Invisible String escrita por Sunny Deep


Capítulo 3
DOIS. Camisetas e expectativas manchadas


Notas iniciais do capítulo

Olá, lindezas!

Sim, eu sei que esse capítulo demorou bem mais que o esperado e peço desculpas, gente. Minha cabeça não estava dando conta nas últimas semanas hahaha. No entanto, aqui estamos, certo? E temos mais Scorose, é claro!

Ah, fiz uma playlist para a fanfic! Se você quiser dar uma olhadinha, está neste link:
https://open.spotify.com/playlist/5ZmK1wR3rlb9Rv5EsEs63o?si=wvHtyOwGRGyamPDNP51ujA

Quero dedicar o capítulo especialmente para Mica, muito obrigada pela recomendação ♥ amei demais!

Sem mais delongas, vamos brincar de entrar nas memórias de Rose mais uma vez? Hehe ♥ Boa leitura!



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PRESENTE

A campainha tocou, revelando uma Dominique sorridente.

— Sorvete! — exaltou-se ao erguer o pacote que carregava, abraçando Rose rapidamente e entrando no apartamento de Albus. — Oi, família!

Atirada no sofá com uma taça de vinho, Roxanne sorriu e mandou um beijo para a prima. Estava exausta depois de mais um dia de trabalho no St. Mungo’s. De todos ali, ela provavelmente era a que mais necessitava daquele descanso.

— Não acredito que vocês já começaram a beber. Sem mim.

— Teremos que sobreviver à comida do Al de alguma forma, né? — provocou a ruiva, bebericando da própria taça e trancando a porta. — Espero não ter uma intoxicação alimentar.

Domi gargalhou, retirando o casaco e desaparecendo pela porta que ligava a sala com a cozinha.

A tradicional noite dos primos (os mais próximos e ainda moradores da grande Londres) acontecia, normalmente, uma vez a cada dois meses. Mesmo depois de tantos anos, eles tentavam manter o compromisso ainda vivo. Porém nem sempre conseguiam.  

Da última vez, Rose estava ocupada terminando uma encomenda. Na penúltima, Dominique sofrera de crises renais e passara a noite em um pronto socorro. Na antepenúltima, Fred dera um bolo para encontrar um cara no Tinder e na anterior a essa, bem... Albus estava de lua de mel.

Era difícil, mas se esforçavam.

— Eu ouvi isso, Rose! — a voz do Potter cruzou o ambiente, junto com o barulho estrondoso de panelas.

A ruiva fez uma careta, erguendo as pernas de Roxy para sentar ao seu lado. Deveria ter obrigado Al a receber sua ajuda.

— Pobrezinho, se esforçando tanto depois que casou. A Sra. Potter vai ficar orgulhosa, mesmo há quilômetros daqui — provocou Roxanne alto o suficiente para que todos ouvissem, utilizando o título que era oficial há poucos meses.

A outra mulher voltou com uma taça limpa e fez um beicinho.

— Ainda não acredito que ela precisou viajar. Aliás, cadê o resto?

— Fred levou a Jo para passear com o Taz. — respondeu Rose.

Roxy ajeitou-se no sofá, dando espaço para a outra prima também.

— Joanna estava com saudades dele e Fred a levou para caminhar. Sabe, às vezes eu sinto que ela ama mais aquele cachorro peludo que a mim.

Rose levantou a sobrancelha, ouvindo o exagero da prima.

A mulher estava na fase em que sentia mais apego pela filha do que a pequenina pela mãe. Joanna queria conhecer o mundo e questionar tudo – e Rox, pelo contrário, pedia para voltar no tempo. “Quando Jo era apenas um pacotinho”, dizia. Sequer lembrava que, naquela época, mal conseguia dormir.

— Você sabe que ela ama o Taz mais que ama você, é a vida. —Domi deu de ombros, enchendo a taça. Ao perceber o olhar irritado da outra, emendou: — Tô brincando, Rox.  

— Brinca de novo que eu viro a bebida em você.

— É assim que você trata seus pacientes?

Rose riu com a conversa.

— Não provoque — aconselhou. — Ela descobriu hoje que foi o gato da vizinha que arranhou o carro dela.

— Aquela velha treinou o gato pra fazer isso, eu tenho certeza.

— Você falando assim até parece que não gosta de gatos — reclamou Domi. Seus três filhos felinos seriam sempre defendidos por ela.

— Eu não gosto do gato da minha vizinha.  

A Delacour pareceu satisfeita com a resposta. Estavam tão absortas na conversa que quando Albus surgiu na sala, com um pano de prato pendurado no ombro, foram surpreendidas. Seu cenho estava franzido enquanto fitava a televisão no mudo.

— Ei, aquele não é o Scamander?

As três voltaram-se para a tela.

Rose soltou uma risada de escárnio, procurando o controle para aumentar o volume. Inacreditável.

Sim, ali estava o garoto loiro que estudara com elas no colégio e se achava o máximo. Cabelos longos e roupa social. O que mesmo ele estava fazendo? Leu a barra a baixo da tela. Atuando. Combinava bem com a cara dele.

— O quê? Eu não acredito! — Dominique jogou-se no tapete, engatinhando até a imagem do homem. Sua boca estava aberta.

— É um ótimo bíceps. — apontou Albus.

— É o que eu chamo de glow up. — Roxanne inclinou o rosto para uma análise mais aprofundada. — Ele tá de parabéns.

Rose deu de ombros, um sorrisinho nos lábios.

— Ele sempre foi bonito. Eu tinha um ótimo gosto.

Domi negou com o indicador.

Ahm, não. Você tinha um gosto bem peculiar para garotos na época do colégio.

— Ei, você nem estudou em Hogwarts pra saber! — apontou para o eletrônico à frente delas, indignada. — E chama isso de peculiar por acaso? Lorcan tá um baita gostoso!

Definitivamente Lorcan não era feio no Ensino Médio. No fundamental? Talvez. Porém quando os dois tiveram algo, ele já tinha se livrado das inúmeras espinhas e possuía um sorriso encantador – o mesmo que, naquele momento, ostentava para a apresentadora do programa.

Rose sempre tivera um ótimo gosto.

— Eu achava ele chato na época, isso pode influenciar minha opinião — Al deu de ombros. — Mas ele teve mesmo uma fase feinha.

— Quem era feio? — Fred abriu a porta de entrada e um yorkshire de poucos palmos correu para a sala, as patinhas batendo no piso de madeira. O animal balançou o rabinho para Rose, que o pegou no colo.

Taz era o pequeno canino de Fred e, onde o homem estava, a bolinha de pelos o acompanhava também. Era fofo e engraçadinho. Rose babava por ele.

— Tia Dô! — Joanna veio logo atrás para abraçar a loira, que a recebeu com o maior sorriso. — Taz fez um amigo no caminho.

Em poucos segundos, Joanna sentou-se na ponta do sofá engatou uma conversa animada com Dominique – completamente alheia sobre quem era o tal ator para os tios. Após uma análise de Fred a respeito de Scamander não ter sido exatamente feio no colegial, o ator logo foi substituído por um comercial de amaciantes.

Rose manteve sua tese de que ele tinha sido bonito no passado. E querido também, em geral.

Apostava todas as suas fichas.

.

2008

Era final de outubro de seu terceiro ano e a mão de Lorcan Scamander pousava em seu ombro, como de costume.

Bateu a caneta na mesa do refeitório, respirando fundo.

Rose estava realmente se esforçando para terminar aquela atividade de Química, pois Sr. Slughorn era um pé no saco e ela havia esquecido da tarefa – ou melhor – estava mais concentrada no trabalho de pintura da Sra. Trelawney. Assim, restava o horário de intervalo para conseguir finalizar tudo.

Porém, o mundo não parecia colaborar.

O mundo, neste caso, chamava-se romance. Não o dela.  

— Não, você que é o mais romântico da relação — Rox protestava agarrada em Pietro, o maior sorriso bobo no rosto. Rose refreou a vontade de vomitar com aquelas demonstrações exageradas. A garota estava insuportável.

Pietro Vane era o que Rose chamaria de Don Juan. E a outra Weasley estava perdida, irreparável e completamente absorta em seus encantos. Era doce – há dois meses atrás. Ninguém mais aguentava a “era de lua-de-mel” estendida dos dois.

— Será que a gente deveria dar uma privacidade a eles? — sussurrou Lorcan, uma risada escapando de seus lábios. Rose balançou a cabeça, tentando não rir tão alto. 

— Tenho medo do que eles fariam sem alguém pra controlar a situação.

— Tem razão. Ah, lá vem a matilha.

Virou-se, entendendo o que seu namorado queria dizer. O time de cricket entrava na cantina, entre eles seus outros primos. James, Fred e Albus. Sempre que Lorcan se referia a eles como “matilha”, uma súbita vontade de revirar os olhos a acometia. Detalhes.

Diferente do casal à sua frente, ela e o namorado não eram muito carinhosos ou insuportavelmente grudados um no outro. O que era um alívio.    

— Estudando até no intervalo, Rose? — questionou James, jogando-se ao seu lado na mesa redonda. Seus cabelos ainda estavam molhados do banho que deveria ter tomado após o treino.

Ele e Fred eram os únicos que estavam no quarto ano de ensino médio, quase abandonando a vida de meros adolescentes. Raros eram os dias em que conseguiam se ver além do período de almoço (exceto James, que lhe dava carona todos os dias) e raros eram os momentos em que ela não os ouvia reclamando sobre as inscrições de faculdade.

Graças que ainda não estava no meio daquele redemoinho todo.

— Ela está atrasada, não? — Fred interpôs, roubando o sanduíche abandonado de sua irmã. Roxanne o encarou, irritada com o furto. — Namora aí e deixa eu me alimentar. em fase de crescimento.

Pietro riu um pouco envergonhado por conta do comentário, porém não se afastou da garota.

— Estou acabando — respondeu, anotando as últimas linhas de um cálculo estequiométrico. — Eu poderia ter sido mais rápida se não fosse pelos pombinhos.

Ah, qual é!

Antes que a prima reclamasse mais do comentário da ruiva, Albus aproximou-se da mesa com um olhar decidido. O olhar de quem daria uma boa bronca em alguém, o que não seria novidade.

— Pessoal, eu quero que vocês sejam os mais educados e comportados possíveis agora — Albus anunciou. — Eu vou apresentar um cara que foi transferido pra Hogwarts e vocês sabem como é cidade nova, escola nova...

A família compartilhou um olhar confuso que gritava “eu não faço a mínima ideia” pois todos moravam e estudavam no mesmo lugar desde... sempre. E todos eram conhecidos por conta de seus sobrenomes.

— Espero que não seja um pé no saco. Não aguento mais gente chata nessa escola.

Lorcan riu, cúmplice.

Nada é bom o suficiente para Rose Weasley.

Ela respondeu com um risinho de canto. De fato, seus sonhos e desejos estavam muito longes dali.

Pegou seu copo de suco e começou a morder o plástico enquanto analisava as atividades do caderno. Restava aceitar o destino de que eram altas as probabilidades de Slughorn a chamar para responder algo e, acima disso, das respostas estarem equivocadas. Mesmo sendo muito boa na matéria, a falta de concentração teria influenciado.

Bebericou o líquido quando ouviu Albus apresentando o novo aluno. “Bem, esse é...” a fez arregalar os olhos e, no choque, cuspir na pessoa mais próxima.

— Puta merda! — Scamander exclamou, passando a mão pelos olhos para conseguir tirar o suco do rosto. Rose sentiu suas orelhas esquentando e pegou rapidamente um guardanapo para si e para o namorado.

Céus, suas camisetas brancas estavam manchadas de lilás agora. Maldito suco de uva! Ela iria ouvir suas reclamações por muitas horas.

— Obrigada por impressionar, Rose — Albus suspirou.

Isso a fez levantar o olhar.

Ignorou seu primo por completo. No lugar disso, encarou o garoto ao seu lado. Alto, loiro, impressionante naquele uniforme social e terrivelmente familiar. O novo aluno de Hogwarts.

Seu coração começou sofrer arritmia instantânea.

PUTA. QUE. PARIU.

— Tem um pouco de...no seu queixo — ele disse, tentando não rir. — Sou Scorpius.

Claro que seria.

Claro.

Pigarreou, passando o guardanapo nas mãos e queixo. Assumindo uma posição diplomática como a dele, apenas assentiu e devolveu o cumprimento.

— Prazer.

O Potter continuou apresentando os outros primos e agregados. De fato, ótima forma de impressionar seu ficante de anos atrás. Melhor impossível. Depois dessa ela podia levantar, assinar seu atestado de morte por vergonha própria e sumir.

Secou as gotículas de líquido que atingiram seu caderno e arrumou o material na bolsa escolar. Mais uma vez, a mão de Lorcan voltou ao seu ombro.

Scorpius sentou ao lado de Albus e Roxanne, engatando uma conversa idiota sobre o que estava achando da escola e sua mudança de um colégio interno para ali. Baboseiras. Segurou seu celular, fingindo estar entretida com qualquer SMS que recebera, mesmo que uma parte de seu cérebro estivesse atenta ao diálogo.

Não houve qualquer sorriso especial para Rose. Malfoy nem tentou lhe direcionar olhadelas durante aqueles longos minutos em que estavam na mesma mesa.

Nada.

A Weasley disse a si mesma que não deveria esperar algo diferente. Afinal, tinham sido apenas um caso de verão. Viram-se duas vezes e só, fora ótimo e ela guardara um pouco dos momentos em uma caixinha especial de sua memória. Era uma coincidência seu reencontro? De certa forma, sim. Mas não deveria lidar com aquilo de forma tão exagerada.

Até porque não pensava nele de forma alguma a não ser... alguém que sequer conhecia. Isso. Era dessa maneira que o via.

— Ei, não precisa ficar nervosa, eu tenho uma blusa reserva no armário — Lorcan disse minutos antes do intervalo chegar ao fim, percebendo o semblante fechado de Rose.

Ela assentiu, fingindo que era isso mesmo que a incomodava. Não outra coisa.

Até que dias tornaram-se semanas. Malfoy sentava às vezes com eles, às vezes sozinho, às vezes com o time de cricket. Porém um fator era sempre constante: ignorava-a por completo. Apenas lhe dirigia a palavra se conversavam em um grande grupo e com certo descaso.

Ele tinha sido tão idiota anos antes? Sua mente deveria ter maquiado tudo isso, pois a resposta era um enorme e em negrito “não”.  

As aulas que faziam juntos? Ele escolhia a carteira mais distante, no fundo da sala, e fazia dupla com Ariadne Creevey. Bem, talvez ele tivesse enfiado a língua nela também em algum verão. 

A situação toda era irritante e a fazia morder a parte interna da bochecha.

— Cansei. Vou aceitar que ele é um filho da mãe e pronto — reclamou para Alice.

A amiga estava jogada em sua cama fazendo uma atividade de Literatura. Desde que a Longbottom repetira de ano, Rose ajudava-a com as disciplinas após as aulas. 

— Sei lá, Rose. O que ele teria pra conversar com você? Só foi um lance, não é? Anos se passaram e pronto.

— Isso não justifica, Alice. Você não entende.  

A própria Weasley entendia? Provavelmente não. Afinal de contas, retribuía o tratamento com tanta frieza e falta de consideração que ele. Se alguém o citava, era nítido o desgosto no repuxar dos lábios. Até mesmo seu namorado pegara implicância do Malfoy por conta disso.

— O que eu não entendo é esse ridículo do T. S. Eliot, Rose. Dá pra ver se isso faz sentido?

— Ah sim, vamos ver.

Aproximou-se da amiga e pegou sua apostila para entender a situação. Afastou os pensamentos relacionados ao Malfoy e concentrou-se naquilo. Ajudar sua amiga era muito mais importante que gastar seus pensamentos com idiotas.

— Como a Alice está indo? — questionou sua mãe mais tarde, quando as duas estavam sentadas na sala. Ambas com livros no colo e com copos de chá ao lado.

Costumavam fazer isso, as duas. Reservar algumas horas de descanso e tempo de qualidade no dia. Fora o modo que encontraram para não se afastarem tanto, mesmo com a vida profissional a turbilhão de Hermione. Era uma solução muito melhor do que visitarem concertos.

Rose e Hugo odiavam aqueles concertos em West End. Todos os reconheciam. Sina de serem filhos da ex-prefeita e atual membro da Assembleia de Londres. Quanto ao caçula e a mãe, eles tinham seu próprio modo de manter contato: musicais.

— Normal. Ela é inteligente. Só tem dificuldades de se concentrar durante as provas e interpretação não é seu forte.

Ademais, Alice passara por momentos difíceis no ano anterior. O divórcio dos pais tinha sido um óbice em seus dias ensolarados. Rose tentara ao máximo alegrar a amiga. Patinações, festas clandestinas, cinemas, noites do pijama e tantas outras programações para aumentar os ânimos funcionaram até certa medida.

Até Albus, o cara mais chato da família, esforçara-se para participar.

— Nada que não possa ser aprimorado, então — disse, sorrindo. — Sabe, filha, você deveria considerar a docência. É algo muito nobre.

Desviou o olhar rapidamente para o livro de Brontë em seu colo e fingiu não ter ouvido.

— Desculpa, o quê?

— Você está quase adentrando no segundo semestre do ano escolar. É normal falarmos sobre isso, certo? O que você fará depois do ano que vem.

Encararam-se por um tempo. O silêncio era bem mais perturbador do que os dramas ultrarromânticos da obra em seu colo.

— Mãe, a gente podia não...

— Tudo bem, desculpa. Só tente começar a pensar sobre isso.

Concordou, mordendo o lábio. Passar raiva pensando sobre pessoas idiotas era bem mais fácil que começar a planejar seu futuro. Ou, sendo honesta, começar a contar sobre seus planos a quem importava.

.

PRESENTE

Todos encaravam Dominique, aguardando a sessão de fotos que fazia com a Sheperd’s Pie do primo. Preferivelmente, a família evitava ao máximo exposições desnecessárias. Carregar sobrenomes e feições fáceis de reconhecer – principalmente pela mídia sensacionalista – não era um sonho completo.

Entretanto, Dominique trabalhava com aquilo, então...

— Vai pro meu instagram privado, podem ficar tranquilos. Está com uma boa aparência, Al.

O Potter não parecia muito animado.

— Estar bonito não adianta de nada.

— O cheiro está ótimo — Rose ajudou, chegando mais perto. — É uma boa evidência.

Fred murmurou palavras com impaciência.  

— Já podemos nos servir ou vamos continuar na expectativa?

Al fez sinal confirmando, apoiando a cabeça nas mãos. Rose não o culpava pela preocupação, por não querer decepcionar. Ela era a mesma coisa.

— Amém — Joanna e Rox disseram ao mesmo tempo, fazendo-os rir.

As duas se encararam com sorrisos travessos no rosto. Eram como cópias uma da outra.

— Credo, parece que pegaram a gula do meu irmão — Rose riu.

— Somos Weasleys, certo? — Joanna disse, levantando a sobrancelha. — É o que somos. Gulosos.

— Isso aí, pequena — Fred trocou um soquinho com a sobrinha. Ela parecia orgulhosa de si mesma.

— Ah, Rose, como estão as coisas para a exposição? — Dominique questionou, guardando o celular.

Estava desviando daquela pergunta a noite toda.

Estivera tranquila pois até o momento haviam focado em discutir sobre a temporada de jogos de cricket e as possíveis situações que o Puddlemere United enfrentaria – ou melhor, James Potter enfrentaria.

Deu um sorriso amarelo.

— Meio enrolado. Alguns convidados de renome estão avisando com bastante antecedência que não virão. Parece que perceberam que não vale tanto a pena assim investir numa jovem artista.

O “jovem” era completa ironia. Ela não era mais tão nova assim, muito menos inexperiente.

— Fala sério!

— Bando de filhos da p— Rox interrompeu a si mesma. — Se você me der os nomes eu caço eles pra você.

Sorriu, agradecida pela lealdade da prima.

— Não precisa. Nem sabem, minha mãe confirmou presença. Isso sim é algo.

— Sério? — O Potter deu um sorriso, vendo-a confirmar com um movimento de cabeça.

Era um feito incrível, de fato.

— Ela é famosa, pelo menos. Mas tá tudo bem, temos alguns meses ainda até lá. — tranquilizou-os, servindo-se. — Só espero que dê tudo certo e que todos os meus priminhos favoritos compareçam. O resto minha terapeuta já está trabalhando comigo.

Não era de mentir para eles, mas a arte da omissão era sua habilidade especial. A verdade era que estava subindo pelas paredes. Naquela mesma semana sentiu azia todos os dias e talvez tivesse uma úlcera até o dia da exposição.

Ainda não tinha certeza, mas podia apostar sobre isso consigo mesma.

Sua terapeuta não havia aceitado apostar sobre o assunto e a olhara com aquele jeito de quem desejava dar uma bronca, mas no fim sabia que não seria o certo. Profissionalmente falando.

— Pode deixar que eu já avisei o departamento cultural da revista, Rosie — Dominique falou.

Agradeceu. Felizmente sabia que tinha amigos que estava ali para apoiá-la sempre. Era um alívio. Fred batucou seu indicador na mesa, sinal de que estava titubeando sobre falar algo ou não.

— Desembucha, rapaz.

— Talvez pareça estranho eu perguntar mas... Posso levar o Zabini?

Reprimiu uma careta e sentiu as patinhas de Taz em seu colo. Afagou seu rostinho.

— Apenas avise ele pra não ir de chinelo, por favor. Da última vez...

— Sim, eu sei. Considere feito. Valeu.

No fundo, ela sabia que o Zabini iria de qualquer jeito, mesmo com o pedido. Não sabia se importava-se tanto, também.  

No final da noite, quando todos já haviam ido embora e restava apenas o Potter e ela despedindo-se na porta, ele sorriu. O sorriso de quem planeja algo com seus neurônios sagazes. 

— Ei, eu posso conseguir tickets pro próximo jogo. Você deveria ir, espairecer um pouco. Tirar sua cabeça do trabalho, que tal?

Cerrou os olhos, sentindo alguma coisa por trás daquela proposta. Albus trabalhava na parte administrativa e de gestão do Puddlemere e mesmo que ele fosse um amor, conseguir ingressos para jogos deliberadamente era algo que não costumava fazer.

— Você quer é atirar um jogador pra mim, não é?

Ele riu, abraçando-a.

— Eu nunca faria uma coisa dessas.

— Não, claro que não. 

Sim, ele com certeza faria aquilo. Ou ele ou James tomaria aquela decisão um dia. No entanto, Rose não considerava uma completa má ideia.

.

2008

“Encontre-me nos vestiários no quarto período”.

Esse foi o bilhete que descobriu preso na porta de seu armário em uma terça-feira de dezembro. Tinha corrido pelos corredores já quase vazios por conta do horário e seu humor não era dos melhores.

Estava atrasada, mais uma vez. Rose odiava atrasos.

Olhou para os lados, intrigada, porém ninguém a avaliava de longe.

Rose sempre tinha metade daquele período, portanto a pessoa sabia sobre sua rotina. O que não pareceu muito tranquilizador no momento. Amassou o bilhete e ignorou-o. Esperava que fosse apenas uma brincadeira de um colega desocupado.  

Rumou às pressas para sua primeira aula do dia. Felizmente conseguiu respirar aliviada ao perceber que a professora não havia chegado ainda.

— Um dia eu mato os Potters — murmurou para Roxanne, sentando ao seu lado.

— Mais um atraso?

Milhares de atrasos. Pegar carona com os primos era péssimo. Ser quase vizinha deles também.

— James não acordou no horário. Sem condições continuar desse jeito. Eu deveria ter um carro.

A prima riu, ciente do drama de Ronald Weasley e sua falta de confiança na combinação de “adolescente” e “direção”. Fórmula de desastre, em sua opinião. Assim, Rose tinha uma habilitação inútil e nenhuma chance de dirigir um carro até a escola. Precisava depender do primo irresponsável – porque James sim era um ótimo motorista.

Exceto que Al, Lily Luna e Rose concordavam que não.

— Quem me dera ter coragem de pedir um carro — Rox murmurou.

Rose iria responder quando foi interrompida pela visão que passava pela porta. Prendeu a respiração ao ver seu namorado entrando na sala com um olho roxo, lábios inchados e claros sinais de curativos no queixo. 

Caralho — soltou, mais alto que deveria.

Lorcan encarou-a, mas logo desviou o olhar. Sentou em seu tradicional lugar, duas classes de distância de Rose. Roxanne verbalizou o que sua mente tentava compreender.

— Desde quando o Scamander entra em uma briga?

Desde nunca? Não fazia sentido. Ele não era alguém explosivo ou briguento. Muito pelo contrário, gabava-se de sua pose de elegância e sei-lá-mais-o-quê. Seu ódio costumava ser frio e silencioso.

Rose tentou mandar algumas mensagens para o namorado durante a aula, mas ele sequer pegou o celular para lê-las. Ao término do período, correu para alcançá-lo fora da sala. No entanto, Scamander não quis qualquer tipo de conversa com ela.

— Ei, qual o seu problema? — tentou não gritar, já indignada com o gelo que recebia, caminhando atrás dele. — Por que você não tá olhando na minha cara?

Lorcan travou no lugar. Encarou-a, sério.

— Eu sei muito bem o que você fez, Weasley.

Aquelas palavras foram proferidas com firmeza e raiva.

Rose não estava entendendo merda nenhuma mais. O que ela havia feito? Além de ouvir seus pais reclamando que Hugo passara a noite em seu PlayStation 3 e o atraso que James a proporcionara? Nada!

— Você está sendo irracional.

— Eu? Irracional? — ele balançou a cabeça. Deu-se conta de que as pessoas começavam a assistir a conversa dos dois. — Mais tarde a gente conversa.

Rose passou o resto da manhã emburrada.

Todos a encaravam como se fosse o epicentro de alguma fofoca desconhecida e sabia que seus Blackberrys vibravam com mensagens sobre a discussão dela e de Scamander. Ninguém tinha respostas a lhe dar, no entanto.

— Rose — Pietro a alcançou no corredor da Ala Sudeste, no final da manhã. Estava a caminho do refeitório. — Sei que não sou seu primo nem somos muito próximos, mas se precisar que eu soque a cara de alguém... Tô aqui pra isso.

Tentou, em vão, não sorrir.

— Pode deixar que vou me lembrar disso. Obrigada.

Vane se afastou com a desculpa de que precisava encontrar Roxy antes do almoço. Talvez ele não fosse um ridículo completo, afinal.

 Estava quase saindo do corredor quando sentiu alguém puxá-la para dentro de uma das salas de aula. Soltou um gritinho, encarando a porta de madeira recém-fechada.

— Você me deu um bolo.

Reconheceu a voz de imediato. Virou-se, encarando Scorpius.

Só de estar na presença dele sua pele arrepiava de irritação. Completa irritação. Aquilo eram modos? Puxá-la para dentro de uma sala vazia? Algo piscou em sua mente, dando-se conta de que era Malfoy o remetente secreto do bilhete. Tinha esquecido do papel amassado no bolso.  

Aquilo a deixou mais incomodada ainda.

Você.


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Notas finais do capítulo

E então??? Pulamos de memórias fofas para algumas bem diferentes, huh? Hahaha! Curiosa para saber o que acharam deste capítulo e as teorias que já estão criando. AH, e vão passar pano pra algum personagem aqui já? Tô de ooolho.

Muito obrigada por todo carinho de vocês, amei ler cada comentário ♥ O próximo não vai demorar tanto para ser postado, não se preocupem.

Beijinhos e até o próximo ♥



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