As duas acompanhantes saíram juntas do banheiro, mas Sakura parou ao lado da porta e deixou que Hinata seguisse seu caminho de volta ao coração da festa. A morena não olhou para trás e Sakura respirou fundo tentando se concentrar no que fazer em seguida.

"Encontrar Naruto", ela concluiu. "Mas onde ele pode estar?"

Nesse momento, da porta ao lado saíram dois rapazes bem vestidos pouco mais velhos que ela.

— Queria saber quem é esse cara afinal... – um deles pareceu reclamar – Parece até um delinquente com o cabelo descolorido daquele jeito.

— Fazendo um vexame desses na festa dos outros... Que vergonha. – o outro concordou.

Sakura captou imediatamente quem era o alvo da conversinha.

— Com licença. – ela chamou a atenção dos dois, que a checaram da cabeça aos pés. Ela fingiu não notar – Vocês viram um garoto loiro?

— Sim. Ele tá chorando ali dentro. – o primeiro apontou para dentro do banheiro masculino.

Sakura agradeceu e os dois garotos morenos foram embora.

— Naruto? – ela chamou ao lado da porta, tentando não gritar, mas não teve resposta. Tentou mais uma vez, apenas um pouco mais alto, mas continuou na mesma.

Ela então se apoiou na parede e esperou, mas os minutos se passaram e nada de seu cliente aparecer. Ficou tentada em deixar para lá, mas se sentiu mal. Naruto não era como os outros clientes e a tratou bem desde que se encontraram mais cedo naquele dia. Talvez ele precisasse mesmo de um ombro amigo naquela festa cheia de olhares maldosos, já que seu único amigo não parecia feliz de vê-lo ali. E não era esse o seu trabalho afinal?

Apertou a bolsa sob os dedos e mordeu os lábios ponderando sobre o que fazer e então teve uma ideia arriscada.

Olhou à sua volta e verificou que ninguém a observava, então abriu ligeiramente a porta e espiou a área das pias: não havia ninguém. Olhou mais uma vez para a festa para ter certeza de não ser pega e então passou para dentro do banheiro. Uma vez lá dentro, respirou fundo e passou para a parte de trás da parede de pedra, feliz por não encontrar mictórios expostos e sim cabines sanitárias. Foi então que ouviu uma espécie de fungada.

— N-Naruto? – ela chamou baixinho tentando identificar de qual das portas fechadas vinha o som.

— Sakura? – ela finalmente recebeu uma resposta e uma das cabines se abriu. Seu cliente colocou o corpo para fora dela e encarou a acompanhante. Seu rosto estava vermelho e os olhos inchados – O que tá fazendo aqui?

A rosada ia responder, mas ouviu a porta do banheiro se abrir e uma voz masculina cantarolava junto com som os violinos que vinham de fora. Sem pensar duas vezes, ela correu até a cabine com seu cliente, o empurrou de volta para dentro e entrou também.

Naruto permaneceu em silêncio junto com Sakura até que os passos indicassem que o homem já não estava mais lá. Seus corpos estavam próximos demais pela falta de espaço, mas nenhum dos dois pareceu se importar. Assim que sentiu segurança de que estavam sozinhos, ela respirou aliviada.

A noite estava sendo mais agitada do que ela jamais pensou que seria.

— O que tá fazendo aqui, doida? – o cliente perguntou num sussurro enquanto limpava as lágrimas do rosto com as próprias mangas da roupa social.

— Eu ouvi que você estava com problemas. – cochichou de volta, já que não havia como saber se havia outros caras nas cabines ao lado. – Quero te ajudar se eu puder.

Naruto sorriu com ternura e então se sentou sobre a tampa fechada do assento sanitário.

— Você é muito gentil. Obrigado. – respondeu com uma fungada – Mas não estou com problemas. Eu sou o problema, aparentemente. Sasuke me odeia e eu demorei demais pra ver isso. Fui um estorvo e um idiota por ter vindo hoje.

— O que aconteceu? – Sakura insistiu por mais detalhes.

Naruto deu de ombros.

— Acho que posso te contar... – ele começou, ainda mantendo o tom de voz baixo – Mas pra você entender, uma coisa tem que ficar clara: Sasuke é um enrustido do caralho, mas eu não o culpo. O irmão dele foi expulso de casa por ser gay, então é um assunto meio delicado. De qualquer forma, eu sou gay e já sabia disso desde a adolescência, mas mantive em segredo porque pensei que sua família poderia nos afastar e eu não queria isso. Ele é... Ele era meu melhor amigo, sabe?

Sakura se sentiu compelida a segurar as mãos de Naruto com compaixão, já imaginando onde a história ia acabar. O cliente pareceu apreciar o gesto.

— No último feriado os pais dele nos levaram para o Havaí e estava tudo ótimo, mas Sasuke e eu acabamos ficando no mesmo quarto por algum erro, acho. Eu fiquei um pouco... Agitado com isso, mesmo sabendo que não devia tentar nada. – ele confessou baixando o rosto – Quer dizer, sinto muito por ter hormônios.

— Eu te entendo... – Sakura se ouviu dizer. O que Naruto não poderia adivinhar é que ela acabara de conhecer essa sensação. Literalmente há cinco minutos.

— E tipo, eu nem sentia nada por ele. Realmente o via como amigo, mas nessa viagem havia pouquíssima roupa em jogo já que estávamos na praia a maior parte do tempo e, quando voltávamos pro quarto, eu era obrigado a vê-lo desfilando de toalha ou cueca. Foi difícil.

O rapaz sorriu, talvez lembrando da viagem e Sakura não conseguiu evitar de sorrir também tentando se imaginar nessa situação. Primeiro, se imaginou com o próprio Sasuke, que apesar de meio grosseiro, era um homem muito bonito, mas logo seus pensamentos traiçoeiros a levaram de volta ao banheiro feminino e Hinata tomou o lugar de Sasuke na fantasia.

Ela rapidamente sacudiu a cabeça para se livrar da ideia absurda e voltou a ouvir à história do cliente.

— Bom, para resumir, na última noite da viagem eu não resisti e tentei beijar ele. Foi um impulso, eu não sei o que me deu. Mas o problema maior foi que ele correspondeu. Ele me beijou de volta, Sakura! E foi um beijo de verdade, que encaixou tão bem... Por isso fiquei achando que ele...

— Você achou que ele gostava de você desse jeito, né?

Naruto concordou envergonhado e voltou a fungar. Seus olhos marearam, mas ele os fechou com força para afastar as lágrimas.

— Mas acho que eu estava sendo apenas precipitado. Projetei o que eu sentia nele e me fodi. A verdade é que ele me odiou por aquela noite e tem me evitado desde então. A viagem de volta ao Japão foi extremamente desconfortável... – continuou – E como eu sou um idiota, eu fiquei insistindo em tentar falar com ele de todas as formas possíveis. No início achei que ele fosse um babaca por fingir que nada aconteceu, mas agora vejo que eu que forcei a barra. Me esqueci completamente do quão delicado esse assunto pode ser, me esqueci de como a família dele pode ser complicada e bastante agressiva quanto a essas questões.

Sakura pensou no tal irmão de Sasuke que foi expulso de casa e simpatizou com a irritação do moreno por ver Naruto na festa. Era medo.

Se o que seu cliente estava dizendo era verdade, e Sasuke Uchiha realmente retribuiu ao beijo, então ele devia estar uma pilha de nervos sem saber o que pensar de si mesmo; sem saber o que fazer sobre seus sentimentos conflitantes.

— Só que eu demorei demais pra perceber que estava causando sofrimento nele. Agora que eu sei, decidi não me meter mais. Vou deixa-lo em paz. Mas acho que não sou tão forte e acabei vindo chorar no banheiro. Ridículo, né?

— Sinto muito que as coisas tenham ficado assim entre vocês. – foi o que ela conseguiu dizer.

— Relaxa, eu vou superar. – garantiu – E tenho que te pedir desculpas, já que só te contratei pra fazer ciúmes nele e perturbar um pouco a família certinha dele.

— Ah então agora entendi porque você enfiou uma garota de cabelo rosa num antro de pessoas tradicionais e preconceituosas. – ela tentou brincar, tendo sucesso ao arrancar um sorriso tímido do cliente.

— Não se preocupe. Logo Obito chega, e podemos ir embora antes do jantar. – garantiu – Não quero deixar de cumprimentar ele, porque é um cara bem legal.

Era a segunda vez que Naruto se referia tão bem ao anfitrião da festa.

— Você parece admirar o Obito de verdade. – observou recostando o corpo na porta da cabine. Estava quase tão relaxada que esqueceu onde estavam.

— O cara é muito foda. – Naruto também parecia mais à vontade com o novo assunto e aumentou o tom de voz sem se dar conta – Não só é gente boa, mas é muito inteligente e aberto pra conhecer o mundo e os pontos de vista que compõem as sociedades. Além disso, sempre foi sagaz pro mundo dos negócios e por isso ele é o "menino de ouro" dos Uchiha.

— E o que você acha que ele vai anunciar no jantar?

— Ah, deve ser algo relacionado à trabalho mesmo. – o loiro deu de ombros. Ia acrescentar mais alguma coisa, mas ele e Sakura foram surpreendidos com uma batida forte na porta da cabine que fez os dois gritarem mais alto que o necessário.

— O que vocês dois pensam que estão fazendo? – uma voz bastante grave ecoou.

Com os olhos esbugalhados, os dois se encararam pois sabiam que não havia saída. Foram descobertos.