— Isso aqui é um lugar de família, então vou pedir para que saiam daí imediatamente. – o homem do lado de fora da cabine continuava bastante bravo.

Sakura e Naruto obedeceram à ordem e logo se juntaram a ele, que deveria ter seus cinquenta anos e seguia todos os atributos físicos dos demais Uchihas. Ele os encarava com os braços cruzados e uma expressão raivosa.

— Desculpe, senhor. – Naruto foi o primeiro a falar – Mas isso não é o que está pensando.

— Tinha que ser você, Naruto. – o homem disse e então soltou o ar com desprezo, para depois balançar a cabeça negativamente – Eu sei que você é convidado do meu filho, mas por favor se comporte. – ele então se voltou para a rosada – E você, mocinha, o que seus pais diriam se a vissem nessa situação? Se dê o respeito.

Sakura segurou o impulso de perguntar o motivo de somente ela ter de "se dar o respeito", sendo que teoricamente tanto ela quanto Naruto estavam levando bronca pela mesma coisa. Na verdade, nenhum dos dois quis discutir e rapidamente se retiraram do banheiro. Caminharam à passos largos de volta para a mesa em que se instalaram mais cedo e se sentaram em silêncio. No entanto, isso durou muito pouco, pois em questão de segundos o nervoso da situação passou e eles explodiram na gargalhada. Isso chamou a atenção de algumas pessoas das mesas ao lado, que reviraram os olhos para o comportamento dos dois jovens.

— Meu deus, que bagunça... – Sakura comentou sem acreditar no desenrolar de sua noite. – Ele te conhecia, né? Não está preocupado?

— Aquele é o pai do Obito. – explicou ainda rindo – Pelo menos isso garante minha reputação heterossexual.

Sakura repousou a cabeça sobre uma das mãos e tentou não rir da piadinha, mas falhou. Quando os dois já estavam mais calmos, ela voltou a falar:

— Se a agência souber sobre todas as regras de conduta que eu quebrei...

— Amiga, relaxa. Você merece cinco estrelas. Daria até dez se eu pudesse. – o cliente garantiu – Obrigado de verdade por ouvir meu desabafo e principalmente por não em julgar.

Ela deu de ombros.

— Quem nunca chorou no banheiro de uma festa que atire a primeira pedra.

— Bom, eu já fiz muito mais que isso em um banheiro de festa... – Naruto provocou. A rosada sorriu amarelo, incapaz de disfarçar o desconforto. Havia esquecido completamente do episódio vivido no banheiro feminino, e o comentário inocente de Naruto a fez reviver todas as emoções confusas. O loiro levantou uma sobrancelha, notando algo – Ei, o que houve?

Sakura balançou as pernas por debaixo da mesa tentando segurar a ansiedade. Apertou os lábios e cogitou contar para Naruto, mas achou melhor não, já que teria de desmascarar a colega de profissão e isso não seria nada legal. Ao invés disso, resolveu ir por outro caminho:

— Naruto, como você soube que não era... – ela se aproximou para cochichar – Hétero?

Os olhos azuis do rapaz a encaravam com curiosidade.

— Acho que eu sempre soube. – respondeu pensativo – Mas só comecei a ser cem por cento sincero comigo mesmo quando me apaixonei por um cara pela primeira vez. Tipo, hoje eu sei que sexualidade e romanticidade não estão necessariamente conectadas, mas durante a minha adolescência eu me sentia confuso, porque parecia que era uma coisa só física. "Eu sou mesmo gay se a única atração que sinto por homens é física? Cadê o sentimento? Será só fetichismo?". Eu costumava me perguntar esse tipo de coisa.

— Então você gostava de meninas também? – Sakura perguntou por impulso, mas percebeu que poderia estar sendo invasiva e baixou a cabeça – Desculpe. Acho que estou indo longe demais

— Ah, não. Relaxa. Eu posso contar. – tranquilizou o cliente – E respondendo a sua pergunta: não. Nunca senti nem tesão nem amor por mulheres.

A rosada murchou um pouco.

"Então você só vai ter certeza sobre quem é quando se apaixonar?", pensou. "Não, ele disse que romanticidade e sexualidade não necessariamente andam juntos e você sabe muito bem que já se apaixonou por homens antes.", ela se tranquilizou. "Mas... O que exatamente estou sentindo por Hinata?"

Naruto percebeu que sua acompanhante estava muito pensativa, mas antes que pudesse dizer algo, o salão foi tomado por uma longa salva de palmas, que tomou totalmente a atenção do dois. Eles se viraram para entender o motivo da comoção e, na entrada, três pessoas que acabavam de chegar na festa estavam em destaque: dois homens e uma mulher, todos bem vestidos e belíssimos, mas bem diferentes um do outro.

Um dos homens usava óculos e tinha os cabelos bem curtos e pretos, e olhos tão escuros quanto. Para Sakura, não havia dúvidas de que era um Uchiha. A moça à sua esquerda tinha cabelos castanhos na altura dos ombros e exibia um sorriso gentil ao acenar para os convidados. Ela certamente não era da família. O outro homem era o mais alto dos três e tinha cabelos platinados, o que surpreendeu Sakura, que não esperava mais uma adição ao "clube dos delinquentes" naquela festa. Sua expressão era menos amistosa se comparado aos dois companheiros e ele parecia cansado. Apesar da distância, ela percebeu um curativo grande lhe cobrindo um dos olhos.

— Finalmente. – Naruto comemorou e se virou para Sakura – O moreno é o Obito e aquela é a namorada dele, a Rin. O outro cara eu não conheço, mas é gato.

Sakura teve de concordar. Mesmo parecendo cansado e exibindo um curativo, o homem platinado marcava certa presença.

— Vamos lá falar com eles? – ela perguntou.

— Sim. Vamos fazer isso logo. – o loiro pareceu triste por um momento – Vou cumprimenta-lo e então vamos embora.

**********

— E aí, pessoal? Espero que não tenham começado o jantar sem mim, mas é que uma senhorinha apareceu no nosso caminho e ela precisava muito de ajuda... – o anfitrião da festa parecia animado.

Sakura e Naruto se mantiveram levemente afastados da rodinha principal que rondava Obito, apenas esperando por uma oportunidade.

— Oh, meu filho querido! Você continua o mesmo de sempre! – uma mulher mais velha veio cumprimenta-lo com um abraço e depois fez o mesmo com Rin – Estava com saudades de vocês. Como foi a viagem de volta? Espero que tranquila.

— Tudo correu bem. – Rin respondeu com uma voz doce.

Obito então se virou para o homem platinado e o fez vir para a frente.

— Mãe, esse daqui é o Kakashi. Ele que é o dono daquela rede de livrarias no continente americano que contei. O cara que salvou minha vida.

O homem com o olho tapado pareceu ficar constrangido coma atenção recebida, mas cumprimentou a mãe de Obito e os demais convidados que pareceram se interessar por ele só agora.

— É um prazer conhece-lo, Kakashi. – ela cumprimentou de volta, mas então passou os dedos pelo rosto do filho. – Oh, meu bebê... Já ligou para o médico que seu pai indicou? É o maior cirurgião plástico do ramo e tenho certeza de que-

— Mãe, teremos bastante tempo para conversar depois. Tenho de falar com todo mundo ainda. – Obito cortou com um sorriso ao pegar as mãos da mãe com gentileza e virando-se para Naruto e Sakura, deixando Rin e Kakashi com os outros.

Só então a rosada notou cicatrizes claras e bem discretas na lateral direta do rosto. Provavelmente era a isso que a mãe de Obito se referia. Rapidamente, se lembrou da boa etiqueta e parou de encarar o machucado, pronta para cumprimentar o anfitrião que era o motivo de todos estarem ali.

— Que bom que você veio, maninho. – o moreno encontrou seu punho com o de Naruto.

— E aí, Obito? Você tá feio hein. – o convidado respondeu.

— Ainda mais bonito que você. – o outro respondeu na mesma moeda e então se virou para a moça e estendeu a mão – Mas com certeza não chegamos aos pés da sua acompanhante. Muito prazer. Meu nome é Obito. Espero que esteja curtindo a festa.

Ela aceitou o aperto de mãos e sorriu de volta, encantada por ele soar tão diferente (lê-se "educado") dos demais Uchihas.

— Sakura. O prazer é todo meu.

— Obito, a gente vai ter que ir antes do bufê... – Naruto começou.

— Mas por quê? – ele quis saber, mas então uniu as sobrancelhas – Brigou com o Sasuke? Cadê aquele enfezadinho do meu primo?

Naruto coçou a nuca tentando disfarçar.

— Ah, você sabe como é né... Mas vai ficar tudo bem.

— Não. Você é meu convidado hoje. Assim que eu encontrar com o Sasuke, vou avisa-lo disso.

— Obito, na verdade... – ele tentou continuar, mas o moreno já estava olhando para trás de si, em direção a Rin e Kakashi, que claramente precisavam e ajuda com familiares que não os deixavam em paz.

— Esperem até o pronunciamento, por favor. É importante pra mim. – disse antes de voltar para o centro da rodinha.

Naruto respirou fundo e voltou-se para Sakura.

— Acho que ficaremos aqui por mais algum tempo.

Depois de falar um pouco com os convidados mais ansiosos, Obito pediu para que todos se sentassem às mesas pois em breve estaria servido o bufê.

Já sentados e servidos, um murmurinho de conversa estava instaurado por todo o salão. Alguns comentavam trivialidades, mas outros faziam questão de chamar a atenção para o acidente que Obito havia sofrido durante suas viagens. Sakura conseguiu pescar poucas informações sobre uma batida de carro, mas não tinha certeza pois não conseguia se concentrar muito no que ouvia, não só porque todos falavam ao mesmo tempo, mas principalmente porque enquanto tentava cortar uma espécie de massa folhada com várias camadas, percebeu que era observada. Ao levantar os olhos, notou Hinata a observando há apenas algumas mesas de distância. Assim que seus olhares se encontraram, Hinata piscou para ela, e Sakura sentiu as bochechas ardendo de vergonha.

Sasuke estava sentado junto da acompanhante elegante, mas não pareceu se dar conta do que acontecia entre as duas. Estava mais preocupado com Naruto, que desde a briga que tiveram na varanda, não o procurou mais. Discretamente enquanto comia, tentava verificar o estado do loiro e notou, incomodado, que seu amigo de infância manteve o semblante triste durante toda a sua refeição. Tentou não se abalar com isso. Tentou se convencer de que foi Naruto que provocou o desentendimento entre eles, ao insistir em conversar sobre algo que não passou de um erro bobo em uma viagem boba. No entanto, uma pequena parte de si doía sempre que via aqueles olhos azuis mareados.

De repente, um tintilar de taças foi ouvido e todos os convidados se calaram imediatamente, junto com a música. O quarteto jovem também foi puxado de seus pensamentos e voltou sua atenção à origem do chamado: o anfitrião estava de pé atrás de sua mesa localizada de forma que todos no salão pudessem observa-lo. Ele ergueu sua taça, convidando todos a fazer o mesmo. Rin e Kakashi, as duas únicas pessoas na mesa principal além de Obito, também se levantaram e permaneceram cada um de um lado do moreno.

— Boa noite, amigos e familiares. Primeiramente gostaria de agradecer a presença de todos nesse jantar que organizei com tanto carinho. Estou honrado de vê-los depois de tanto tempo longe de casa. – as pessoas bateram palmas e Obito esperou o silêncio novamente – Hoje é um dia feliz porque posso ver as pessoas com quem cresci e passei tantos bons momentos. Como é de costume em nossa família e vocês já deviam estar esperando, tenho duas coisas a anunciar.

A prévia do brinde de anunciação animou os convidados, que rapidamente voltaram aos seus murmurinhos. Inconscientemente, Sakura arriscou uma olhada rápida em direção à mesa de Hinata e surpreendeu-se ao encontrar Sasuke olhando fixamente para Naruto. Percebendo que foi pego, o moreno desviou o olhar e voltou a prestar atenção em seu primo. Sakura fez o mesmo.

— O primeiro, acho que muitos de vocês já devem imaginar. – Obito continuou e então pegou Rin pela mão, que sorriu recostando-se ao Uchiha – Eu e Rin finalmente vamos nos casar!

A família explodiu em desejos de felicidade ao casal e até alguns assobios, coisa que Sakura não esperava devido a dinâmica mais fechada e severa dos Uchiha.

O rapaz agradeceu as palavras gentis que lhe eram ditas pelas pessoas nas mesas e depois beijou os nós dos dedos da noiva, que depois exibiu sua aliança brilhante, arrancando mais emoções do público. Todos brindaram e beberam um pouco do conteúdo de seus copos e taças.

Quando as pessoas se acalmaram novamente, o anfitrião limpou a garganta para continuar:

— Bom, o segundo anúncio talvez seja novidade em... Muitos aspectos.

Os convidados esperavam bastante animados, mas Sakura notou algo na voz de Obito. Ela também reparou quando Rin respirou fundo e olhou na direção do platinado, que por sua vez parecia manter uma postura tensa, com os braços rentes ao corpo e um copo pela metade em uma das mãos.

Num movimento rápido, o anfitrião procurou pela mão vazia de Kakashi e a levantou com seus dedos entrelaçados para todos verem. Sem dar tempo para interpretações, ele voltou a falar, dessa vez mais alto:

— Mas enfim, vamos lá. Esse aqui é meu melhor amigo. Nos conhecemos há apenas alguns meses, graças às minhas viagens, mas isso não o torna menos importante pra mim. Como já disse antes, Kakashi salvou a minha vida quando capotei com o carro e é, sem dúvidas, uma das pessoas mais maravilhosas que eu tive a sorte de conhecer durante todos os meus anos de vida. É alguém que vem abrindo minha mente para certas coisas e reestruturando minhas verdades. Uma pessoa que, assim como Rin, sempre terá um lugar especial no meu coração. – ele limpou a garganta – E é por isso que nós... Nós estamos... Ah, foda-se: eu e Kakashi estamos namorando. Um brinde!