Feitiço do Tempo escrita por Isa G


Capítulo 8
Capítulo Oito — Mau Humor


Notas iniciais do capítulo



Anteriormente: James sabe do caso de Lily com o namorado de Dorcas, Wilkes. Lily ouve uma conversa suspeita entre Severus e Peter. Ela não se importa mais com o pergaminho que encontrou, mas ainda tem medo de andar sozinha à noite.



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Janeiro e as aulas começaram a todo vapor, e os professores, em sua maioria, davam quantas tarefas necessárias para ocupar os estudantes, afim de evitar outros assuntos.

Como os que estampavam a capa do jornal, por exemplo.

— Essa aula é uma vergonha, francamente, que bela perda de tempo — resmungou Alice para ninguém em particular, ao lado de Lily no fundo da sala de DCAT.

— O que quer dizer? — Lily perguntou distraída, virando a página do livro e destacando mais dois parágrafos da leitura indicada.

— Não deveríamos... lutar? Fazer duelos? Betty disse que o professor do ano passado fazia os alunos do sexto ano afastar as carteiras todo o início de aula.

— Nem me lembre, aquele cara era biruta das ideias. — A garota fez uma careta em direção à colega, que estava com a cabeça enterrada em volta dos braços e seu próprio livro fechado servindo de apoio. — Quase me fez perder um olho quando quis demonstrar o feitiço do corpo preso combinado com estuporamento. Ainda bem que depois disso ele parou com as gracinhas.

— Mas não foi incrível?! Tivemos uma aula decente, aquele dia valeu pelo resto do ano todo.

A ruiva só resmungou qualquer coisa e voltou a devorar a leitura. A sala estava silenciosa. O professor Andrew, que chegou nesse sexto ano delas, estava agora recostado na sua cadeira observando a janela, totalmente alheio aos alunos que tiravam uma soneca ou faziam aviãozinhos. Sempre de vestes surradas e um colar esquisito com um pingente do tamanho de uma bola de tênis, que só era visto quando a gola da camisa enrolava no cordão.

A tarefa era ler quinze páginas e pontuar algumas observações no pergaminho. Não estava claro se seria um trabalho à ser entregue ao final da classe.

Alice e Lily faziam dupla hoje. Era uma das raras ocasiões que isso acontecia, mas, enquanto Emmeline e Mary estavam juntas, Marlene decidiu investir em um novo garoto do ano delas —, então ambas não tinham muita escolha.

A primeira resolveu se aproximar da amiga e inspecionar o seu trabalho. Não demorou muito para se exasperar em frustração.

— Me diga, para que raios isso serve? — Ela arrancou as anotações de Lily, olhando duro. —Feitiços Mui Velhos: Os Encantamentos Sobreviventes? — Alice leu o título do capítulo rangendo os dentes.

Lily nada disse e tentou pegar seu livro-texto de volta, com o cuidado de não chamar a atenção dos outros colegas ou mesmo do professor lá na frente. Mas a morena parecia a ter escolhido para descontar sua raiva.

Trocando de mãos, Alice afastou mais o amontoado de papel de Lily.

 — Vamos Lily, me convença! Eu juro que quero entender. Estamos gastando tempo aqui com esse encantamento tosco ao invés de aprender coisas realmente úteis. — Largando o material interceptado com um baque na mesa, cruzou os braços.

— Eu não tenho que convencer coisa alguma! — respondeu Lily na defensiva, deixando cair a pena, respingando um pouco de tinta. — Se está no cronograma é porque precisamos, oras! Ademais, um feitiço não-verbal e sem uso da varinha, que deposita feixes de luz no objeto mais energético que estiver ao nosso redor me parece muito fascinante, se você quer mesmo saber minha opinião.  — Buscando ar para se acalmar, completou: —Estava lendo aqui... É um tipo de magia ancestral, única fora da Lei de Supervisão Internacional de Magia e uma das primeiras inventadas!

— Claro, o que faz todo o sentido ser uma das primeiras. Precisávamos dela para enxergar nas cavernas... na pré-história — disse Marlene, rindo na mesa atrás.

— Está vendo só? Isso é ridículo.

— Você está impossível hoje, Alice. E Marlene, quer parar de mexer no meu cabelo?

— Não estou não! Você não se importa porque não dá a mínima para essa matéria. Essa que é a verdade.

Desculpe? Como é possível que eu não ligue? Não sou eu quem não está fazendo o que foi mandado, pelo amor de Merlin!

— Lily, — Alice suspirou, examinando-a com quase suplicia, mas os olhos irradiavam raiva. — Você sabe que isso não é normal, eu tenho certeza que você consegue entender. Se ao menos Dumbledore estivesse aqui... nós não o vemos há meses. Claro, Merlin sabe o quanto ele deve estar ocupado, mas...

— É só uma matéria — gemeu Lily em frustração. — Estou confiante que ano que vem vai ser melhor. Você quer ajuda com o trabalho? — Ela apontou para a tarefa incompleta como um pedido para encerrar a conversa.

Mas teve o efeito contrário.

— Inferno, você não entende mesmo, não é? Como pode? — Alice balançou a cabeça em descrença e riu sem qualquer humor. Sua paciência com a colega de dormitório chegara ao limite.

Uma vez que começou, Lily sabia que ela iria cutucá-la até machucar. Era nisso que a amizade das duas estava sendo resumida. E continuou.

— Você tinha pavor das lições do nosso professor do terceiro ano. Aquele que ensinou o patrono. Você não suportou a ideia de não conseguir fazer um corpóreo e James e Sirius o fazerem em segundos. Apenas admita.

— O que isso tem a ver com qualquer coisa que você esteja me dizendo? — O tom de Lily também mudou, mas isso não a impediu de corar. Marlene já havia a muito parado de mexer em seus cabelos e estaria escutando atentamente o embate. Alguns colegas nas cadeiras ao lado também.

— Você chorou por semanas por não conseguir algo que eles conseguiam... inventou até uma gripe para faltar aula. Era tão patético e mesquinho.

— Eu não...!

— E desde que virou essa porcaria, mesmo ano passado não era grandes coisas, você é a primeira da turma. Por que é isso que importa no final das contas, não é? — Sibilou ela. — Para você e aquele esquisito.

Ela apontou exasperada para o outro lado da sala, mas Lily não olhou.

— Tudo bem todos esses atentados dia após dia, não é? Famílias sendo destruídas e todo esse pânico... sem sabermos bulhufas como agir... Ora, o que tem de mais, certo?

— Alice-

— Contanto que você esteja satisfeita, PORQUE A NOSSA BRILHANTE LILY EVANS ESTÁ SATISFEITA COMO AS COISAS ESTÃO, NÃO É MESMO?

As últimas palavras ressoaram pela sala toda. As atenções se voltaram para elas de imediato. Até mesmo Sirius deslizou lentamente da mesa de Remus que ele estava sentado, para sentar numa cadeira. James Potter deu um assobio alto em meio ao silêncio.

Risadinhas começaram a se espalhar, até mesmo por parte da Sonserina, que dividiam a aula.

Alice recolheu seus pertences e sem dizer uma palavra à ninguém, nem ao menos ao Prof. Andrew, saiu batendo a porta, deixando uma Lily boquiaberta para trás.

(...)

O primeiro jogo da Grifinória aconteceria hoje, contra a Corvinal, uma semana depois do grupo de amigas de Lily decidirem lhe ignorar por completo. Para Lily não era uma surpresa optarem por ficar ao lado de Alice nessa história. O que mais a surpreendia, era Marlene estar aguentando todo esse tempo sem sua ajuda nas matérias.

Com nenhuma vontade de ver rostos conhecidos ou mesmo torcer para o time da sua Casa, ela não desceu para o café.

No meio do seu almoço, a única pessoa que se importou em cumprimenta-la foi Frank.

Suspirando, ajeitou a touca de lã e deixou o Salão. Saindo pelas grandes portas do hall, optou por sentar à margem do lago, entre os arbustos, no lugar mais oposto ao campo possível. Ainda assim, conseguia ouvir as torcidas, as vozes carregadas pelo vento.

Decidiu voltar a escrever em seu diário, há meses abandonado. Jogou pedrinhas na água também. Continuou a leitura de um livro trouxa esquecido há muito no fundo do seu malão.

Quando retornou mais tarde, não era difícil adivinhar quem havia ganhado. O Salão Comunal da Grifinória estava abarrotado de gente, até mesmo de outras casas. Sirius Black encontrava-se em cima de uma mesa, aos berros.

Desviando com dificuldade do mar de gente, ela conseguiu adentrar seu dormitório. Do banheiro, Marlene surgiu com os cabelos úmidos.

Lily não se deu ao trabalho de tentar alguma interação, ajeitando suas coisas para a ronda que ainda teria, a primeira do ano.

— Lily.

A ruiva girou rápido, surpresa.

— Sim?

— James está a sua caça desde o final do jogo. O que foi que você fez? — Segurando a toalha molhada nos braços, Marlene encarava Lily com curiosidade.

Ela franziu a testa, demorando para responder.

— Não faço a mínima ideia, Lene. ...mas fico contente que tenha voltado a falar comigo.

Marlene arregalou os olhos, tapando a boca com a mão.

— Droga. Não vai contar para as meninas, não é? — Perguntou em um fio de voz, olhando para a porta.

Balançando a cabeça e com um pequeno sorriso, Lily rumou para fora.

No auge do inverno, escurecia cedo. Passou pela sala dos monitores para deixar suas atas de atividades do semestre anterior e aproveitar o pequeno sofá para matar o tempo.

Quando Alecto chegou, era hora de começar a ronda. Decidindo ignorar as masmorras, rumou em direção aos primeiros andares. As tochas brilhavam em uma dança com as sombras das tapeçarias e estátuas.

Passou por alguns quadros com seus donos já roncando, e outros ausentes.

Ela estava com esperança que todos os estudantes tivessem o juízo de estarem retornando para suas respectivas Casas à essa altura.

Na ala leste do quarto andar, ouviu um silvo.

Na virada de corredor, pensou ter visto uma sombra desaparecer dentro de uma sala de aula.

Esfregando os olhos irritada, constatou que começou a ter novamente estranhas sensações de estar sendo observada, e um calafrio percorreu pela sua espinha. Ela não podia permitir que isso tornasse um habito, mas seu coração acelerado dizia o contrário. Segurou com mais força a bolsinha, que sempre levava consigo com algum snack e água, como se para manter a calma de alguma maneira.

Foi quando uma figura cruzou o seu caminho. Sem perceber que tremia, precisou chegar mais perto para focalizar.

Potter. Segurou-se para não respirar aliviada e rir. Fez menção de continuar seu trajeto, passando batido por ele. Decidiu que monitaria o andar da Grifinória até dar o horário.

— Saindo de fininho, Evans?

Ela levantou uma sobrancelha, virando-se. 

— Estou em ronda se não percebeu. Você tem dez minutos para voltar para o dormitório, aliás.

— Não, você não vai escapar assim tão fácil. — Ele a alcançou, parando de frente, bloqueando. Lily avançou por um dos lados, mas ele a acompanhou. — Não vai fugir.

James segurou um dos pulsos dela, não muito forte, ele não era um pirado, mas o bastante para Lily saber que precisavam ter uma conversa.

— Eu não estou fugindo, se é isso que está insinuando. Não mesmo. Não estou fugindo de você, principalmente – disse ela, se atrapalhando um pouco. Ter tido alguns momentos de pânico minutos atrás não a estava ajudando a ser coerente.

James soltou-a quando percebeu que Lily parara de andar, rolando os olhos. Em um movimento rápido, pegou a bolsa com os pertences dela.

— Potter! — Deu um tapa na mão do garoto e tirou a varinha das vestes. — Qual é o seu problema, idiota?

Ele não pareceu se abalar, revirou a mochila, deixando cair algumas coisas no chão.

— Onde está? Onde está o mapa, Evans? No seu malão? Eu juro que-

— Mapa...? Que mapa, Potter? Você só pode estar delirando. Não tenho nada disso aqui comigo.

— Você viu naquela noite o mapa, antes da volta às aulas. Pare de se fazer de sonsa ao menos dessa vez!

Ele parecia frustrado. E cansado. Embora sem as vestes do Quadribol, estava claro que ainda não tomara um banho ou sequer tenha sentado um segundo para descansar.

— Ah, é claro. Devo ter visto junto com o chão enquanto tentava me equilibrar no caminho para o dormitório. Eu estava estupidamente alterada aquele dia. Achei que tivesse ficado claro.

James lançou a bolsa dela rudemente, no que ela abraçou pasma, enquanto ele buscava paciência, respirando fundo.

— Quando você entrou no meu dormitório? Foi durante o jogo de Quadribol, obviamente — disse ele, pensando consigo mesmo. — Tão previsível, Evans. Todo mundo estava lá a não ser você, vamos, me diga, quais eram seus planos exatamente? Não, na verdade, deixa que eu adivinho: usou para localizar um dos patetas que você gosta de brincar?

Por bem, Lily resolveu ignorar a última parte.

— Acha mesmo que eu roubei, sabe-se lá o quê, do seu quarto enquanto você estava atrás de uma bola fedida? — Bufou. — Que piada.

— A Mulher Gorda disse que a viu entrando e saindo durante o jogo. Só admita logo.

— Impossível. Passei a tarde toda em frente ao lago.

— Eu não acredito em você.

Agora foi a vez de Lily rolar os olhos.

— Você tem uma porra de uma sorte. Se fosse um cara eu já teria enfiado uma azaração.

— Muito cavalheiro. Mas meu interesse pelos seus pertences é zero — disse-lhe azeda. — Na verdade, qualquer coisa que venha de você não me importa nadinha.

James precisou de todo o seu autocontrole para não fazer uma besteira. Seus corpos muito pertos agora, com suas respirações se misturando.

— Se eu souber que você está mentindo... se você estiver com o mapa ou saber com quem está... você está ferrada, Evans. Ferrada. — Disse ele, sem saber qual a real razão de estar se sentindo tão ofegante assim.

Os dois ficaram se encarando por tempo suficiente até se tornar algo estranho, então, ele deu um passo para trás e depois para o lado, para imediatamente dar as costas, não sem antes bater o corpo contra o ombro e braço de Lily ao passar.

Mesmo dolorida pelo esbarrão, Lily desdenhou, um pouco tarde, para o corredor vazio:

— Blá, blá, blá. Vá à merda!


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Notas finais do capítulo

Demorei mas voltei!! ♥ Como vocês estão? Aqui está uma loucura, com várias leituras atrasadas e escrita mais atrasada ainda... Acho que é a época, né? Em todo caso, gostaria de encerrar o ano publicando mais um capítulo. O TÃO ESPERADO CAPÍTULO NOVE (esperado por mim ao menos), vai revelar o que raios está acontecendo nessa história. Espero que gostem!

FELIZ NATAL ATRASADO E FELIZ 2021!!! Esse ano foi difícil mas tá acabaaando! Fiquem seguros e cuidem da saúde mental, que é o que importa ♥



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