Dark End Of The Street escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 30
Probabilidades




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— Ei, Joe.

Lentamente, desviou os olhos da janela ensolarada e se voltou ao capitão, que adentrava o laboratório tranquilamente, mas transformou as feições enquanto o encarando, tornando-se mais examinador a cada segundo. Sempre fora assim: ele sabia quando algo estava errado e era extremamente difícil esconder isso dele, por isso Barry era um péssimo mentiroso.

— Filho. – Ele cumpriu, se aproximando de sua mesa, onde aguardava com inércia os exames de algumas amostras de entranhas serem finalizados. – Você... Não parece ter dormido muito bem essa noite.

— Porque não dormi.

Além de ter de lidar com mais um sonho acordando-o apenas duas horas depois de se deitar com Caitlin, passara o resto da noite em claro, observando-a dormir, ponderando sobre a ideia que a doutora tivera, tentando pensar algo a partir do que ela sugerira. Contudo, nada vinha a mente e, muito cedo, decidiu ir para a delegacia. De qualquer forma, ela passaria a manhã inteira ministrando as aulas à distância.

N’outro momento, teria dormido tão pesadamente por, finalmente, tê-la ali que sequer sonharia ou se lembraria do que sonhara. Contudo, sabia que o medo estava entranhado em sua mente, inconscientemente agindo para que perdesse o sono novamente enquanto considerava todas as possibilidades do que poderia acontecer ao fazer um tipo de “contato mental” com a força de aceleração.

Caitlin não tivera de lidar com a insônia, pois havia passado o dia todo dirigindo de Princeton a Central City e estava, claramente, cansada. Gostava disso sobre ela, essa convicção que a fazia agir sem depender de qualquer um deles. Não chegava a ser um impulso, pois isso não era característico dela, que costumava estar sempre a par de todas as variações possíveis de cada um de seus atos.

— Aconteceu alguma coisa?

— Caitlin conseguiu pensar em uma solução que pode dar fim aos meus problemas de insônia, aos lapsos e todo o resto. – Contou ganhando a atenção dele, que franziu o cenho sem entender seu tom irritantemente mórbido e exausto.

— E isso não é bom porquê...?

— Para descobrir que tipo de anomalia vem ocorrendo para que eu seja, o tempo todo, bombardeado por imagens de uma realidade que não é a minha, ela acha que devo ir para a Força de Aceleração. – Apertou uma das têmporas, fechando os olhos. Fazia parte de seu metabolismo a super resistência a qualquer tipo de enfermidade, mas como seu psicológico vinha sendo indiretamente destruído pela Força de Aceleração nos últimos, afinal devido à sua possível ação não conseguia descansar, dormir ou comer direito, precisava conviver com viroses e dores de cabeça há muito tiradas de seu repertório de coisas com que se preocupar. – Cisco e Carla conseguiram comprovar que os gatilhos para esses sonhos e lapsos se dão a partir de uma grande atividade da Força de Aceleração em minha mente, mas ainda assim...

— É muito arriscado. – Concordou silenciosamente.

— Para reduzir parte dos riscos mais óbvios, ela quer que esse “contato” seja feito mentalmente. Já que minhas ondas cerebrais são tomadas pela Força de Aceleração enquanto vivo essa realidade, Caitlin acha que será mais fácil do que se apenas correr para alcançar o estado físico necessário para um contato.

O viu torcer a boca, pensando no risco óbvio de um contato mental, afinal Cisco estava certo. Sempre que envolvia neurologia, as coisas se tornavam mais delicadas e o próprio Barry havia passado por um breve episódio de algo parecido com esquizofrenia ao ser resgatado da Força de Aceleração, pelo o que haviam lhe contado.

— Não é do costume de Caitlin sugerir algo que possa sair do controle tão facilmente. Ela sempre foi bastante metódica, certo?

Joe elaborou lentamente e Barry, de repente, se lembrou de tudo que o capitão ainda não sabia sobre os lapsos, Caitlin e ele.

—  Mas mesmo ela conhece cada detalhe que pode dar errado... – Deu de ombros respirando fundo.

— O que acontece se não fizer isso? – Barry se levantou, silenciosamente verificando o exame que vinha acompanhando antes de se apoiar contra a mesa baixa.

— Continuo sendo influenciado pela Força de Aceleração, o que, claramente, é uma droga. – Deu de ombros apertando o tampo da mesa contra os dedos, desviando os olhos para o chão enquanto meneava a cabeça. – Apenas... Não achei que teria que fazer essa escolha novamente.

Joe também suspirou mantendo aquele olhar constantemente condescendente sobre o que era obrigado a passar, uma vez que não escolhera nada disso. Quando tudo começara, não achou que resultaria em algo tão maciçamente presente em sua realidade, que pudesse impedi-lo de atuar como o Flash ou o mantivesse estacado sob esse gatilho, pois, por não conseguir descansar, não podia fazer muito pela cidade.

Observou o ex-detetive se aproximar, também se apoiando contra a mesa, provavelmente pensando no melhor para dizer. Deveria ter contado tudo a ele há mais tempo, pois, ao menos com Joe, sentia não ter que suprir nenhuma expectativa sobre como deveria se portar ante toda a situação. Ele o conhecia sem que precisasse dizer muito, apenas acompanhando seus gestos e o não dito.

— Sei que teme os riscos, mas também não pode pensar que existe apenas isso. E quanto as chances de dar certo e poder voltar a usar aquele uniforme? – O homem terminou baixinho ao seu lado. – Não é o caso de pensar positivamente, isso seria besteira, mas estatisticamente...?

— É que... – Gesticulou exasperado, tentando expressar o que realmente queria dizer. – Não dá pra evitar cogitar todos os possíveis erros quando penso em Nora. Quando penso... Na probabilidade de ficar preso novamente, de ter que perder qualquer coisa a respeito dela, como perdi na linha do tempo onde desapareço na Crise. Por anos!

Viu a compreensão de Joe, a mesma de todos os outros, que se esforçavam em não exigir nada. Então, ele o abraçou, deixando que tentasse se acalmar, fazer com que os músculos doloridos demais em tensão pela noite mal dormida se soltassem. Quando ele o fazia, se sentia novamente o garoto que acordava diversas noites da semana aos gritos com pesadelos sobre a morte da mãe. Ele sempre estava lá para lembrá-lo que vivia em um lar de verdade, com um pai de verdade, apesar da falta de Henry.

— É muito para se pôr na balança, eu sei. – Joe murmurou contra seus cabelos.

— Há mais para se perder agora. – Comentou quando o outro finalmente se afastou, ainda conservando os ombros baixos. – Acho que... Diferente da última vez, agora tenho mais noção das consequências de cada escolha. Não quero ter que me despedir de ninguém.

— Você não vai. – O capitão se levantou, apertando seu ombro e olhando-o com firmeza. – Nós também não vamos deixá-lo se despedir, se decidir seguir por esse caminho. Não será uma despedida.

Meneou a cabeça por um instante, não deixando de pensar em imprevistos que poderiam acontecer durante o procedimento, o que provavelmente também passava pela cabeça de Cisco e Caitlin. Porém, estava extremamente grato por, ao menos, conseguir falar sobre isso após toda a manhã remoendo a ideia.  

— Obrigado, pai.

 Joe sorriu e fez menção de responder, mas a voz animada de Cecile na entrada do escritório fez com que ambos se voltassem para a sorridente Promotora, que ultrapassava o portal da entrada.

— Olha quem eu encontrei lá embaixo! – Caitlin sorria levemente pela animação da outra, que a segurava pelo ombro, como se exibindo-a para eles. – Por que não nos contou que Caitlin estava na cidade?

— Longa história... – Comentou enquanto Joe se aproximava para cumprimentar a doutora com um abraço paternal.

— Como vai, Cait?

— Vocês estão ocupados? – Cecile perguntou se deixando ser abraçada pelo marido quando Caitlin se afastou encarando Barry de maneira analisadora por um instante. –  Vim buscar Joe para almoçar, mas já que estamos todos aqui...?

Barry não se impediu de rir quando Caitlin levantou as sobrancelhas mantendo um sorriso congelado, não por não gostar da sugestão, mas pela situação como um todo. Ninguém sabia o que tinham, talvez nem mesmo eles, e tinha certeza de que ela não estava esperando um almoço em família quando decidiu ir até a delegacia.  

— Claro, por que não?

Ela o olhou nervosamente, também notando que soava um pouco estridente e Barry teve de engolir um riso ao se voltar para Joe e Cecile bem mais tranquilamente do que a doutora.  

— Só vou pegar minha carteira.

— Tudo bem, esperamos no carro.

A Promotora concordou já puxando Joe para a saída do laboratório forense e emendando outro assunto em sua característica energia tão rapidamente quanto os passos em saltos muito altos. Ainda os acompanhou por um instante antes de voltar a Caitlin, que encarava o lugar por onde eles saíram parecendo um tanto chocada, mas também exasperada, talvez pela própria atitude. 

— Você foi bem conhecendo meus pais.

Ironizou ganhando um revirar de olhos em meio a um pequeno sorriso querendo nascer no canto dos lábios vermelhos, o que o fez rir brevemente enquanto realmente buscava a carteira e o casaco pendurado sobre a cadeira.

— Vi seu bilhete quando acordei. – Caitlin o seguiu com calma, no entanto, abaixando o tom. – Você está bem?

— Não queria te acordar revirando na cama. – Se aproximou para recebê-la, correndo as mãos pelos ombros livres devido ao vestido verde de alças finas, que a deixava ainda mais delicada e continuou ainda em um murmúrio. – Estou pirando, mas foi bom conversar com Joe.

— Contou tudo a ele?

Ela perguntou num tom mal disfarçado de inquietação, os dedos parando de ajeitar metodicamente cada lado de seu casaco.

— Não tudo.

Sorriu beijando-a brevemente, antes de entrelaçar seus dedos aos dela só para puxá-la pela mão até a porta. 


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