Colônias Galácticas escrita por Aldneo


Capítulo 5
O marketing é tudo




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Após certo tempo de viagem pela larga rodovia, o veículo de Karine acendeu seus sinalizadores luminosos, de uma coloração amarelada, do lado esquerdo, em suas duas extremidades. Ainda que isto fosse apenas um efeito visual, pois um transmissor já havia informado a rota que o veículo executaria ao servidor central que administrava aquela rodovia. Desta forma, a informação que ela deixaria a via naquele momento já estava sendo transmitida para os demais veículos que seguiam na mesma faixa, e na da esquerda, que ela precisaria cruzar. Assim, todos os carros que seriam afetados por tal movimento, tiveram uma diminuição simultânea de velocidade, abrindo caminho para o veículo da jovem mudar de faixa no momento necessário para pegar a próxima saída do viaduto. Karine deixou a rodovia e entrou em uma via marginal, na qual seguiria até o enorme centro de lançamentos, enquanto os demais veículos, que continuaram no viaduto, foram restabelecendo a velocidade.

O veículo de Karine, continuando seu trajeto pré-programado, chegou a entrada do centro de lançamento. O carro manobrou e estacionou em uma das vagas de estacionamento do local. Um aviso foi enviado ao dispositivo portátil da jovem, informando que ela havia chegado ao destino. Ela, então, desconectou os óculos projetores, e se voltou para a tela surgida no pequeno aparelho. Esta lhe apresentava um informe, cuja voz de seu computador de bordo lhe narrou: “Foram descontados de sua conta bancária o valor de 372 créditos e 86 cêntimos, relativos as taxas de uso das vias de autocondução. Você gostaria de ver seu extrato bancário?” Karine respondeu o comando de “Não, obrigado” e o informe se fechou, enquanto a porta do veículo se abriu automaticamente. Ela deixou o carro olhando para o pequeno aparelho, que agora lhe apresentava uma nova mensagem, solicitando-lhe uma nova resposta: “Você deseja que seu veículo seja conduzido automaticamente de volta à sua garagem pelo valor de 196 créditos e 22 cêntimos? Você também pode optar por deixá-lo esperando nesta vaga de estacionamento, pagando o valor de 5 créditos por hora, ou 80 créditos por dia de espera. Lembrando que se você optar por mandá-lo retornar a garagem e solicitar que ele venha lhe buscar, neste mesmo ponto, após o período mínimo de uma semana, você não pagará a viagem. O que você prefere?” Karine escolheu: “Retorne para minha garagem, por favor.” Diante do comando, o carro se fechou, manobrou de forma a deixar a vaga de estacionamento e seguiu em seu retorno automático à garagem de onde havia saído.

Enquanto caminhava para uma das portas de entrada do centro, ela passou perto de um homem que estava parado ao lado de seu carro, na vaga de estacionamento logo após na qual ela havia descido. O veículo era de um modelo bem menos elegante que o dela e o homem aparentava estar bem transtornado ao ouvir seu computador de bordo, falando-lhe através de seu dispositivo portátil. A mensagem que Karine, e qualquer outra pessoa por perto, conseguiu escutar em parte era: “…você não possui créditos suficientes em sua conta bancária para efetuar esta viagem. Por favor, efetue uma transferência de créditos para sua conta ou selecione um novo destino.” Irritado, o homem esbravejou contra o pequeno aparelho:

— Eu deveria poder acionar os comandos manuais e sair dirigindo eu mesmo!

Ao que o computador lhe respondeu com a calma e a indiferença de uma voz automata: “A condução manual é broqueada nesta zona. Você gostaria de calcular a rota até a área mais próxima onde a condução humana é permitida?” Ao que o homem soltou um suspiro bem descontente. Karine, por sua vez, continuou em seu caminho, de forma que não pôde acompanhar qual seria o desfecho da desventura daquele cidadão.

O interior do centro de lançamento parecia um verdadeiro shopping. Estava repleto de lojas e quiosques de todo o tipo de mercadorias e serviços, além de uma infinidade de monitores mostrando horários de voos e lançamentos com seus diferentes destinos ou simples propagandas, das mais variadas imagináveis. Também havia uma legião de promotores espalhados pelos corredores, oferecendo amostras dos mais diversos produtos. Karine negou as amostras grátis de uma nova bebida energética, que se vangloriava de ser completamente livre de agentes cancerígenos, e de um shake, que prometia eliminar uma quantidade considerável de gordura corporal durante o tempo de uma viagem a Júpiter. Tais amostras lhe foram oferecidos por promotoras bem jovens e com roupas bem curtas e “chamativas”. Enquanto negava uma destas amostras, chegou a dar uma olhada de relance para uma mesa ignorada num dos cruzamentos de corredores. Nela, três pessoas tentavam, inutilmente, chamar a atenção das que passavam para sua causa: exigir que o governo tornasse a permitir confissões públicas de alguma antiga religião. Enquanto seguia para a área de embarques, ela passou por perto de um dos muitos monitores, escutando a sua propaganda: “… saiu a nova atualização de firmware para os autofornos ASNA. Com esta upgrade, seu autoforno terá acesso a um novo banco de dados e estará apto para reconhecer e preparar mais de 5000 refeições diferentes. Não deixe seu forno desatualizado, retribua o tanto que ele torna sua vida mais prática, compre já esta nova atualização, aproveitando o preço promocional de lançamento…”. O caminho que a jovem seguia também a fez passar perto de uma bancada, próximo a entrada de uma farmácia. Ali, uma promotora, que mais parecia uma modelo, explicava simpaticamente a algumas mulheres, que demonstravam real interesse, o funcionamento de seu produto. Ela dizia: “… ele vem com este cinto ajustável, que posiciona o refil recipiente de forma correta para o uso, assim não precisamos mais nos preocupar se estamos na posição certa. Então é só tomarmos a pílula, e o aborto ocorre em no máximo quinze minutos. É realmente sem dor alguma, eu garanto, pois, eu mesma já testei. Após o feto ser liberado no refil recipiente, é só soltá-lo do encaixe no cinto, que ele fecha automaticamente; e o fechamento é a vácuo, de forma que podemos descartá-lo no lixo comum, sem nos preocuparmos com sujeira ou mau cheiro…”

Por fim ela se aproximou da área de embarque, onde reconheceu um homem que estava ali, parado, olhando para o movimento das pessoas em seu entorno.

— Chanceler Quintine! - ela o chamou.

— Oh, duquesa, que bom que já chegou! - o homem a recepcionou, voltando-se para ela e abrindo um largo sorriso.

O chanceler Quintine Nubaco era o que os mais educados chamariam de um “jovem ancião”. Um eufemismo para dizer que ele já era um idoso, embora ainda resguardasse algo de jovial. Era magro e alto, com uma calva que lhe ia até a metade de sua cabeça, contornada por cabelos brancos, tendo também alva a barba, longa, porém bem cuidada, que lhe contornava o rosto. A pele, amorenada, apresentava pouquíssimas manchas senis. Apresentando-se também com um nariz grande e olhos fundos. A natureza não havia lhe dado as feições mais agradáveis, porém, ele era todo um político e sabia ser tão agradável quando suas intenções tornassem necessário. Na realidade, ele era um político fraco e quase que insignificante na hierarquia do governo, mas seu marketing pessoal era capaz de convencer quem quer que fosse que ele era muito mais forte e importante do que realmente seria. De fato, quanto jovem, o chanceler havia sido um grande publicitário, e seus muitos diplomas na área de propaganda e marketing lhe serviram para calcar a carreira politica muito melhor do que as formações em Direito e/ou Administração que a maioria dos políticos apresentavam.

— Você chegou cedo - ele continuou. – Mas, creio que já podemos tomar nossos acentos, caso queira é claro.

 


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