Feitiço do Tempo escrita por Isa G


Capítulo 3
Capítulo Três — Uma Pequena Disputa




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Dois dias depois, segunda-feira, novembro

O mundo inteiro parava para observar Lily Evans quando esta estava à frente de um caldeirão de bronze. Ou, pelo menos, era isso em que acreditava. A maneira que manuseava os instrumentos; a habilidade dos cortes perfeitos; o ritmo preciso na hora de mexer; o olhar concentrado com um vinco entre as sobrancelhas quando chegava mais perto para observar a tonalidade...

Caso obtivesse êxito, encheria de observações as bordas do seu exemplar.

Algumas aulas antes o professor atiçou os ânimos da turma quando comentou, como quem não quer nada, a possibilidade de ensinar uma poção que não consta nos livros regulares, a Felix Felicis.

Por ora, no entanto, deveriam se contentar com algo menos grandioso:

— A tarefa é simples, meus senhores. Cada um de vocês irá receber uma das oito receitas Energizantes De Efeito Rápido. Muito parecidas à primeira vista, mas, basta mudar a ordem de um ingrediente ou adicionar um pouco mais de outro... já pode não ser mais a mesma. Por isso adentem-se aos detalhes!

A atividade era mais dinâmica que o de costume. Principalmente falando-se em Horácio Slughorn, um amante da alquimia clássica e contida. Lily lembrava-se do dia em que ela e Severus passaram toda uma tarde persuadindo o professor a mudar o pó de calêndula para boldo macerado na receita de um xarope antigripal.

— Merlin, Lily, você está esmagando sua pena – comentou Marlene ao lado. — E pare de achar isso o máximo, estou frita e preciso de ajuda — arfou já atrapalhada com o caldeirão.

Saindo do estupor de felicidade, endireitou-se.

— Quero a poção correta da qual forem designados. E, quem entregar primeiro, poderá levar uma amostra – continuou o professor, com ar divertido. Ele adorava uma competição. Lily amava. Com um simples aceno de varinha, voaram tubos de ensaio marcados com o nome de cada poção e a receita em um pergaminho dentro.

— Qual vocês pegaram? Qual vocês pegaram? – insistia Marlene para as amigas.

— Não esqueçam de esvaziar o caldeirão quando terminarem. Ouviu, Sr. Black? Bom, ao trabalho! – Prof. Slughorn começou a andar pela sala cantarolando, começando pelo lado da Sonserina.

— Hum. Peguei Sopro de Dragão. Isso é bom? – perguntou Emmeline.

Lily não pôde deixar de perceber que ele parara na mesa de Severus Snape e cerrou os dentes.

— E você Alice, deixe-me ver... Oh, droga! Quem será que pegou Afanada de Pelúcio? Lily? Lily?

A garota não prestava atenção, e com um salto já estava no armário, lá no fundo da sala, pegando os ingredientes extras. Não teve muito problema, a maioria ainda decifrava os primeiros passos no livro.

— Lily, sabe se isso vai agora ou depois? – Marlene continuava em sua saga. — Acho que ferveu demais essa mistura aqui...

— Lene, vem cá que eu te ajudo, deixa a estrelinha pra lá – desdenhou Alice, a olhando duro.

Mas a cabeça de Lily encontrava-se em um turbilhão. Era uma receita que nunca fizera. Pegara a Poção Gnomos Saltitantes.

Passou os olhos pelos colegas para ver se alguém tinha pego a mesma, mas ainda era muito cedo para notar qualquer diferença nas preparações.

Ai! Mas que porcaria! – exclamou quando cortou o dedo na hora de ralar as raízes de carqueja, chupando o sangue enquanto mexia a caldeira com a outra mão.

Prof. Slughorn alcançou sua mesa um tempo depois.

— Ah! Srta. Evans! Mãos de fada como sempre – disse ele e ela não teve tempo para uma resposta. — Quê... de onde vem esse cheiro? Não- Sr. Avery, por favor. Não queremos outro caldeirão queimado...!

Na metade da elaboração era preciso realizar mais de cinco coisas ao mesmo tempo. Em dupla seria fácil, mas Slughorn quis dificultar. Antes de começar essa etapa do processo, Lily resolveu dar uma olhada na turma.

A primeira coisa que avistou foi a mesa de trabalho do seu ex-amigo. E para seu total espanto ele estava muito trás. O que estava acontecendo? Parecia... parecia que Severus não estava se importando. E isso dizia muita coisa para alguém como ele.

A segunda coisa que a garota notou foi o que fez seu sangue ferver. Ali, no fundo da sala, praticamente empoleirados uns nos outros, os quatro delinquentes estavam em cima de um único caldeirão. O caldeirão de James Potter mais precisamente.

NÃO É JUSTO!, ela queria gritar. 

Vasculhando rápido, enquanto levantava o fogo da sua própria poção, notou que Remus, Black e Peter não abandonaram completamente a sua bancada, mas estavam depositando todo o esforço na do lado. James Potter ostentava um sorriso de canto, com os olhos brilhando, enquanto adicionava um líquido no conta-gotas. Era a mesma expressão que Lily lembrava-se de ver estampada em seu rosto quando ganhava a artilharia da temporada de Quadribol.

Ela os amaldiçoou. Arrependeu-se de não ter dado uma detenção à Peter Pettigrew quando o viu saindo sorrateiro da sala do zelador ainda essa manhã.

Abaixou a cabeça e reuniu toda sua concentração.

Faltando menos de vinte minutos para o término da aula, ninguém ainda ousara apresentar alguma coisa. Lily esperava impaciente, esperando a coloração mudar e assim, acrescentar as salamandras. O suor escorria da sua testa.

Espiou por cima do ombro. A poção deles obteve a cor âmbar perfeita. Ela correu os olhos para o tubo e leu Poção Levanta Inferi. Com o livro aberto, notou que as duas poções tinham quase os mesmos passos. E resolveu agir.

— Marlene, acho que você vai precisar de raízes de carqueja ainda. Vou buscar para lhe poupar tempo – comentou Lily em um fôlego só.

— Oh, Lily...! Obrigada... pela ajuda, espero não estar... atrapalhando muito... – disse ela, enquanto lutava com as lesmas na tábua.

— De maneira alguma, é um prazer, Lene. Veja. Minha poção está apurando aqui, volto em um segundo.

Segurando firmemente as sementes salamandras restantes do seu próprio preparo na mão cerrada, Lily caminhou para o fundo da sala, em direção ao armário, pegou o que precisava e, enquanto eles estavam distraídos com o caldeirão, depositou-as junto às já cortadas raízes que estavam de molho na tinta de lula.

— Aqui está – indicou Lily, jogando sem muita cerimônia um vidrinho transparente para a colega e foi direto verificar o andamento da sua poção.

— Eu li e reli várias vezes e não fala nada de raízes ou qualquer coisa do tipo... Você tem certeza? – sussurrou Marlene, mordendo o lábio inferior, aflita.

Com o humor melhor, Lily decidiu dar uma mão.

Não demorou muito mais para o último processo estar se encaminhando para o fim. Só mais um minuto...

— PROFESSOR! Professor, aqui! Aqui no fundo – berrou Potter, assustando a silenciosa turma. Lily quase deixara a concha cair. — Terminei!

— Ora, o que temos aqui? – Prof. Slughorn assobiou, encaminhando-se em direção aos garotos.

— Eu terminei também! – sinalizou Lily, atordoada, tentando o mais ágil possível depositar a sua poção no tubo sem tremer.

— Vejamos então, Sr. Potter. Qual é a poção? Ah, sim. – Ele demorou longos segundos para finalmente dar um veredito. — Temos aqui uma poção energizante, de fato.

Os quatro abriram sorrisos vitoriosos.

— Alguma coisa entre Gnomos Saltitantes e Levanta Inferi. Vejam, a coloração está marrom-lama e o cheiro definitivamente mais doce – Agora os garotos estampavam total confusão. — O senhor deve ter se confundido, um erro muito comum para olhos destreinados, talvez usou raspas de gengibre ou semente de salamandras? Uma lástima – disse ele com carinho.

— Eu... como... – James Potter balbuciava sem fazer sentido. Sirius Black estava com a boca escancarada acompanhando. Remus Lupin resolveu voltar a sua poção, desanimado.

— Meu caro rapaz, fico contente com o esforço, não que seja um péssimo aluno, não, nada disso, mas sempre soube que teria potencial a ser explorado. Agora sei que, com um empurrãozinho posso roubar o posto de Minerva nas suas preferências – Horácio Slughorn deu uma piscadela. — Agora, Srta. Evans...

— Não, eu juro professor, estava seguindo tudo do livro, eu não sei como isso... estava tudo perfeito um minuto atrás... – Potter estava falando sozinho, gesticulando como um louco, pois o professor já havia avançado para a bancada da frente.

Lily prontamente entregou o tubo de ensaio.

— Pessoal! Pessoal! Acho que já temos uma vencedora hoje – Seus colegas pararam as atividades, acompanhando a cena. Ele aproximou mais. — Coloração perfeita. Ah! Cheiro correto. Muito bem, muito bem. Uma poção de Gnomos Saltitantes correta. Excelente, Srta. Evans!

Lily não poderia estar mais eufórica, e olhou à sua volta procurando algum olhar aprovador ou admirado em sua direção, mas somente encontrou rostos rabugentos de volta aos caldeirões. No fundo da sala, percebeu James Potter xingando baixo e jogando os utensílios de qualquer jeito na pia auxiliar. Percebeu também Sirius Black e Remus Lupin em uma discussão acalorada.

Não pôde deixar de sorrir largamente.

— Aqui, sua recompensa. E dez pontos para a Grifinória! – disse Slughorn com um sorriso satisfeito no rosto, que ele sempre guardava para ela. Varrendo os olhos pelo balcão, observando curioso. — Vejo que usou todas as sementes de salamandras na preparação? Interessante. Me conte sobre isso depois da aula.

Lily corou. Em qualquer outro momento ficaria maravilhada com o interesse do professor pelos seus métodos não ortodoxos, mas não hoje. Suas mãos voltaram a tremer e começou a ajeitar seu cabelo, nervosa.

— Ah! Olhem! Acho que terminei! – comemorou Marlene aos pulinhos, mas a cor de bicho-papão parecia muito distante da proposta.

Lily virou-se para recolher seus pertences e sentiu de imediato James Potter a encarando e imediatamente soube que estava encrencada. Talvez recebesse uma represália.

Potter suspeitando da sua pequena interferência seria uma grande surpresa, afinal, Lily não imagina que o garoto tenha qualquer capacidade cognitiva para começo de conversa.

No entanto, ele lhe dera um encontrão na saída da aula e os outros fizeram cara feia no almoço. Todavia, ele não tinha como provar nada, o que a aliviava um pouco.

— O que há de errado com eles? – perguntou Emmeline, quando Remus recusara a passar as batatas assadas.

Não se orgulhava, mas, durante todo o resto do dia Lily concentrou-se em não ser deixada sozinha. Grudou até mesmo em Alice na aula de Aritmancia.

(...)

Ainda que preferisse estar na companhia de alguém perambulando o castelo, com medo de uma iminente bomba de bosta cair em sua cabeça — não seria a primeira vez —, precisou ir à Torre de Astronomia observar a Ursa Maior para seu trabalho extraclasse, que tanto insistira ao professor dias antes.

Enquanto que as estrelas estiveram visíveis a maior parte do tempo, a lua crescente foi desanimadora. Lily gostava de observar quando estava em sua fase completa.

Com a chegada do inverno o castelo esfriava cedo demais e os alunos rumavam logo para suas Salas Comunais, passando o máximo de tempo em frente as lareiras. A Torre de Astronomia e a da Grifinória eram no mesmo andar e bastava atravessar dois longos corredores agora.

E foi quando ela ouviu uma movimentação. Olhou atrás dos ombros e pela porta entreaberta de uma sala de aula. A varinha em punho.

— Quem está aí? Ande, mostre-se! – rosnou ela. — Potter, se for você, eu juro que o mando direto pra enfermaria...

Balançou a cabeça e voltou a andar. No segundo seguinte, mais um barulho desconhecido aos seus ouvidos, quase metálico. Tomou um susto com a sua própria sombra também.

Inferno, você está sendo patética, Lily — sussurrou para si.

No mesmo instante, um pedaço de papel brilhoso voou em sua direção, como se alguém o tivesse encantado com um toque de varinha. Ela o pegou por reflexo e, por um momento, parecia que tinha lido o seu nome, Lily, em letra garranchada. Um segundo depois não estava mais ali. Somente a cor muito branca do papel, de textura estranha e a lateral rasgada.

Enfiou-o no bolso, olhando para os lados mais uma vez, e saiu em disparada.


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Notas finais do capítulo

bom, é isso. enjoy! ♥

obs: troquei a capa da fic, mudo de ideia muito rápido scrr



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