me permite. Nada disso me cheira bem, se ‘nossos planos’ me prejudicarem ainda mais, eu não vou deixar quieto. — sua agressividade se tornou evidente, porém em palavras. Os olhos azuis cor de água cristalina de Altair brilharam, enquanto Ahriman sorriu, sem se importar com aquela pequena ameaça contida nas palavras dele.

Claire até poderia sentir uma pitada de simpatia pelo homem, se ele não tivesse desonrado sua ordem.

— E a minha dívida? Como irei pagar? — ele se inclinou um pouco mais, sempre mantendo o tom de voz abaixo.

“Dívida?” pensou a Valquíria. “Ele serve ao Ahriman por dever dinheiro...Mas...?”

— Assim que você sair daqui, saberá. — o príncipe se levantou, arrumando suas vestes superficialmente, como se dissesse adeus com aqueles gestos.

A perna de Altair balançava embaixo da mesa, mas era algo que apenas a Valquíria invisível conseguia ver. Ela achou incrível estar na sala com os dois e não estar ao mesmo tempo. Poderia passar horas naquele estado de transparência.

Ahriman realmente deu as costas e, antes de se movimentar para sair, disse:

— Antes do fim dessa semana você sairá daqui, fique tranquilo e aproveite seu descanso.  — a boca do príncipe de Mainyu quase não se mexia quando ele falou aquelas palavras... Seu tom de voz também não era altivo, mas a Valquíria estava atenta a cada palavra que eles diziam.

E ela já tinha uma ideia vaga do que ele estava planejando. Saiu em disparada, pronta para passar as informações para o elfo azul.

Ainda invisível — já que o efeito durava quatro horas — ela procurou o alquimista por todo o castelo e não o encontrou, até que ouviu de dois soldados a informação de que o rapaz tinha saído nos arredores dos matos escuros, um bosque perto do castelo, para buscar ervas e sementes, e ele não solicitou guardas para acompanhá-lo. Já era noite, a lua minguando, e ela quis reclamar com Ezarel por sua displicência, mas antes disso precisava encontrá-lo. Então, saiu em disparada pelo bosque, buscando pela trilha que o serpenteava, vestígios do elfo.

Não demorou muito até que avistou os cabelos azuis do rapaz, banhados pela luz do luar, cintilante e soltos ao vento. Ao lado dele, o cavalo branco atado em uma árvore, esperando pacientemente o mestre. Ezarel coletava uma erva de folhas pequenas e roxas que se espalhava pelo chão, estocando em uma pequena sacola de pano.

Claire não sabia se ele poderia vê-la, mas... O local do bosque onde ele se encontrava recebia luz da lua pelas frestas das árvores, mas ela se escondeu em um local escuro, esperançosa que os poderes dele de elfo – os quais ela não entendia muito bem - não a revelassem. Estar naquela condição, lhe deixou com uma imensa vontade de pregar uma peça, como ele fez daquela outra vez. Queria devolver o gesto, mas ao mesmo tempo se perguntava se deveria fazer isso com um superior... Talvez uma brincadeirinha não fizesse mal, certo?

Ela se aproximou devagarinho, observando se ele percebia sua presença, mas o rapaz continuou agachado, sua capa azul marinho tocando a terra escura e ela teve uma breve ideia.

Pisou forte na capa, esperando o momento em que ele se levantaria, e nem precisou esperar tanto tempo. O rapaz logo se levantou, fechou sua bolsa e quando moveu o corpo para frente... Tomou um grande susto! Seu pé seguiu, mas todo o resto do corpo se recusava a seguir.

Claire queria rir daquela cena: Ezarel inclinado, puxando a capa pela mão, sem entender muito bem o que estava acontecendo. 

“Que diab...!” Ele parou a exclamação e logo virou o rosto para trás, ajeitando a sua postura.

Realmente, o elfo não era nem um pouco bobo.

Claire logo retirou o pé, deixando-o livre, e aquele movimento foi o seu fim. O rapaz logo se virou e jogou um saco de um pó desconhecido para a Valquíria em sua direção. Claire viu seu corpo ficar coberto de um pó verde musgo, ela sobressaltou, esfregando os braços para retirar o pó, enquanto Ezarel ria como uma hiena do estado dela.

— Você acha mesmo que eu ia cair nessa? — ele cruzou os braços e visualizou o rosto espantado – e verde - da moça surgiu aos poucos, as cores naturais do seu corpo surgindo junto ao pó.

— Eu.. Eu só... — os olhos de Claire estavam arregalados e o verde do rosto, misturava-se ao rosa crescente nas bochechas.

— Tudo bem, tudo bem, a mocinha só queria devolver o gesto. — ele abriu os braços, encolhendo os ombros — Mas é muito difícil enganar uma criatura de mais pura inteligência como eu.

Claire soltou o ar com força, formando uma fumaça azul ao seu redor. Ela tossiu, ficando ainda mais vermelha.

— O q-que é isso? — disse ela, ainda expulsando o pó do seu corpo.

— Ela reverte o efeito da poção. — disse ele, balançando a trouxinha perto dela.

Em um instante a moça já estava inteira em todas as suas cores, adicionando o verde ao rosto e ao seu uniforme de Valquíria. Depois de balançar os cabelos e vestes, enquanto Ezarel ria de sua situação, até que enfim ele indagou:

— Então, o que trazes para mim hoje? — ele andou até o seu cavalo e desatou o nó que o prendia à uma árvore.

— O Ahriman. — ela deu uma pausa dramática — Ele está planejando uma fuga do ladrão. — ela foi direto ao ponto, sem explanar qualquer coisa do que tinha escutado.

Ezarel olhou para ela, franzindo as sobrancelhas, em uma expressão séria pouco vista em seu rosto.

— Quando? E Como?

— Eu ainda não sei. Ele não disse com todas as letras que seria uma fuga, mas eu tenho certeza que é esse o plano.

— Então, é uma suposição sua. — desafiou o elfo e deu alguns passos à frente, segurando seu cavalo pelas rédeas.

— É uma fuga, tenho certeza. — o olhar penetrante dela não deixava dúvidas de suas palavras.

— Então, temos que começar a nos mover, imediatamente. — ele andou, acompanhado de seu cavalo, seguindo pela estrada de volta para o castelo, Claire seguiu com ele. — Reforçar a segurança da prisão só deixaria evidente que sabemos o que vai acontecer... Mas... — ele pensou um instante, e continuou — Você pode recrutar algumas Valquírias confiáveis para uma missão como a sua? Somente para essa situação?

— Claro que sim, tenho absoluta confiança em minhas colegas. Como será essa missão?

— Vigiar a prisão, guardá-la, mas de forma sigilosa, quase invisível. Estarão todas prontas para uma possível fuga. Compreende? — a voz de Ezarel estava mais baixa e séria que o normal, mesmo que estivessem sozinhos na floresta — Aquele cabeça de fogo tem algo a mais em mente, e isso tudo não me cheira bem.

— Estou preocupada com uma coisa.

Ezarel apenas olhou para ela, aguardando. Claire sentiu que podia continuar.

— Ahriman se curvou para nós hoje, pedindo desculpas pela tentativa de roubo.

Ela esperava uma reação de choque, mas presenciou uma risada de Ezarel, que a surpreendeu.

— O Ahriman fez isso? Aquele ser asqueroso, orgulhoso e cheio de vaidade? É uma cena que eu gostaria de ver. — ele riu como nunca e foi recuperando o fôlego aos poucos. A Valquíria esforçava-se para entender a graça naquilo tudo.

— Senhor, me desculpe, mas isso não tem graça.

— Como assim? — disse ele, sem conter o sorriso.

— Ele parecia... Querer conquistar nossa confiança, de um jeito cínico. Eu não gostei, nem senti sinceridade em sua desculpa.

— Eu não sinto sinceridade em praticamente nada do que ele diz. — respondeu o elfo, entregando a moça um riso de canto. E ela concordou com a posição dele. — Temos que ficar de olho nisso também.

Enquanto caminhavam, uma bela e brilhante coruja branca surgiu no céu, seus olhos amarelos alarmados trouxeram uma sensação de perigo instantâneo ao elfo...


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