A roseira e os espinhos. escrita por Misa Presley


Capítulo 30
Devagar com o andor!




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            Andaram em linha reta, por um longo tempo. De fato, a escuridão da madrugada tomava a estrada, dificultando a visão. Por sorte, o celular de Annelise ainda estava totalmente carregado, podendo ser usado como lanterna para guiar o casal.

            Já haviam caminhado por um longo tempo, sempre em linha reta. Parecia que quanto mais eles andavam, menos chegavam a algum lugar. Como se a estrada não tivesse fim. Aquilo já começava a causar certa irritação. Estavam longe de tudo! Não tinha um só lugar onde pudessem conseguir ajuda. Era uma situação preocupante.

            Lysandre ainda parecia constrangido, pelo erro bobo que havia cometido. De fato, sua memória o tinha deixado em uma situação muito desconfortável. De certa forma, sentia como se tivesse estragado as coisas. Afinal, aquela era a primeira vez que levava a namorada para a fazenda.

            Era um silêncio desestabilizador que reinava entre ambos, já que Lysandre não conseguia pensar em nada a ser dito. A garota, por sua vez, também parecia um pouco constrangida, pelo modo como agira no veículo. De fato, sua postura não fora a das mais agradáveis.

            Apesar do cansaço pela longa caminhada que faziam, ela continuava andando, sem fazer qualquer reclamação. Afinal, sabia que não era culpa dele. O rapaz só queria que tudo fosse perfeito, mas sua memória fraca o traíra. Não podia se zangar com ele, por algo que já havia passado. Além disso, era uma madrugada bonita! Tranquila! Apesar das circunstâncias nas quais se encontravam.

            A única coisa que a incomodava, no entanto, era o frio cortante. A temperatura continuava caindo bruscamente, de modo tão intenso, que parecia capaz de atravessar seus ossos. Aquilo sim, era um verdadeiro incômodo.

            Seus dedos começavam a ficar gélidos, tal qual finos pedaços de gelo, que se contraíam sobre a mão de Lysandre. Sua pele, se arrepiava e também se tornava fria. O corpo todo tremia, enquanto uma fumaça esbranquiçada começava a sair por entre seus lábios.

            Foi então, que em dado momento, sentiu os dedos de Lysandre afrouxarem, até que sua mão fora solta por completo. Não entendeu ao certo o que havia acontecido, até sentir o pesado paletó em verde musgo, repleto de arabescos florais, ser posto cuidadosamente sobre seus ombros.

            Ergueu aos orbes de azul penetrante, ao rosto do namorado que lhe sorria de modo terno. Agora, podia vê-lo apenas usando a camisa social branca, por baixo do colete cinzento e dos suspensórios na mesma tonalidade.

            — Vai ficar mais aquecida assim, até que encontremos um lugar onde possamos comprar a gasolina. — Lysandre afirmou, enquanto ajeitava melhor o paletó sobre os ombros da namorada.

            Annelise corou bruscamente, enquanto já se sentia mais aquecida pelo pesado paletó que envolvia seus ombros. Porém, não conseguia se sentir tranquila, ao saber que Lysandre estaria exposto ao frio.

            — Não, não posso aceitar. Você vai acabar doente! — A garota protestou, já começando a retirar o paletó de seus ombros. Todavia, foi impedida por Lysandre, que novamente a cobriu com a vestimenta.

            — Não se preocupe, a caminhada me manterá aquecido. Além do mais, estou acostumado a temperaturas mais baixas. Por favor, fique com o paletó. — Ele insistiu, enquanto agora envolvia os ombros de Annelise com o braço, para mantê-la mais aquecida, conforme caminhavam.

            Ainda um tanto envergonhada, Annelise envolveu a cintura do namorado com o braço destro, abraçando-o lateralmente enquanto ainda caminhavam na escuridão daquela estrada deserta. Agora, aparentemente, o clima estava menos denso, entre eles. Pois, ambos pareciam menos aborrecidos com o acontecimento anterior.

            Após quase uma hora de caminhada, finalmente encontraram um posto de gasolina, na beira da estrada. Era um lugar pequeno, sujo, mas que seria a salvação dos dois.

            Tão logo chegaram ao lugar, encontraram um senhor idoso, sentado em uma cadeira, ao lado de uma pequena loja de conveniências. Ele era baixo, calvo, com uma longa barba branca, manchada em amarelo pelo uso frequente de nicotina.

             O homem se levantou prontamente, ao ver o casal se aproximando. Estranhou aquilo, olhando para o relógio na parede ao interior da loja. Não conseguia entender o que duas pessoas faziam sozinhas no meio da estrada em plenas duas da manhã.

            — Posso ajudar? — O senhor disse, já um tanto ressabiado. Assaltos na beira da estrada, eram muito frequentes. Ele bem sabia disso. De modo, que ficou com o pé atrás, enquanto o via o casal se aproximando.

            — Boa noite, senhor. Desculpe o incômodo, mas, estamos precisando de gasolina. Nosso combustível acabou no meio da estrada. Tivemos de caminhar quase uma hora para chegar até aqui. — Lysandre afirmou.

            — Onde está o galão, rapaz? — O homem indagou, ainda ressabiado.

            — Perdão, receio tê-lo esquecido no carro. — Lysandre respondeu, envergonhado.

            — Você sai para comprar gasolina e não traz um galão? Isso está mal contado. — O velho disse, um tanto ranzinza.

            Annelise viu que ele não acreditava muito no que o namorado dizia, acreditou que seria o momento de intervir.

            — Senhor, nós não queremos qualquer confusão. Apenas precisamos de combustível para seguir viagem até a fazenda dos pais dele. — Annelise afirmou, tentando tranquilizar um pouco o idoso.

            — Quem são seus pais? Eles moram por aqui? — O velho indagou.

            — Não creio que o senhor os tenha conhecido. São Joseane e George. Já são falecidos há alguns anos. Tenho cuidado da fazenda, desde então. — Lysandre comentou, um tanto incomodado em falar sobre aquilo.

            — George e Joseane Henderson? — O velho perguntou.

            Lysandre pareceu estupefato ao ver que o homem conhecia seus pais. Ainda que no interior as pessoas dificilmente não conhecessem umas às outras, ainda era surpreendente.

            — Então o senhor conheceu meus pais? —  Lysandre indagou estupefato.

            — Claro! Eram pessoas muito boas! Sempre ajudando todo mundo. Seu pai costumava vir aqui, jogar conversa fora, quando precisava de combustível para os tratores. Você é o Leigh? — O senhor perguntou, já com um semblante mais simpático.

            — Não, eu sou o Lysandre. O Leigh está morando com a esposa no litoral. É meu irmão mais velho. — Lysandre respondeu.

            — Ah! Você é menino que ficava brincando com os coelhos, não é? Seu pai falou que você passava o dia todo no meio dos bichinhos. — O idoso ria, já abandonando todo aquele ar desconfiado, de outrora.

            — Sim, sou eu. — Lysandre respondeu, timidamente.

            — Ah, rapaz! Por quê não disse antes? Venha, vou lhe arranjar um pouco de gasolina. Desculpe o mal jeito, mas fiquei com medo de ser um assalto. Você entende, não é? Assaltos acontecem muito, à beira da estrada. — O mais velho afirmou, enquanto guiava Lysandre, que ainda abraçava Annelise.

            — É a patroa? — O homem indagou, notando que Annelise corava de modo extremo, ainda sentindo o braço do namorado lhe envolvendo.

            Lysandre não podia negar que estava um tanto constrangido com aquilo. Mas, acabou respondendo.

            — Sim, é minha namorada. Estou a levando para conhecer a fazenda. — O rapaz afirmou, afagando o braço de Annelise, que ainda estava um tanto desconfortável.

            — Moça bonita! Soube escolher bem, rapaz. Ela parece ser uma daquelas moças finas lá da cidade. Vocês vão ter uns filhos bonitos! O casório sai logo? Ou vai continuar enrolando a moça? — O mais velho perguntou, enquanto apanhava um galão, o enchendo de gasolina.

            O comentário dele, fez com que Annelise e Lysandre corassem mais ainda. Aquilo era algo que sequer passava por suas cabeças! Afinal, haviam reatado há pouquíssimo tempo.

            — É um pouco cedo para isso, o senhor não acha? — Lysandre perguntou, envergonhado.

            — Nós acabamos de reatar. Estamos juntos somente há quatro meses! — Annelise completou.

            — Mas namoro é para pensar em casamento, dona. Vocês jovens de hoje em dia, não pensam no futuro. — O velho comentou, enquanto terminava de encher o galão com gasolina.

            — Nós pensamos no futuro! Mas queremos que as coisas sejam feitas com calma. — Lysandre respondeu. A verdade, era que pensar sobre aquilo assim, do nada, era um pouco desconfortável.

            — Bom, vocês sabem o que fazem. Mas não é bom esperar muito. — O velho disse. — Eu vou dar uma carona para vocês, até seu carro. Não é bom ficar andando sozinho pela estrada. — Ele aconselhou.

            De fato, com a carona do dono do posto de gasolina, chegaram muito mais rápido a caminhonete. Por sorte, nada fora tocado! Estava intacta, tal qual eles deixaram.

            Tão logo reabasteceram o veículo, saíram rapidamente dali, rumo à fazenda. Só queriam chegar o mais rápido possível, para que pudessem descansar um pouco, depois daquela noite turbulenta.

            Novamente, o silêncio tornou a reinar no carro, enquanto ambos pareciam constrangidos. A conversa com aquele homem, os havia desestabilizado.

            — Então... — Disseram juntos, após um longo período de um silêncio sepulcral.

            — Pode falar, Annelise. — Lysandre disse, com os olhos fixos a estrada.

            — Não, fala você. — A garota disse, olhando pela janela.

            — Sobre o que ele disse... — O rapaz começou, engolindo a seco. Não sabia como falar sobre aquilo.

            — Não! Está tudo bem. Nós dois concordamos que ainda é muito cedo para isso. Não é? — Ela disse, o olhando agora, parecendo ainda envergonhada.

            — Sim, claro! É demasiado cedo! Temos ainda que resolver a situação do café e da fazenda. Precisamos de estabilidade, antes de darmos um passo tão importante. — Lysandre comentou, ainda com os olhos fixos a estrada.

            — Eu concordo! Ainda é muito cedo. Temos muito o que fazer ainda, antes de pensarmos em casamento. — Annelise afirmou, ainda em certo ar de desconserto.

            Era óbvio que se amavam mais do que tudo! Queriam ficar juntos! Estavam felizes em dividir aquele apartamento, no centro da cidade. Aquela era a vida que tinham escolhido, no momento em que decidiram reatar. Mas, apesar de viverem maritalmente, ainda era um pouco cedo para que formalizassem a união... Não era? Seria de fato tão cedo assim? Essa era a pergunta que dominava os pensamentos de ambos, ao se calarem mais uma vez.


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