Foi aos 20 anos de idade que Hinata ouviu falar sobre assexualidade. Mesmo sabendo muito pouco, a simples existência da palavra recém-descoberta que explicava sua falta total de interesse na prática sexual a deixou feliz. A sociedade hiper sexualizada fez ela se sentir uma alienígena por muito tempo, então saber que mais pessoas eram como ela tirou um peso de suas costas.

Estava tudo bem até que aquilo aconteceu. Sakura Haruno aconteceu.

Para Hinata, foi inevitável se apaixonar pela nova vizinha de porta com quem se deu bem logo de cara. À medida que iam se aproximando, reparou que às vezes sentia um nervosismo estranho na presença de Sakura. De início pensou ser parte da paixonite, mas logo viu que não era bem isso. Notou que estava reparando em partes do corpo dela que nunca lhe chamaram a atenção em ninguém antes e as coisas foram ficando mais estranhas com o passar do tempo. A gota d’água foi quando a vizinha chamou para ajudar na montagem de um móvel novo. A visão da amiga suada, com os cabelos despenteados parecia... Quente. Quando Sakura ajeitou os shorts de academia que usava, usando os indicadores para afastar a lycra de sua pele, Hinata percebeu que não podia mais ignorar que estava sentindo algum tipo de atração sexual.

Aquilo gerou dúvidas: Sua identidade era uma mentira? Nunca um estímulo visual ou físico desengatilhou aquilo que ela estava sentindo por Sakura, então por que agora? Por que logo com sua primeira melhor amiga?

— Hina? – Sakura notou a expressão conturbada da morena.

Hinata não sabia se devia contar sua recente descoberta, mas não havia ninguém em quem confiasse tanto quanto a rosada, por isso resolveu arriscar:

— Lembra quando te disse que sou assexual porque nunca na vida senti atração sexual ou vontade de transar? Bom... Acho que sou uma fraude. Eu tenho sentindo... Tesão. – ela sussurrou a palavra.

— E daí, amiga? Nunca ouviu falar da zona cinza? – Sakura perguntou.

— Ahn... Não.

— Uau. Ok, prefiro que não seja eu explicando tudo porque não estou dentro do espectro, então dorme aqui em casa hoje. Tem muito vídeo e texto na internet pra lermos juntas.

Naquela noite, Hinata descobriu e aprendeu sobre mais formas de sentir atração sexual do que poderia contar nos dedos.

— Então, é isso. Acha que alguma dessas definições te abraça?

— Demissexual, acho. Porque eu me tornei bem próxima da pessoa antes de começar a sentir qualquer coisa.

— Bom, não se preocupe muito com isso agora. Só saiba que você não é uma impostora. Você sente o que sente e acabou. Ninguém pode tirar a validade disso. – informou. Sakura sorriu e esfregou seu ombro no da amiga – Agora que está mais calma, vai me dizer quem te fez sentir assim?

— Talvez um dia... – a outra tentou desconversar, mas a rosada fez biquinho.

— Que absurdo! Eu te ajudei a beça hoje. Eu mereço! – exigiu brincando enquanto apertava o corpo de Hinata, que não aguentou a pressão e acabou sofrendo um pequeno sangramento nasal.

Aquela seria uma longa noite...