50 Tons de uma Salvação escrita por Carolina Muniz


Capítulo 7
Capítulo 06


Notas iniciais do capítulo

O dia todo escrevendo? O dia todo escrevendo! Eu sei que demoro, mas nao desiste de mim, gente, espero q gostem do capítulo. Obrigada pelos comentários, irei responder a todos.



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“Tudo o que você fez foi trazer o melhor de mim, uma parte de mim que nunca tinha visto, você pegou minha alma e a purificou... nosso amor foi feito para as telas de cinema."

 

 

 

Capítulo 14 – Eu quero... Eu quero...

— Eu quero ver a aurora boreal – Ana confessou. 

— Uau, isso é grande, você com certeza pensou – Elliot falou. 

Era mais uma consulta, e diferente das outras vezes, o psiquiatra havia perdido para Ana listar coisas que queria fazer, que sempre quis conhecer ou tocar, ele queria que ela se visse por dentro e dissesse seus desejos mais profundos. 

— Quero dormir num hotel de gelo – ela continuou. 

Elliot riu baixinho. 

— Pra que a tortura? 

Ana sorriu e revirou os olhos. 

— Eu quero conhecer os amigos dos meus pais – continuou. – Quero beijar alguém sem me preocupar com nada... Eu quero... 

— Olha bem o que você vai dizer- ele brincou. 

Ana riu. 

De alguma forma ela gostava de Elliot, ele era engraçado e sempre tirava a tensão de tudo. 

— Eu tambem quero dormir e acordar como uma pessoa normal. 

— Como é uma pessoa normal, Ana? 

A morena mordeu o lábio inferior e juntou as maos uma na outra. 

— Eu não sei... Acho que uma pessoa que faz coisas ao contrário de mim – ela deu de ombros 

— Como o que? 

Ana bufou. 

— Sei la – suspirou. – Alguém que não tem medo de dormir... que fica com os pais, que tem um namorado... 

Elliot sorriu. 

— Você está falando muito sobre isso ultimamente. 

— Sobre o que? 

— Beijos, namoro... Está apaixonada? 

O rosto de Ana pegou fogo com a indireta do médico. 

— Hum? 

— Não precisa ficar com vergonha, pode falar comigo. Quem sabe eu não posso ajudar? 

Ana arregalou os olhos e balançou a cabeça. 

— Nada a ver. Não tem isso... não tem nada disso acontecendo. Eu não estou apaixonada. 

Elliot riu baixinho. 

— Tudo bem, você não quer falar. 

— Já acabamos? – ela se levantou. 

— Ei, calma, não vamos conversar sobre o que você não quer. 

— Eu quero ir embora, então eu estou indo – ela decidiu, já caminhando em direção a porta. – E você pare de rir de mim ou eu conto para o Christian. 

Elliot parou de rir no mesmo segundo. Não pela ameaça clara, mas pelo o que ela significava. Se Ana estava usando Christian como uma espécie de protetor, era porque ela confiava cegamente nele, e aquela confiança era uma dependência que ela não tinha com médico nenhum. 

— Até amanha – a garota disse apenas e saiu porta a fora, quebrando o protocolo de Christian busca-la. 

Mas ele estava no fim do corredor, como sempre, esperando-a. Ana, como uma paciente da Ala Z, não podia circular pela clínica sem supervisão de um médico, e a preferência era o seu. E Christian já estava acostumado com Ana nunca terminando uma consulta inteira, sempre saindo antes do tempo e às vezes nem entrando no consultório. 

— Até que você demorou dessa vez – ele comentou quando a garota bufou ao passar por ele. 

— Não quero mais – ela cruzou os braços e fez bico. 

Christian inclinou a cabeça e sorriu. 

— Você diz isso todo dia – ele rebateu. 

— Mas dessa vez é serio e você não pode me obrigar. Eu não gosto do Elliot. 

— Mas antes da consulta você disse que gostava dele. 

Ana bufou e começou a caminhar em direção à Ala Z, tendo Christian em seu encalço. 

— Isso foi antes dele dizer coisas que não deveria. Ele fica me deixando irritada – ela reclamou. 

Christian suspirou. 

— Então é um dia normal, você está sempre irritada – ele respondeu. 

Ana voltou a cruzar os braços e empinar o queixo. 

— Vou te mostrar como eu sou irritada – ela vociferou. 

Christian riu baixo e abriu a porta do quarto da menina. 

— Está com fome? – ele questionou quando a garota se empoleirou na cama. 

A morena balançou a cabeça de um lado para o outro e suspirou. 

— Só está entediada entao? 

— Uhum – ela respondeu. – Quero fazer perguntas – ela confessou enquanto abraçava o próprio travesseiro. 

Christian levantou uma das sobrancelhas e se jogou na poltrona. 

— Volta para a consulta com o Elliot? – ele questionou. 

— Não! 

— Então pode fazer perguntas a vontade que eu não vou responder – ele desdenhou. 

Ana revirou os olhos. 

— Sabia que eu não tenho mais alucinações? – ela falou. – Desde o primeiro dia, não existem mais. 

Christian balançou a  cabeça. Ele sabia daquilo. 

— Você é um bom médico – ela elogiou. 

— Só suspendi os remédios – ele respondeu. 

— É, e isso é uma coisa boa. Ninguém nunca sequer imaginou fazer isso. Eu não tenho alucinações e há duas noites não tenho pesadelos e também não machuquei ninguém desde aquele médico estranho. Isso é bom, não acha? 

— O que eu acho é que você está tentando me manipular para responder suas perguntas - Christian devolveu. 

Ana riu. 

— Você concorda comigo? Acha que eu estou melhorando? – ela insistiu. 

Christian ficou calado. Ele não sabia como responder aquilo. Ana passava por terapia e muitas e muitas sessões por semana, alguém que está melhorando não estava por aquilo. Mas ainda assim, ela estava diferente, melhor. Como ele poderia responder àquilo? Pela lógica, segundo o significado de alguém estar na Ala Z, Ana nunca iria melhorar. 

—Tá, entendi – Ana suspirou após minutos de silêncio absoluto. – Sabe, eu conversei com Elliot hoje, eu respondi as perguntas dele e até falei de mim. Eu acho isso um progresso, nunca fiz isso antes. Mas... – ela  bufou – ainda acho estranho, eu não sou louca, não me sinto assim, só que quando eu respondo as perguntas dele é como se eu estivesse enlouquecendo aos poucos. 

— Quer falar sobre a conversa de vocês? – Christian questionou. 

Ele podia não fazer sessões com Ana, mas ele ficava tao curioso que na maioria das vezes quebrava o protocolo e questionava a garota sobre as consultas. 

— Na verdade, eu quero responder, sabe, de forma sincera. Eu acabei de perceber que tudo o que eu faço é superficial, eu quero superficiais, eu fico tentando querer coisas normais e eu nem sei porque quero essas coisas. 

— O que você quer de verdade então? – ele questionou gentilmente, inclinando-se em direção a garota. 

— Me casar com você – ela responde rindo. 

Christian revirou os olhos e bufou. 

— Tá, eu quero... Eu quero ir ao cinema, quero ver aqueles romances clichês de amor impossível e chorar; quero sentir a neve enquanto as pessoas ao redor estão arrumando as ruas e as casas para o Natal; quero ver os fogos de artifício numa festa de ano novo; quero ir a praia e beber ate de madrugada... eu quero tomar um porre, sabe, daqueles que as pessoas só ficam esperando voce entrar em coma alcoólico. 

Christian riu e balançou a cabeça. 

— Seus pais iriam adorar – ele comentou. 

Ela sorriu pequeno. 

— Eu quero acampar, quero ter um cachorro e um gato para chamar de Bichento; quero ir ao parque e andar na roda gigante, quero dormir no meu por mais de dois dias consecutivos, quero... quero dar uns amassos no sofá da sala tambem. 

Ela pegou a mão do medico e a apertou nas suas. 

— Quero andar de maos dadas no shopping e te fazer comprar todas as coisas que eu quiser – ela continuou. 

— Eu? 

— É, você. E vai ser com você os amassos também. 

— Obrigado por me informar – ele ironizou, mas sorriu de qualquer forma. 

— Quero dormir com você. Dormir sem pesadelos, sabe, e até deixo você mexer no meu cabelo e falar até eu dormir porque eu adoro sua voz. Eu quero esquecer de coisas que eu quero esquecer... Eu quero não sair da cama – ela sussurrou a última sentença, os olhos cheios d’água de repente. 

— Ana? – Christian levantou, tocando o rosto da garota com a mão que ela não segurava. 

Mas a menina ao menos voltou o olhar para o dele, encarando o nada. 

— Se eu não tivesse saído, se eu estivesse dormindo... Não iria ve, não iria saber, sabe, ela estava lá, ela sentiu... Ela não é como eu, ela sente as coisas, ela sente dor, mas ela disse que não, que ei inventei, mas eu não fiz isso, eu não menti, eu nem sei mentir – Ana encarou Christian dessa vez. – Acho que eu quero que ela diga a verdade.... ele usava um diamante na orelha, e ela só ficava parada... Mas ela sabe, e fica mentindo para todo mundo como se não tivesse acabando com a minha vida. A louca é ela. 

— De quem você está falando, amor? 

A garota sorriu de lado e se recostou no peito dele. 

— Ninguém... – sussurrou. – Acho que eu sonhei, sei la. 

O medico passou a mão por seu cabelo e o acariciou por suas costas. 

— Você sonhou de novo? – ele questionou. 

— Eu também quero um coelho – ela falou, ignorando totalmente tudo o que disse e olhando Christian debaixo.

 Acontece que a mente humana funciona como um cubo magico, pode estar perfeitamente certa de um lado, mas se você enxergar bem e virar o contrário, o outro estará  todo bagunçado. Somente alguém muito sensato para ter os dois lados perfeitos, não é qualquer um que consegue resolver um cubo magico. 

Aquela era uma ótima analogia para Ana, ela podia ser consertada de um lado, mas enquanto isso acontecia, ela era completamente bagunçada do outro. 

Desde sempre Ana jurava de pé junto que não era louca, e Christian presenciara muitos momentos de lucidez extrema da garota para ficar tentado a acreditar nela. Começando pelo fato de que Ana era a única paciente em toda a clínica que não tomava mais do que drogas para controlar a agressividade, e nem eram mais pesados do que um suco de maracujá para acalmar os hormônios. Mas de qualquer forma sempre fora tudo calculado, eram uma clínica séria, afinal. Não havia algo como “achar", todos os profissionais precisavam ter certeza do que fazer, era com a mente de pessoas consideradas sem emoções que estavam lidando. 

Era como se Christian estivesse consertando Ana - contra todas as probabilidades -. Ela não tinha mais pesadelos, não atacava qualquer pessoa que tentava dizer uma mínima palavra para si, até passou por uma visita dos pais e sorriu na maior parte do tempo. Mas enquanto o psiquiatra  “consertava" esse lado de Ana, outras coisas sobre ela se sobressaíam, o lado trancado e esquecido se bagunçava, as peças saíam do lugar e tomavam conta das memórias da garota. 

E naquela quinta feira era um daqueles dias em que Ana não queria viver no planeta Terra, e Christian ter desaparecido há quase 24h não era um ponto positivo para o seu humor. Por isso, mais tarde, quando ela tinha Elena – que ao menos dizia mais que duas palavras à garota desde o fato ocorrido quase trágico – conduzindo-a para mais uma consulta com Elliot. 

— Estarei esperando – a loira falou, parada em frente a porta 3. 

Apenas duas palavras novamente... 

Ana balançou a cabeça e entrou no consultório sem cerimônia. 

Sua surpresa foi grande quando o psiquiatra que estava sentado na poltrona central, usava um jaleco e roupas casuais, não era Elliot Grey, e sim Jack Hyde. 

A garota ainda tinha alguns calafrios ao lembrar do homem, ele não a fazia se sentir confortável, era como uma nuvem pesada em si. Ela não tenha mais nenhuma crise agressiva como aquela desde que o vira... Mas ela também não o vira mais. 

Já ouviu falar sobre a sua mente ser tão poderosa que pode te causar coisas físicas? Sabe, se você come algo e pensa que vai passar mal, você pode realmente ter uma noite bem ruim após comer apenas por ter pensado naquilo. 

Christian havia ensinado aquilo à Ana, era como uma coisa zen, ela precisava pensar positivo para que coisas boas acontecessem. 

— Olá, Srta. Steele – Hyde cumprimentou sem se levantar. 

Ana torceu os dedos das mãos uns nos outros e permaneceu parada contra a porta fechada atrás de si. 

— Sente-se, vamos conversar – ele indicou o sofá a sua frente. – Espero que não tenha se importado com as mudanças. Eu prefiro o sofá aqui. Ficava algo muito “jogado" do outro lado – ele deu de ombros. 

Geralmente o sofá ficava perto da parede, e a poltrona embaixo da janela – onde Ana se sentava. Ela sabia que o sofá era para os pacientes e a poltrona para o profissional, mas ela nunca gostou das coisas que dividiam as pessoas, se sentia mais segura na poltrona e Elliot do outro lado da sala.

— O Sr. Grey pediu para substitui-lo hoje, não estava se sentindo bem – continuou o psiquiatra. 

Ana levantou uma das sobrancelhas. 

— O que ele tem? – questionou. 

Ela não gostava de Elliot, claro que não, ele era chato e exigente, sempre lhe perguntando coisas que ela não sabia as repostas, mas ele era irmão de Christian, e ela não queria que ele morasse porque Christian ficaria triste e não cuidaria dela. 

— Não tenho permissão para falar sobre meus colegas, querida. 

— Eu dou permissão. 

Hyde riu. 

— Eu sei que todos agem como se você fosse a dona do lugar, como se você mandasse em tudo. Mas essa é a primeira regra, qual meu colega Christian, parece não entender: temos de mostrar que não são vocês quem mandam, somos nós. No caso, aqui, sou eu, e você  apenas obedece. 

O coração de Ana disparou e ela respirou fundo ao encarar o brinco de diamante na orelha do médico. 

— Eu não gosto de você – ela murmurou. 

— Acho que já tivemos essa conversa antes. 

— Eu vou embora – ela declarou. 

— Não, você não vai – ele disse calmamente. – Você vai se sentar aqui e responder minhas  perguntas. 

Ana não sentia medo dos psiquiatras. O único problema era que todos os que conhecera tinham sua vida nas mãos e a usava de forma grotesca e deliberada, sempre indo pelo caminho mais fácil, colocando sua mente a deriva para que não desse trabalho, as drogas eram sempre o centro de tudo. Todos, menos Christian. Enfim, Ana nunca sentiu medo deles, ando a raiva, irritação, nojo... Mas nunca medo. 

Até aquele momento. 

Hyde ao menos se mexeu, mas sua pose autoritária e séria fez suas mãos suarem, e Ana realmente acreditou que estava tendo uma alucinação, mesmo que elas ao acontecessem desde que não tomava  mais medicamentos. 

— Não temos o dia todo, vamos – o psiquiatra voltou a falar, fazendo Ana ter certeza de que aquilo era real. 

Estranhamente a garota se sentiu coagida a se sentar no sofá. O que iria fazer, afinal? Christian não estava ali, em lugar algum, e do outro lado ela tinha Elena, que não iria hesitar um segundo antes de colocá-la numa sala branca. 

Ana estava sozinha... nas mãos de psiquiatras novamente. 

A garota se sentou no maldito sofá de dois lugares, colocando os pés no estofado e abraçando as pernas, mirando Jack Hyde sem desviar o olhar. 

— Muito bem – ele acenou com a cabeça. – Não doeu, não é? Ah, você não saberia – ele sorriu da própria piada sem graça. 

A morena mordeu o lábio inferior e apoiou o queixo nos joelhos. 

Aquilo doeu sim.

— Tudo bem – Hyde bateu as mãos uma na outra e cruzou as pernas. – Vamos começar. Mas primeiro eu quero que saiba e entenda que o Grey... digo Christian e eu somos grandes amigos, nos formamos quase ao mesmo tempo, apenas uns dois ou três anos primeiro que ele, mas isso não é importante... 

— Você é bem mais velho que ele, não é como deveria ser? – Ana questionou. 

A boca de Hyde se retorceu em desgosto. 

— Não gosto que me interrompam – disse o psiquiatra em tom de aviso. 

Ana mordeu o lábio inferior. 

— Enfim, só quero que saiba que contamos tudo um para o outro, ele me fala de voce, então eu sei muitas coisas... sobre vocês dois até, saiba que eu apoio totalmente. 

Ana levantou a cabeça. 

— Como assim? – questionou confusa. 

— Vocês dois e tudo mais – ele insinuou simpático. 

Ana franziu o cenho. Christian falou milhares de vezes sobre como era proibido, mesmo que eles não tivessem nada, só a aproximação que tinham, o jeito que ela falava, aquilo já era perigoso. Ela não sabia bem o que aconteceria se alguém descobrisse, ela não entendia o que exatamente implicava, quem eram os outros, porque ela gostar de alguém era algo quando tudo o que todos tentavam em sua vida era fazer com que ela sentisse, mas ela seguia as regras se Christian, não queria prejudica-lo. Era confuso ele ter contado para Jack Hyde. Elliot também parecia saber, ele muitas vezes tentava arrancar algo dela sem perguntar, jogava palavras quais as respostas ela usava demais o nome de Christian, ele nunca fora direto como Hyde. 

— Tudo o que? – ela questionou, baixando as pernas e tocando os pés no chão. 

— Ele me falou sobre as conversas, sobre como ele dorme em seu quarto... 

— Ele não faz mais isso – ela interrompeu, sem se importar com o aviso anterior do psiquiatra. 

Mas Hyde não se importou, apenas assentiu com a cabeça. 

— Sim, mas ele dormia, não é? Ele me disse. 

— É, ele dormia no meu quarto. Para eu ficar bem e segura, para que ele pudesse me acordar, mas era proibido. Eu sei que era proibido, ele me contou. E então parou, mas ele sempre fica ate eu dormir – ela confessou. 

— Sim, ele me contou. Ele fica no seu quarto depois do toque de recolher. 

— Sim. Até eu dormir, sempre – ela sorriu pensando em todos os cuidados que Christian tinha com ela. 

— Ele cuida mesmo de você, não é? – Hyde incentivou. – Ele sempre fala de como gosta de você, como você é muito mais importante que os outros pacientes, como é diferente para ele... 

— Sim – Ana concordou sorrindo. – Eu sei que eu sou. Ele sempre fica dizendo sobre como eu sou especial para ele, que eu não sou só uma paciente. 

— Você gosta disso? 

— É claro. 

— Achei que não gostasse. 

— Não! – ela se alterou. – Eu gosto dele também. 

— Ele não tem tanta certeza. 

Ana franziu o cenho novamente. 

— Eu sempre deixo claro, ele é que não parece muito a vontade. É proibido, sabe? 

— O que é proibido? 

— Você sabe, ter um relacionamento com um paciente, isso é errado – ela respondeu. 

— Que bom que você entende isso, Anastasia, é muito importante saber e ter consciência que isso é errado, ele não deve fazer essas coisas com paciente algum. Não deve beijar os pacientes. 

Ana bufou e então suspirou. 

— Ele não beija os pacientes! Só a mim. 

— Ele te beija, então? 

— Sim... quer dizer, eu o beijei, na verdade. Ele não queria, mas aí me beijou de volta depois, então... 

Jack descruzou as pernas e sorriu. 

E aquilo fez Ana entrar em alerta finalmente. Não era um sorriso de verdade, era algo que beirava a uma cena de terror admirada. Era errado e macabro. E Ana não sabia lidar com aquilo. Em uma vida em que não tinha as rédeas da própria, não conseguia sentir... adaptar-se era tudo o que Ana realmente prezava. Ela fazia de tudo para entender ao redor e conhecer, ela precisava se adequar para não se machucar, e não saber lidar com algo era perigoso para ela. 

— E mais alguma coisa aconteceu? – ele questionou. 

Ana engoliu em seco e balançou a cabeça com a sensação de que havia feito algo errado. 

— Você fez algo que não queria, Anastasia? 

— Não... eu acho que não. Christian nunca faz o que eu não quero, ele faz tudo o que eu quero, na verdade. 

— A troco de que? 

— Como assim? 

— O que você faz para ele fazer tudo o que você quer? 

— Nada. 

— Você deixa ele te beijar? 

— Sim, eu deixo... Mas eu como eu disse... 

— Então, ele faz o que você quer para que você o deixe beija-la – ele a interrompeu. 

— O que? Não. Eu não disse isso. Você é que está dizendo. Para com isso. Está me confundindo – ela brigou. 

— Você se confunde muito, Anastasia, é normal em uma situação como a sua – ele falou gentil demais. 

— Que situação? 

— É normal, não precisa chorar. 

— Mas eu... 

— Vai ficar tudo bem. 

Ana balançou a cabeça e tirou o cabelo dos olhos. 

— Você fica me confundindo – sussurrou, mirando novamente o diamante na orelha do médico. 

— Não estou, é que é confuso para você. 

— Por que você usa esse brinco? – ela questionou de repente. 

— Qual o problema com ele? – o psiquiatra questionou. 

— Eu já vi uma pessoa usando um igual. Não era uma pessoa legal. 

— Christian? 

— Não! O Christian não. Eu não lembro quem era. Mas usava. Eu não consigo lembrar onde foi, mas foi há muito tempo... acho que... era uma pessoa ruim, machucou alguém – ela mirou atentamente o brilho do diamante pequeno e discreto. – Eu não gosto da sensação que eu tenho quando olho para ele. Eu não quero lembrar. 

Logo Ana estava de volta ao corredor da Ala Z, com Elena em seu encalço. 

A morena estava perto de seu quarto quando as portas por dispositivos se abriram atrás de si. 

— Pode deixar que eu assumo, Srta. Lincoln – Christian falou enquanto caminhava em direção às duas que ficaram paradas ali. 

O coração de Ana disparou e ela se segurou para não querer jogar os braços ao redor de Christian. Só naquele momento percebeu o quanto estava com saudade. 

— Não sabia que viria ainda hoje – a enfermeira falou, nervosa de repente. 

Ana cruzou os braços e esperou. 

— Atrapalho seus planos? – ele foi sarcástico. 

— Não, doutor, sua paciente – ela deu um passo para o lado, permitindo que Christian se aproximasse de Ana. 

— Obrigado – ele murmurou antes de conduzir Ana para o quarto.

— Você demorou muito – A menina resmungou quando chegaram de frente para a última porta, a sua, e Elena já havia desaparecido do corredor. 

— Eu fiz plantão ontem, não podia estar aqui hoje. Nós já conversamos sobre meus horários – Christian devolveu num tom gentil, abrindo a porta do quarto de Ana. 

Ele já havia desistido de tentar deixar a garota fora da sua vida, de trata-la como uma paciente apenas. Então apenas agia como se fosse normal sua paciente exigindo saber sobre ele. 

— Mas é chato, você deveria morar aqui – ela sussurrou, aproximando -se do médico. 

Christian segurou as mãos da menina antes que elas chegassem ao seu peito e as colocou de volta contra a barriga da menina. 

— Você não ficou com saudade de mim? – ela questionou bufando. 

— Você é tão dramática que parece uma atriz as vezes – ele implicou, logo dando um beijinho na ponta de seu nariz. 

Ana passou os braços ao redor da cintura do médico e descansou a cabeça contra seu coração.

Christian se permitiu abraça-la de volta, apoiando o queixo no topo de sua cabeça. 

— É claro que eu senti – ele sussurrou. 

Ana sorriu mesmo que ele não pudesse ver e abraçou mais forte. 

— Então você pode brigar com o Elliot por ele ter chamado o médico Hyde para fazer minha terapia e nem me avisou? – ela resmungou como uma criancinha. 

Sinceramente, Christian tratava Ana com tanto carinho e gentileza, sempre dando o que ela queria, que a garota já estava tão mimada que era impossível para ele dizer qualquer coisa contrária à agrada-la ou elogia-la. Aquilo era ruim, claro, nenhum médico – principalmente psiquiatra – deveria mimar tanto seu paciente a ponto de dar poder a ele. Mas não era como se Christian se importasse com aquilo quando tinha os braços de Ana em volta de si e a fofa vizinha de bebê dela lhe pedindo alguma coisa. 

Deus, ele estava tão ferrado. 

— Como assim o medico Hyde? – Christian questionou, fechando a porta do quarto atras de si. 

Ana virou a cabeça e o encarou debaixo, sem se afastar ou afrouxar os braços ao redor do médico. 

— Ele quem me fez perguntas hoje. Ele não é legal – ela confessou. 

Christian franziu o cenho. 

— Que perguntas ele te fez

  _ Muitas. Você não sabia? Achei que contassem tudo um para o outro. 

Christian afastou Ana de si e a segurou pela cintura, fazendo a garota se assustar minimamente. 

— Defina como você acha que é isso – ele pediu seriamente. 

— Foi o que ele disse, que você conta tudo para ele... 

— E você contou alguma coisa para ele? 

— Não sei. 

— Como não sabe, Anastasia? 

Ana se encolheu. 

— Você está bravo comigo? – questionou ela.

Christian passou uma das mãos pelo rosto enquanto a outra puxava Ana de volta contra si num abraço.

— Não, eu não estou bravo, só quero saber o que exatamente você contou a ele.

Ana falou por alto, contando como Hyde era chato e estranho toda hora repetindo o que ela falava e fazendo suposições. Christian achou, no mínimo, suspeito o jeito que Hyde agira com  Ana como ela contou. Mas ele não iria se preocupar com aquilo no  momento, existia a real possibilidade de Hyde acreditar na garota e aquilo sim seria ruim

— Ele disse muitas vezes como era errado e como não deveria fazer isso. Mas ele não sabe de nada, ele não me conhece. Vocês podem ser amigos, mas...

— Não somos amigos. 

— Ah, não? Então por que ele disse...

— Ele queria que você falasse, então mentiu.

Ana mordeu o lábio inferior e então inspirou o ar profundamente.

— Você está bravo comigo agora? 

Christian a encarou, ele ainda a abraçava com uma das mãos enquanto a outra percorria seu cabelo.

— Escuta - ele sussurrou bem perto de seu ouvido. - As chances de um dia ficarmos juntos é praticamente zero, mas eu não vou te deixar. Não pensa que eu vou ficar bravo com qualquer coisa e aí vou sumir. Não vai acontecer.

Ana balançou a cabeça e sorriu.

— Você deveria parar de falar coisas assim, me fazem, sabe, querer me casar com você!

Christian riu e beijou o topo de sua cabeça antes de soltá-la.

O sol estava se pondo, e a janela atrás de Christian refletia o esplendor brilhante que era aquele espetáculo.

Um estopim.

Era isso que regia as memórias da mente humana e um pouco conturbada de Ana.

Os estopins era o que a fazia ser quem ela era.

O brilho refletiu a janela e quase cegou Ana quando a garota mirou o vidro.

O estopim.

— Maldito brinco de diamante – sussurrou como o pior xingamento do mundo.

Automaticamente sua memória a lembrou: Jack Hyde era do mal. 


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Notas finais do capítulo

??????? xezuis



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