Enquanto eu caminhava atrás de Laura imaginava o que poderia passar naquela mente insana de jornalista. Eu estava ali naquele leito, toda deteriorada, entre a vida e a morte e queriam me transformar em matéria de revista cientifica, dá para acreditar?

Eu a observava e sua respiração estava ofegante.  Logo que me avistou, apertou o passo para chegar a minha ala. Estava eu diante daquela que havia me roubado um dos meus maiores tesouros: o coração de Liu Kang. O que ela queria mais? Roubar meus amigos? Minha vida? Sem querer ela tomou o meu lugar, sorrateiramente. Laura me observava e estava com um olhar de pesar, procurou uma cadeira próxima e se sentou. Pousou sua mão direita na minha e observava o meu rosto. Eu olhei de longe e vi que Sonya me olhava, para ter certeza se eu não teria uma recaída. Ao ver a general ali senti certa segurança.

(...)

Eu não imaginava, mas aquele seria o nosso ultimo beijo, lembraria até o meu ultimo minuto de vida.

Saímos de onde estávamos e nos deparamos com Jade e Sonya angustiadas. Foi quando um raio caiu e vimos à figura de Raiden aparecer diante de nós, ele disse:

— Preciso de vocês, temos que nos reunir para traçarmos um plano. O Plano Terreno corre perigo.

Todos nós fomos tele transportados para um templo escuro.  Pude ver alguns cooperadores novos conosco:, Kabal, Stryker e um robô azul. Esse robô me parecia bem familiar, foi quando ele virou em direção a mim, meus olhos se cruzaram com aquelas suaves luzes azuis, vi que saiam pequenos jatos de fumaça gelada de suas mãos. Logo me lembrei daquele ninja azul que vi naquela arena. Nunca imaginei que ele havia se transformado em robô, mas me senti aliviada em saber que ele estava vivo, não como eu desejava, mas...

Comecei a prestar atenção no que Raiden dizia. Ele há algum tempo estava tentando alterar um possível futuro que suas visões lhe davam, mas não havia conseguido, o amuleto que ele segurava continuava aumentando suas rachaduras a cada tentativa de mudança, então ele decidiu consultar os deuses anciãos para pedir pelo Plano Terreno e levou Liu com ele. Por que, justamente, Liu Kang tinha que ir com ele? Senti em meu coração algo como uma agonia, mas não deixei que isso transparecesse aos presentes, o que eu mais queria naquele momento era não preocupar ninguém. Stryker disse:

— E então? O que vamos fazer aqui?

Vi Sub zero levantar a mão e dizer:

— Esperem. – virou-se de costas – Os Lin kuei no cercaram

De repente vários ciborgues apareceram em todas as partes, Nightwolf permitiu que atacássemos e assim foi. Nunca destruí tantos robôs em pouco tempo, lembro que o ultimo eu decepei a cabeça com um dos meus leques. Diante de todos aqueles ciborgues destruídos eu comecei a sentir algo muito estranho, eu sentia a presença de alguém bem familiar, Nightwolf percebeu que estava estranha e perguntou:

— O que foi?

Olhei para uma das portas do fundo e vi minha mãe entrando. Ela dava gritos altíssimos que até estremeceram os pilares do templo, todos foram para trás. Para abafar o barulho, Sub zero formou uma barreira de gelo para impedir a passagem daquele som horrível, mas foi em vão. Sindel disse com voz autoritária:

— Me enfrentem se tiverem coragem. Eu terminarei o que os Lin kuei não terminaram.

Todos nós fomos em direção a minha mãe para ataca-la, meu coração relutou, mas eu tive que ir também. Eu sentia que ela não estava em si, tive a esperança de que quando eu chegasse próxima a ela, nós pudéssemos conversar. Mas o que eu pude ver era sequência de derrotas, aqueles que lutavam ao meu lado aos poucos estavam morrendo.

De repente, não sei como, eu estava ali como uma mera espectadora a observar tudo aquilo, uma das cenas mais dolorosas de minha vida, eu me via tentando sobreviver e estava vendo meus companheiros partindo dessa vida de uma forma tão humilhante. O salto de Sindel perfurando a garganta do Jax, Smoke com o pescoço quebrado, Sub zero tendo um curto circuito devido a um soco fortíssimo que levou no queixo, Stryker com fratura no crânio... E a Jade... Não! Sindel a agarrou perfurou seu tórax, arrancou o seu coração e o jogou no chão como uma laranja podre:

— Não!

Meu grito era inaudível. Jade... Aquele pobre coração que foi tão traído pela vida, que foi machucado pelo tempo e circunstâncias agora jazia espatifado no chão. Aproximei-me um pouco e pude ver... Aqueles olhinhos verdes sem vida, que me comunicava quando estávamos em perigo ou quando algo bom iria acontecer... Estavam mortos e eu não podia fazer nada. Fui em direção ao que sobrou de Sub zero, mexi nos mecanismos dele e nada, aquelas luzes que brilhavam num azul celeste tão belo agora estavam apagadas. Segurei aquelas mãos de lata e ferro e de lá assistia a minha morte, rompi num choro soluçante.

De repente, voltei ao posto de vítima, daquela terrível chacina. Minha mãe não parava de me bater até eu perder por completo as minhas forças, minhas palavras a ela eram em vão, ela não queria ouvir e reprovou-me ao saber que eu estava do lado do Plano Terreno. Completando a ação, ela tirou tudo o que restava de forças em mim e cai desmaiada no chão.

O que me lembro de agora era apenas a minha visão turva vendo Liu Kang e Raiden retornarem. E lá estavam eles diante dos corpos dos combatentes, daqueles heróis que deram suas vidas pelo Plano Terreno. Com a voz fraca chamei:

— Liu Kang...

— Kitana!

Ele veio até mim e mal pude enxerga-lo, eu apenas disse:

—  Queria que nos encontrássemos... Em circunstâncias diferentes...

Minha visão se apagou.  Tudo se apagou. A minha apresentação no teatro da vida havia acabado, as cortinas se fecharam e eu me encontrava ali, sozinha, perdida.

(...)

Recostei minha cabeça na parede e continuava a observar Laura. Percebi que ela queria me dizer algo, mas ela relutava. Até que ela tomou coragem, respirou fundo e começou a falar:

— Kitana... Esta é a primeira vez que te vejo. Você não tem noção o quanto eu tenho orado para que você saia bem e saudável dessa situação. Não quero que você me veja como inimiga, por favor!

Ela respirou fundo novamente e continuou:

— Eu gostaria de dar essa notícia quando você acordasse, mas acho melhor te falar agora. Estou esperando um filho do Liu Kang.

Senti algo, como que um punhal atravessasse o meu coração naquele momento. Sim, agora Liu Kang tem uma família formada, mais responsabilidades. Deslizei pela parede até sentar-me no chão, coloquei as mãos no rosto e chorei. Ninguém conseguia ouvir os meus soluços de dor, eu só murmurava:

— Por que, meu Deus? Por quê?

Ouvi alguém se aproximando e chamando por Laura, era a voz de Liu Kang. De sobressalto me levantei e vi seu rosto. Sua esposa foi correndo para abraça-lo e ouvi-o perguntar:

— Você deu a noticia a ela?

Ela fez um sinal afirmativo com a cabeça e disse:

— Eu não queria falar para ela agora...

— É melhor assim, meu anjo.

Os dois caminhavam de mãos dadas pelo corredor. A porta estava aberta e comecei a correr em direção a eles, mas acabei escorregando e caindo naquele chão branco e liso. Liu Kang deu uma olhada para trás e pude ver uma lágrima cair de seu olho. Eu comecei a gritar:

— Liu Kang, não! Não me abandone!

Recostei a minha cabeça no meu antebraço e comecei a chorar novamente. Comecei a lembrar da minha mãe, sim, eu não estava sozinha. Veio uma grande esperança de que ela poderia ser resgatada e se livrar da maldição.

De repente ouvi um barulho, vinha da emergência. Aproveitei que a porta da UTI estava aberta e saí correndo em direção à ala de cirurgias, provavelmente encontraria minha mãe lá, caso ela estivesse sido resgatada. Cheguei lá e vi Raiden acompanhando os enfermeiros que estavam com uma maca e pude ver a paciente, era Sindel. Ela estava desfalecida em cima daquela maca, aparentemente os sinais de espectro haviam desaparecido e eu via apenas um rosto pálido e cansado. Seus cabelos estavam espalhados sobre seus ombros.