50 Tons de uma Salvação escrita por Carolina Muniz


Capítulo 14
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Prometo ser mais rápida dessa vez!!!!



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Capítulo 13

"Antes de sequer saber que é amor, a gente sabe que é algo. E já é incrível quando é algo."


Inocente.

Aquela palavra havia se tornado a favorita de Christian depois de ouvida da boca do Juiz num veredito final.

Ele ainda precisaria cumprir com algumas exigências. Mesmo declarada inocente, ele ainda assim beijou uma paciente, e agora ele precisaria lidar com as consequências. Enquanto andavam pelo corredor após sair da sala de audiência, Leonel lhe explicava.

— Voce precisa terminar seu contrato em Priory, com os pacientes que já tem e passar os tratamentos para os outros médicos - o advogado informou. - Tambem vai precisar pagar a multa de um ano, o que pode ser em dinheiro para uma instituição de sua escolha dentre as do governo ou então em serviço comunitário nessas mesmas instituições. Há a licença médica, que deveria ser suspensa por dois anos, porque você violou uma das regras do conselho, mas como sua posição é de psiquiatra e ainda um renomado, ela vai ser descartada em serviços gratuitos para o governo numa sede de escolha deles.

— Espera, eu vou ter que sair de Priory, do meu meu emprego no caso, pagar por um ano uma quantia que eu ainda nem sei e ainda por cima trabalhar de graça? - ele questionou.

— Isso mesmo. E também não pode chegar a, pera aí, vejamos - Leonel falava enquanto olhava as dezenas de papéis do julgamento. - Ah sim, duzentos e cinquenta metros de Anastasia Steele.

— O que? - Christian vociferou alto.

De todos as coisas que teria de fazer aquela sim era preocupante.

— O certo seria setecentos metros, mas como você vai estar na clínica Priory, e ela ainda não foi autorizada por todos os médicos e o juiz da vara psiquiátrica a sair de lá, ela terá que voltar. Você não pode chegar mais perto que isso dela, então não se encrenca em achar que pode dar uma de engraçadinho só por que vão estar...

Christian parou de andar.

— Espera, espera, Leonel. Eu não posso chegar perto da Ana? Mas que porra é essa? Eu sou inocente, o juiz decretou, o júri... por que eu não posso chegar perto dela?

Leonel suspirou, passando a mão pelo rosto e o cabelo.

— Ainda assim ela é filha de alguém e você a beijou enquanto era o responsável por sua saúde mental - o advogado murmurou.

— Os pais dela colocaram uma medida protetiva contra mim? - Christian questionou.

— Hardware exigiu, a mando deles provavelmente - Leonel revirou os olhos. - Em alguma coisa ele tinha que achar que ganhou, afinal.

— Eu não vou ficar longe dela - Christian resmungou.

Leonel bufou irritado.

— Voce vai sim. Christian, a sua carreira esteve em risco aqui. Sim, você não esteve nem perto de ser preso, mas sua carreira que você lutou por anos para ter esteve por um fio. E você pode ter sido declaro inocente, ainda assim a mídia já sabe, e sempre fica um resquício de o porque que você foi indiciado em primeiro lugar? Então, você vai sim respeitar todas as ordens de restrição e as condições do juiz. Caso contrário, você perde sua licença, seu diploma e ainda por cima pode ser preso por violar uma ordem do juiz, entendeu?

Christian se recostou na parede, a cabeça para trás, os olhos fechados, suspirando pesadamente.

— É só por um tempo... pelo menos, deixa a poeira abaixar - Leonel falou, mais gentil agora, uma mão no ombro de Christian. - Com o tempo, Ana vai começar a melhorar, lembra do o que o psiquiatra disse? E você também como médico sabe disso. Você pode tentar uma aproximação com os pais dela daqui um tempo, ou então, com sorte logo Ana pode falar por si mesma e decidir sua vida. Tenho certeza que estar perto de você vai fazer parte das decisões dela. Dê tempo ao tempo, precisa ter paciência.

Tempo.

Paciência.

Era tudo o que Christian mais estava se esforçando em ter. Mas ele os tinham com Ana, sempre teve tempo e paciência com ela, estando perto dela. Agora, longe? Aquilo era outra coisa, as palavras tinham outro significado.

— Eu amo aquela garota - ele declarou em voz baixa.

Leonel apertou seu ombro uma vez.

— Eu sei que ama. E mais importante ainda, ela sabe também.

Christian fechou os olhos com força, odiando a onda de sentimentos que o invadiu, os olhos ardendo de repente. Ele havia passado por coisas demais nos últimos dias, esteve a ponto de perder tudo o que mais precisou na vida, e mesmo sendo declaro inocente, e mesmo sabendo que pode trabalhar na clínica que quiser depois de Priory, mesmo tendo a certeza das coisas que achou que eram as mais importantes que ele poderia perder, ele sentia como se tivesse perdido tudo.

— Dr. Grey?

Christian e Leonel se virou para quem quer que fosse chamando o psiquiatra, e o Grey franziu o cenho ao reconhecer quem era.

— Podemos conversar?

Miles, o psiquiatra que interrogou Ana e praticamente inocentou Christian.

O Grey assentiu com a cabeça, os pensamentos a mil sobre que assunto poderia ter com aquele homem.

Leonel se retirou educadamente, dizendo que esperaria Christian no fim do corredor.

— Passou umas poucas, hein, garoto - Miles comentou, parando em frente ao Grey, um sorriso sacana no rosto.

Christian deu de ombros.

— Desculpe, doutor, mas eu realmente não sei que tipo de assunto poderíamos ter em comum nesse momento - foi direto.

Não estava com cabeça para nada naquele momento. Ainda precisava arrumar um jeito de ver Ana, havia perdido o emprego...

— Muitos, se ouvir minha proposta.

Christian levantou uma das sobrancelhas.

— Gostei da forma como evoluiu o quadro de Anastasia. Em dez anos nenhum psiquiatra sequer chegou perto quando você com algumas semanas já estava no caminho certo pelo menos. Eu sei como é diferente ver pelo lado investigativo, deixando de pensar e avaliar apenas a mente dela para escutar de verdade um paciente, para nós, psiquiatras tudo tem uma veia de loucura e estamos sempre pensando em qual droga será a certa para receitar em vez de apenas não querer usá-las - Miles comentou. - Gosto da sua forma de pensar, de trabalhar. É um médico e tanto, dr. Grey, mas vamos direto ao ponto. Estou para me aposentar, e não quero deixar meus casos e muitos menos minha unidade nas mãos e qualquer um. O senhor é um ótimo candidato ao meu ver, eu gostaria de treiná-lo se tiver interesse.

Christian arregalou os olhos.

— Numa unidade policial? Quer que eu avalie numa unidade policial?

Uma unidade policial somente tratava de traumas, geralmente casos recentes e na velocidade da luz, não era duradouro e nem uma constante cada paciente. Mas com certeza, uma unidade policial era tudo o que Ana precisava há de anos. E foi tudo o que ela não teve.

— O senhor mais do que nenhum outro médico agora eu imagino que vá entender como um bom psiquiatra é importante em um caso - Miles divagou. - Ela é uma ótima garota, tenho certeza que agora vai ficar bem. Ela só precisava que a escutassem.

Falar sobre Ana no momento estava sendo um pouco difícil. Aquela merda de restrição!

— Bom, me liga - Miles falou, lhe entregando um cartão de papel. - Eu estarei na cidade até segunda. Seria bom uma conversa mais longa.

— Obrigado - Christian agradeceu, sem saber realmente se ligaria.

Miles assentiu com a cabeça e colocou as mãos nos bolsos, se preparando para ir embora, até que se virou por um instante, pensativo.

— O nosso trabalho é difícil na maior parte das vezes, mas ele também trás coisas boas, eu encontrei minha esposa enquanto trabalhava, agora ela está em casa torcendo para que eu encontre logo algum substituto e possamos fazer uma viagem longa pelo mundo - Miles comentou. - É esse um tipo de coisa boa você já encontrou, garoto, não precisa mais ficar apenas na sua zona de conforto. Você é brilhante... e ela também vai ser.

Do outro lado do corredor, há algumas paredes dali, Ana estava inquieta, batia o pé no chão e os dedos das mãos se entrelaçavam numa mania dela, também havia a respiração irregular e tinha a testa e nuca suando.

Ali, no Tribunal de Seattle, ela era "instruída" a permanecer numa sala, onde havia apenas um sofá e uma mesa - entalhada no chão. Uma das paredes era recoberta por um vidro enorme onde ela via seu reflexo um pouco distorcido, e tinha a sensação de que outras pessoas a observavam por ali até quando não diziam que estavam por ali.

Travis permanecia na porta, assim como também havia dois enfermeiros de plantão, e seus pais só podiam falar com ela atraves do vidro, como qualquer outra pessoa.

Eles não conversavam, Ana não falava muito, ela apenas ficava ali. Há algumas horas eles tiveram de ir, e Ray lhe disse que o julgamento iria começar enquanto sua mãe ralhou dizendo que a morena não precisava saber daquilo.

Aquele tipo de coisa machucava como Ana não sabia que podia machucar. Logo ela, que não sentia dor por seu cérebro ser estragado, sentia ser machucada quando faziam aquele tipo de coisa. Não importava que era seus pais, depois de um tempo eles se equivaliam ao mesmo sentimento que ela tinha que qualquer outro profissional que cuidava dela: irritação e incompreensão.

A verdade era que Ana se esforçava bastante para entender, mas não conseguia se concentra o suficiente para chegar nem perto de uma conclusão na qual ela deve ficar presa e enjaulada como um animal selvagem, enquanto pessoas que machucam outras são postas para se defender e serem ouvidas em liberdade.

Sua mente provavelmente trabalhava de uma forma diferente da dos outros, Christian havia lhe dito algo como aquilo em uma das noites em que ela se recusava a dormir na clínica e ele com toda a paciência do mundo respondia todas as suas perguntas.

— Sua mente não processa alguns detalhes e também transforma coisas, na maioria das vezes se transforma em algo mais fácil de se lidar, como uma linguagem só sua. Você não processa a dor, mas entende que ela é ruim e tem os sentimentos que ela poderia causar em você.

— Eu não sei como sei disso — ela lembra de sussurrar para ele, interessada, os olhos arregalados e as mãos entrelaçadas na barriga.

Ana sempre prestava atenção no que Christian dizia. Primeiro, porque ele era muito inteligente, ele sempre sabia as respostas para as suas perguntas mesmo que fossem muito difíceis. Segundo, porque ele era o único que se dignava a respondê-la de verdade, sem rodeios ou fantasias. A maioria das pessoas tratavam Ana como incapaz, e seja qual fosse a pergunta, mesmo que boba e fácil, ninguém realmente lhe respondia porque não valia a pena perde tempo com ela.

— A mente humana é um dos maiores mistérios do mundo. O nosso corpo é um organismo habitável, ele vai sempre se esforçar para sobreviver em qualquer situação.

E desde então Ana vive com aquela convicção: seu corpo sempre se esforçaria para sobreviver e sua mente sempre faria qualquer situação se transformar em algo que ela pudesse lidar.

Então ela poderia lidar com tudo, não é?

Pareceu que horas haviam se passado, e provavelmente aconteceu mesmo, porque ela logo ficou cansada e com sono, o que a fez se levantar e começar a caminhar em círculos pela sala para que o sono passasse.

Os enfermeiros ficaram em alerta, observando cada passo de Ana enquanto ela caminhava pela sala dando voltas, e Travis permaneceu recostado na porta, já acostumado com as formas de Ana em passar o tempo.

Ninguém ali sabia a real razão de Ana começar a fazer aquilo na sala, os enfermeiros tinha a teoria da loucura enquanto Travis apenas achava que a morena estava entediada. Christian era o único que a mandaria se sentar no sofá e respirar uniforme, ficando ao seu lado e prometendo segurar sua mão e observá-la por todo o tempo que ela dormiria. Porque ele iria saber que ela apenas estava com sono e estava lutando contra ele, e impediria aquilo, claro.

Mas Christian não estava ali.

E era tanto tempo que ele não estava, que ela já começava a desconfiar que iria lutar contra o sono para sempre.

A sensação de perda a dominava e deixava sua mente embaralhada, cheia de silêncio com gritos altos demais.

— Srta. Steele - Travis lhe chamou a atenção.

Ana parou no meio da quadragésima terceira volta na sala - ela contava sempre, claro - e se virou para encara-lo.

Sua mente estava mesmo agitada, pois ela nem havia escutado a porta se abrindo, apenas observando a madeira com a maçaneta abaixada e o par de sapatos pretos batendo no chão.

Não era de Travis.

Não era nenhum dos enfermeiros.

Seu coração disparou antes mesmo dela chegar ao rosto do dono dos sapatos.

— Não acredito que você está lutando contra a sono - ele acusou num tom sério, mas o sorriso que havia no rosto dele fez Ana entender a real intensão na frase.

Ana mordeu o lábio inferior e caminhou pela sala até chegar ao sofá, se sentando na ponta do mesmo, o mais longe possível, colocando os pés no estofado e então abraçou os joelhos, encarando o chão em seguida.

Ray caminhou os passos que restavam até entrar totalmente na sala, seguindo até a mesinha de centro e se sentando de frente para Ana.

Os enfermeiros se aproximaram do sofá, se prostrando atrás do mesmo, em alerta.

Raymond encarou a ação.

Era sempre a mesma coisa, toda vez que chegava perto de Ana era com enfermeiros por perto, sempre em alerta, ou então havia algum botão vermelho a seu alcance, como se sua filha fosse a pior das criminosas e ameaça a qualquer ser humano. Ray não era hipocrita, já havia visto o pior em Ana, e pelo tempo que a garota permanecia dopada na maioria das vezes depois de uma crise, ele pensa que talvez os profissionais que cuidavam dela possam ter visto sua filha ainda pior que ele.

Mas ainda era sua filha, e um psiquiatra - finalmente - havia declarado perante a um júri e um juiz que ela sofria de estresse pós traumático e não de alguma doença incurável que a fazia ser totalmente incapaz e agressiva com todos.

— Voce fazia muito isso, sabia? Desde que era pequenina, quando começou a andar - Ray falou, passando as mãos que de repente suavam no tecido da calça. - Você ficava andando para poder se agitar e espantar o sono. Na maioria das vezes você apenas cansava e acabava dormindo no chão mesmo, quando eu e sua mãe íamos ver você estava lá, toda esparramada no chão junto ao Lupin.

— Lupin - Ana sussurrou.

Nunca mais o viu e nem ouviu sobre ele. Lupin era seu cachorro, ele era grande - ou talvez ela que fosse muito pequena - e corria para todos os lados com seus sapatos na boca.

— Sim, filha - Ray se animou, se ajoelhando no chão de frente para Ana, mas logo voltando a se sentaram mesinha quando percebeu a garota encara-lo desconfiada. - Você se lembra dele, não é?

— Onde está? - sua voz era apenas um sussurro, mas Ray estava perto o suficiente para escuta-la.

Okay, talvez não tenha sido a melhor ideia falar sobre o cachorro.

O grande Lupin havia sido levado para a casa do irmão de Ray assim que Ana começou com as crises, o cachorro latia tanto para a menina de repente e eles tinham medo de um machucar o outro.

Qualquer uma das situações teria sido traumática

De qualquer forma, Lupin havia sido dado a Ana quando a menina tinha três anos, e ele nem era um filhote nessa época, quinze anos se passaram desde então e há quatro anos o cachorro se foi.

Ray suspirou baixinho, pensando em algo para dizer, encarando seus sapatos contra o chão polido da sala até sentir o contato quente e delicado da menina em sua mão.

Raymond sentiu seu coração disparando com a sensação de Ana o tocando, nem se lembra da última que teve alguma iniciativa da parte dela.

— Tudo bem, filha? - ele questionou, espalmando a mão para cima e deixando que a tocasse ali também.

— Lupin - ela sussurrou novamente, tímida.

Ray não sabia como responder, não sabia que tipo podia dizer a Ana quando qualquer coisa parecia ser um estopim para desestabiliza-la.

Por sorte, a porta da sala voltou a se abrir, e Ana acabou se assustando, voltando a abraçar os joelhos e desviar o olhar para o chão.

Carla entrou na sala, e para a surpresa de Ray, ela tinha Christian com ela.

A mulher havia dito que iria ao banheiro, após eles terem tido uma conversa com Hardware. Ray nem acreditava que finalmente iria se livrar do homem, já não aguentava mais. Ele sabia que estava fazendo pela sua filha, mas, sinceramente, no fundo ele se sentia feliz ao ouvir Ana demonstrar sentimentos, e de uma forma que admitia ser egoista, ele não se importava se foram manipulados ou não, contanto que sua filha tivesse expressões e demonstrasse emoções.

— Filhinha, meu amor - Carla falou no momento em que Ana se levantou rapidamente ao olhar para a porta.

Claro que não era por Carla, um olhar de Ana e qualquer um poderia ver que ela não moveria um músculo a mais pelos pais.

Mas por ele, por Christian, ela até mesmo sorriu largo, mostrando os dentes pequenos.

A garota tinha as mãos entrelaçadas na frente do corpo, um dos pés batendo no chão de forma incessante e o sorriso ainda nos lábios.

Ray se levantou também, ficando ao lado de Ana, sentindo o calor do corpo dela e foi o mais perto que havia chegado de sua filha sem qualquer problema nos próximos segundos em muito, muito tempo.

— Voce estão tão linda - Carla comentou num tom baixo, admirando Ana.

Na maioria das vezes eles só a viam dormindo ou então encolhida em um canto, era difícil admirar sua filha.

Mas Ana nem pareceu escuta-la, assim como nem havia percebido como Ray estava tão perto de si, e ela não gostava das pessoas perto. Nada importava. Nada a não ser Christian ali.

Mas o Grey permeei distante, e então Leonel entrou no recinto e Ana franziu o cenho.

Mais coisas que não entendia.

— Voce veio me buscar? - ela questionou baixinho, encarando Christian de forma tímida por tantas pessoas ao redor.

Christian inclinou a cabeça, dando um sorriso de lado. Droga, ele havia sentindo tanta falta dela.

Só de tê-la visto naquele interrogatório gravado, através de uma tela, quase mantou um pouquinho da saudade. Mas nada se comparava aquilo, a voz dela pessoalmente, a forma como parecia inquieta e as mãos se puxavam uma na outra porque com certeza queria toca-lo.

Ana queria toca-lo o tempo inteiro.

— Na verdade, não - ele respondeu no mesmo tom que ela.

— Filha, você vai para Priory agora, de volta para a clínica, vai ser um tratamento novo...

Ana balançou a cabeça de um lado para o outro, saindo de perto de Ray ao finalmente perceber sua presença quase a tocando, o que fez os enfermeiros se agitarem e se aproximarem.

— Então você veio me buscar - ela declarou olhando para Christian, a voz uma oitava mais alta.

— Voce vai para Priory, mas eu não. Quer dizer, não agora - tentou explicar.

A morena mordeu o lábio inferior, voltando a bater o pé no chão, uma das mãos apertando com força o braço alto do sofá.

— Eu não entendo - ela falou.

Christian encarou a mãe de Ana, como se perguntasse algo ou pedisse permissão, qual parece ter sido dado ao que ele deu alguns passos mais para dentro da sala.

— Espera, então eu vou para Priory de novo? E sem você? - Ana questionou devagar encarando o psiquiatra.

Christian segurou sua mão entre as suas, pensando em como convencer Ana de que estava sim tudo bem, mesmo que não pudesse mais ser como antes.

Ele teve um encontro com Carla no corredor, onde a mulher declarou que gostaria que ele fosse ver Ana na sala ali perto pois a menina com certeza esperava por ele. Christian havia encarando Leonel de soslaio, pois aparentemente os pais da garota havia colocado uma ordem de restrição contra ele. O advogado o aconselhou a seguir a mulher e então depois resolveriam aquilo. Se era uma permissão dela, Christian não estava infringindo nada, mas Leonel sussurrou em seu ouvido que ele com certeza tinha que se controlar e não chegar tão perto de Ana mesmo na sala.

Tudo era confuso para todos e nada explicativo.

— E se eu tiver pesadelos? E se eu me machucar enquanto durmo? E se eu não acordar e... - Ana começou a se agitar, dando passos para trás.

Aquilo estava a assustando. Ela só queria voltar a ser como antes, voltar para a clínica e estar com Christian. Foi o que ela achou que aconteceria desde o começo.

— Amor, isso não vai acontecer, ninguém vai te machucar - Christian a interrompeu, segurando suas maos mais forte, a impedindo de continuar andando. - Nunca. Você está segura.

Christian podia sentir o coração se tornando um grão de tamanho ao que agora ele entendia porque Ana tinha tanto medo de dormir e se machucar. Não era que ela se machucaria e não saberia, ela tinha medo de machucarem ela como machucaram Tiffany e ela não saberia.

Deus, ele não conseguia acreditar que quem quer que tivesse feito aquilo, havia começado todo aquele tormento na vida de Ana e simplesmente ficaria solto por aí, não seria punido em nada.

Não conseguia nem sequer começar a imaginar como era um pesadelo a cabeça da menina, por tantos anos com medo de algo sem saber expressar e sem que os outros acreditassem nela, sendo constantemente dopada, tendo que constantemente descobrir algum jeito de saber se havia sido machucada ou não enquanto apenas a dopavam mais ainda.

Christian só queria ficar por perto, ela havia confiado nele a ponto de dormir e deixá-lo cuidando de seu sono, com seu corpo vulnerável.

O psiquiatra queria saber disso antes, se culpando por quando teve de dopa-lá uma vez, e ela teve de ir contra tudo o que acreditava para continuar confiando nele apesar disso.

— Eu prometo que ninguém vai te machucar. Você pode dormir, você pode... me promete que você vai dormir? Que vai confiar em quem cuidar de você. Minha mãe vai estar em Priory, ela nunca deixaria ninguém machucar uma paciente. E eu também vou estar por perto, você sabe que eu tenho vários plantões noturnos. Eu não vou poder ficar em seu quarto, mas prometo que estarei sempre de olho, verificando se você está bem. Você não vai me ter com você, mas vou estar sempre por perto.

A garota balançou a cabeça, não aceitando.

— E se eu tiver pesadelos, Christian? Quem vai me acordar? - ela perguntou com a voz quebrada, os olhos já cheios d'água.

Christian ignorou os pais dela e todo o resto da plateia em volta deles e puxou Ana para seus braços, tendo a garota se agarrando a si no mesmo instante.

— Não vai ter pesadelos, Okay, meu anjo? - ele sussurrou em seu ouvido. - Eu tenho um... objeto mágico, que impede os pesadelos de chegarem aos nossos sonhos. Aqui - ele abraçou com um braço só e tirou o molho de chave de seu bolso. - É um apanhador de sonhos - ele segurou o chaveiro na altura dos olhos de Ana, tendo a total atenção da garota ali. - Vou pedir para a Dra. Grace entalhar na parede do seu quarto, tudo bem? Mas preciso que me prometa que não vai tentar tirá-lo de lá, se não ele não funciona.

Ana balançou a cabeça em concordância, as lágrimas molhando o rosto.

Christian a virou, limpando seu rosto com a manga do casaco.

— Mas e você? Como vai ficar? - ela perguntou preocupada.

— Não se preocupe, eu não tenho pesadelos - ele respondeu, achando graça da preocupação da garota.

— Claro que não tem - ela segurou sua mão que ainda tinha o chaveiro, indicando o objeto como se fosse óbvio.

— Ah, bom, eu tenho o Luke também, ele dorme comigo sempre - ele explicou.

— Luke?

— Meu cachorro, ele está ansioso para te conhecer.

Ana sorriu, as lágrimas já longe de seus olhos e o rosto tinha sido limpo por Christian.

— Quero conhecê-lo - ela falou direta.

— Você vai, eu prometo.

Ela balançou a cabeça devagar, como se estivesse concentrando as palavras em sua cabeça para entender tudo da melhor forma.

E realmente era o que ela fazia.

— Senti sua falta - falou de repente.

Christian sorriu para ela.

— Eu mais do que senti a sua - sussurrou de volta.

Uma movimentação ao lados os fez se afastarem.

Grace, Elliot, Lincoln, Leonel e mais três enfermeiras entraram no recinto.

— Temos que ir, Srta. Steele - Grace falou, os lábios se franzindo ao observar a menina nos braços de seu filho.

Ela realmente não entendia aquela relação, tinha receio por seu filho quase ter perdido tudo em nome daquilo.

Ana concordou com a cabeça, só então percebendo que seus pais já estavam ao seu redor também.

— Nós vamos nos ver logo, certo?- ela questionou baixinho para Christian, dando dois passos para trás e então levantando o dedo mindinho querendo uma promessa.

Tudo o que Christian a enchia era de promessas, as quais ela se agarrava como a um bálsamo. Ele pretendia cumprir todas elas, não importava o tempo.

— Certo - ele garantiu, entrelaçando o dedo mindinho com o dela, em mais uma promessa.

A morena se deixou ser acompanhada para a porta, mas antes de sair se virou, encarando a mão de Christian. O Grey sorriu, tirando as chaves do chaveiro e entregando a Elliot que havia parado ao seu lado e iria com os outros para Priory.

— Da um jeito de colocar no quarto dela - sussurrou num pedido para o outro.

Carla permaneceu estática enquanto levavam sua filha que ia andando calmamente junto a eles, depois de ter se separado totalmente de Christian, depois de ter deixado que ele limpasse suas lágrimas, enquanto as suas também escorriam por seu rosto.

Há alguns anos ela não via mais Ana sendo uma pessoa com sentimentos além de raiva e ódio, eram as únicas emoções que via a garota exibir para qualquer pessoa, principalmente para os próprios pais. E de repente estava escutando alguém e também permitindo que esse alguém chegasse perto dela.

Ray não ficou realmente surpreso, ele apenas ansiava por aquilo. Desde o momento em que viu Ana pedir por Christian no meio do julgamento, ele ansiava por mais, em vez aquelas mesmas emoções da garota.

Ela ainda era sua filha, então.

Ela ainda andava em círculos quando não queria dormir.

Ela ainda mordia a pontinha do dedo polegar quando estava nervosa.

E ela ainda tinha o mesmo brilho no olhar azul que ele não via desde que a menina tinha oito anos.

 


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