Acordei tarde, o que já era esperado já que dormi quase meia-noite. Pulei da cama e corri para a cozinha, Daniel já havia preparado meu café da manhã. Me sentei na mesa e comi rapidamente, então subi para o quarto, escovei os dentes, vesti minha roupa e saí correndo. Dessa vez, fui para a escola de bicicleta. Cheguei em cima da hora, o sinal tocou assim que pus minha bicicleta perto da de Jake e da de Eduardo, corri para a sala e assim que abri a porta todos me fitaram.

— Me desculpe o atraso – Comentei fitando a mesa da professora, então vi que ela não estava ali – Cadê a professora? – Perguntei fitando o povo da sala, então notei que Jake movimentava a boca para falar algo sem alertar os outros. Corra! Era o que ele estava tentando dizer.

— Agora! – A mistério falou, então todos se levantaram para correr para cima de mim e eu fugi deles fechando a porta dando tempo de escolher um dos vários caminhos disponíveis. Não podia sair da escola, ela estava trancada e se saísse poderia ser pego pelos fiscais e voltar para a sala o que diminuiria minhas chances de não ser pego. Corri para o banheiro masculino e fiquei em cima do vaso vasculhando as coisas em minha bolsa.

— Meu celular? – Comentei ao ver que meu celular estava dentro de minha bolsa, eu o liguei e vi a mensagem que havia recebido de Daniel.

Desculpe, senhor, me forçaram a não falar até que o senhor chegasse na escola, bem, o senhor deve estar se perguntando o que está acontecendo, eu vou explicar. Estavam brincando de verdade ou consequência antes do senhor chegar, a diretora e a professora participaram, uma garota a sorteou e fez um desafio para as duas, quem te beijar primeiro nessa segunda-feira, receberá nota 10 o ano todo, independente de quem for, homem ou mulher.

— Você está aqui!? – perguntou assim que entrou, era a mistério, ela estava chutando as portas que separavam os vasos do banheiro – Apareça, apareça onde quer que esteja – Falou chutando mais uma porta, coloquei minha bolsa nas costas, destranquei a porta e subi a parede que separava o que eu estava do outro. Ela chutou a porta com força, mas não viu ninguém lá dentro e foi para a próxima porta onde eu estava, desci calmamente na porta onde ela havia acabado de abrir, que se fechou devido a força do impacto na parede, ela abriu a porta onde eu estava e não viu nada – Ele não está aqui – Comentou depois de ter aberto as portas, então eu ouvi a porta da entrada ser aberta e fechada, suspirei em silêncio e fitei a mensagem no celular novamente. Me recordei do que aconteceu a algumas horas atrás.

"- Horário de verão, são 23:22 agora"

"- Droga"

Agora eu entendi a "droga", provavelmente foi ela quem desafiou a professora e tentou conseguir os pontos antes de todos que devem ter combinado de correr atrás de mim hoje. Esperta, mas deu errado e não muda o fato de que ela beija bem. Dei de ombros com o pensamento, agora eu tenho que sair daqui, não posso ficar o tempo todo no banheiro, uma hora ou outra vão descobrir e me encurralar aqui.

Coloquei a cabeça do lado de fora do banheiro e olhei ao redor, nada à vista, suspirei e saí caminhando para outro lugar que eu sabia que seria um bom esconderijo, fiquei entretido enquanto pensei nisso e passei pela ligação entre dois corredores e adivinha o que vi?

Vários armários abertos e várias pessoas procurando, uma delas me viu e andou devagar até mim, eu já me virei e comecei a andar para sair, uma outra o viu e fitou para onde ele estava olhando e correu para cima de mim. Comecei a correr, logo pude ouvir os vários passos pesados rápidos em movimento, só não vi porque já estava correndo. Conhecendo o pouco da escola que conheço virei a direita no próximo corredor e a próxima curva eu poderia ir reto ou virar para a esquerda ou direita, mas antes de mais alguém conseguir aparecer no corredor uma mão abriu uma porta e me puxou para dentro de uma sala, fechando a porta cuidadosamente depois de me jogar no chão, ela fitou a pequena janela da porta vendo eles passarem, então quando senti os pés longe a vi suspirar.

— Eai novato – Ela falou me fitando e cruzando os braços sorrindo.

— Oi, não está querendo as notas não? – Perguntei me levantando do chão.

— Não preciso beijar o novato para conseguir 10 em todas as provas – Ela falou fitando a janela da porta novamente.

— Obrigado – Agradeci e ela me fitou, notei um leve tom vermelho em suas bochechas.

— Por nada – Respondeu fitando o chão e eu me sentei em uma das cadeiras da sala – Foi o robô que te contou não foi? – Ela perguntou me fitando.

— Sim, ele deixou meu celular na bolsa propositalmente para que eu lesse a anotação que ele deixou – Expliquei e a fitei notando que ela queria falar algo, pensei um pouco e pensei em dois assuntos – O que você ia falar? – Perguntei e a vi me fitar com uma sobrancelha arqueada – Se for sobre o que estou pensando eu sei que você foi em casa algumas vezes.

— Não – Ela falou retirando o sorriso do rosto e olhando para o lado.

— Não o que?

— Eu fui sim, por isso que Daniel conseguiu me ver depois né? – Perguntou me fitando.

— Sim, eu fundi os olhos antigos dele com os atuais, permitindo-o vê-la – Expliquei enquanto ela se sentava na cadeira atrás de mim.

— Entendi.

— Mas não era isso que você estava pensando, era? – Falei fitando-a.

— Não... ela beijou mesmo você? – Ela perguntou me fitando, notei ela apertar o braço direito com a mão.

— Sim – Respondi.

— Você gostou?

— Ela beija bem, mas não, não gostei – Respondi e a vi me fitar com os olhos arregalados – Não sou fã de beijar alguém por nada, o famoso "ficar" para mim não existe – Expliquei, ela me fitou arqueando uma sobrancelha – Eu não a beijei, mas correspondi porque eu devia obedecer, sou fiel as regras do jogo. Uma vez dentro, até o fim estarei dentro – Comentei.

— Quer dizer que se eu te beijasse dentro do armário você corresponderia mesmo não gostando de mim? – Ela perguntou.

— Sim, mas eu provavelmente gostaria, já que eu gosto de você – Respondi e ela encostou na cadeira surpresa olhando para o lado – Foi Vivi que fez esse desafio, não foi? – Perguntei, ela me fitou e acenou positivamente com a cabeça – Foi por isso que ela me beijou, ela pensou que já era hoje, mas acabamos de sair do horário de verão.

— Faz sentido – Ela comentou depois de bater a palma na testa – Mas porque simplesmente não escolhe uma garota e a beija? Todas as garotas da sala querem de beijar nesse momento – Falou fazendo um gesto com a mão.

— Todas? – Perguntei arqueando uma sobrancelha, a notei ficar levemente vermelha e olhar para o lado.

— A maioria – Corrigiu-se.

— Você já se perguntou o porquê de eu sempre usar este anel – Perguntei mostrando minha mão com o anel.

— Na verdade, sim.

— Eu o comprei pouco depois de minha ex terminar comigo, três dias depois ela ficou com meu melhor amigo – Comentei. Notei ela ficar de olhar arregalado provavelmente surpresa devido a isso – Eu sabia que ela nunca havia gostado de mim, ela apenas me usou para que pudesse se aproximar do namorado atual.

— E o que você fez? – Ela perguntou e eu a fitei sorrindo.

— Eu sempre dizia a ela: se achar que gosta de outro me largue e vá atrás dele, não se preocupe comigo – Expliquei, ela inclinou para frente para ouvir melhor – O namoro durou quase 3 meses e por isso eu acabei gostando dela pouco antes de terminarmos.

— Você não gostava dela!? – Berrou, eu coloquei a mão no queixo.

— Não realmente, mas a tratava bem. Queria que ela apenas ficasse bem e como sabia que não era comigo, evitei o máximo para não gostar dela, mas acabei não conseguindo – Expliquei, ela acenou positivamente com a cabeça – Então eu comprei esse anel para me lembrar do que fiz e prometi que não beijaria alguém por ficar, somente por namorar. Por isso peço alguém em namoro cedo demais e ela geralmente aceita pois vê uma forma de se aproximar de quem gosta.

— Nunca considerou a possibilidade de alguém gostar de você? – Ela perguntou, então abriram a porta com força e correram para cima de mim e eu pulei pela janela aperta e consegui me afastar sem poder responde-la.

Graças a essa conversa eu sei o que fazer. Se me lembro bem, quando entrei na sala todos fizeram movimento brusco para se levantar e correr atrás de mim, com exceção de 4 pessoas, Jake, Eduardo, a encrenqueira e Vivi. A encrenqueira saiu, no entanto não vi nenhum dos outros 3 em nenhum outro lugar, se eu estiver errado serei pego já que a sala não possui janelas grandes o suficiente para que eu passe, mas irei lá. Consegui evitar os outros alunos e chegar na porta de minha sala onde Jake e Eduardo estavam como se fossem guardas.

— Ela está aqui – Jake falou assim que cheguei perto.

— Evitaremos que alguém entre o máximo que conseguirmos, mas não conseguiremos por muito tempo – Eduardo falou, eu acenei em resposta.

— Podem sair, deixem que entrem – Falei. Eles me fitaram surpresos por um tempo, eu entrei na sala e fechei a porta, pouco depois eles saíram da porta.

— Me desculpe – Ela falou, estava soluçando e provavelmente havia chorado.

— Pelo que? Por não correr atrás das notas boas? Não se preocupe, você não é a única – Comentei brincando, fingindo não entender.

— Fui eu tá bom? Eu quem desafiei a diretora, isso tudo que está passando é minha culpa – Ela falou me fitando, então deitou a cabeça na mesa.

— Eu estou me divertindo, é como um toca-ajuda, só que eu sou o último que falta ser pego – Comentei e ela me fitou séria – Imagino que não foi por isso que você tenha pedido desculpa – Perguntei e ela acenou negativamente com a cabeça.

— Foi por dois motivos, por ontem, que eu pensei já ser hoje e por esse – Falou, então mostrou uma das mãos que estava segurando o celular no grupo da escola. Ela disse que eu estava aqui. A porta foi aberta e o povo entrou e eu corri para perto de Vivi.

— Muito bem, de nada – Falei, então a beijei, assim que encostei meus lábios no dela parei de escutar os pés pesados e pouco depois interrompi o beijo – Parabéns, você tem 10 durante o resto do ano – Falei, então me virei e andei para sair. Com o povo abrindo caminho para que eu passasse, então eu sai da sala. Ela não havia correspondido o beijo...

— Você não disse que não beija alguém por nada? – Ela perguntou caminhando ao meu lado.

— Não vai acontecer nada devido eu tê-la beijado? Eu acho que fui cruel sem querer – Comentei então ela me fitou – Ela vai passar o ano inteiro se lembrando da aposta e do arrependimento que fez, ou ficar feliz por passar sem estudar – Falei dando de ombros, então uma garota pulou em cima de mim.

— É meu, eu ganharei o benefício – Riley falou em cima de mim.

— Já pegaram ele, Riley – Mistério avisou, Riley me fitou e eu acenei positivamente com a cabeça, então ela se levantou pedindo desculpas – Você é bem estranho, novato – Ela disse me ajudando a levantar, então se levantou e foi embora. Então eu andei para ir para casa e a encrenqueira me acompanhou.

— Já sim – Falei, fitando a encrenqueira que me olhou com um olhar surpreso.

— O que?

— Você me perguntou se eu nunca considerei a possibilidade de alguém gostar de mim.

— Certo, mas porque não considera mais?

— Foi culpa dela.

— Dela quem.

— Foi a primeira garota que beijei, morava com a avó e a avó dela trabalhava onde eu morava, meus pais saiam e a avó dela ia também ficando apenas eu e ela na maioria das vezes.

— Já sei, fazendo coisas pervertidas – Comentou sorrindo.

— Exatamente – Falei, ela me fitou por um instante surpresa – No entanto eu cometi um erro.

— Passou dos limites? – Perguntou e eu acenei a cabeça negativamente.

— Não, nunca tirávamos as roupas, no entanto eu a beijei, realmente a amava e esse foi o problema.

— Ela não gostava de você?

— Gostava, retribuiu o beijo pelo menos, no entanto fez algo que me fez deixar de ser o pegador que era.

— E o que foi?

— Correu para o banheiro e tentou fechar a porta.

— Como assim.

— A porta do banheiro era quebrada, para fecha-la tinha que tranca-la, senão era apenas empurrar, o erro dela foi não escorar, ela jogou a porta e ela acabou voltando depois de fechar e eu a vi através do espelho, enfiando o dedo na garganta para forçar sons de vômito, desde então deixei de acreditar de que alguém pudesse gostar de mim – Expliquei e esperei uma reação, então ouvi o som dela engasgando e a fitei – Sério?

— Tinha que testar – Ela falou, então riu – Nunca deixe de acreditar no impossível, novato, as vezes ele te surpreende – Ela falou depois de rir, então fitou o céu e eu sorri.

Virou minha amiga.