Caramba, o que eu tinha acabado de fazer? A Marinette está com Luka e, mesmo se não estivesse, ela só me vê como um amigo, não é?

— O-obrigada. — Ela falou, quebrando o contato visual.

Ótimo, lá estava o silêncio constrangedor de novo.

"Fala alguma coisa, Adrien, fala alguma coisa."

— Não, é sério, você é muito linda mesmo.

"Não isso, seu burro!"

Ela desviou o olhar e, pela sua expressão, percebi que eu tinha estragado tudo de novo.

— Desculpa, eu… não devia… — Eu tentava me corrigir. — Você está com o Luka, não é?

Ela me encarou com uma expressão confusa.

— O quê? Não, nós somos amigos.

Espera, ela estava falando de mim ou do Luka?

— É que… teve aquele dia do sorvete e… vocês sempre estão juntos, então eu achei que… — Eu tentava falar e ela riu levemente.

— Não, não, eu e o Luka somos amigos.

Marinette parecia estar tão sem jeito quanto eu.

Espera, ela disse que não estava com o Luka, então…

— Mas… eu queria te perguntar uma coisa. — Disse ela. — Você e a Kagami…

— Só amigos também. — Respondi antes que ela terminasse a pergunta.

— Nossa, eu achei que… — Deixou a frase no ar.

Silêncio de novo.

Eu estava pensando no que dizer quando ela olhou para mim.

— Então… você me chamou aqui hoje porque…

— É…

Caramba, é sério, Adrien? Só um "é…"?

— Nossa, eu nem… nem cheguei a pensar nisso. — Ela disse. — Quer dizer, eu achei que você achasse que eu fosse…

— Só uma amiga? — Completei e ela assentiu. — É… antes eu achava.

Só isso? É sério que eu falei só isso?

— Lembra… lembra daquele dia que eu te chamei pra dançar na festa da Chloé? — Perguntei.

Isso, finalmente vamos chegar a algum lugar. Agora é só completar com um "vamos repetir essa dança agora?" e colocar a música no celular e…

— Eu te chamei para dançar como amiga mesmo.

Quê? Não! O que que eu estou falando?

Marinette parecia confusa.

— Mas… na época eu não entendi porque me senti tão bem com aquela dança. — Eu disse.

Isso! Agora fala um "mas agora eu sei que eu te amo."

— Foi uma festa muito legal, não é? — Falei de novo.

"Não! O que você está falando, Adrien?"

— Foi. Bom, antes de aparecer o akumatizado, é claro. — Ela respondeu e olhou para a porta.

Ótimo, eu tinha estragado o clima de novo. E agora lá estava eu, lembrando que havia um akumatizado lá fora e eu estava sem meu kwami. E a Marinette estava com aquela expressão preocupada de novo, talvez lembrando de que seus pais ainda a esperavam na padaria.

— Como você disse, um akumatizado sempre aparece quando estamos juntos… — Ela comentou, mas parecia ter se arrependido depois, olhando para a janela do quarto.

E então eu a abracei. Ela pareceu surpresa na hora, mas logo me abraçou de volta.

— Nós vamos sair daqui. Meu pai já está vindo.

— Eu… estou preocupada com o akumatizado. Será que… ele atacou a minha família? E o… Chat Noir?

Espera, ela estava preocupada com o Chat Noir?

— Tenho certeza de que a Ladybug já está lá cuidando de tudo.

— E se… e se não estiver?

— Eu confio nela, sei que vai salvar todo mundo, como sempre faz.

Marinette desfez o abraço e sorriu.

Talvez por ter lembrado da minha parceira ou pelo sorriso que Marinette tinha agora, eu falei:

— Eu sei que não deve ser um bom momento para te contar isso, mas… eu estou pensando muito em você nos últimos dias. Muito mesmo. E não, não é como uma amiga.

Ela pareceu surpresa.

— Por isso… por isso que eu quis te chamar aqui hoje. Eu queria muito conversar com você fora da escola, sabe? Claro que eu não imaginava que a gente ia ficar trancado aqui no meio do ataque de um akuma.

Eu ri levemente, mas ela continuava com a mesma expressão atônita.

— Então, se você quiser, podemos ir para algum lugar mais tarde… Depois que sairmos daqui, é claro. Ah, e depois que o akumatizado for derrotado.

Marinette não teve reação e eu achei que ela não tinha entendido. Me aproximei dela no sofá, sentindo sua respiração acelerada tocar meu rosto.

— Você é muito mais do que uma amiga para mim. Eu… eu gosto de você, my lady.

Quê? Ah, não! Eu não disse isso! Eu não acredito! Eu a chamei de my lady? Por que eu a chamei de my lady? Acho que ensaiei tanto uma declaração para a Ladybug que as palavras saíram da minha boca sem que eu percebesse.

Caramba! O que eu fiz? Arruma isso, Adrien, arruma isso!

Só que, antes que eu fizesse qualquer coisa, Marinette segurou meu rosto e me puxou para um beijo.

Ok, por essa eu não esperava. Imaginei que ela fosse dizer: "por que você me chamou de my lady? Você é o Chat Noir?" Mas pelo visto ela nem tinha reparado e… Adrien, para de pensar nisso e beija a garota de volta!

Bom, e lá estava eu, finalmente beijando Marinette Dupain-Cheng, e… sentindo. Sentindo o coração acelerado como se fosse explodir. Sentindo o que antes eu só sentia quando pensava que já tinha beijado Ladybug. Mas agora era real. E, bom, eu iria lembrar daquele beijo com Marinette.

Quando nos separamos, mantemos a proximidade. Nossas testas se tocavam e podíamos sentir a respiração acelerada um do outro.

Notei que ela continuava com os olhos fechados e beijei sua bochecha.

Foi então que eu percebi. Agora não havia mais dúvidas, eu realmente estava apaixonado por ela.

Era por isso que eu a olhava tanto sem perceber, era por isso que eu sentia um frio na barriga quando ficávamos mais próximos, era por isso que eu gostava tanto da companhia dela.

Eu estava tão focado nos meus sentimentos pela Ladybug, que, quando pensava em outra pessoa, sentia como se estivesse traindo minha parceira, mesmo que nunca tivéssemos tido nada — a não ser, é claro, os dois beijos que eu não me lembrava. O primeiro, quando enfrentamos Cupido Negro, que Ladybug já havia deixado claro que era o único jeito de me salvar. E, o segundo, quando enfrentamos Oblivio e que é um mistério tanto para mim quanto para a minha parceira até hoje.

Mas agora isso não importava. Eu estava ali, com Marinette, e sentia um turbilhão de emoções me percorrer.

— Sinto muito por não ter percebido antes… — Sussurrei, mas ela ainda permanecia com os olhos fechados.

Marinette colocou o indicador sobre meus lábios.

— Você já esperou tempo demais por mim… — Ela falou tão baixo que eu mal pude ouvir.

Eu não entendia por que ela continuava com os olhos fechados, e nem o que tinha acabado de dizer.

Mas me aproximei de novo, roçando nossos lábios levemente antes de iniciar mais um beijo.

Ela tocou minha nuca, me puxando mais para perto. Suas costas chocaram-se contra o braço do sofá, mas ela continuava com os lábios nos meus. Me inclinei um pouco sobre ela e continuamos o beijo.

Eu nem sequer lembrava que havia um akuma lá fora, ou que meu pai poderia chegar a qualquer minuto e desativar o sistema que nos prendia ali, ou que eu deveria me transformar para lutar contra o vilão. Eu só desejava estar ali, com ela, com a garota que havia roubado meu coração sem que eu percebesse.

— Eu te amo, sinto muito por ter der demorado para perceber isso. — Ela disse, com os olhos fechados, antes de me beijar mais uma vez.

Como eu queria que aquele momento nunca acabasse…

Foi então que, quando nos separamos e Marinette finalmente abriu seus lindos olhos azuis, ela pareceu surpresa por me ver ali.

— A-adrien? Mas…

Eu iria perguntar o que era, mas, quando olhei para a porta do quarto, eu o vi. Plagg estava bem ali com um semblante ao mesmo tempo surpreso e preocupado.

Senti meu coração acelerar ainda mais. Eu precisava me transformar e enfrentar o akumatizado. Mas… como faria isso sem que Marinette visse?

E por que ela me olhava daquele jeito tão estranho? Como se não tivesse consciência de que tínhamos acabado de nos beijar?

Plagg acenou com urgência na porta, que estava atrás de Marinette. O que eu ia inventar para sair dali? Espera, como eu iria sair dali, se estávamos trancados?

Caramba, o que eu ia fazer?