Dark End Of The Street escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 36
Apatia




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/794535/chapter/36

 

Barry enruga o cenho em completo estranhamento e imediato mal humor no instante em que as cortinas são arreganhadas, fazendo com que a luz forte do sol iluminasse todo o quarto. Sentia ter sido tirado abruptamente de um sono muito profundo, enquanto o corpo pesado se revirava na cama e seus olhos lutavam para encarar a mulher, que andava de um lado a outro recolhendo peças de roupas, copos e pratos deixados displicentemente por todos os lados. 

— Iris. – Resmungou, colocando o travesseiro sobre a cabeça. – Me deixe dormir.

— Acho que já dormiu o suficiente.

Ela declarou de maneira firme, puxando o travesseiro sem qualquer delicadeza, indignando-o.

— O que está fazendo?!

— Cisco me contou o que aconteceu. – Barry paralisou e a jornalista levantou uma sobrancelha ferina. – Tudo o que aconteceu.

Suspirou de maneira farta, apertando as mãos contra os olhos. Não sabia como Iris poderia reagir ao que acontecera nos últimos tempos, afinal consequentemente os levara ao divórcio, e sequer tinha planos de contar a ela tão cedo, mas só poderia imaginar o que usara para fazer Cisco falar, enquanto ela continuava a encará-lo inquisitiva, felizmente bloqueando com o corpo a luz irritante que invadia o quarto pela janela.

Não tinha qualquer intenção de sair dali tão logo. Após a conversa com Caitlin no Cofre do Tempo, a única coisa que se lembrava era de ter voltado para a casa e se jogado na cama, repassando tudo o que a doutora dissera e todas as informações da Força de Aceleração como em um eco. Ao mesmo tempo em que era como se sentir mais leve, por finalmente conseguir dormir profundamente, sem sonhar, sem contato com a Força de Aceleração, descansando, também soava como um eterno vazio de sua própria mente. 

Constatar isso o fizera querer se encolher, pois literalmente só se via conectado ao que fazia parte dos lapsos e ao olhar magoado de Caitlin lhe dando às costas por não conseguir fazer seu próprio corpo se mover em certeza por ela, o que o apertava descomunalmente por dentro. Tudo isso o colocava na inércia daquele quarto, ignorando o mundo e até as ligações, as quais em algum momento simplesmente pararam de insistir naquela vibração irritante.

— Está brava? – Notou sua garganta seca pela falta de uso mesmo no tom baixo enquanto a via expirar e deixar cair os ombros, abaixando um pouco a guarda.

— Um pouco... Sim. Queria que tivesse confiado em mim, para se abrir sobre tudo o que estava acontecendo com você.

Ela foi cruelmente direta, como sempre costumava ser e, por um momento, imaginou como processara tudo inicialmente. Iris não deveria ter reagido nada bem à possibilidade de... Outra mulher em sua cabeça, ainda que ela não fosse exatamente real até certa altura. Exceto que, em certo momento, passara a ser e estivesse próxima o bastante para realmente mexer com ele.  

— Eu sinto muito, Iris. – Se forçou a se sentar, apoiando a testa em uma das mãos. – Queria ter conseguido dizer antes. Não só quanto a Caitlin, mas... Sobre tudo. Eu não deveria ter sido tão... Omisso e covarde com o que tínhamos.

Apesar de tudo o que sentia por Caitlin, ainda se sentia totalmente desonesto com Iris e com a promessa do que poderiam ser, já que, no fim das contas, eram exatamente isso - uma promessa. De certa forma, não hesitara em deixar de lado em nome de algo mais abstrato que concreto, que o preenchia por dentro de maneira inigualável.

— Sei que sente muito. Sei como essa cabeça funciona em uma lógica muito peculiar e... – Ela pensou por um instante, meneando a cabeça. – Quando comecei a pensar sobre o que Cisco me contou e o modo como nosso casamento terminou, consegui compreender suas atitudes e foi... Bastante aliviador.

— Em que sentido? – Franziu o cenho na direção da jornalista, que resolveu se sentar do outro lado da cama, encontrando espaço entre a bagunça de edredons jogados.

— Você desejava explorar a possibilidade dos lapsos. – Barry, imediatamente, abriu a boca para negar a constatação, pois acreditava mais ter sido manipulado do que realmente ter querido entrar de cabeça naquilo tudo, mas Iris não o deixou continuar. – Fosse Caitlin ou qualquer outra mulher, chegou em um ponto em queria testar os limites dessa realidade que só existia na sua mente e por isso se sentiu culpado quanto ao nosso relacionamento, não é?

— Iris... – Ela levantou uma das mãos para dispensar outra rodada de desculpas, interrompendo-o.

— Não acho que tenha sido covarde quanto a nós. O divórcio foi uma boa decisão para que não... Me machucasse mais ou manchasse ainda mais o que tínhamos. – A viu escolher as palavras com cuidado, examinando suas feições, como que confirmando se tudo o que conhecia dele ainda estava ali. Em outro momento, consideraria que tê-la ali, finalmente colocando os pingos no is, sem meias palavras e olhares rancorosos, fosse tão aliviador quanto desejava, afinal... Era como ficavam à vontade um com o outro, como nos velhos tempos. Contudo, não conseguia sentir qualquer tipo de leveza diante do cenário pessimista em que se colocara. – Enfim, isso já ficou para trás. Está assim agora por causa de outra mulher e estou aqui... Porque preciso de você. Preciso do pai da minha filha e preciso que ele esteja são.

— Vou ficar com Nora no final de semana, como sempre.

Declarou, jogando o edredom para o lado e ficando os pés no chão frio de costas para à outra, que apenas o informou em tom baixo, objetivo. 

— Barry, você dormiu por todo o fim de semana. – Ele grunhiu de maneira derrotada, bagunçando os cabelos e alcança o celular, notando que estava desligado por falta de bateria e, provavelmente, esse fora o único motivo para ter parado de tocar e, por isso, Iris resolvera ir até lá. – Precisa resolver as coisas com Caitlin.

— Não é tão simples assim.

Pela forma como a doutora havia sido firme em seu pedido e em sua decisão, sabia que não bastaria simplesmente implorar porque sentia sua falta ou porquê jamais quisera machucá-la.

— Bem, terá que fazer com que seja. Está aqui, desse jeito, porque ela voltou para Princeton, não é? Por que a deixou ir? – Iris insistiu, prática como sempre. – Por que não disse a ela que a ama?

— Se Cisco tudo te contou também deve ter dito o motivo. – Retrucou mal humorado, ignorando o tom levemente mais delicado de quem conhecia como ele funcionava.

— Você não precisa ficar receoso de falar comigo sobre isso, Barry. – Ele fechou os olhos, voltando a se deitar convicto de que não queria entrar naquele assunto e que isso não se tratava de Iris. Era apenas... Cedo demais para repisar aquela ferida aberta, que não queria encarar até que fosse, literalmente, obrigado a tanto quando Caitlin retornasse. – Sou eu, ainda o conheço como a palma da minha mão. E entendo que, se está em meio ao caos agora, provavelmente a bagunça era bem pior quando ainda estávamos juntos e não compreendia o que estava acontecendo, certo?

— Iris, não quero falar sobre isso. – Disse lentamente, torcendo para que fosse tão firme quanto desejava.

— Não preciso que responda, basta olhar para você. – Ela se levantou, dando a volta na cama para encará-lo melhor, ainda que de cima, os braços cruzados e o olhar de quem não se conformaria com sua decisão de continuar evitando o assunto. Assim era a Iris West de sempre, assim funcionava a dinâmica deles, muito antes de serem um casal. – Está um caco porque Caitlin não aceita meio sentimento. E ela está certa.

— Por que não pode simplesmente respeitar o espaço que estou pedindo?! – Bufando, Barry se levantou novamente e desviou de uma Iris indignada para seguir em direção ao closet.

— Porquê está apenas sendo mimado! – Ela o seguiu, acompanhando-o abrir uma porta para pegar outro par de moletons brancos. Franziu os lábios em completo descontentamento, se lembrando que Carla também afirmara que era mimado e a suposta concretização disso estava começando a irritá-lo, uma vez que tentava a todo o instante não sê-lo. No entanto, quando se virou para passar pela jornalista novamente, em direção ao banheiro para, assim, ter alguma paz, Iris decididamente bloqueou seu caminho com uma das mãos contra o armário. – Ela está certa, Barry. Caitlin não merece acordar todos os dias se perguntando se o que sente por ela se trata de você, por si mesmo, ou da Força de Aceleração.

— Isso foi... Exatamente o que disse a ela. – Falou em tom cansando o que viera repetindo para si mesmo por, ao que parece, todo o fim de semana.

— Não. Acho que contou sobre tudo o que descobriu e esperou que ela decidisse te acolher, sem conhecer tudo o que sentia, embora naquele momento parecesse apenas... Incertezas. – Barry franziu o cenho, capaz de recordar palavra por palavra o que acontecera no Cofre do Tempo. – Esperou que fosse assim, porquê Caitlin é uma grande altruísta e isso facilitaria as coisas para você, não é?

— Do que está falando?

Murmurou sem compreender onde ela queria chegar, pois tudo o que mais queria era que Caitlin relevasse tudo o que viera com a Força de Aceleração e pensasse no que estavam sendo e, sim, decidisse ficar. Isso não era egoísmo, certo? Desde o início, estava, justamente, cuidando para que não fosse egoísta com ela.

— Depois de ser o responsável por colocá-la nisso, não pode se esquivar da decisão. – Ela explicou, pacientemente, embora estivesse esmagando-o com a realidade. – Sei que tem medo que não seja real, mas olhe para você. Olhe para como está porquê... Seu coração está partido. Não conseguiu evitar amá-la, ainda que sob todas essas barreiras que levantou. E terá de dizer a ela, Barry. Do modo que eu vejo, se tem medo que não seja de verdade, para Caitlin a sensação deve ser bem pior.

Não entendia como Iris havia chegado a tantas conclusões sobre Caitlin e ele, mas atribuiu tudo isso à sintonia que sempre tiveram. Apesar do sentimento de remorso pelo qual estava tomado, não conseguiu deixar de examinar a bonita face à sua frente, se perguntando se Iris passara por algo semelhante no período pré-divórcio, em que se distanciara e basicamente não se comunicavam. Sim, ele havia sido um tanto covarde sobre seu casamento.

— Como foi para você?

No entanto, ela respirou fundo e ajeitou a postura, decidindo ignorar o assunto em uma concordância tácita, enquanto deixava o caminho livre para que passasse. Contudo, estava estacado no lugar e nas palavras dela.

— Enfim... A forma como está se sentindo agora e como quer se sentir por ela certamente conta mais do que qualquer jogo de poder que esteja jogando nesse momento com a Força de Aceleração, Barry. – Ela deu de ombros e lhe deu às costas, saindo do closet. – É o que acredito.

— Iris. – Chamou antes que a mulher sumisse de vista, vendo-a se voltar a ele com o cenho neutro, o que o deixou confuso por um instante. Em nada lembrava a jornalista abalada pela possibilidade de Barry estar se apaixonando por outra mulher, tantas semanas antes. – Você não se incomoda? Digo, de vir até aqui e...

— Te mandar lutar por outra pessoa? – Concordou com um aceno hesitante, vendo-a estreitar os olhos em busca do sentimento ou das palavras certas para descrever o que eram agora: pessoas que se importavam com o bem-estar um do outro em nome de algo maior. – Pensei que me incomodaria, sim, mas... Notei que parecia menos sobrecarregado nas últimas semanas e não sabia a que ou quem atribuir isso até agora. Fico feliz que seja Caitlin que esteja fazendo bem a você. Acho que... Nossa história, realmente, ficou no passado.

Barry a fitou por um instante, se dando conta de que há muito tempo não pensava neles ou em Iris como parte da história dele, tão imerso em seus problemas como vinha estando. Não se via satisfeito consigo mesmo ou no que esse estado o tornava, isso estava tão claro quanto o quarto irritantemente iluminado lá.

— Talvez, depois de tudo, nossa história seja... Nora, certo?

— É, acho que sim. – Então, a viu lhe direcionar um sorriso brilhante pela primeira vez em tanto, tanto tempo que, por um momento, se viu um pouco mais tranquilo em meio a tempestade onde se encontrava. – Adeus, Barry.

Iris acenou com a cabeça e sumiu de sua vista, deixando tudo o que sempre pretendia deixar para trás. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dark End Of The Street" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.