Dark End Of The Street escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 34
Dubiedade




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A primeira coisa que notou foi o chão de pedras claras sob seus pés e a imensidão do horizonte, se perdendo ao longe na direção da rodovia, que levava àquele bar. Olhou ao redor, sentindo como se o silêncio ecoasse: não ventava, não havia mais ninguém, não passava um carro.

Então, estreitou os olhos na direção da conhecida construção, sentindo o calor do sol ainda alto castigando-o no que parecia ser um deserto qualquer do interior do país e quase recuou em choque ao colocar os olhos na mulher, que tinha certeza não se encontrar ali um segundo antes.

Estava encostada contra a soleira da pequena varanda de assoalho de madeira, que antecipava a porta do bar e tinha os braços cruzados, examinando-o de olhos estreitos devido à claridade excessiva daquele lugar. Notou as próprias mãos suarem, enquanto examinava as feições bonitas, mas fechadas da mulher, que somente lhe arqueou uma sobrancelha e deu às costas, entrando no bar.

Repentinamente, se lembrou que, tecnicamente, deveria procurar pela Força de Aceleração, buscar contato, tentar entender o motivo de todos aqueles sonhos e lapsos. Não sabia o que ela estar ali provavelmente significava, especialmente levando em consideração que tomava a típica aparência de sua mãe. Essa era a forma que a Força de Aceleração sempre usava com o intuito de transmitir que poderia confiar nesse poder, maior do que linhas temporais alternativas e do que o próprio Barry.

Assim, engoliu em seco e seguiu pelo caminho por onde a mulher sumira. Ouviu o rangido da porta quando a empurrou lentamente, não conseguindo evitar a hesitação. Ao mesmo tempo em que queria toda aquela situação resolvida, não sabia o que esperar da Força de Aceleração e conhecia todos os riscos. Não tinha ideia do que poderia acontecer ali ou do que aquele bar significava – poderia se tratar somente de um ponto perdido e pequeno em meio ao multiverso.

O interior do lugar parecia o mesmo, mas possuía uma aura mais escura e etérea, em detrimento do sol do lado de fora. O balcão de madeira, que acompanhava o comprimento do bar também estava lá, mas as banquetas e todas as mesas e cadeiras haviam sumido, exceto por uma. Exatamente no meio do cômodo, a mulher estava sentada à mesa de madeira em postura ereta, os cotovelos apoiados sobre o tampo e as feições completamente livres de qualquer emoção.

O olhava de forma direta, pois estava, claramente, aguardando-o.

Apesar de ser exatamente como Nora Allen, desde os característicos cabelos ruivos cacheados e cheios até os olhos verdes, jamais associaria a ela o brilho ferino e os lábios apertados. Sua mãe era carinhosa, além de ter as feições muito suaves. Em sua visão, era a mulher mais gentil que conhecera, incomparavelmente. Contudo, não havia nenhuma gentileza estampada em qualquer poro da mulher aguardando-o.

— Joga comigo, Sr. Allen?

Só então notou que, sobre a mesa, havia um tabuleiro de xadrez com todas as peças brancas e pretas perfeitamente arrumadas. Tentou compreender o que aquilo significava para sua história, para que o que vinha acontecendo com ele, mas não chegou a qualquer conclusão plausível e, lentamente, se aproximou.

Pelo espelho no fundo da prateleira do bar, sob todas as bebidas intocáveis, conseguiu enxergar seu próprio reflexo, mesmo que à pouca iluminação amarelada. Com algum espanto, notou os cabelos um tanto mais claros, a falta de barba e os contornos do rosto, especialmente dos olhos, um pouco mais maduros.

Por um instante, se perguntou se aquela era a versão que vivia todos aqueles sonhos e lapsos, pois não havia qualquer outro motivo para que não o fosse. De uma forma estranha e questionável, sabia que sua aparência ali parecia diferente da própria realidade neles, mas ainda assim se reconhecia no velocista que vivia tudo aquilo com Caitlin, afinal... Era capaz de sentir tudo o que ele sentia. Como se estivessem conectados, ainda que à distância.

— Eu não jogo xadrez. – Declarou quando se viu perto o suficiente. – E, se o fizesse, não jogaria com você.

— Sábio.

O canto dos lábios subiu em um sorriso misterioso, quase o suficiente para fazê-lo estremecer por rápido segundo, mas a mulher apenas seguiu estendendo a mão, indicando que ocupasse a cadeira à sua frente. Com um suspiro resignado, Barry puxou a cadeira e se acomodou. Não conseguia tirar os olhos dela, tanto à procura de respostas quanto em alerta sobre qualquer movimento suspeito.

— Do que se trata isso? – Queria ter evitado certa urgência em seu tom. – Tudo isso?

A mulher encarou o tabuleiro de xadrez por um instante e fez uma abertura, ignorando-o enquanto repetia a jogada com as peças pretas.

— É um pouco decepcionante que não tenha chegado a uma conclusão por si só, Sr. Allen. Você costumava ser mais rápido.  – Ela levantou os olhos examinando-o, o nariz levemente empinado até abrir um sorriso quase compadecido. Tinha a impressão de que, qualquer que fosse o sentimento que ela tentasse aparentar, sempre seria resumido a uma imitação, afinal a Força de Aceleração não era capaz de sentir qualquer coisa. Não o ‘sentir’ comum e quase ordinário que qualquer ser humano sentiria. – Mas entendo que sua mente tenha sido comprometida, em algum nível, com a nossa interferência.

Levantou as sobrancelhas, imediatamente sentindo os músculos mais tensos. Não imaginou que sequer precisaria pressionar a mulher para obter respostas, mas deveria estar óbvio, uma vez que não precisou também buscar o contato, pois ela o aguardava, possivelmente à par de todo o plano.  

— Então, realmente havia algo agindo minha mente? Influenciando todos esses... – Ela levantou a mão para silenciá-lo, encarando-o o tabuleiro com atenção.

— Tenha calma, Sr. Allen, tudo será esclarecido. – Fitou de maneira incrédula a mulher que desviava mais atenção para o jogo estúpido de xadrez do que para ele.

— Tudo o que tive nos últimos meses foi calma. Eu esperei que parasse, que essas imagens não me atormentassem mais... Mas, de certa forma, fizeram com que me afundasse cada vez mais nelas e em tudo isso. – Disse entredentes, tentando manter o tom de voz baixo.

— Está arrependido?

Percebeu a pergunta dúbia, sem compreender se referia à forma como agira em relação aos lapsos, escondendo tudo de todos, deixando que o afetasse, ou ao que veio depois, sobre Caitlin.

— Estou cansado.

Sabia que estava em seu limite, mental e físico. Dependia diretamente da Força de Aceleração, mas não se via mais capaz de viver sob o efeito de uma história que, essencialmente, não era a dele, o que comprometia sua percepção da realidade. Como dissera a Caitlin certa vez, parecia uma ótima vida, mas não conseguia conciliá-la com a sua e nem queria: não havia realmente vivido todos aqueles momentos, por isso o perturbava o modo como os sentia como seus.

— O que fará com a informação que obterá? Contará ao time e a Dra. Snow assim que voltar ou fará a escolha por eles, a depender do que lhe interessar? – Ela fez duas rápidas jogadas, com peças negras e brancas, e inesperadamente o encarou de forma direta. – Pelo o que me consta, você não tem muitos escrúpulos para ser egoísta.

— Que informação? Do que está falando? – Insistiu, cansado do jogo de palavras.

— Nós arriscamos a realidade para garantir a conexão com você.

— Manipulação. – Corrigiu ganhando um olhar desdenhoso, embora ela houvesse continuado.

— Não é simples como imagina utilizar recortes de realidades diversas concentrados em apenas uma. – Barry franziu o cenho. – O que viu nos sonhos e lapsos, todos aqueles momentos? Eles não estão no futuro e em nenhum momento de sua linha do tempo, não... Não são seus, não de verdade.

Barry notou a garganta imediatamente secar. Uma coisa era imaginar que aqueles momentos faziam parte dele de alguma forma, totalmente diferente era saber que eram, praticamente, fabricados.

— O que isso quer dizer? Qual o interesse da Força de Aceleração em arriscar o equilíbrio das linhas temporais... Coisas que sequer tenho ideia para me mostrar tanto, quando nem é real?!

Se colocou de pé, se sentindo quase que sufocado, dando às costas ao jogo e a mulher só por um instante, as mãos mais trêmulas que suadas. A mulher não se mostrou abalada, no entanto.

— Eu sei, posso estar quebrando seu coração. – O tom dela era frio e sem vida, contudo, como se fosse apenas uma constatação desimportante antes de continuar ao que realmente a interessava e à Força de Aceleração como um todo. – Mas, ainda que não se trate de futuro ou de elementos dele, não somos capazes de criar realidade ou mesmo simular acontecimentos a partir do nada, Sr. Allen. Isso seria... Quase ultrajante com a natureza da Força de Aceleração. Todos os lapsos e sonhos que teve durante essas semanas foram... Possibilidades. Momentos perdidos no multiverso, que aconteceram há muito, virão a acontecer ou poderiam ter acontecido, embora não em sua linha temporal. Foi como se os picotássemos e o colocássemos a par desses... Pequenos momentos de realidade entre Barry Allen e Caitlin Snow.

Barry, lentamente, começou a compreender o que ela queria dizer. A influência ia além do que imaginava a princípio e, agora, entendia porque se identificava tanto com o homem que via naquelas imagens. Velocistas eram inteiramente conectados à Força de Aceleração e, por mais que fossem de linhas temporais, terras e realidades diversas, por conseguirem flutuar pelo tempo com relativa facilidade, havia uma ligação.

Entretanto, se tratava de uma ligação tão tênue, tão distante, que sequer sabia se poderia considerar como algo que realmente importasse, pois, no fim de tudo, sempre voltaria a armação perturbadora e muito bem amarrada da Força de Aceleração. Apertou os dedos contra o espaldar da cadeira, sob o olhar da mulher que somente o encarava, esperando que absorvesse tudo ou, mais provável, que a culpasse por tudo.

— Você não tinha o direito. – Sussurrou ganhando apenas um dar de ombros lento enquanto aquiescia.

— Talvez não.

— Por que uma interferência como essa?! Eu estava com Iris, casado e com uma filha... É como se... Tivesse deliberadamente acabado com meu casamento em nome de...

Levou as mãos à própria têmpora, se sentindo repentinamente doente. Aquela sensação que o tomava mais do que raramente agora que se via fraco pela forma como uma vida inteira, completamente inexistente, o absorvia mentalmente.

 Quando começava a racionalizar os desdobramentos, que advieram dos sonhos e lapsos, tudo soava ainda pior: desistira de sua vida em nome de algo muito abstrato, pois parecia não ter mais sentido continuar com Iris quando havia tanto sentimento e intensidade colocado em outra pessoa – a qual, no momento em que o divórcio acontecera, sequer era Caitlin, mas alguém que, essencialmente, não conhecia.

— Acho que a pergunta que quer fazer é: por quê Caitlin Snow?

Barry riu de forma amarga, notando ser completamente conduzido pela Força de Aceleração, pois não conhecia o próximo passo e ela sabia disso. Nesse instante, no entanto, toda a aura escura e etérea do bar se transformando nos momentos vistos nos lapsos ou sonhos, além de outras possibilidades de realidades, que jamais presenciara. Seu peito apertou de maneira inexplicável pela consciência de que aquela não era a sua vida, nunca seria.

— Porque ela parece tão importante nessa... Teia de manipulação?

A mulher lhe sorriu tão doce que o lembrou Nora, mas Barry se sentia mais vazio por dentro do que qualquer outra coisa. Em sua mente, voltava o questionamento sobre o que faria com a informação que ela lhe dera e toda a certeza de antes havia se esvaído. Se perder em tal insegurança era perturbador, como se sua personalidade o houvesse abandonado e não sentisse nem suas convicções nem a velocidade percorrendo-o.

— Há um bebê naquelas imagens, não há? – Levantou os olhos, imediatamente alarmado. – Nós queremos Bart e ele só nasce a partir de Barry Allen e Caitlin Snow. Não há uma realidade que o conceba com outras pessoas como seus pais, é sempre vocês.

— Qual o interesse da Força de Aceleração em um bebê?

Murmurou um tanto perplexo, percebendo que o bar voltou ao normal, completamente vazio e desinteressante, no momento que a mulher se colocou de pé e rodeou a mesa, se aproximando dele.

— Ele não será um bebê para sempre. Bart crescerá... Para ser um velocista tão talentoso quanto o pai. – Ela dizia de maneira ambiciosa e Barry não gostava daquele tom suavemente traiçoeiro, afinal havia muito o que não conhecia implicado naquela fala. – Você não precisa saber nossos motivos, apenas que ele será necessário aqui, em sua realidade. Grandes coisas estão reservadas para Bart Allen.

Barry bufou, ciente de que ela saberia tudo sobre Bart – como ele seria, o que faria, com quem se pareceria, até seus gostos pessoais. Contudo, pra ele ainda se tratava apenas de um bebê, que já parecia nascer carregando um fardo.

— Isso é completamente perverso. – Murmurou vendo o menear de cabeça dela sem se abalar, pois certamente sabia que repeliria qualquer linha de raciocínio que decidira fazê-lo seguir. – Esses sonhos, lapsos ou o que for... Sem eles, nada teria acontecido. Fizeram com que fantasiasse com Caitlin, me divorciasse de Iris... Como um bebê pode surgir disso? Não é destino. É manipulação, pura e simples, só porque podem!

Teimou sentindo os olhos lacrimejarem e, estranhamente, uma das mãos dela alcançou seus cabelos, como que penteando-o de forma maternal. Não via nada desse tipo vindo dela, pois não a vinculava à sua mãe, mas só por um instante os dedos frios fizeram com que respirasse melhor e relaxasse, embora não imaginasse o quanto isso seria saudável.

— Está olhando apenas o lado ruim de tudo isso, Sr. Allen. – A voz dela foi mais baixa, quase persuasiva.

— Como posso saber se tudo o que sinto é verdade, depois disso?! Como posso ter certeza que vem de mim, não da sua maldita influência e da minha ligação com a Força de Aceleração ou... Qualquer outro velocista do multiverso?

Se afastou de forma abrupta, tentando cortar qualquer intervenção vinda dela, se apoiando contra o balcão, de costas para a mulher, as mãos apertando a madeira até as juntas dos dedos ficarem transparentes. Era capaz de notar certa aflição começar a percorrê-lo, piorando lentamente a cada vez que ela complementava a informação, pois parecia um poço maior e mais profundo de escolhas que não partiram dele.

— Nada do que a Força de Aceleração fizesse poderia... Criar amor. Tudo o que fizemos foi isso: lhe apresentar a possibilidade. – Barry apertou os lábios, sentindo algumas lágrimas inevitavelmente percorrendo seu rosto. Novamente, o bar parecia rodeá-lo com imagens daqueles lapsos e tudo o que queria era não as ver porque doía. – Gerar sentimento do nada? Seria fisicamente impossível, como dizem em sua realidade. O que passou a sentir pela Dra. Snow? É apenas você, Sr. Allen. Não poderíamos manipular seus sentimentos, o arbítrio sempre foi todo seu.

— Definitivamente, isso não é o que conheço por livre arbítrio.

Nada do que ela dissesse o faria acreditar que escolhera livremente se afastar da vida que sempre sonhara em nome de algo que sequer conhecia, mas que soava maior do que ele – pois quem fizera parecer assim fora a Força de Aceleração. Os sonhos e lapsos, por mais que não criassem sentimentos, o apontavam outro caminho, direcionavam o que sentir e por quem.

— Okay, então o quê? Vai abrir mão de Snow assim que voltar? Consegue fazer isso? – O tom dela, mais perto de si novamente, era firme e certeiro, quase cruel. – Consegue fazer isso agora que sabe como é tê-la ao seu lado? Como é poder amá-la? Conseguirá deixá-la de lado após conhecer como são as coisas quando Caitlin Snow está te amando de volta? Fará isso, Sr. Allen?

— Pare! – Gritou de volta, calando-a, mas não ao olhar prepotente de quem previra o que teria dele quando soubesse tudo. – Pare de colocar sobre meus ombros toda essa... Coisa inventada pela Força de Aceleração. Eu não escolhi amá-la, não escolhi colocar no mundo uma criança que servirá ao seu propósito. Eu não escolhi essa vida, porquê... Por que você não me deixou, porque não me permitiu isso!

Barry não sabia mais onde pisar, que fosse seguro, pois tudo o que vivera nos últimos meses parecia... Uma mentira. Como ele não jogava, a Força de Aceleração jogava com ele, sua vida, seu destino e sentimentos. Como a mulher estava no controle do jogo de xadrez, também estava sobre sua vida antes, embora não soubesse até que ponto.

— Qual a sua outra opção? Não ter Bart? Se sacrificar por uma criança, que ainda nem existe e se certificar de que está fazendo sua pirracinha para dificultar as coisas para a Força Motriz, que lhe confere seus poderes? – Ela manteve o tom baixo, como que para acalmar os ânimos, mas era mais ameaçadora do que qualquer outra coisa. – Você não vai, Sr. Allen. Não conseguirá voltar lá e, simplesmente, deixar de lado as pessoas que ama, mesmo que se trate apenas da ideia de Bart Allen. E sabe porquê? Não é da sua natureza, Sr. Allen. É egoísta. Mais do que um ser humano comum. Não fará essa escolha porque implica deixar Caitlin e você está tão apaixonado por ela, que é... Quase desesperador.

— Pare...

— Ela dá direção à sua realidade. Pode não ter notado, mas sempre foi assim. Você sempre correu para Caitlin Snow. E não vai abrir mão disso em nome de um futuro desconhecido e incerto, sem conhecer as implicações do nascimento de Bart, sejam elas boas ou ruins...

— Então porque não me diz?!

Bateu os punhos contra o balcão, repentinamente sentindo todo o bar tremer, assim como a mulher, que olhou ao redor por um instante e depois voltou a fitá-lo, um sorriso conhecedor em seu rosto. Inesperada e impulsivamente, os poderes de Barry interferiram brevemente no sonho, causando certa instabilidade na realidade artificialmente criada pela Força de Aceleração.

— Por mais que tenhamos planos para Bart, o Multiverso é maior do que você, Sr. Allen. – Revirou os olhos, cético, em detrimento das lágrimas que agora não o deixavam. – Podem tratá-lo como um produto do determinismo barato da Força de Aceleração, mas é apenas mais um herói egoísta dentre muitos. Você não é a exceção, Sr. Allen, é a regra. Não se espera nada diferente de você. Por isso, voltará e seguirá sua vida como bem quiser, independente do que fazemos com o veloz passar das eras.

— Você não vai continuar a me manipular.

Decidiu, afirmando entredentes, apenas vendo o menear de cabeça da mulher, que levou a mão ao seu rosto, moldando o contorno de sua mandíbula de maneira quase maternal.

— Sei que ama aqueles lapsos.

— Tire as mãos de mim.

— Mas você pode construir seus próprios momentos com ela.

Estava cansado de sentir como um pião em meio a um jogo, que não compreendia de todo, e as mãos dela sobre ele como que tentando confortá-lo só tornava tudo pior, assim como a persuasão no tom de voz o recordava que fora manipulado por todo aquele tempo.

— Tire as suas mãos de mim, agora!

Barry gritou se voltando à mulher, mas ela não estava mais lá. Repentinamente, se viu de volta ao laboratório sob a maca macia e os eletrodos para medir sua frequência cardíaca e mental, além do Registrador. Tentou encontrar a própria respiração falhada pelo coração rápido demais e se acostumar a claridade da iluminação no teto do laboratório, antes de levantar os olhos para Cisco, Carla e Caitlin, que o rodeavam encarando com preocupação e espanto.

Sentia as próprias vias congestionadas e a garganta fechada em um bolo dolorido e, por isso, levou as mãos aos olhos apenas para constatar que, como no sonho, as lágrimas escorriam por seu rosto.


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