P.O.V Jonathan

— Sim pai, pode deixar, eu to bem – Repeti pela milésima vez para meu pai no telefone. Ele era um cara sempre bem humorado, mas também era um pai cuidadoso e suas piadas se misturavam com preocupações.

— Jonathan, eu repito, se você tiver alguma febre, algum problema de humor, me ligue – Sua voz soou séria. Eu não entendia no começo sua preocupação excessiva com minha temperatura e emoção e muito menos o motivo da insistência para eu vir morar no Canadá, mas minha mãe atribuiu as primeiras a uma síndrome que aparentemente atingia os homens da família e o intercambio a uma preocupação com minha educação.

— Pai, se eu espirrar eu te ligo, tá bom? – Eu disse já cansado.

— Isso aí. Te amo filho, se cuida.

— Também te amo pai... Tchau. – O som de fim de chamada soou e eu desliguei a tela do celular.

— Jonny – Mackenzie surgiu no meu campo de visão – O intervalo já acabou, melhor a gente ir para a turma, se seu pai receber uma ligação que você está pulando aula ele vai morrer – Ela riu.

— Morrer é eufemismo – Eu disse sorrindo e levantei pegando minha mochila – Você tem que aula agora? – Fomos andando em direção ao prédios.

— Educação Fisica e você? – Ela perguntou.

— Literatura – Disse enquanto desacelerava o passo ao chegarmos próximos ao cruzamento de corredores que nos levaria em direções opostas.

— Ah legal... Bem então eu vou pra lá e... – Ela começou a corar – É isso, boa aula Jonathan!

— Boa aula Mack – Disse acenando e indo em direção a sala de aula. Entrei um pouco antes do professor e fui direto para uma carteira mais a frente.

Eu sentava na frente porque tinha de prestar atenção, eu tinha de tirar notas boas e não apenas no nível normal de preocupação. O programa de intercâmbio do qual eu participava me ajudava a pagar minhas despesas com moradia e alimentação, mas em troca eu tinha de tirar notas muito boas.

Outra preocupação era lidar com as pessoas. Os canadenses eram todos muito educados, mas eu ainda era de outro país e a vida toda tinha estudo em uma escola da reserva indígena que morava.

Eu era um ponto vermelho no meio da neve. Deslocado sempre, mesmo que no meio dos meus amigos fosse bem pouco.

Quando os estudantes novos chegaram eu senti um novo tipo de alivio. Eu não era mais o último que chegou na cidade então a atenção tava toda nos novos moradores.

Apesar de um deles estar chamando atenção demais da Freya – o alvo da minha paixão platônica nos últimos 2 anos – o que me irritava, eles ainda pareciam ser legais. Fechados, mas legais.

A aula começou lenta e terminou parada. O professor não passou nenhum livro em especifico, só citou alguns e escreveu bastante no quadro, com intervalos para refletir sobre a importância da literatura.

Depois que o sinal tocou anunciando nossa liberdade, comecei a juntar meu material enquanto a maioria dos alunos saia em debandada para fora.

Alguns dias nós tínhamos um sexto horário, mas hoje não era um desses dias e isso era maravilhoso.

Olhei em volta ao colocar minha mochila nas costas e vi Freya sentada ainda sem se mexer e comecei a me aproximar, vendo então que ela estava olhando para um ponto imaginário e estava suando, com cara de cansada.

— Freya? – Chamei – Freya você tá bem? Freya? Freya! – A ansiedade cresceu rapidamente e antes que pudesse virar para chamar ajuda, ela acordou e olhou para mim, parecendo perdida.

— Oi Jonny, o que foi?

— A aula já acabou, a sala ta quase vazia e você nem recolheu seu material, você só ficou parada olhando para um canto, ta tudo bem? – Expliquei, ainda me sentindo ansioso com seu estado estranho. Será que ela estava doente? Tinha comido algo ruim? Estava triste? Estava tendo um AVC? Meu deus.

— Eu não sei, eu to com enxaqueca e acho que to ficando gripada... – Ela disse com a voz meio grogue;

— Você quer ir até a enfermaria? Eu te levo lá. Você ta com uma cara péssima – A verdade é que eu iria arrastar ela até lá mesmo se ela não quisesse.

— Eu acho que é uma boa ideia – Ela disse se levantando, mas começou a tombar para o lado e a segurei com medo que ela caísse.

— É uma ótima ideia na verdade – Eu disse com a adrenalina voltando ao pico. Ela parecia piorar a cada segundo. Me abaixei rapidamente juntando sua mochila e jogando o caderno em cima da mesa dentro dela e então a joguei sob meu ombro.

Puxei Freya para meu lado, puxando um de seus braços pelos meus ombros e praticamente arrastando ela para fora, para os corredores o mais rápido que conseguia, dado que não podia correr com ela tão fraca.

— Olá, vocês precisam de ajuda? – Virei para a voz e vi um dos Cullen parecendo preocupado.

P.O.V Madelaine

Eu não vou matar o Logan. Eu não vou matar o Logan. Eu não vou matar o Logan.

— Fala sério Mads, você anda como lésbica, fala como lésbica, cheira como lésbica e até senta como lésbica – Ele apertou os lábios e os olhos como se estivesse considerando adicionar mais alguma coisa aquele elóquio absurdo - E gostaria que a Freya sentasse em você como lésbica também – Ele jogou a cabeça para trás rindo alto.

Eu não vou matar o Logan. Eu não vou matar o Logan. Eu não vou matar o Logan.

— Logan, ela vai te matar – Sophie disse atrás de mim, rindo com sua risadinha de sininhos.

Sophie era um doce de pessoa e muito inteligente, ela não era muito aberta então não sabia muito sobre sua vida, tudo que sabia era que ela era filha de pais divorciados e vivia com seu pai e sua irmã de 8 anos.

Seu pai era pastor da igreja do bairro da escola e era um homem rígido em muitas coisas, mas também era amoroso. Acho que sua rigidez vinha da importância de ser um bom exemplo para a comunidade, ele se dedicava de verdade e além de ser pastor, ele também tinha uma pequena floricultura que era a fonte de renda de sua família.

Sophie era uma garota negra com o cabelo cacheado e comprido, ela estava sempre se vestindo de forma comportada e geralmente em tons pastéis e com algum enfeite na cabeça.

— Ela vai sim, e o motivo vai ser que ela vai amassar minha cabeça com a porta do armário quando ela sair dele – Ele disse, fazendo outra provocação.

— Logan, não é porque você não consegue seduzir uma garota que ela é automaticamente lésbica, talvez seja só porque você é insuportável – Eu disse com um sorrisinho acido e observei com satisfação a cara de ofendido de Logan.

— Podia ter dormido sem essa – Sophie começou a rir.

Logan era um garoto bonito, qualquer um podia ver, ele era alto e a pele dele era um tom meio café com leite (Com mais leite do que café), ele tinha olhos castanhos bonitos e intensos e levemente puxados, seu corpo estava começando a tomar alguma forma aos seus quase 17 anos e provavelmente ele teria um corpo com músculos mais definidos se continuasse sua rotina de treinos para o basquete.

Se nós dois estivéssemos juntos, seriamos um casal bonito e ele realmente havia tentado se aproximar de mim no verão, mas ele também estava certo: Eu era uma boiolinha dentro do armário.

O sinal para o fim da aula tocou e nós recolhemos nosso material e saímos da aula. Logan e Sophie foram para o estacionamento e eu fui em direção ao corredor onde Freya estava tendo aula e então vi algo estranho: Jonathan segurando Freya e o Cullen loiro indo em direção a ela e a pegando no colo. Ela então amolece e parece desmaiada, sai correndo na direção deles.

P.O.V Jasper

Não estava exatamente nos meus planos carregar um humano nos braços até a enfermaria. Isso era trabalho do Edward (provavelmente Emmett daria boas risadas com isso mais tarde), mas a garota estava quase desmaiando no corredor e o pânico da criança que estava lhe acompanhando era grande demais para ser ignorado.

— O que aconteceu? – A menina ruiva, Madelaine, se aproximou de nós enquanto eu me virava para carregar a humana – Freya, Freya você ta bem?

— Eu percebi que ela tava meio mal quando a aula acabou e agora ela desmaiou – Jonathan se apressou para explicar, e eu, sai andando para o lugar onde me recordava pelo mapa.

Não foi difícil encontrar a enfermaria e nem carregar Freya até lá, o difícil era lidar com as emoções dos outros, eu me sentia ansioso e preocupado cada vez mais pois todos a minha volta estavam e isso acabava influenciando essas mesmas pessoas e o ciclo estava criado.

A menina só tinha sofrido um desmaio e estava com febre, Alice não apareceu em meu resgate no período de tempo que estive ali, então imaginei que tudo estava sob controle.

No entanto as emoções da garota ruiva não estavam sob nenhum tipo de controle e eu tentei influenciar calma nela, mas bastava eu baixar a guarda e o pânico subia novamente, mesmo após Freya acordar.

Era uma mistura de preocupação, medo e amor. O amor se dividindo entre fraternal e amoroso constantemente. Edward teria problemas com isso.

Após o murmúrio rápido, um saco de gelo e um tylenol foram a solução, além de a recomendação de uma visita ao médico, coisa que percebi que Freya não faria pelo nível de desgosto que ela sentiu ao ouvir a palavra “hospital”. Jonathan foi o primeiro a se retirar da sala e eu me retirei em seguida, deixando as duas meninas e a enfermeira sozinhas.

Do lado de fora, encontrei minha família me esperando próximo ao carro de Edward.

“Ela está bem Edward”

Pensei antes que Edward pudesse me socar no chão em busca de respostas.

Alice radiava orgulho e felicidade.

— Você foi incrível – Ela disse me abraçando.

— Temos então mais um guarda-costas de humanas, cuidado hein Edward? – Emmett riu alto. Mas eu já sabia que ele ia fazer isso, todos nós sabíamos e todos nós sabíamos que Rosalie ia ficar indiferente.

Haviam reações que não precisavam de leitura de mentes, emoções ou futuro para prever.