50 Tons de uma Salvação escrita por Carolina Muniz


Capítulo 13
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Oieee, obrigada pelos comentários, espero que gostem do capítulo



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Capítulo 12 - Sobre Ana

"Há caos no que você acha ser calmo em mim e nem percebe."


O Juiz havia decretado quarenta e oito horas de recesso, o que daria tempo para os advogados preparem suas defesas em cima das novas evidências e o testemunho de Tiffany, e a prova de ter havido pinicilina no organismo de Ana também era um mistério a ser resolvido. E a morena teria de passar por mais um interrogatório privado, dessa vez com um psiquiatra do governo.

Christian havia sido instruído a ir para casa, não podia trabalhar enquanto seu nome estivesse em risco com a justiça, e ele também não podia sequer aparecer em Priory.

Então ele acordou no dia seguinte com o som do seu celular tocando, o nome de Leonel brilhando na tela.

— Ela não quer falar - foi a primeira coisa que o advogado pronunciou.

Christian não podia estar com ela, mas os dois advogados podiam escutar o interrogatório, e Leonel estava no Presídio Psiquiátrico de Seattle em todas as horas que podia desde que o recesso deu início.

O Grey se sentou na cama e passou a mão pelo rosto, suspirando.

Ana era difícil demais na maior parte das vezes, mas o que mais dificultava mesmo era que ela não fazia nada que não quisesse.

— Eu... Você acha que consigo falar com ela? - Christian questionou.

— Não vamos piorar sua situação, Dr. Grey - Leonel murmurou. - O médico pediu um intervalo, e a menina foi levada para a ala de descanso. Ela está irredutível.

Christian passou a mão pelo rosto novamente, exasperado, e se levantou da cama, começando a caminhar pelo quarto. Ele mal havia dormido na noite passada. Havia sido dispensado do julgamento e deveria ir direto para casa, segundo Leonel. E foi o que ele fez. Não poderia ir até a clínica, não podia ver Ana... ele estava enlouquecendo no sentido mais figurativo possível.

— Só da o telefone para ela - Christian insistiu.

Sinceramente, não era só por Ana. Ele sabia que se falasse com ela e explicasse o porque de que ela deveria sim contar tudo ao psiquiatra que lhe foi designado, ela o faria, que ela só não estava falando pois odiava ser desafiada e com certeza ninguém havia lhe explicado nada, como se não precisasse. Mas também havia aquela parte, aquela pequena parte - bem grande - que só queria ouvir a voz dela, escutar sua risadinha exagerada e suas perguntas diretas.

Era egoísmo, mas ele apenas queria voltar ao tempo em que Ana estava em Priory e todas as preocupações de Christian eram sobre o humor que Ana estaria naquele dia, apenas ansiando por suas falas diretas e declarações sobre o futuro dos dois.

— Eu vou tentar - Leonel falou do outro lado após quase um minuto inteiro de silêncio.

A ligação foi encerrada, e Christian se pôs a ir ao banheiro. Precisava escovar os dentes, lavar o rosto, fazer a barba...

Ele precisava mijar!

Desde quando precisava fazer uma lista de coisas?

Sua vida estava de cabeça para baixo.

Ele passou a mão pelo cabelo e o bagunçou, encarando seu reflexo no espelho.

Antes de começar a fazer a primeira das milhões de coisas que precisava, seu celular tocou novamente.

— Fala - murmurou ansioso ao aceitar a ligação de Leonel.

— Tem uma pessoa que está bastante ansiosa em falar com você - o advogado falou e Christian sabia que ele estava sorrindo.

Ana fazia aquilo com as pessoas. Ela conseguia conquistar qualquer um... qualquer um que ela permitia deixar se aproximar dela.

Christian ouviu o som de passos e então o celular parecia estar sendo movido de mão e mão.

— Eu não gosto de falar ao celular, quero você aqui - foi a primeira coisa que a voz baixa e aguda de Ana proferiu ao pegar o aparelho.

Christian riu alto.

A forma que ela era direta ao menos tinha a ver com a educação, era apenas o seu jeito mesmo.

— Eu também queria estar aí - ele garantiu, fechando os olhos ao ouvir a respiração dela do outro lado.

Como até a respiração dela podia ser algo distinto para ele?

— Você está bem? Estão cuidando de voce? - ele questionou.

— Sim - ela respondeu de má vontade. - Mas não é nada como você. Estou com saudade, quando você vem me buscar?

Christian sentiu o coração apertar.

— Linda, você sabe que não posso te buscar assim. O julgamento precisa ser encerrado, eu preciso ser inocentado e... Escuta, é importante você falar com o médico.

Ana bufou do outro lado.

— Psiquiatra - ela corrigiu resmungando.

— Isso. Com o psiquiatra. O juiz vai aceitar a avaliação dele, e você falando e respondendo as perguntas dele é como vai ser avaliada. Do mesmo jeito que era comigo e com o Elliot, lembra?

— Eu não gostei dele - ela reclamou.

— Você também não gostava de Elliot.

— Mas tolerava - ela rebateu e Christian pôde visualizar perfeitamente como ela com certeza deu de ombros. - Esse tal Dr. Miles Clark é muito chato, acha que eu sou criança. E, Christian, você sabe que eu não sou criança.

— Não, você não é criança. Então prove para ele, Okay? Isso é importante, linda. Ele vai te escutar.

— Até parece - ela resmungou. - Ninguém me escuta. Só voce.

— Steele! Não temos mais tempo - era a voz do policial Travis agora.

— Você promete que vem me buscar logo? - Ana pediu ansiosa.

Christian suspirou alto.

— Assim que der - ele prometeu como pôde. - Escuta, eu... é, por que você quer que eu vá te buscar?

Christian queria se xingar por ainda estar pensando naquela maldita pergunta de Leonel sobre o por que de Ana escolher ele.

— Que tipo de pergunta estranha - ela comentou. - Para eu poder sair daqui. Sabia que não posso sair da sala? Não tem outro lugar, só a sala e o quarto com cama. E não tem pessoas como eu aqui, só eu mesmo.

— Eu sei, mas... olha, seus pais podem te tirar daí - ele continuou.

Só precisava de uma resposta coerente. Só queria ter certeza de algo que ele nunca havia sequer questionado, mas de repente era só o que rondava sua mente. Christian sempre teve tanta consciência de Ana ser lúcida, que nunca lhe causou o pensamento de algo diferente, de como por tantos anos ela foi acusada de ser mentalmente instável por nunca ter recebido uma chance de não ser. E quando ele o fez, ela apenas podia ter se apegado a ele por aquele motivo.

— Mas eu quero você - ela insistiu.

— Srta. Steele, preciso do celular agora, tudo bem? Precisa me devolvê-lo, o Dr. Clark está voltando - Travis falou novamente.

— Christian? - Ana chamou agitada. - O que está acontecendo?

Christian bufou baixinho.

Não era a melhor hora com certeza. Ele tinha que se preocupar em livrar sua cabeça do tribunal e não se uma garota de dezenove estava ou não apaixonada por ele.

— Nada. É melhor você devolver o celular, eles não podem saber que você esteve...

— Não faz isso. Só... - ela engoliu em seco. - Vai ficar tudo bem, não é?

A voz dela se tornou agoniada de repente e Christian sabia que ela estava esforçando para não deixar as emoções tomarem conta de seu corpo.

— Sim - ele respondeu. - Me desculpe eu não deveria ter falado nada disso. Nós conversamos depois.

— Isso não é a mesma coisa - ela falou com raiva dessa vez.

Alguns segundos, ele sabia, em alguns segundos ela iria perder a batalha contra sua própria mente.

— Ei, linda, eu preciso que se acalme, está tudo bem - ele falou mais brando. - Eu te amo, Okay? Vamos nos ver em breve.

Ana respirou fundo do outro lado do aparelho.

— Tudo bem. Se você quer estar comigo, você vai estar, se não quiser precisa me dizer logo - ela proferiu.

— Não se preocupe com isso, Ana - ele falou.

— Não faz mais isso, não fala assim comigo... Okay, Travis, eu vou te dar o telefone!

— Precisa ir, Ana. Está tudo bem entre nós, eu prometo.

— Odeio essa coisa de não estar perto de você e saber o que está acontecendo - ela comentou e então bufou alto. - Que droga, vou devolver esse negócio para o T, tchau, vem logo. Faz a barba, tá bom? Não gostei pinicando meu rosto.

A ligação foi encerrada automaticamente e Christian inspirou o ar.

— É, é melhor fazer isso - ele falou para seu reflexo no espelho, tocando os pelos por fazer no rosto.

Os dois dias se passaram rápido, Christian não falou com Ana novamente, mas Leonel lhe garantiu que ela estava cooperando e de livre e espontânea vontade com todos, ele também ressaltou que foi desconfortável ouvir uma garota falar sobre a memória de uma criança presenciando algo tão traumático sem saber o que estava vendo. Ana falava com tanta naturalidade quanto falava do tempo, mas também divagava sobre como os próximos meses e anos tornaram sua vida daquele jeito. Ele contou que ela também falava muito sobre Christian, e Leonel garantiu que era uma coisa boa e não ruim.

Enfim, logo o julgamento começou novamente, e Christian tinha esperança de aquilo estar acabando e não ser ainda mais adiado.

A primeira coisa que ele percebeu era que o Tribunal da Primeira Corte de Seattle estava vazio, apenas o júri, alguns policiais e o juiz junto dos pais de Ana e Hardware estavam ali.

Não havia mais testemunhas ou plateia, o que queria dizer que algo grave acontecera ou então que algo estaria para acontecer, e o resto do mundo não poderia saber.

Christian havia sido detido em Priory, mesmo que não tenha sido algemado, ele fora obrigado a ir na viatura com os policiais até a delegacia. Aquilo não havia passado despercebido por ninguém, e alguém ou então várias pessoas registraram a cena, antes mesmo de Christian saber exatamente pelo o que estava sendo denunciado, o mundo inteiro já sabia. Não houve escapatória para segredos.

Mas ali, com o tribunal vazio, todos tão quietos e parecendo tão tensos quanto ele, denunciava que nada mais seria posto na mídia, ninguém mais iria saber sobre o caso a não ser o veredito final.

Leonel estava atrasado, Christian percebeu no momento em que se sentou atrás da mesa que ficava de frente para o juiz e seu advogado não estava ali.

O juiz bateu o martelo.

— Dou início ao processo 251738 - O juiz declarou e então franziu o cenho. - Onde está a defesa do acusado?

— Estou aqui - Leonel pronunciou, correndo pelo corredor de uma maneira nada elegante enquanto carregava sua maleta e os cabelos curtos esvoaçavam. - Desculpe, excelência.

O juiz revirou os olhos e bateu o martelo mais uma vez, indicando que a audiência havia começado.

Leonel se voltou para Christian, jogando a maleta na mesa e a abrindo rapidamente.

— Voce não vai acreditar no que acabei de descobrir - Leonel sussurrou.

Christian levantou uma das sobrancelhas.

— Advogados, se apresentem - o juiz chamou.

— Vamos - Leonel murmurou.

Christian se levantou e o seguiu para a frente do juiz.

Christian o encarou ansioso, mas não teve tempo de questionar, logo Leonel estava seguindo para a frente do juiz.

— Gostaria de chamar Elena Preston para depor - ele anunciou.

Christian arregalou os olhos.

— Porra - xingou baixinho.

Aquilo com certeza não era uma boa ideia, Elena o odiava agora, além dos encontros que Christian percebe que foi bem bizarro agora, ele realmente não tinha nada de bom para ouvir dela, e muito menos Ana.

Leonel tinha enlouquecido, com certeza.

A mulher alta, loira platinada e consideravelmente mais velha subiu até o pódio um pouco abaixo do juiz e se sentou na cadeira, fez o juramento e então encarou Leonel a sua frente.

— A Srta. Preston é enfermeira chefe em Priory, por conseguinte a única que pode andar pelos corredores e quando chamada ir até um dos quartos da Ala Z. Teve contato direto tanto com Anastasia quanto com o Dr. Grey - Leonel explicou ao júri e então se virou para a loira. - Srta. Preston pode boa explicar o grau de intimidade que teve com o Dr. Grey?

Oh, puta que pariu! Christian sentiu o coração bater rápido e a respiração engatar. Ele ia matar Leonel, logo depois de ele ser declarado culpado, ele iria matar. Com certeza!

Elena assentiu com cabeça.

— O Dr. Grey e eu tivemos alguns rápidos e poucos encontros, nada realmente significante, logo percebemos que não era o que queríamos e continuamos o nosso trabalho apenas - ela falou simples.

— Estão a testemunha já esteve envolvida com o acusado, isso é conflito de interesse - Hardware intrometeu, mas antes que o juiz pudesse repreendê-lo, Elena voltou a falar.

— Sim, tive envolvimento com o Dr. Grey, e isso só me deixou ainda mais certa de que é tudo uma palhaçada, ele nunca sequer olharia para uma paciente mentalmente incapaz com alguma intensão que não fosse apenas cuidar dela - a loira garantiu. - Estive com Christian no trabalho e fora dele, nenhuma dessas versões seria capaz de fazer algo desse tipo.

— O próprio Dr. Grey confessou ter beijado na boca a paciente Anastasia Steele - Leonel comentou.

— Aquela lá não é mentalmente incapaz - Elena deu de ombros com desdém. - Eu sei que ela tem problemas, mas não acho que não saiba o que é um beijo e o que implica tudo sobre isso.

— Anastasia é uma paciente da Ala Z, o que diz muito sobre o que ela pode ser capaz ou não - Leonel continuou a acusar.

Christian cruzou os braços, incrédulo.

Leonel estava do seu lado ou do outro?

— Eu nunca achei que ela devesse estar la, eu sempre ela muito... - Elena balançou a cabeça como se estivesse tentando encontrar uma palavra, concentrada. - Eu não sei como dizer, mas ela sempre pareceu muito lúcida para mim. Eu já vi alguns pacientes da Ala Z, eles são poucos porque tem de ser realmente ruim, é última parada antes de ir para um manicômio. Não era nada perto do que Anastasia se comportava. Ela é abusada, desafiadora e muito mimada também. Confesso que me assustei quando o Dr. Grey suspendeu toda a medicação dela, dizendo que queria começar do zero e descobrir o que realmente havia de diferente nela. E ele disse isso mesmo: diferente. Não errado. E eu comecei a observar, ela é diferente, tem alguma coisa nela que não encaixa. Mas, na minha opinião, alguém que não precisa olhar tão detalhadamente e apenas para o interior do cérebro de um paciente, há sim alguma coisa errada naquela garota. Errado, porque em alguns momentos, mesmo ela sendo extremamente irritante e abusada comigo, eu percebia que talvez pudesse haver conserto.

— E foi esse o incentivo e motivo que a fez administrar uma prescrição que claramente não deveria?

Elena engoliu em seco.

— A Srta. Preston foi orientada a fazer parte da equipe médica que está atendendo Anastasia na Prisão Psiquiátrica de Seattle, ainda sendo uma paciente da Ala Z de Priory, Elena era a única que poderia continuar a acompanhando e auxiliar os outros profissionais ao tratamento de Anastasia. E também, como única a fazer parte desde Priory, é a que mais sabe até mesmo de trás para frente a rotina da paciente, o que me deixa muito curioso sobre o porque ter autorizado a administraçao de um medicamento que sabe não deveria - Leonel acusou.

Christian abriu a boca, mas conseguiu se conter, apertando as mãos nos braços ainda cruzados para se impedir de ir até a loira e aperta-las no pescoço dela.

Elena encarou a madeira dos braços da cadeira.

— Sabe os efeitos de cada um dos medicamentos que Anastasia é autorizada a tomar, não só por ser uma enfermeira especializada em psiquiatria, mas também por ser uma das responsáveis pela continuação do tratamento de Anastasia e já ter tido acesso a seu prontuário milhares e milhares de vezes - Leonel continuou pressionando, acusando, fazendo Elena se encolher na cadeira.

— Eu apenas segui a prescrição - ela tentou dizer.

Leonel riu sem humor.

— Uma prescrição sem necessidade? Anastasia não apresentou nenhum sintoma para ter a necessidade de ter penicilina em seu organismo. E eu tenho provas e testemunhas para isso, assim como tenho uma filmagem onde aparece a senhorita na farmácia coletiva preparando uma ampola de penicilina, exatamente no mesmo horário em que a perícia declarou que foi colocada no organismo de Anastasia, estranhamente a prescrição da paciente não se encontra em seu prontuário.

Leonel expôs as folhas copiadas em sua pasta, onde fotos de Elena, com data e hora da filmagem, mostrava a enfermeira na sala da farmácia coletiva do Presídio Psiquiátrico.

Elena pressionou os lábios um no outro, sentindo a raiva crescer.

Havia concordava em testemunhar quando Leonel lhe chamou apenas porque ele havia anunciado que Christian estava com a carreira no meio fio, ele disse que ela apenas tinha que falar a verdade, se a verdade era que Christian era um homem decente e um profissional ainda melhor, ela apenas precisaria dizer. Ela nunca iria querer prejudicar o Grey, mesmo que ele tenha deixado claro a rejeição por ela, ainda sim nunca teria coragem de colocar a carreira dele em risco por algo bobo, apesar da loira achar que o próprio quem havia feito aquilo.

Ela também não tinha realmente nada contra Ana, disse a verdade ali, a morena era uma paciente acima de tudo, e o que ela dizia à Jack Hyde sobre a garota ser muito consciente e as vezes até assustar a loira com a lucidez e sua visão de mundo, ela disse ali naquele tribunal. Nunca falava com Christian pois o mesmo não a deixava chegar perto de Ana na maior parte das vezes, fazendo questão de apenas ele cuidar da garota que também deixava claro não aceitar mais ninguem, ela apenas cumpria seu trabalho quando o mesmo não estava, e nas raras vezes que pôde chegar até Ana, mesmo cega numa discussão que apenas depois de calma pode perceber os pontos de lucidez de Ana, ela precisava admitir.

— Eu não sou psiquiatra, sequer imaginar que chego aos pés de um médico com licença para cuidar de alguém da Ala Z, eu apenas sigo a prescrição - ela respondeu.

Leonel fez um som com a garganta em impaciência.

— A senhorita pode não ser médica, mas conhece os medicamentos e seus efeitos, e tendo consciência de uma anomalia em uma paciente ainda assim persistiu numa prescrição claramente errônea?

— Eu segui a prescrição de um médico formado é licenciado, questionei sim a medicação, mas ele foi veemente em dizer que era o que a paciente necessitava. Eu posso conhecer os medicamentos, mas não conheço a mente humana, e até mesmo o Dr. Grey pode afirmar que ele proprio já fez uso da técnica usada em Anastasia - a loira falou exasperada.

Leonel sorriu internamente, sabendo que já a estava pressionando o bastante para a mulher falar.

— Pode nos explicar a técnica? - questionou.

Elena suspirou irritada.

— É o uso de algo que pode fazer mal, mas tem benefícios no que faz mais mal, no caso a penicilina podia causar uma crise alérgica em Anastasia, mas causaria um benéfico maior - explicou.

— Qual?

— Eu não sei, não tenho formação necessária para lhe dar essa resposta.

— Bom, então vamos chamar alguém que pode, o médico que fez a prescrição com certeza é alguém indicado.

Elena bateu o pé no chão impaciente.

— Se apenas foi uma administração sem qualquer outra intensão que não para o benefício da paciente, qual a hesitação em nos dizer quem a fez?

Elena revirou os olhos.

— Porque o médico não estava autorizado a cuidar de Anastasia, ele deu um diagnóstico é uma prescrição baseado nas últimas evoluções dela quando eu lhe dei um relatório de que a paciente estava retrocedendo no tratamento.

— Foi o Dr. Grey?

Nao!

— Não - a loira foi rápida em dizer.

— Devo ressaltar também que é proibido dar relatórios de um paciente a quem não está autorizado - Leonel murmurou. - A senhorita cometeu um delito ao falar sobre ela, e outro ao administrar uma prescrição que não foi autorizada pelos responsáveis da paciente. Sugiro que comece a falar um pouco mais se não for a única culpa de tudo.

Elena xingou Leonel de todos os nomes ruins que conhecia em sua língua, mas apenas em pensamento, ainda precisava respeitar o juiz e sabia que não estava bons lençóis ali.

Maldita hora!

Estranhamente ela só queria ter ajudado Anastasia, em parte porque não aguentava mais ter de lidar com a garota surtando e ela tendo de se a única a ficar à espreita e em parte porque sentiu uma pontada de pena. A menina não era daquela forma, as drogas que os médicos do Presídio estavam prescrevendo para Ana estavam a deixando pior do que quando entrou em Priory. E Jack era um dos médicos de Ana de qualquer forma, ele sabia tudo sobre seu tratamento mesmo que a cada minuto declarava não concordar com Christian, ainda assim ele era um psiquiatra licenciado e em teoria devia saber o que fazer. Elena não imaginou que ele fosse dar aquela resposta, aquela prescrição, e também não sabia que a garota poderia ter um choque anafilático quando o próprio Jack garantiu que ela não teria após o organismo dela ter sido tão assaltado de drogas pesadas.

— Jackson Hyde era um dos médicos de Anastasia em Priory, mesmo que o Dr. Grey fosse o principal, ele também cuidava de seu tratamento e o conhece. Ele garantiu que a penicilina era um medicamento que ajudaria, não que a prejudicaria ainda mais. Ela estava tendo uma crise atrás de outra. E ele percebeu que uma das primeiras evoluções dela eram relatadas da mesma forma, era como se fosse há dez anos.

Christian queria dizer que ficou surpreso, mas lá no fundo, ele sabia que Hyde era sim capaz de fazer algo como aquilo. Existia o método, a técnica, Christian a usou algumas vezes com a permissão dos responsáveis do paciente depois de explicar todos os contras e prós que existiam, mas com Ana era diferente, ela nunca precisou daquilo porque ninguem sabia o que tinha de errado com ela para começarem a consertar. Pelo visto Hyde tinha a necessidade em se mostrar, agindo como se Christian tivesse deixado o tratamento de Ana a desejar por causa de seus outros interesses nela.

O Grey poderia vomitar em cima dele... depois de um soco.

Mas acontece que Jackson Hyde não foi posto para depor quando Hardware interrompeu dizendo que aquilo não tinha nada a ver com o caso, que era algo isolado à paciente e seu histórico, e era aquilo que Anastasia era e Christian assediou.

O juiz o repreendeu pela interrupção e lhe deu uma advertência penalisada que iria pesar em seu histórico, mas no fim acabou acatando as palavras de Hardware como corretas e deu início ao interrogatório de Ana, alegando que a garota não poderia aparecer no tribunal naquele julgamento privado.

Christian franziu o cenho e olhou para Leonel em questionamento, mas o mesmo apenas fez um gesto com a mão de que explicaria depois e tudo se iniciou.

A imagem era de Ana sentada com as pernas cruzadas numa cadeira grande e larga o suficiente para ela as dobrar em posição de índio, o cabelo preso em rabo de cavalo e a roupa azul clara do uniforme. Sua pele parecia muito pálida, ainda mais do que da última vez que Christian a viu, há quase três dias, e seus dedos pareciam ainda mais brancos quando ela os entrelaçava e as veias roxas e azuis ficavam amostra; também havia seus olhos, estupidamente azuis que não tinham brilho algum ali, através de uma câmera.

Enquanto Ana falava, ela não ficava quieta, hora se sentava ereta, hora colocava os dois pés no chão, teve um momento que ela até mesmo se sentou de cabeça para baixo, colocando as mãos no chão, fazendo Christian rosnar internamente ao que ficou a mostra seus braços pelas mangas terem descido, e muitas marcas roxas foram vistas, algumas já avermelhadas e amareladas, mas outras tão roxas que ele sentia vontade de vomitar.

Aquele tipo de coisa era normal numa clínica psiquiátrica, a maioria dos enfermeiros seguranças eram grandes e fortes para aquele tipo de coisa. Alguém pode ter um surto tão grande que a força se torna seu maior argumento, e com Ana, Christian sabia que aquela teoria se concretizava em todas as crises.

O problema era que o certo era soltá-la, e não segura-lá.

Por aquele motivo Christian a classificava com diferente: ela era o oposto de todos os outros pacientes.

Foi horrível, e a bile subiu por sua garganta enquanto ele observava e ouvia Ana descrever as cenas de um estupro, tão claramente e ainda mais detalhado do que uma pessoa normal contaria. Com oito anos Ana não sabia o que era o que, ela não sabia dar nomes nem explicar determinadas coisas que uma criança não deveria mesmo saber, mas com dezenove, mesmo longe da sociedade, ela tinha total clareza da situação.

E o brilho de seus olhos que não aparecia na câmera não era por conta da lente, e sim pelas lembranças que hoje ela sabia o que significava e o peso que tinham.

Era como uma espécie de lâmpada, ela explicou quando o psiquiatra questionou suas lembranças tão claras, como se algo tivesse acendido em sua mente quando alguém declarou que iria ouvi-la.

Na verdade, não era porque alguém disse que iria ouvi-la, e sim porque não havia drogas em seu sistema nervoso a impedindo de raciocinar.

— Ela surtou - o psiquiatra que a interrogou há dois dias declarou.

O homem parecia ter uns sessenta e tantos anos, o cabelo grisalho e os olhos profundos de alguém que já viu mais do que o suficiente da vida humana.

Christian sabia que ele era um detetive psiquiatra, ele quem interrogava suspeitos e vítimas com possíveis traumas mentais em alguma unidade policial por Seattle, aquele homem com certeza saberia desvendar a mente e unir as lembranças de Ana à elas, que era o que o Grey estava tentando fazer na última semana que teve com Ana.

— Foi uma crise seguida de outras e outras - o homem declarava. - E ela era apenas uma criança. O primeiro psiquiatra receitou doses muito pesadas de antipsicóticos e anceoliticos, o que a fazia ficar ainda mais agitada e por conseguinte agressiva. Ela dormia por dias, e então permanecia acordada por quase uma semana com lembranças e memórias de cenas terríveis que uma criança de sua idade não entendia, e um adulto correria para o primeiro antidepressivo que encontrasse. Que ser humano se manteria são diante a isso?

Ele balançou a cabeça num gesto de indignação, as mãos entrelaçadas em cima da mesa da cadeira ao lado do júri.

— Eu a examinei, li os relatórios dos últimos meses, a diferença é gritante e eu não entendo como puderam mantê-la num estado tão letárgico por tanto tempo se não melhorava. Como psiquiatra licenciado há trinta e cinco anos, digo com destreza que o Dr. Grey salvou a mente dessa menina não permitindo mais usos de drogas em seu organismo, eu posso dizer com clareza, que Anastasia Steele não representa risco a si mesma e nem a ninguém.

Os pais de Ana se agitaram em suas cadeiras, mas o juiz levantou a mão pedindo silêncio antes que os mesmos fizessem qualquer pergunta, Carla se calando antes mesmo de começar, a mão no peito e a outra segurando com força num dos ombros de Ray.

— Ela sofre de Transtorno Pós Traumático - o psiquiatra declarou. - Ficariam surpresos com o tanto de pessoas que sofrem disso, mas no caso de Anastasia causou um grande distúrbio em consequência da falta de sono, e então ela tinha colapsos. As crises, a violência, nada mais é que colapsos onde ela não sabe o que está acontecendo e tem apenas pessoas ao seu redor tentando segura-lá a força. Tenho certeza que o Dr. Grey já percebeu a diferença. A própria crise se inicia quando alguém a segura, e então desencadeia suas lembranças e ela tem um surto psicótico. Em tantos anos de crise e uso de drogas pesadas demais em seu organismo, não sei qual o veredito para Anastasia voltar a sociedade, ela precisa se assistida por muito mais tempo, primeiro deve ter início de um tratamento com o objetivo de voltá-la para o mundo e não nos permitir que ela continue em seu próprio. Já teve um começo, se tratar o relacionamento mais íntimo com o Dr. Grey com a paciente em questão como um tratamento, pode-se ser declarado algo com bastante sucesso. No momento, ouso dizer, que o Dr. Grey é a única ponte para uma vida de volta a sociedade que Anastasia tem e se permite ter.

— Então, Sr. Clark, declara que meu cliente em momento algum assediou uma incapaz? - Leonel questionou.

— Em base dos meus estudos com a paciente até o momento, tenho o entendimento de algo consensual e até mesmo seguro sobre essa questão - o homem respondeu.

Hardware grunhiu.

— Meretissimo, Anastasia Steele estava presa em clínicas psiquiátricas por dez anos, e um relatório e diagnóstico raso de dois dias é o que vai ser levado em consideração? - o advogado vociferou.

O juiz levantou uma das sobrancelhas pela ousadia do homem.

— Raso? Desculpe, senhor...?

— Dr. Hardware - o advogado apresentou, ajeitando a gravata numa mania.

Clark bufou baixinho.

— Com um doutorado se torna doutor - ele alfinetou, e não apenas uma pós graduação.

O psiquiatra sabia bem quem era o advogado em questão, tendo nos últimos dois dias Leonel e Hardware em sua cola enquanto interrogava Ana e então enquanto fazia um relatório diagnóstico. Não havia gostado do homem, lhe fazendo perguntas invasivas e muitas vezes ao menos levando em consideração os avanços de Ana, apenas se concentrando nas falhas e explorando aquilo.

— De qualquer forma, Hardware, um peso de quarenta anos de trabalho e pesquisas mentais me dá a habilidade de diagnosticar um paciente em trinta minutos sem ele ao menos falar. Um dia inteiro com Anastasia falando e respondendo minhas perguntas, tendo a com seu comportamento bem a minha frente, e mais relatórios, sim dos últimos dez anos? Eu tenho mais do que apenas um diagnóstico raso para apresentar sobre a paciente.

O juiz bateu o martelo uma vez, chamando a atenção.

— Testemunho aceito e é a par do júri decidir o veredito - ele declarou. - Senhor Hardware, mais uma interrupção e eu irei garantir que não entre num tribunal pelos próximos cinco anos para defender alguém - avisou.

O advogado engoliu em seco, voltando a se sentar.

— Recesso de vinte minutos e em seguida teremos o verifico final do júri.

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