End or Reborn - Interativa escrita por Escritor Catarinense


Capítulo 3
Achados e Perdidos — Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Hoje vim a apresentar alguns novos personagens... Eu ia escrever mais... Porém, iria ficar muito extenso, e eu esqueço que aqui é melhor ser um pouco mais ligeiro para ocupar pouco tempo no dia de vocês, é só uma leitura suave para dar um agrado. Não temos nada MUITO DEMAIS, porém, estou planejando mais ação pro próximo. Para vocês, uma boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/794392/chapter/3

De volta à Universidade de Chicago, existia uma ala que funcionava como uma oficina, era onde os carros eram revisados, consertados e equipados com alguma modificação pendente. E todos os carros do Comboio pra Califórnia passaram pelas mãos das “Fadas dos Carros”, um apelido gentil para duas mulheres mecânicas que sabiam lidar bem com óleo motores, e qualquer outra função necessária para por um carro na pista. As duas eram um o contraste da outra, enquanto uma era alta com quase 1,85, a outra tinha 1,65 de altura. 

Daisy Leland era ruiva de cabelos longos e cacheados, tinha um olhar que enfeitiça em tons verdes, mesmo usando seu velho macacão jeans com uma camisa simples por baixo, ainda se notava suas curvas voluptuosas, e era a mais alta. Já Evelyn Hunt era totalmente o contrário de sua companheira de oficina, não só na altura, digamos que o que aproxima mais as duas eram suas peles mais morenas. Eve tinha cabelos curtos, castanhos escuros e cacheados, olhos negros como uma ônix, um corpo delicado de poucas curvas e mais magro. Usava uma camisa cinza escura com manchas de óleo de freio, calça jeans escura de  cintura alta e um coturno escuro, um cinto preto.

Ambas mexiam na parte de trás de um Fusca que era de Daisy, um modelo 68, de cor vermelha com decalques nas portas escrito “68” em labaredas laranjas e amarelas. O local era um antigo ginásio que foi quebrada uma das paredes para poder ser colocado os carros e outros equipamentos necessários para revisão e consertos. De um rádio pequeno estava tocando Dancin do Aaron Smith, a batida era envolvente o que dava uma leveza ao trabalho delas.

Enquanto mexiam no motor do fusca, Daisy começou a se mexer ao som da batida que lembrava uma balada suave, e logo tratou de puxar sua amiga pra dançar junto dela.

— Bora, Eve. — Disse Daisy de forma animada. — O Velho Meia-Oito pode esperar, essas música não. 

Ela se aproximou de Evelyn e puxou suas mãos para dançar junto dela,as duas transformaram a oficina em uma pista de dança, mesmo não tendo passos coreografados ou um molejo único, as duas estavam realmente aproveitando a música que se fosse do lado na rotina, acabariam só escutando em seus fones no celular, não aproveitando a energia que a melodia passava. Quando a música termina, ambas acabam rindo de satisfação ou porque a dança foi boba, não se sabe.

— Só você pra querer dançar aleatoriamente, mas foi bom. — Disse Eve com seu sorriso sempre estampado e de tons gentis. — Aí, falando no velho Meia-Oito, ele tá podendo fazer a viagem pra Califórnia. 

— Pois é, ele é um bom carro. Imagina que achei ele em uma concessionária, novinho em folha? Tinha os decalques e tudo mais. — Comentou Daisy.

— Acha que seus pais vão caber nesse fusquinha? — Perguntou Eve.

— Tem um suporte para malas no topo dele, e o porta malas cabem coisas mais simples. — Contou Daisy. — E você, vai junto?

— Tava falando com a Sasha, ela quer que eu vá junto dela e do Antony. — Eve fechou a parte do motor do fusca e foi limpando a mão suja de graxa.

— Ela e o Antony estão… — A moça só levantou as sobrancelhas sugestivamente.

— Não sei, eles são próximos, mas não sei se desse jeito. Ela era irmã da esposa falecida do Antony, foi o que ela me contou esses dias. 

— Pois é, que situação. — Daisy não sabia o que falar. — Mas aí, vamos ser amigas de comboio, né? Isso é bom, só sinto pena do pessoal da Universidade, vão perder nossos trabalhos. 

— É, tem isso. — Eve senta em uma bancada e puxa uma jarra com suco e serve um copo pra ela e pra Daisy. — Eu queria ficar, mas acho que mudanças são muito bem-vindas. 

Nisso se escuta passos se aproximando, da grande porta aberta da oficina improvisada uma moça de calças jeans, uma blusa florida apesar de ser Outono, e um casaco de lã. Aquela mulher era linda, como as duas ali dentro, incrivelmente parecia que no apocalipse ainda tinha cuidados de beleza. Os cabelos dele eram levemente ondulados e de tons castanhos mesclados de claros e escuros, pele mais branca e seus olhos também eram encantadores de tons verdes claros. O som do salto da sua botina de couro era ecoado no local. Era Sasha Croft, uma das cientistas da área biológica.

— Bom dias, meninas. — Ela se aproximou alegremente. — Como estão os preparos?

— Bem, na medida do possível. — Respondeu Eve com um sorriso. — Vai um suco?

— Aceito. — Ela se aproxima da bancada. — Fiquei sabendo pela rádio-peão que uma ruivinha vai se juntar ao comboio.

— Claro. — Respondeu Daisy. — Meus pais acham que meus irmãos podem ter tido a mesma ideia de ir pro Oeste. Acho que irmos de comboio temos mais segurança. 

— Tá certíssima, estamos levando um pouco de munição extra pra caso esbarramos em algum grupo de sedentários. E temos que carregar umas armas de choque, para abalar a chance de um Ninja se teletransportar para perto de nós. — Explicava Sasha. 

— Ai, gente, vou ter que indo nessa. — Daisy olhou pro relógio da oficina. — Disse pra mãe que ia voltar para ajudar no jantar. 

— O que vai ser? — Perguntou Sasha. — Eu posso levar uma coisinha, seus pais são ótimos contadores de história. 

— Tá se auto convidando? — Perguntou Daisy fingindo indignação. — Leva um vinho, vai conquistar meu pai em dois segundos. 

— Opa, então eu vou e já volto. — Disse Sasha virando o suco e saindo da oficina.

 

Roseland, Sul de Chicago. Missão de Caça a Mantimentos.

 

O grande carro de Antony era um Jeep Wrangler 2020, um dos últimos modelos antes do desastre todo, era espaçoso e de boa direção como toda SUV de respeito. No banco do carona estava Jon com uma feição séria, ele se mantinha carrancudo mas era seu jeito sério de observar as estradas e possíveis perigos, no banco de trás, Mel ficava deitada como se descansasse antes de qualquer corrida. Uma moto andava na vanguarda do carro, como se abrisse caminho, estavam devagar até chegar em um entreposto deles, em uma avenida principal eles fizerem uma resistência com barricadas e passagens para outras saídas, servia de um local protegido. 

No carro, Jon e Tony discutiam amigavelmente uma teoria que ouviram de alguns novos sobreviventes que entraram na Universidade.

— Acho improvável. — Respondeu Tony. — Esses tais “Renascentistas” são apenas um bando de loucos e bandidos, estão bem pro Leste, não viriam até aqui.

— E se eles estiverem se expandindo? Já parou pra pensar nisso? — Jonathan continuava a fixar seu olhar para a estrada. — Eles podem ter poder, muitas zonas militares fortes ficam no Leste, eles podem ter poder de tanques, bazucas. 

— Só se eles tiverem soldados em posse deles, maioria se mudou pro Oeste graças a última mobilização do governo, lógico, antes da queda. 

— É um risco se eles realmente chegarem em Chicago. — Disse o rapaz fazendo sinal para fora da janela e os veículos pararam. — Chegamos no bairro de Roseland. 

Ben que estava mais a frente deu uma leve meia volta para se juntar aos colegas, Tony foi até o porta-malas e pegou uma maleta contendo uma Colt M4, fuzil tático com uma luneta de alcance médio, e perto dessa maleta tinha um case de um tecido grosso, ele pegou aquilo e chamou Ben, o entregando a bolsa.

— Sua predileta. — Comentou Tony. 

— Quando você vai me dar ela de presente? — Dentro do Case tinha uma relíquia histórica, uma espingarda Remington 1889 de dois canos e uma cartucheira carregada de munições. — Nossa! Isso aqui é uma maravilha.

— Um dia quem sabe, ela seja mais útil na suas mãos, cowboy. — Brincou Tony recolhendo algumas coisas e fechando o carro. — Mel, junto! 

A Cadela ficava ao lado do dono, nunca se dispersava do grupo. Jon estava com um binóculos tático em mãos aproveitando para olhar a sua volta, usava uma lixeira grande ali perto para ter uma melhor visão. O Caminho para o Posto parecia limpo, a missão era simples, extrair o máximo de gasolina em galões que ficariam no porta-malas do carro depois. O Jon e Tony tinham uma vantagem em estratégia, eram militares, enquanto Jonathan serviu ao Exército em missões no Irã e na Síria, Tony já foi um SEAL, uma das forças especiais mais perigosas dos Estados Unidos. 

— Limpo. — Disse Jon. — Vamos fazer o seguinte, tem a loja de conveniências lá, não sei se podemos encontrar coisas boas ainda, mas pode ter algo dentro da validade e enlatados, carne seca com barbecue. 

— Opa, aí sim. — Respondeu Ben com um tom animado. — Vocês podem encher os galões e eu olho dentro da lojinha, que tal? 

— Mandrião, tá, eu acho uma divisão “justa”. — Disse Antony.

— Olha, eu ficaria puto, seu eu soubesse o que é um “Mandrião”. 

Eles foram se aproximando do local, cada um levava três galões na cintura, o que daria uns 30 litros cada, iriam voltar carregados, mas não se aproximavam com carros pois poderia acabar atraindo uma atenção indevida. 

 

Roseland, 15 Minutos Antes…

 

Satoko tinha escutado o latido de algum cachorro, mas só foi uma única vez, era como se fosse o último apelo da criatura. Mas pelo menos o som atraiu ela para uma área nova que não tinha muitos sedentários, ela encontrou alguns pelo caminho, e usou uma técnica que alguns viajantes a ensinaram, jogue algo que faz barulho para o lado oposto ao seu, isso funciona com alguns deles que ainda se atraem com ruídos.

Ela encontrou uma loja de roupas que tinha ali perto, estava com as portas arrombadas e vitrines estilhaçadas, isso foi efeito de saques quando a situação ficou catastrófica. Passou por alguns artigos femininos, pegando algumas peças de roupas boas e limpas, apesar de que muitas estarem com mofo, essas dali estavam até com uma cara nova, algumas caixas mantinham as roupas em estados bons.

Andando um pouco mais pelas ruas, avistou um posto de gasolina. Isso era um bom sinal, não pela gasolina, mas sim, pela possibilidade de comida. Era difícil achar comidas que não era perecíveis ou enlatadas, mas em lojas de conveniência existiam comidas mais rápidas e de longa duração, o que era excelente. Comida era algo muito complicado de se achar, os americanos aprenderam da pior forma que Doritos não dá em árvore e que Coca-cola não jorra de torneiras. 

A Médica aprendeu uma das fontes mais importantes para sua sobrevivência, a furtividade e o silêncio, como não sabia usar armas de fogo e armas brancas não tinham o estilo de morta mais rápida, então usar a quietude não atraia atenção para ela e isso fazia com que sobrevivesse por mais tempo. Entrou no local e já foi olhando o que poderia levar, até que graças a sua audição acostumada no silêncio, ela escutou passos vindo da rua, e se jogou atrás de uma das prateleiras. 

Do lado de fora, Ben desamarrou um cordame da sua cintura que levava os galões e deixou na mão de Tony, que não perdeu tempo para ir até os galões. Ben encarou a Mel, que estava com seu coletinho tático.

— Mel, vem. Vamos achar um pouco de carne seca. — A Cadela só fazia ganir e olhar para Tony, foi treinada desde filhotinha a obedecer ordens só dele. — Você é incrível, Mel. Eu te trago uma recompensa. 

O rapaz pegou a espingarda, abriu a culatra e conferiu se estava carregada de novo, nunca perdia essa mania. Entrou com a arma engatilhada e pronta para disparar, olhando em volta passando por pequenos corredores de prateleiras até ver que tinha um pote de carne seca em “sticks”, só que um pequeno barulho atrás dele o fez virar rapidamente. Ele não alertou os outros ainda, antes que perigo fosse decretado, ele ligou sua lanterna, apesar de ser de manhã ainda, o local em si era meio escuro, quando apontou para um dos corredores, no fundo dele tinha uma pessoa de traços orientais mirando uma pistola pra ele. 

— Errr… — Ele olha pra fora por um segundo, vendo que os dois companheiros estavam ocupados, então teria que desenrolar aquilo do melhor jeito. — Olá? Fala minha língua? 

— Doko ka ni itte! — Dizia Satoko em sua língua nativa. — Anata o uchitakunai.

— Eita ferro, é nessas horas que sinto falta do Google. — Dizia ele abaixando o cano da arma e erguendo as mãos. — Eu… Não vou… Te machucar… Okay?

Ele falava de forma devagar e pausada, gesticulando para ver se era compreendido pela mulher a sua frente, Ben guardou sua espingarda nas costas e ficou de mãos livres. Sem muito o que fazer ele continuou a olhar nas prateleiras.

— Eu só quero pegar uns petiscos pra uma menina ali fora, prometi a ela. — Ben suspirou, sabendo que era bem capaz da moça nem saber o que ele dizia. — Só… Não atire.

Satoko olhou pro lado de fora e viu os dois homens enchendo os galões e um cachorro de grande porte, mas que não parecia ser agressivo. Então voltou a encarar o rapaz em sua frente, notando um leve tremor em suas mãos, tentando utilizar o pacote de salgadinho nas mãos como um foco de distração, isso era resultado de medo de situações que envolviam ameaças com armas. Na hora ela baixou um pouco a guarda, não queria ficar indefesa, então enquanto tivesse o rapaz a sua frente em suas mãos, seria a única forma de se manter segura.

Apesar de estar acostumado com situações tensas, Ben ainda mantinha suas memórias do inferno que passou um tempo atrás, odiava a pressão vinda de armas de fogo, por isso não ameaçava ninguém quando podia resolver as situações com diálogo, tiroteio era sua última resposta.

— Eu vou pro balcão. — Ele largou o pacote de salgadinho no chão e foi se virando devagar e andando em passos lentos para o balcão. — Eu só te imploro… Não atire.

A moça guardou a arma atravessada na cintura, e foi a passos devagar até perto de Ben, e ele notou que a estava fora de perigo e respirou um pouco aliviado. 

— Me chamo Benjamin Harrison. — Ele dizia para haver uma compreensão. 

— Be-Ben… — Ela tentava falar o nome do mesmo.

— Pode me chamar só assim mesmo, Ben. Eu sou Ben. — Apontava para si mesmo.

— Kawaii Namae. — Disse Satoko mais pra sim mesmo, pois achava fofo uma apelido simples e rápido de lembrar.

— Eu posso te ajudar. Sabe? Ajudar? — Ele apontou pro lado de fora. — Tenho dois amigos meus, ali fora, amigos. Nada perigosos. Meus amigos. Quero que os conheça. 

Por um breve momento, Satoko ficou receosa, não era de confiar em ninguém, não tão rapidamente como fez com Ben. Mas seu lado mais moral a impedia de ser alguém muito agressiva, por isso sentiu empatia por aquele homem que estava sendo receptivo. Ela só acenou com a cabeça e logo o rapaz de cabelos longos na sua frente abriu um breve sorriso e pegou o pote de carne seca em palitinhos, ofereceu alguns pra Satoko que não negaria uma fonte de comida. Os dois do lado de fora conseguiram encher todos os galões, o que era uma excelente notícia.

— Qualquer dia desses vamos ter que voltar ao medieval e andar só de cavalo, quem sabe nós achemos um haras na viagem. — Comentou Jonathan. 

— Gasolina não é infinita. — Comentou Ben se aproximando. — Achei uma sobrevivente.

— Está sozinha? — Questionou Jonathan encarando Satoko.

— Watashi wa anata no gengo o shirimasen. — Ela parecia impassível em suas falas.

— Ela só fala… Japonês, eu já ouvi os rock orientais da Annie, e parece bastante com o que ela fala. — Disse Benjamim. 

— E agora? Tem alguém na Universidade que fala Japonês? — Questionou Tony analisando a moça, notando a pistola Colt m1911 atravessada na cintura dela.

— Pode ter um dicionário de Japonês na biblioteca, e o único oriental lá é o Sr. Hoo, mas ele é Coreano. — Disse Jonathan pegando os galões. — Talvez possamos tentar traduzir algumas coisas de um dicionário.

— Eu faço isso, sempre quis aprender uma língua nova. Aceito essa missão. — Ben parecia animado com a proposta e se virou para Satoko, até então, seu nome era um mistério para eles. — Vamos até nosso acampamento… Casa. Comida. 

— Mandrião, não esqueça os seus galões. — Disse Tony amarrando os galões dele na cintura e saindo com Jonathan.

Satoko olhava para Ben e só concordava com a cabeça, Mel sempre farejava os desconhecidos quase que por completo, ela tinha um leve “sexto sentido canino”, parecia saber quem gostava ou não de cães, quem tinha medo, quem dava mais petiscos, quem amava brincar, coisas desse tipo que nós humanos chamamos de Afinidade. 

Mas quando tudo está bem, tudo pode piorar. Um som que poderia ser um dos piores sinais para aquele pequeno grupo, o bater forte como tambores desesperados, aqueles zumbis mais fortes, os Bodybuilders faziam como alguns primatas mais fortes, batiam no peito com força para assombrar seus inimigos. Um ônibus que estava batido na avenida, estourou com a força do impacto daquela massa de força e músculos mutantes, tinha a pele roxa e veias verdes escuras correndo pelo corpo. Era hora de Bater ou Correr.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!