HARRY E. LESTRANGE 

Terça-feira, 31 de outubro de 2017. 

A aula de Defesa Contra as Artes das Trevas estava mais agitada do que o usual, parte disso era pelo motivo de ser a última do dia e todos estavam ansiosos para a festa de Halloween que teria no jantar, e a outra parte era porque os alunos da grifinória e sonserina estavam animados demais com a ideia de treinar feitiços de defesa em duplas pela primeira vez. 

Lestrange gostava muito das aulas da Srtaª Riley, até mesmo as que eram só teóricas onde eles tinham que copiar longos textos – isso porque ela nunca deixava a aula ficar monótona, explicava com detalhes e contava histórias pra reforçar o conteúdo e tirava todas as dúvidas possíveis. Porém, mesmo amando a ideia de colocar em pratica os feitiços que tanto decorou dos livros, Harry não estava tão eufórico quanto o restante da turma. 

Durante o café da manhã o sonserino recebeu a carta que esperava há dias, tinha enviado uma carta à sua mãe questionando sobre o seu pai, usou todas as informações que recebeu sobre ele e os Lestrange assim que entrou em Hogwarts, e tudo o que conseguiu achar sobre eles na biblioteca e em arquivos de jornais com notícias sobre os procurados pós guerra, e recebeu a mesma resposta que tivera na primeira semana da aula, dizendo que era melhor conversarem quando voltasse pra casa no natal. 

Estava desanimado porque parecia que todas as suas pesquisas foram em vão, quando achava que estava chegando em algum lugar sempre faltava informações essenciais para todo o quebra-cabeça sobre seu pai que estava tentando formar em sua mente. Depois dessa última resposta de sua mãe decidiu que não ia insistir mais, ia esperar até o natal, e no momento em que pisasse em Londres ia conseguir suas respostas. 

— Muito bem classe, agora que as instruções ficaram claras para todos, formem duplas!! De casas diferentes dessa vez, por favor! - A professora falou sorridente enquanto afastava as carteiras para o canto da sala com um movimento da varinha. 

Os alunos murmuraram reclamando como o usual, mas formaram as duplas que a professora pediu. Não demorou muito tempo desde que entrou em Hogwarts para Harry entender que a divisão de casas era levada a sério na escola, não entendia muito bem o porquê disso, afinal, não era como se os próprios fundadores das casas estivessem ali selecionando os alunos de acordo com os padrões arcaicos deles, mas tinha que admitir que achava certa graça nessa rivalidade. 

A professora parecia pensar o mesmo, já que sempre fazia eles se misturarem durante as atividades, dizia que essa rivalidade só era boa nos jogos, e fora disso deixava de ser saudável.  

— Bom, agora de frente com suas duplas abram um espaço seguro entre vocês e revezem para treinar bem o feitiço, pratica é tudo! 

Harry já estava de frente pra sua dupla, uma garota da grifinoria que sabia se chamar Felicity, costumavam fazer dupla nessas situações que a professora obrigava, mas não trocavam mais de duas palavras.  

— Façam o movimento da varinha que já treinamos, e pronunciem bem claramente Expelliarmus!  

Antes de Lestrange e sua dupla sequer sinalizarem um para o outro quem faria o feitiço primeiro, houve um estalido de varinha caindo no chão e um grito de espanto.  

— Professora! O Scorpius lançou o feitiço em mim sem me avisar!!! - Rose Weasley que estava com o rosto quase tão vermelho quanto seus cabelos falou não contendo sua raiva com sua dupla. 

— Desculpe Weasley, achei que esse era o propósito de feitiços de defesa, as pessoas não te avisam quando vão te atacar, sabe... - Falou soando divertido enquanto jogava a varinha de Rose de volta para ela, e Harry soube que o amigo tinha se segurado pra não rir.  

— Senhor Malfoy, por favor, trabalhe em conjunto com a sua dupla. 

— Tudo bem, desculpe professora.  

Depois de algumas risadas entre os alunos da sonserina as duplas começaram a treinar o feitiço sem grandes acontecimentos, Harry ficou bem satisfeito com seus resultados mesmo que não conseguisse fazer a varinha de Felicity ir parar diretamente em suas mãos, pelo menos fazia ela voar longe!  

Quando o sinal tocou sinalizando o final da aula todos os alunos se apressaram pra recolher os materiais e correr para fora da sala e aproveitar o resto de tarde antes da festa, todos menos Lestrange, Potter, Malfoy e Zabini. Às vezes Scorpius gostava de tirar dúvida com os professores após a aula, e os outros ficavam esperando, sem nem se preocupar em fingir que também estavam interessados na explicação.  

Ficaram sentados em cima das carteiras conversando sobre a aula e rindo das suas próprias derrotas enquanto esperavam Scorpius, quando saíram da sala os corredores estavam praticamente vazios já que os alunos deviam estar nos campos durante aquele horário.  

Foi então que Harry deu por falta de um de seus livros, mais precisamente um que tinha pego da biblioteca para suas pesquisas a respeito de seu pai. Tinha que devolver o livro naquele dia, e tinha esquecido ele dentro da sala de aula de feitiços que tinham tido naquela manhã. 

— Já volto gente, esqueci um livro na sala do Flitwick – Anunciou pros outros garotos e já fez o caminho de volta pra um dos corredores que tinham acabado de sair. 

— De boa, a gente te espera no saguão, a gente combinou de encontrar a Lucy lá - Escutou Zabini falando, e sinalizou um “ok” em resposta. 

Assim que adentrou a sala de feitiços acreditando estar vazia notou que pra sua infelicidade não era o único que tinha esquecido algo na sala, Jason Corner da corvinal estava lá também, o garoto estava com dois livros na mão e Lestrange soltou um longo suspiro percebendo que um deles era o seu.  

— Procurando algo, Lestrange? - Falou insinuando que já sabia que o livro era de Harry. 

— Só me devolve o livro, Jason... 

— Ou o que? Ein?  

Harry já estava com a respiração pesada e sem paciência pra essa situação, o corvino o perseguia desde o primeiro dia que chegou em Hogwarts e Lestrange não estava acostumado a lidar com esse tipo de situação, não que Jason o intimidasse, não tinha medo nenhum dele, mas ficava cansado e irritado com o garoto.  

— Ou eu vou ficar devendo multa na biblioteca. 

— Você se acha muito, né Lestrange? Mas você não me engana não, eu sei que você é um frouxo, não tem coragem de enfrentar ninguém – O corvino foi se aproximando tentando intimida-lo, e tirou sua varinha das vestes apontando para ameaçar o sonserino.  

Lestrange não acreditava que Corner pudesse ataca-lo assim, não teria coragem provavelmente, e afinal, eles estavam dentro da escola, não é? Não poderia fazer muita coisa, mas Harry reclamou mentalmente por ter guardado sua varinha na mochila, deixando nula a sua chance de se defender caso algo acontecesse.  

— E quem eu deveria enfrentar? Você? - Riu da pose do garoto que acreditava que estava lhe intimidando, mas quando Corner levantou sua varinha apontando para Harry ele fechou o sorriso.  

Aconteceu tudo muito rápido, antes que Jason pudesse dizer as palavras de qualquer feitiço que fosse...  

— Expelliarmus! - O feitiço atingiu o corvino em cheio o fazendo ser lançado para trás, caindo dentro de um dos armários da sala, desarmado. 

Harry antes de sequer pensar em olhar para trás pra ver quem tinha o defendido, rapidamente pegou o livro que estava caído no chão e a varinha do garoto, então viu Albus adentrar a sala correndo na direção do armário que Jason havia caído. Foi Albus que fez o feitiço.  

— Da onde você surgiu?? - Harry perguntou incrédulo vendo Potter trancar o armário que Jason estava tentando se levantar meio grogue por causa do baque.  

— Sei lá, você tava demorando demais aí a gente estranhou e eu vim ver. Anda me ajuda aqui. 

Os dois sonserinos se apoiaram nas portas do armário pra conseguir trancá-lo enquanto o corvino tentava empurrar as portas pra sair, gritando com os dois, mas ambos conseguiram. 

— VOCÊS NÃO VÃO ME DEIXAR AQUI! POTTER!! LESTRANGE!! VOCÊS ESTÃO MUITO FERRADOS!! 

As portas sacudiam de acordo com o que o garoto se debatia lá dentro, mas os sonserinos não se importavam, estavam ocupados demais rindo. Então os dois saíram correndo da sala antes que alguém pudesse chegar ou o garoto escapasse de alguma forma. 

Saíram correndo pelos corredores até chegarem ao Saguão onde Malfoy, Zabini e Lucy Weasley os esperavam com uma cara de interrogação, mas tanto Albus quanto Harry não pararam pra explicar, continuaram correndo em meio de gargalhadas e os outros três simplesmente começaram a correr atrás deles também até chegarem nos campos perto do lago. 

— Alguém pode por favor me dizer o que ta acontecendo? - Lucy disse afastando os cabelos cacheados de seu rosto enquanto tentava retomar o folego. 

— Como você conseguiu fazer aquilo, Al? A gente aprendeu o feitiço hoje e você simplesmente-  

— Eu não tenho ideia acho que é porque eu já tava de saco cheio daquele garoto – Albus interrompeu o amigo, ainda se recuperando da corrida e da crise de riso. 

— O que vocês fizeram? - Scorpius perguntou num misto de desconfiança e riso.  

Harry então narrou brevemente a história de como o garoto da corvinal estava enchendo o saco dele até Albus chegar e eles trancarem o menino desarmado dentro da sala. 

— QUE?! Eu não acredito que perdi isso – Lohan disse e então entendeu o porquê da crise de riso da dupla e passou a rir também, assim como Scorpius. 

— Af aquele garoto é um saco, vocês tinham que ver ele andando se pavoneando pela sala comunal – Lucy disse fazendo uma expressão de desgosto – Mas vocês sabem que isso é sério né? Vocês vão pegar uma detenção por isso quando acharem ele lá! 

Harry então murchou um pouquinho da sua alegria, não tinha pensado nisso. 

— Fazer o que, valeu a pena pelo menos – Albus deu de ombros ainda achando graça, e Lestrange se sentiu melhor, pelo menos tinha um amigo sem noção pra lhe fazer companhia na detenção. 

— Mas nossa Albus, foi realmente impressionante você conseguir fazer o feitiço com essa força já, vai ter que me ajudar depois – Malfoy falou para Albus que pareceu ficar sem jeito com o elogio do amigo, mas concordou mesmo reforçando que não sabia como tinha feito. 

Os cinco passaram o resto de tarde ali conversando sobre qualquer assunto que surgisse, e Harry se sentia bem por estar ali, a partir do momento que recebeu a carta de Hogwarts e descobriu que era um bruxo não soube o que esperar da escola, e quando teve o primeiro contato com o mundo magico e descobriu o impacto que seu sobrenome causava nas pessoas achou que nunca seria capaz de fazer amigos ali, muito menos um grupo de amigos já que nunca teve mais de dois.

Porem estava muito enganado, já que logo no primeiro dia conheceu um grupo de garotos tão esquisitos quanto ele e que estavam interessados na sua companhia, e não se importavam com o seu nome. Aos poucos Harry ia encontrando mais seu espaço entre eles, e se sentindo mais confortável do que pensou que seria possível.