A roseira e os espinhos. escrita por Misa Presley


Capítulo 31
Corações ligados.




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            Quando finalmente chegaram à fazenda, Lysandre pareceu aliviado. Ainda estava tudo escuro, em um claro sinal de que teriam algum tempo para descansar. Ainda assim, preferiu dar uma conferida na hora, percebendo que ainda eram três e meia da manhã. Poderiam dormir por pelo menos mais uma hora, antes de terem de levantar.

            No entanto, ele se preocupava com Annelise. Afinal, imaginava que aquela não seria uma rotina com a qual ela estaria acostumada. Presumiu, que ela teria certas dificuldades para acordar.

            Ao chegarem na casa, Lysandre abriu a porta, deixando que Annelise entrasse primeiro. O rapaz não podia negar que era bom estar de volta, após algumas semanas fora. Afinal, a rotina do café estava bastante corrida, de modo que o manteve longe da fazenda nas últimas duas semanas.

            Lysandre fechou a porta da casa, antes de se voltar para a namorada, tornando a lhe segurar a mão, de modo carinhoso. — Venha, eu vou lhe mostrar a casa. — Ele disse, antes de beijar a bochecha destra da garota. Em seguida, começou a guiá-la por um dos corredores.

            Primeiro, levou-a até a sala de estar, que era pequena, mas bem decorada. As paredes eram tingidas em azul claro, repletas de quadros de flores e fotografias de Josiane e George. Havia ao centro, um piano velho, ao qual Lysandre costumava tocar quando criança. Em uma das paredes, uma estante abarrotada de livros e porta-retratos, com fotografias da família. A grande maioria das imagens, retratava a infância de Leigh e Lysandre. Além disso, havia uma mesinha de centro com um vaso sobre uma toalhinha bordada, e dois sofás de couro branco.

            Depois, Lysandre levou Annelise até a cozinha, que era tão modesta quanto a sala. Pequena, bem cuidada, com uma enorme janela diante da pia de mármore branco. Os azulejos brancos, pareciam um pouco sujos, pelo tempo em que Lysandre esteve fora. Todavia, o restante da cozinha estava arrumada de modo impecável. Até mesmo o fogão velho, estava muito limpo, coberto com um pano de prato, onde haviam flores tingidas à mão.

            Depois, lhe foi apresentada a sala de jantar, que era ampla, com papel de parede floral. Ao centro, uma mesa de seis lugares, coberta com uma toalha amarela. Além da mesa, havia uma cristaleira, onde estavam guardadas algumas peças de porcelana, que certamente eram as favoritas de Josiane.

            Em cada cômodo que entrava, Annelise olhava curiosamente para o lugar, reparando em como era modesto, mas extremamente aconchegante. Acolhedor, até. Havia gostado da casa. A decoração era simples, com toalhas de mesa bordadas à mão, cortinas rendadas, móveis antigos de aspecto colonial; tudo com o evidente toque de Josiane. Era como se ela ainda estivesse viva, em cada detalhe daquela casa. De fato, entrar naquele lugar, era como se sentir abraçada pela doce senhora que deixara sua marca ali.

            Pensar que tanto ela, quanto George tinham dedicado suas vidas à fazenda, fez com que Annelise pudesse compreender melhor todo o cuidado que Lysandre tinha com aquele lugar.

            Depois, Lysandre subiu um pequeno lance de escadas, indo ao andar superior da casa. O rapaz guiou a namorada pelo corredor dos quartos. Eram três, ao todo: Um de George e Josiane, outro de Leigh e o de Lysandre ao fim do corredor.

            — Este costumava ser o quarto dos meus pais. — Lysandre comentou. — Eu não o abro há anos... — Havia certa melancolia na voz do rapaz, ao verbalizar aquilo.

            Quando Josiane e George morreram, Lysandre lacrou o quarto dos pais, com duas tábuas, presas com pregos. Queria que o cômodo continuasse intacto e que ninguém entrasse ali. Doía saber que não os veria mais; aquele cômodo era a única forma de conservar suas memórias.

            Annelise julgou que seria melhor não perguntar sobre as tábuas na porta. Já conseguia presumir o motivo pelo qual elas estavam ali. Decerto, era doloroso demais para Lysandre, ver aquela porta aberta. Podia enxergar isso, pela tristeza estampada nos olhos dele, ao vislumbrar a fachada lacrada, daquele cômodo eternamente trancado.

            A garota, por sua vez, se limitou a posicionar-se sobre as pontas dos pés, beijando a bochecha do namorado. Queria mostrar a ele, que não estava sozinho. Que compreendia a sua dor! Que estava ali por ele.

            — Está tudo bem... Não precisa falar sobre isso, se o machuca. — Ela sussurrou, afagando a mão dele, com o polegar.

            Lysandre sorriu de soslaio, ao sentir o beijo da namorada sobre a bochecha. Logo, segurou com um pouco mais de firmeza a mão de Annelise, sentindo-se um pouco mais confortado. Estava feliz que ela estivesse ali. Assentiu ao ouvir o comentário dela. Era bem verdade que ele não se sentiria bem ao remoer aquilo, ficava satisfeito ao ver que ela o entendia.

            — Vou te mostrar os outros quartos. — Ele disse, em tom carinhoso, guiando Annelise agora, em direção ao segundo quarto da casa: os aposentos de Leigh.

            O quarto, continuava intocado, também. Exatamente do jeito como Leigh o deixara, ao se mudar para a cidade. O mesmo papel de parede cinza e preto, o mesmo carpete cor de chumbo, a mesma escrivaninha abarrotada de desenhos de vestidos. Todavia, este cômodo era mantido aberto, tal qual os demais cômodos, com exceção do quarto de Josiane e George.

            Por fim, Annelise conheceu o quarto do namorado. Um cômodo amplo, com as paredes tingidas em verde escuro. Na janela, havia uma cortina preta, que tornava o ambiente bastante escuro, mesmo quando Lysandre acendeu a luz. A moça não pôde evitar um sorriso de canto, ao vislumbrar os móveis em estilo colonial, os quadros ovais nas paredes e o roupeiro antigo, de mogno com maçanetas douradas. Aquele lugar era a cara de Lysandre, não poderia negar.

            A cama, era tão antiga quanto o restante dos móveis. Inclusive, a pequena mesa de cabeceira, que ficava ao lado destro da enorme cama de casal.

            Annelise entrou no quarto, observando a escrivaninha que havia em um canto, repleta de papéis, onde Lysandre escrevera incontáveis poemas, ao longo dos anos, sozinho naquela fazenda.

            Sabia que Lysandre não gostava que lessem seus poemas, pois, julgava-os uma extensão de sua alma. Fragmentos de pensamentos, que eram íntimos o suficiente para não serem partilhados. Então, decidiu não olhá-los. Todavia, para sua surpresa, Lysandre veio por trás de si, apanhando o maço de papéis onde seus sentimentos estavam anotados.

            — Durante todos estes anos... — Começou. — Escrevi para você, mesmo sabendo que não leria. Falei sobre a saudade que me consumia; sobre as dores que assolavam minha alma e sobre o amor que queimava em meu peito. — Ele agora, levava uma das mãos ao rosto de Annelise, segurando-o ternamente, enquanto seus olhos fixavam-se aos dela. — Eu sempre imaginei como seria, tê-la aqui comigo. Durante todo este tempo, tive tanto a lhe falar... Mas, agora, que estamos juntos, as palavras me faltam. A única coisa que posso dizer, é que te amo. Amo mais do que tudo, e não imagina quão feliz estou, por finalmente tê-la junto a mim. — Lysandre confessava aquilo, a meia voz. Seu polegar deslizava pelos lábios róseos, que pareciam convidá-lo, ao entreabrirem-se.

            Os olhos azuis de Annelise, buscavam pelos dele, enquanto ela levava as duas mãos ao peito do namorado. Podia sentir os batimentos de Lysandre, acelerando. Tal qual, a respiração dele, que se tornava mais ofegante conforme o peito arfava. Annelise retirou as páginas da mão do namorado, pousando-as sobre a escrivaninha novamente. Em seguida, a mão de Lysandre foi levada até o centro de seu peito. Queria que ele sentisse que seu coração também estava acelerado. — Você o sente?  — Annelise indagou.

            Lysandre afirmou com a cabeça, em resposta a pergunta dela. De fato, poderia sentir a forma como o coração dela parecia bater com força.

            Annelise continuava com a mão espalmada contra o peito dele, ainda mantendo o contato visual enquanto sentia a mão de Lysandre contra o seu peito. Podia sentir que os batimentos eram quase sincronizados aos dele. Uma evidente ligação, entre as almas que habitavam aqueles dois corpos.

            — Tenho o amado a cada batida dele, desde o dia em que o conheci. E sei, Lysandre, que enquanto eu viver jamais serei capaz de entregá-lo a outro alguém. Pois, prometo amá-lo todos os dias, a cada batida de meu coração. — Agora, era ela quem confessava, aquilo que vinha de dentro de sua alma.

            Lysandre parecia beber suas palavras, enquanto agora sua mão era guiada ao queixo da garota. A trouxe para mais junto de si, unindo os lábios aos dela em um beijo repleto de paixão. Em seguida, agarrou aos quadris da namorada, que agora segurava com as duas mãos a gola da camisa que ele usava.

            Era quase uma união entre as almas, que por muito tempo ansiaram uma pela outra. Havia ternura, na forma como Lysandre a apertava contra si, enquanto os lábios se moviam junto aos de Annelise.

             Ele, agora, a guiava até sua cama, deitando-a carinhosamente sobre o colchão que se moveu suavemente abaixo das costas da garota. Lysandre se debruçou sobre ela, beijando-a ainda com a mesma paixão de outrora. Todavia, ao cessar brevemente o beijo, os lábios dele começaram a percorrer pelo pescoço de Annelise, enquanto ele começava a desabotoar a camisa que ela usava.

            Ele afastou o rosto do pescoço dela, ao sentir que a moça ofegava com os toques afoitos, que percorriam pelas laterais de seu corpo delicado. O rapaz novamente fixou os olhos aos dela, também um tanto ofegante. Os rostos de ambos estavam corados, naquela breve troca de olhares.

            Os dedos dele, alcançaram aos cabelos dela, que jaziam espalhados sobre a cama. O rapaz os afagou suavemente, antes de novamente levar a mão ao rosto da namorada, em uma carícia delicada.

            — Você é a minha vida, Annelise. — Ele sussurrou. Agora, pôde sentir que a garota segurava sua face, com as duas mãos, também afagando ao rosto másculo. Os olhos ainda encontravam aos dele, em cumplicidade

            — Você também é a minha vida, Lysandre. — A garota disse baixo, fechando os olhos e encostando a testa na dele. Os olhos de Lysandre também se fecharam, enquanto ele podia sentir a respiração dela contra o seu rosto. Ele tinha certeza de que nem mesmo a morte, seria capaz de apagar o amor que sentia por aquela garota.
 


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