Too Late escrita por ro_dollores


Capítulo 1
Capítulo 1




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“Não Sara! Eu não sei o que fazer com isso!”

 

Sara olhou para os pingos da chuva que escorriam em seu pára brisas, sua visão embaçada pelas lágrimas vislumbrou luzes de neon que piscavam no frio da madrugada. Ela parou o carro e acionou o alarme, enxugando o rosto com a manga de sua jaqueta.

O bar estava repleto, uma velha canção tocava no jukebox.

 

“Eu não sei o que fazer com isso!”

“Quando descobrir o que fazer, será tarde demais!”

 

Ela se sentou em frente ao balcão e pediu uma cerveja. Metade do conteúdo se foi no primeira looping da garrafa.

“Hey … que sede é essa?”

“Vá para o inferno!”

“Se toda vez que alguém me mandasse para o inferno neste lugar eu ganhasse um dólar, compraria um cassino!”

Ela olhou para o homem à sua frente e por algum motivo desconhecido, começou a rir. Ele era bonito, com seu rosto magro, cabelos ruivos e barba por fazer. 

“Desculpe.”

“Tudo bem … eu não devia … me meter na sua … bebida! Eu sou Calebe!”

Ela aceitou a mão grande estendida em sua direção. Ele parecia legal, que mal havia em retribuir.

“Sou Sara … e eu preciso de outra, por favor!”

Ele serviu uma nova garrafa, sem tirar os olhos dela.

Algumas garrafas depois, ela se viu sentada em uma mesa no canto, as mãos na cabeça, chorando convulsivamente.

 

“Eu não sei o que fazer com isso!”

 

“Eu não sei quem é o responsável, mas queria socar a cara dele até fazê-lo se arrepender por te magoar!” - Ela levantou a cabeça, o bar estava quase vazio. - “Há um ele não é?”

“Sim … sempre há!” - ela riu amarga.

“Você quer me contar? Vou fechar o bar!”

“Oh … me desculpe.” Sua voz estava um tanto pastosa, a dor de seu peito havia aumentado horrores, a quase dormência de sua mente estava lhe enviando avisos de que se não desabafasse com alguém, enlouqueceria, mesmo assim precisava apelar para o bom senso, ele era um completo estranho, seu alerta precisava estar sempre ligado.  - “Preciso sair daqui …”

“Não … não pode sair assim … vou pegar um copo de água e tem que aceitar!”

Ela não rebateu, apenas ficou ali, olhando Calebe ir até o outro lado do balcão e voltar com uma jarra e dois copos.

“Tome … eu te acompanho … se bem que posso te oferecer um café.”

Ele se levantou e pegou em sua mão, assim que ela bebeu todo o líquido muito gelado.

“Venha … por favor … me deixe fazer algo para você!”

Eles foram para a saída nos fundos do bar, atravessaram um pequeno quintal, e ele a acomodou em uma cadeira na varanda de madeira.

“Sente - se vou trazer a máquina de café e podemos conversar.”

“Não … eu tenho que …”

“De jeito nenhum, você não tem que estar em outro lugar … não saia daí!”

Ela olhou em seu entorno e gostou da arrumação, um simpático jardim japonês, uma passarela e um mimoso chalé. 

“Você … mora aqui?”

Através da janela logo acima de sua cabeça, ela viu Calebe abrir alguns armários e descompactar uma máquina de expresso.

“Não! Fico aqui apenas quando estou muito cansado para pegar a estrada, eu reformei este lugar há pouco tempo, desde então eu … consegui um pouco de sono de qualidade.”

“Oh!”

“Pronto, vamos conversar!”

Ele sentou ao lado dela e esticou o corpo para frente, foi então que ela viu os olhos muito verdes e uma expressão tão acalentadora, que ela se sentiu bem imediatamente.

Sara sorriu e pegou a xícara de café de suas mãos, sem saber porque confiava nele.

“Eu não deveria falar com estranhos.”

“Eu me apresentei alguns minutos atrás, não sou estranho e você já sabe algo da minha vida. Se quiser posso contar mais …tenho residência fixa, estou solteiro, saí de uma separação há seis meses e resolvi cuidar da minha vida em vez de cuidar da vida de alguém que pouco se importava comigo. Tenho trinta e sete anos e minha mãe mora ao lado de minha casa. Tenho duas sobrinhas e uma irmã linda, meu cunhado é professor, eu também sou, mas joguei tudo para o alto e agora estou vivendo meu sonho! É o suficiente?”

Ela estava de olhos arregalados, em sua profissão confiar significava perigo!

“Em minha profissão, vemos muita coisa.”

“Você é policial? Meu pai também é! Se precisar do número de meu seguro social posso te dar.”

Ele sorriu.

Ela também, o café estava a deixando mais lúcida.

“Sou CSI!”

“Puxa vida, uma CSI? Conheço alguns … e  então ...  está melhor?”

“Sim … obrigada, Calebe.”

“Vamos lá … quem é que te fez chorar, você não é casada … é?”

“Não … ele é meu supervisor e acabei de levar um fora … você sabe como é!”

“Isso dói … eu fiquei bêbado por uma semana … quase enlouqueci minha mãe. Mas a gente sobrevive, Sara. Você o ama?”

“Tenho a impressão que por quase uma vida e por todo o resto dela.”

Ele balançou a cabeça em concordância, depois aproximou mais a cadeira.

“Foi uma separação?”

“Não! Nunca tivemos nada, nós temos a política do laboratório, regras e regras e, … toda a coisa de diferença de idade que é uma grande besteira!”

“Você pode … me dizer o nome dele?”

“Melhor não …”

“Supervisor … mais velho … vou arriscar … é o dr. Grissom?”

Ela não sabia como se desculpar e sair dali. Sem rostos e nomes era muito mais fácil, mas daquela forma, não era certo. Ela estava fazendo muito, por conta da bebida, se soltando como nunca fez.

“Antes que saia correndo, não se preocupe, ele jamais saberá algo sobre isso … meu pai é um grande amigo dele, tudo começou quando conseguiu salvá-lo de um lunático que achou ele muito parecido com seu próprio pai, um abusador. Minha mãe é muito grata a ele! Eles são separados, mas na ocasião ainda estavam juntos.”

“Não sei o que dizer.”

“Bem … apenas diga que agora confia mais em mim. E se quer saber você não tem nada a ver com ele!”

“Você mal me conhece, como pode …”

“Qualquer homem se dobraria a seus pés, você é linda, Sara!”

Ela abaixou a cabeça e olhou para suas próprias mãos.

“Eu tenho essa coisa de intuição que vocês não acreditam muito, embora não tenha funcionado com minha ex mulher, ainda me orgulho das proporções em que geralmente acerto.”

“E qual é sua intuição sobre mim?”

“Você promete que não vai rir?”

Ela levantou dois dedos e sussurrou.

“Eu prometo.”

“Você é uma workaholic, inteligente, mora sozinha, é quase solitária, tem poucos amigos e ama seu supervisor. Diz que aceitei pelo menos duas opções.”

“Uma não vale … eu mesma entreguei, então … vejamos … você tem … você tem um acerto de cinco em cinco. Parabéns!”

“Obrigado!”

“Eu … preciso ir!”

Ela se levantou e ele fez o mesmo.

“Ainda é cedo … você precisa de ajuda para levá-la para casa?”

“Não … e muito obrigada por tudo … eu não sei como dizer sobre … tanto trabalho …”

“Opa … nem pense nisso, eu gostei de te ajudar …e … eu vou te ver de novo?”

“Talvez …”

“Amanhã?”

Ela apenas sorriu e aceitou a companhia dele até o portão fechado que saía para o estacionamento.

“Mais uma vez obrigada, Calebe!”

“Não tem de quê … durma bem, Sara!”

 

“Eu não sei o que fazer com isso!”

 

“Não!”

Ela acordou em sobressalto e se sentou na cama, a cabeça parecia em uma enorme roda gigante, girando sem parar.

“Oh Deus … o que foi que eu fiz?”

Ela se lembrava de ter aberto o coração para um completo estranho, se foi a bebida quem destravou sua língua ela tinha que reconsiderar o álcool em seu organismo.

De repente percebeu que ao fazer, havia trazido um certo conforto, sentiu vontade de ligar para ele mas se conteve. Qualquer dia passaria de seu bar e poderiam ter mais contato, talvez ele apenas fosse tão diferente que nada o lembrava de Grissom.

Assim que ela entrou em seu turno, foi procurar por Grissom, precisava saber sobre suas horas, o primeiro passo.

Ela bateu e entrou.

Ele mal a olhou.

“Você poderia fazer meu cronograma de extras, por favor, vou precisar de alguns dias.”

Ele ergueu os olhos da tela, tirou os óculos e se encostou na cadeira.

“Isso tem a ver com …”

“Não …” - ela ergueu uma das mãos e deu um passo para trás como se quisesse se proteger. - “eu preciso resolver algumas coisas, preciso de tempo.”

Sua expressão era de quem não estava acreditando em uma só palavra do que ela dizia. Sua resposta foi pontual e ácida, acertando o alvo e devastando ainda mais sua vida.

“Você precisa de aconselhamento, Sara, não pode confundir as coisas dessa maneira, eu … não sei o que …”

“Fazer com isso!” - ela completou.

 

“Eu não sei o que fazer com isso!”

 

Sempre aquilo!

Ela não deixou por menos, não iria mais virar as costas e chorar por dias.

“Não interessa o que você acha sobre qualquer coisa na minha vida, meu trabalho estando de acordo, é só o que interessa à você, do mais … se tenho alguns dias, eu vou usar … isso se chama direitos” - ela repetiu

Ao ver a reação dele, seu interior vibrou. Não era maldade, era auto defesa. Ela ia dar um basta em sua baixa auto estima.

Nem ele, nem ninguém a empurraria para baixo, não mais!

“Desculpe … eu não quis …”

Ela já havia virado as costas, o recado estava dado!


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