Black Roses escrita por Yumiko


Capítulo 8
Le Rosey




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           A chuva fina caía do cinzento céu quando pousamos em terra firme, transformando a paisagem em um mero vislumbre. Cruzei os braços, tentando compensar a blusa de mangas inapropriadamente fina que eu escolhera para a viagem. 

 

As quatro semanas de férias passaram tão depressa que, quando eu me dera conta, já estávamos no avião, rumo ao Le Rosey, um internato novo na Suíça em que, segundo Edgar, "poderíamos nos misturar mais". Prova disso é que pela primeira vez nenhum carro viera nos buscar -  iríamos com os outros alunos no transporte que nos esperava no aeroporto.

 

Eu sabia que a sensação de férias reduzidas se devia à minha briga com Peter.

 

Durante as quatro semanas eu me recusei a botar os pés no jardim, como um protesto que ele respeitou, também não indo me procurar até meu último dia na mansão, quando, finalmente, ouvi as três gentis batidinhas na porta, o que fez com que eu me aproximasse.

 

Tinha medo da despedida que ele me alertara e minha falta de coragem fez com que eu mantivesse a porta fechada, com a vã esperança que ele não iria embora se não me dissesse adeus - que desculpa ridícula.

 

Meu coração era dilacerado enquanto, do outro lado da porta, a pessoa que o possuía por completo esperava, paciente. Ele pareceu notar que a única distância entre nós era madeira resistente, nem por isso tentou algum diálogo.

 

Peter sabia que nossa conexão não precisava se dar por palavras.

 

Exceto no fim, quando o ouvi sussurrar "Como você desejar" contra a porta, pouco antes de partir.

 

— Elizabeth, nós realmente precisamos chegar hoje - Edgar me tirou  de meu devaneio, já a muitos passos de distância - Será que pode andar na velocidade de um ser humano normal?

 

Apressei-me, tremendo ao sentir o vento frio vir contra meu corpo com mais força até que, enfim, alcancei o longo veículo que nos levaria ao internato.

 

A temperatura elevou-se quando entrei no ônibus, muito provavelmente devido ao intenso calor humano de seu interior praticamente lotado.

 

Um estreito corredor separava as poltronas agrupadas em pares, quase todas ocupadas. A essa altura, Edgar já se separara de mim e seguia a velha rotina de fingir que não nos conhecíamos.

 

O garoto parecia encontrar muito menos problemas do que eu, já que, no segundo passo que deu dentro do ônibus, um garoto de cabelos cacheados oferecera a própria poltrona, do lado da janela.

 

"Efeito deslumbramento", pensei.

 

De fato, foi o prazo de Edgar sentar para que os ocupantes das poltronas vizinhas se virassem para ele, maravilhados. Uma menina ruiva o encarava, ansiosa para dizer algo, mas estava tão tímida que as bochechas assumiram um tom muito próximo ao dos cabelos.

 

Desviei a atenção da cena patética e segui pelo corredor, em busca de outro assento.

 

Já estava quase na última fileira quando achei um lugar vago.

 

Na poltrona ao lado, estava sentava uma garota muito bonita de cabelos negros, quase azuis, presos em uma fita. Os olhos cor de âmbar estavam tão grudados no panfleto sobre a escola que me senti culpada de ter que interrompê-la.

 

— Com licença. Posso me sentar aqui?

 

O rosto delicado se ergueu, rapidamente, para me fitar, ligeiramente surpreso com a interrupção inesperada.

 

— Claro! - Ela puxou suas coisas pra mais próximo de si, a fim de que eu ficasse mais confortável. - Meu nome é Larissa Albuquerque. Prazer! Você é nova no Le Rosey, não é?

 

— Sou, sim. Meu nome é Elizabeth Black...

 

— Ah, claro! - Ela exclamou, com os olhos brilhando. - Eu lembro desse nome. É como se eu já te conhecesse...

 

Ahn? Como? Amigos em comum? Sem chance. Mídias? Nem pensar.

 

Só havia uma pessoa que eu conhecia que falaria de mim para as outras pessoas, que me via como alguém especial...

 

Meu coração começou acelerar, aguardando pela resposta da garota. Será que...? Não, não poderia...

 

— Você é minha nova colega de quarto! - Um largo sorriso formou- se no rosto pálido de Larissa, que parecia triunfante com sua descoberta. - Usei essas últimas férias pra pesquisar tudo sobre você e...? Adivinha! Não encontrei nada. Você não é muito adepta a redes sociais, né? Se bem que procurei em um site do governo com registro do nascimento das pessoas e...? Isso mesmo, nenhum sinal de Elizabeth Black. Aí na última semana concluí que o melhor mesmo seria esperar...

 

Os olhos de Larissa ficaram esbugalhados enquanto ela contava a esquisitíssima história de perseguição, tornando tudo ainda mais assustador. Minhas emoções se dividiam entre um certo medo da garota pouco convencional, a decepção - mesmo que as chances de ela conhecer Peter fossem tão remotas, eu ainda tinha tido alguma esperança - e surpresa.

 

Já havia muito tempo que eu não dividia o dormitório dos internatos com ninguém. Se Erick abrira mais essa brecha, significava que algo tinha acontecido. Mas o quê?

 

— Tá tudo bem? Você está com um olhar estranho...

 

"Olha quem fala", pensei.

 

— Ah, sim! Só estou me perguntando como deve ser a escola...- menti.

 

Larissa me explicava sobre as matérias que teríamos esse ano quando o suntuoso prédio virara a paisagem das janelas.

 

Descíamos do ônibus aos pares e seguimos por um extenso corredor, que deveria levar ao salão principal. Já tínhamos andado bastante quando precisei falar novamente com minha nova colega de quarto.

 

— Me parece que estamos andando há tanto tempo, Larissa. Estamos mesmo indo para...  Larissa?

 

Olhei para os lados, ainda caminhando devido ao efeito manada que havia sido gerado. Haviam pessoas em todos os cantos, mas nem sinal da pequena criatura do ônibus. Andava distraidamente quando...

 

PLOFT!

 

Me choquei tão forte com a pessoa da frente que cambaleei pra trás, massageando a testa, dolorida pela batida.

 

— Ei, tonta.

 

De primeira não pensei que fosse comigo, mas a proximidade da voz rouca me indicou que só poderia ter vindo do garoto em quem eu havia esbarrado.

 

Ergui os olhos para o garoto de cabelos escuros, que agora estava de frente pra mim. Ele era tão bonito quanto meu irmão, apesar das características diferentes: o rosto perfeitamente quadrado era como uma tela para os grandes olhos acinzentados, que me encaravam com raiva. Os lábios perfeitos franziam- se com impaciência, acentuando suas maçãs do rosto.

 

— Perdão? - Perguntei, meio indignada, meio confusa.

 

— Será que não pode olhar por onde anda!? - vociferou, aproximando-se - Ou é tão limitada que não consegue fazer as duas coisas ao mesmo tempo?

 

— Ei! idiota.

 

Meu irmão havia se colocado entre nós dois, acertando-lhe um soco.

 

O garoto não aceitou calado. Quando vi, os dois estavam no chão, brigando. A multidão que se aglomerara para passar pelo corredor agora formava um círculo nele, para assistir o espetáculo.

 

Do outro lado do ringue improvisado, dois homens franzinos, provavelmente professores, se espremiam entre os alunos para apartar o conflito. 

 

Eles deviam ter entendido a impossibilidade de separar os alunos, ambos bem mais fortes do que eles, por isso decidiram apelar para o bom senso dos garotos, gritando em meio ao zumbido de vozes de alunos.

 

— DETENÇÃO, SR. HUNTER! SR. BLACK, DEVEM IR IMEDIATAMENTE À DIRETORIA!

 

Eu já estava bastante assustada com a repercussão de meu acidente. Tentei ir em direção aos dois, com o objetivo de chamar Edgar à razão quando senti uma mão segurar meu pulso, arrastando-me para longe dali.

 

— Vamos, novata. - chamou a garota de cabelos cor de rosa. - Melhor evitar mais confusões por hoje, ou vai por esse prédio abaixo em seu primeiro dia... Por aqui!

 


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Notas finais do capítulo

O que acharam?? A história vai tomar um rumo um pouco diferente nos próximos capítulos. Espero que gostem!



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