O BISTURI DESLIZOU pelo abdômen da uma garotinha desacordada, cortando-o com precisão. Atrás de uma máscara cirúrgica, Uchiha Sasuke explicou aos seus pupilos como removeria a hérnia umbilical, armando-se de termos e jargões médicos que nenhum leigo seria capaz de entender. Sakura disfarçava a dor de cabeça assentindo freneticamente e Hinata tinha os olhos pregados no sangue vermelho da criança, prestando atenção em cada detalhe.

Naruto escondia-se atrás do anestesista, agradecendo por Sasuke evitá-lo, pois naquele momento as palavras do pediatra soavam como grego aos seus ouvidos. Sua mente vagava para a festa da noite anterior e desenhava em seus pensamentos as recentes descobertas e as tatuagens delicadas do chefe.

— O Uchiha tem uma concentração implacável — Uma enfermeira sussurrou admirada — Nós trabalharmos juntos no ano-novo e ele sequer piscou quando os fogos foram aos céus.

Ela continuou a discorrer sobre o quão talentoso e profissional ele era, mas Naruto não prestava mais atenção. Nesse ponto as memórias explodiam em sua mente. Os apagões de seu cérebro de repente ganharam um contexto e ele viu-se perplexo ao descobrir que a cama quentinha pertencia ao médico em sua frente. Eram os seus dedos que acariciavam as costas largas do Uzumaki, enquanto este preocupava-se em não cuspir os órgãos dentro de um balde.

Sasuke o acalmava com uma doçura que nunca havia apresentado antes. Um copo de água estava em suas mãos e ele sorria com empatia, afirmando que o residente enfrentaria uma desagradável ressaca no dia seguinte. Naruto não tinha forças para entender o que acontecia com seu corpo, de modo que apenas focou sua atenção nos girassóis. Seu olhar correu pelos quadros do quarto, encontrando a fotografia do caçula dos Uchihas no fim de sua infância, sorrindo debaixo de fogos-de-artificio e trajando uma camiseta preta do Sonic, a qual destacava-se nas roupas brancas de sua família naquele ano-novo.

O médico o levou para casa, inventando uma desculpa qualquer para o estado do pupilo diante do olhar desconfiado de Kushina. Foi ele que carinhosamente arrastou o Uzumaki para o quarto, deitando-o em sua cama, puxando as cobertas quentinhas e ficando ao seu lado até que dormisse, cantarolando desajeitado a canção tema de um jogo antigo.

Conforme o residente seguia o médico para a ala de observação, percebeu que o pirulito que ele depositou na mesinha ao lado da maca era da mesma marca daquele que estava em cima do seu bilhete. Sasuke dispensou os residentes e as enfermeiras fizeram seu trabalho, partindo rapidamente.

Naruto continuou em seu lugar.

— Nós precisamos conversar. — Disparou sem rodeios.

Sasuke suspirou e as bochechas ruborizaram.

Ele se aproximou do Uzumaki o suficiente para sentir a respiração em seu rosto e ali ergueu um braço, depositando um pequeno bilhete no jaleco do residente.

— Me espere depois do plantão. — Avisou, caminhando para fora dali.

O loiro rapidamente pescou o bilhetinho, topando com uma mensagem em números estranhos:

“01000101 01110011 01110100 01101111 01110101 00100000 01100111 01101111 01110011 01110100 01100001 01101110 01100100 01101111 00100000 01100100 01100101 00100000 01110110 01101111 01100011 11101010 00101110.”