Após a última Guerra Santa e a batalha contra Loki em Asgard, lá estavam os cavaleiros de ouro, todos de volta à vida e um pouco perdidos sobre o que fazer com o restante dela.

Não havia por que se preocupar, Atena iria intervir mais uma vez sobre seus queridos cavaleiros com toda certeza.

Saori Kido, herdeira da grande fundação Graad, munida de toda a sua influência, estava trazendo novos tempos para o santuário. A deusa agora havia instituído uma escola para que os novos aspirantes, além de treinarem, conseguissem estudar e fossem assistidos de perto. Dessa forma, agora era possível dar todo o suporte para aquelas crianças que já não tinham lá uma vida tão fácil.

Guiada por sua experiência em administração, Saori criou um conselho para gerir o Santuário. Para o papel de Grande Mestre, nomeou Dohko, por sua vasta sabedoria, e ao lado dele os conselheiros Shaka, por sua clareza e seriedade, Aiolos, pela lealdade e bondade, e Mu, por sua capacidade de ter uma visão ampla sobre todos os problemas. Não esquecendo de seus cavaleiros, a grande senhorita Kido havia instituído também um ótimo salário a todos eles.

Não que a deusa não tivesse chamado Saga para esta missão, na verdade ela insistiu muito para que participasse mas ele se recusou fortemente, com isso Saori se deu por vencida e o cavaleiro de Gêmeos ficou responsável pela grande biblioteca junto com Kanon, que agora realmente arrependido, estava tentando retomar os laços com o irmão.

Nem sempre era fácil mas Saga amava estar responsável pela biblioteca e Kanon não se importava com o trabalho de carregar os livros e os realocar quando necessário. Às vezes arrumava uma confusão ou outra mas quem nunca fez uma besteira no serviço? Ainda bem que o ex marina havia feito novas amizades e sempre que ficava de saco cheio dos livros sabia que podia beber e desabafar alguns palavrões junto de Máscara da Morte, Afrodite e Shura.

Camus tinha avivado sua paixão pela pintura, chegou à conclusão que já tinha tido muitos pupilos e lutado todas as batalhas, por isso quis ajudar os novos aspirantes ministrando aulas de arte, inclusive voluntárias dentro da fundação. Por incrível que pareça, as crianças o adoravam e o sentimento era recíproco.

Aiolia e Marin haviam se casado e decidiram ajudar no treinamento dos novos aspirantes a cavaleiro, era revigorante estar entre tantos rostos e energias novas.

Aldebaran queria ocupar a cabeça com alguma coisa produtiva e mais física, por isso também decidiu treinar novos cavaleiros.

Shina também decidiu ajudar aqueles jovens mas por um motivo menos nobre, ela trabalhava horas a fio seja com papelada ou com o treinamento dos alunos na tentativa de fugir ao máximo dos próprios sentimentos já que não suportava ver Seiya e Saori juntos, felizes, de mãos dadas como aqueles casais do comercial de margarina.

O Cavaleiro de Touro, apesar de forte e intimidador, sempre foi gentil e sentia o coração se partir em pedaços quando via aquela mulher triste vagando sem rumo pelo santuário. Precisava fazer alguma coisa e realmente fez, ficava o tempo inteiro tentando animar a amazona seja conversando, contando alguma piada, a chamando para comer algo nas feiras de Rodorio e era tão insistente que às vezes acabava por ter a ira daqueles olhos verdes direcionada para ele junto com alguns palavrões mas particularmente não ligava. O cavaleiro só importava em alegrar aquela mulher a todo custo e não sabia bem o porquê mas descobriu no final, era amor. Novamente foi tão persistente que conseguiu conquistar aquela mulher que mais parecia um furacão e tinha até a convencido a se casar com ele, o que não foi uma tarefa exatamente fácil.

Quando assumiram aquela relação um tanto quanto diferente, as pessoas até questionavam como Aldebaran poderia estar sempre tão contente ao lado da amazona mas ninguém ousava falar em voz alta, não por medo do Cavaleiro de Touro mas sim por medo de atrair a ira de Ofiúco.

Milo também se prontificou a ajudar os novos aspirantes mas sua queda por rabos de saia não mudou nem um pouco e o fato de ter sempre seu fã clube particular o cercando só aumentava esse ponto peculiar da sua personalidade.

Afrodite agora cuidava de todas as plantas do santuário e fazia isso muito bem já que para onde olhasse havia flores belíssimas e árvores com frutos mais bonitos ainda. Eventualmente, para ajudar com os novos aspirantes, ele ministrava uma aula ou outra sobre venenos e botânica.

Por incrível que pareça, Máscara da morte havia cansado de lutar também e decidiu que ensinaria aos aspirantes sobre a psique e o cosmo já que ele era melhor do que ninguém para falar sobre as almas e seus fins. Dizia-se nos corredores que quando alguém conversava na aula dele, ao invés de jogar algum giz, ele mandava as próprias almas buscarem o tagarela.

Shiryu havia se casado com sua doce Shunrei, assim como Seiya acabara de se casar com Saori e agora os casais eram bons e alegres vizinhos.

Shun, que também havia se tornado vizinho dos irmãos de armas e estava estudando para se formar médico, havia trazido June para morar com ele, estavam juntos e felizes sempre procurando ajudar cada vez mais dentro do santuário.

Ikki decidiu que queria viajar o mundo como a ave solitária que era, porém ainda atendia com alegria as chamadas diária do seu irmão, nas quais riam e conversavam por horas.

Hyoga por outro lado descobriu que era um ótimo artista, sua aparência nórdica também ajudava, e agora fazia filmes pelo mundo todo.

A maioria deles agora morava em Rodorio mesmo, alguns mais longe e outros mais perto, mas sempre estavam juntos para enfrentar as pedras que esta nova vida trazia de vez em quando.

Mas e Shura?

Shura decidiu ensinar História: dos deuses, das estrelas, do mundo, do Santuário.

Tudo.

Apesar de todos os cavaleiros terem sido perdoados, foi especialmente difícil para Saga e Shura. O cavaleiro de Gêmeos havia conseguido se perdoar e principalmente ser perdoado por Aiolos e Atena, mas o capricorniano não conseguiu se perdoar por não ter contestado nem por um segundo sequer toda aquela história de Grande Mestre. Por conta disso, a sangue frio, matou Aiolos e quase matou Atena também. Justamente por isso havia decidido lecionar história. Por mais que não quisesse reviver o passado, ele queria contar sobre tudo isto para que ninguém cometesse os mesmos erros.

Assim a vida seguiu seu rumo, dia após dia, aula após aula, treino após treino.

Shura havia terminado sua última aula, já tinha saído da escola e agora estava parado nas escadas enquanto respirava um pouco de ar puro aproveitando o pôr do sol antes de ir para a casa. Não imaginava que aquele início de noite em plena sexta-feira seria tão conturbado, mas começou a desconfiar quando ouviu uma voz forte o chamando, se arrependeu quando olhou para trás e descobriu que era Aiolos descendo as escadas e vindo em sua direção.

— Shura! Hei, Shura!— Este era Aiolos, sempre alegre e já sem sua roupa “de trabalho”

— Ha...Oi Aiolos, e aíi?— Shura mal conseguia olhá-lo nos olhos, queria desesperadamente sair dali.

— Hoje o Dohko falou que teria uma feira bem divertida em Rodorio, com bastante comida e música, a maioria do pessoal  já confirmou, você não quer ir com a gente?

— Não, eu estou bem ocupado hoje, fica para a próxima, mas obrigada pelo convite. — Shura se afastava enquanto terminava a frase e quando se percebeu já estava descendo as escadas rapidamente.

— Mas...você nunca vem…— Agora Aiolos falava com o nada e acompanhava o amigo com os olhos. Por algum motivo, sentia-se triste e frustrado sempre que Shura o evitava assim, o que era a maior parte do tempo.

Já era noite agora e Shura não havia mentido, realmente estava ocupado com seus três amigos como em todas as noites de sexta-feira, quando se encontravam para beber, jogar cartas e conversar.

— Kanon, se eu levantar daqui e descobrir que você está escondendo alguma carta eu te mato!

— Você é um mau perdedor, isto sim!

Estes eram Máscara da Morte irritado e Kanon rindo largamente enquanto discutiam sobre sua jogatina de poker acompanhada de muita bebida. Enquanto eles disputavam na pequena mesa que havia nos fundos da casa do cavaleiro de capricórnio, deitado na espreguiçadeira confortável que tinha ali, Afrodite aproveitava a brisa da noite e o jardim com algum drink chique que havia feito para si na cozinha. Amava um bom drink e jogar conversa fora.

Shura também aproveitava a noite na espreguiçadeira ao lado de peixes. Não era um fã de carteado, às vezes até jogava, mas se divertia mesmo vendo os dois amigos. Era engraçado ver como uma partida de poker podia terminar em MMA, e tudo isto sem perder a amizade.

— Eu vou pegar mais. Você quer alguma coisa da cozinha?— Enquanto balançava levemente o copo, que agora só havia gelo agora, Shura direcionava a pergunta ao amigo do seu lado.

— Água. Sinceramente, este drink estava delicioso mas acho que vai ser o último da noite.— De todos naquele jardim, Afrodite era o mais sensato quando se tratava de beber, pois não gostava da ideia de ficar sendo carregado, de ficar vomitando e da ressaca. Não que às vezes isso não acontecesse, mas ele preferia evitar.

Shura não percebeu mas Afrodite estava o observando bastante e havia notado algo, ele estava bebendo muito. Pelos cálculos de peixe, já deveria ter tomado mais da metade da garrafa de whisky enquanto os outros estavam na sua segunda ou terceira lata de cerveja, isso o preocupava seriamente.

Shura se levantou sem dar uma resposta e foi até sua cozinha pegar mais do seu whisky e a água para seu amigo. Afrodite foi atrás dele, silencioso como um gato, tanto que Shura se assustou quando ouviu a sua voz vindo da porta.

— Aconteceu alguma coisa? Você quer conversar?— Afrodite agora estava encostado no batente da porta olhando realmente preocupado para o amigo.

— Não aconteceu nada, eu to bem.— Shura por outro lado falava tudo sem olhar para Afrodite enquanto guardava o whisky.

— Shura, nos conhecemos desde sempre, eu sei que tem alguma coisa errada. Você já tomou mais da metade da garrafa.

— Eu já falei que não tem nada. A semana foi dificil, ok?

— Você encontrou com ele, não é?

Shura não respondeu. Ainda não conseguia olhar nos olhos de Afrodite, mas só se deu conta que ele estava perto quando colocou suas duas mãos sobre seus ombros e agora não tinha como desviar daqueles olhos azuis por mais que quisesse.

— Shura, eu te amo, você é meu melhor amigo junto com o Máscara da Morte e o idiota do Kanon. Eu falo isso pro o seu próprio bem, você precisa parar ! Esquece isso, por favor! Nós fomos perdoados, todos nós, você não precisa disso.

— Não foi você quem matou ele, não foi você que quase matou Atena!— Shura tirou bruscamente as mãos do amigo que estavam em seus ombros. Estava irritado e cansado daquela conversa.

— Não interessa, Shura. O próprio Aiolos já falou que perdoou você e o Saga! Atena perdoou vocês! Por que você não consegue se perdoar?

— Quer saber? Se não posso beber em paz na minha casa, eu vou para outro lugar.

Shura saiu pisando fundo, tirando Afrodite do seu caminho, estava voltando para o jardim para pegar sua carteira e ir para sabe- se lá aonde.

— Eu sabia que você estava escondendo as cartas, seu merda! Você sempre faz isto! Volta aqui!— Máscara da Morte agora estava furioso correndo atrás de Kanon pelo jardim.

— Só é trapaça se o outro jogador descobrir!

— É claro que eu ia descobrir, seu filha da...

Máscara da Morte queria matar aquele ladrãozinho do Kanon por ele não conseguir jogar uma partida limpa sequer. Na verdade ele nem sabia por que ainda jogava com aquele idiota, já que no final era sempre o mesmo desfecho: Kanon escondia as cartas, ele descobria, ele tentava matar o ex marina e logo estavam bebendo juntos de novo mas não desta vez.

Máscara da Morte nem conseguiu terminar a frase e até Kanon tinha parado de correr quando viram Shura entrar furioso no jardim, pegar a sua carteira e sair seguido pelo cavaleiro de peixes.

Afrodite não tinha desistido do amigo ainda e o seguiu até a porta do sobrado para tentar convencê-lo .

— Você não pode fugir disso para sempre, Shura! Sabe disso!

Shura nem respondeu, saiu de sua casa a passos largos. Não era segredo para onde ele ia, sempre fugia para o mesmo lugar.

Continua...