Antares escrita por Tahii, éphémère


Capítulo 4
Não podemos controlar algumas coisas


Notas iniciais do capítulo

[Tahii] OIEEEEEEEE! Tudo bem com vocês, pessoal? ♥

Quero agradecer a todos os comentários cheios de teorias, gritos e surtos. Fiquei muito feliz lendo, respondendo e só tenho a agradecer. Achei o máximo vocês shipparem o Alvo com a Megan [kkkkkkkkkkkkkk], foi o auge! E estarem tão convictos de que a Rose era uma única, aiai...

Meu aviso para vocês é: estamos lidando, aqui, com o fogo da paixããããão! Não vamos esperar coisas muuuuuito racionais da parte deles. Taokei? hehehe ♥

Agora, quero agradecer a Miss A pela recomendação maravilhosa ♥ E aproveitar para agradecê-la também por ter me chamado para participar desse projeto lindo, por me dar tanto apoio e atenção. Gosto muito de você, libriana, e não é pouco! Por isso, te dedico esse capítulo ♥ [alô, Megan!]

Boa leitura para vocês ♥

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O professor Baldrick estava encostado em sua mesa, as mãos apoiadas na beirada do tampo enquanto fitava o curioso silêncio de seus alunos. Todos eretos nas cadeiras, tinham olhos vidrados — embora ligeiramente perdidos —, prestaram atenção na aula, não fizeram perguntas, comentários, nem observações; dava para ouvir o canto dos passarinhos vindo do lado de fora da janela, o zumbido do vento entrando pela porta, o seu próprio suspirar cansado. Era o fim do período, fim da semana, todos sempre estavam imersos num misto curioso de agitação e exaustão. Por que estavam tão quietos? 

Ao ver que nem mesmo o petulante Potter tinha algum comentário a fazer, pigarreou. 

— Antes de falarmos sobre os relatórios de Romeu e Julieta, gostaria de saber se vocês tem alguma coisa para me perguntar, ou... — ele arqueou as sobrancelhas quando a maioria dos alunos ergueu a mão. Estranho. — Certo. Hm, vamos aproveitar o desejo do senhor Zabini de participar da aula. Por favor. 

— Professor, eu estava pensando… Numa hipótese, sabe? Hm… Digamos que alguém tenha tido uma conexão… O que essa pessoa vai sentir, mais ou menos? 

— Em termos de sintomas — o professor fez aspas com os dedos —, provavelmente sensações semelhantes de quando vemos a pessoa pela qual estamos apaixonadas. Depende. 

— Depende do quê?

— Dos envolvidos, senhor Zabini. Alguns sentem as famosas borboletas no estômago, outros congelam no lugar, sorriem, depende — deu de ombros, sentindo que não sanou a dúvida do rapaz. — A nossa única certeza é que essas sensações, muito variáveis, são potencializadas. Então talvez você já tenha visto sua alma gêmea algumas vezes, mas em nenhuma delas sentiu como se estivesse perdidamente apaixonado. 

— Professor! — Alvo ergueu a mão, animado. Baldrick assentiu, observando Scorpius Malfoy levar a mão ao rosto avermelhado. — Além dessas sensações, a prova da conexão é as marcas brilharem, certo?

— Certo, mas elas podem brilhar em todas as outras conexões entre as duas almas pelo resto da vida, não apenas na primeira. 

Os dois sonserinos assentiram, aparentemente satisfeitos, e evitaram de olhar para Scorpius durante um tempo para não dar na cara; o próprio Malfoy parecia querer desaparecer dali, seu rosto vermelho de vergonha era um bom sinal. Outros alunos ergueram as mãos, curiosos sobre a lenda que levava todos a um lento delírio adolescente. 

Scorpius fazia um esforço para sentir-se normal. Quer dizer, era humanamente impossível, mas ele estava tentando. Não tinha pregado o olho à noite, parecia ter ingerido amortentia, entrado numa sauna ou água fervente, a boca ficou seca a noite inteira, a mente girando em torno da única coisa que se mostrava fixa no meio daquele turbilhão: os olhos verdes marejados de Rose Weasley lhe encarando enquanto entrava em combustão. 

Ele só estava esperando Adam terminar de falar com Aurora Sinistra, não tão impaciente quanto o Potter que resmungava ao seu lado, mas querendo muito ir dormir; sentia-se cansado. Só que de uma forma estranha, quando Dominique e Rose interromperam o rapaz, um certo formigamento começou a lhe incomodar no local da marca enquanto ele ouvia a pergunta da Weasley. Scorpius não era o melhor em Astronomia, mas sabia algumas coisas de cor devido às histórias sobre estrelas que Narcisa contava desde que era um bebê, todas relacionadas à astros, constelações e galáxias, algumas delas tomando a forma de parentes, como Andrômeda, Orion e Régulo. O seu atual gatinho, que havia deixado sobre os cuidados da mãe na mansão, se chamava Castor — nome de uma estrela da constelação de gêmeos, que por um acaso era seu signo; e lembrava-se de ter dado o nome de Antares a uma tartaruga que Draco lhe deu aos cinco anos de idade. 

— É a estrela mais brilhante da constelação de escorpião — respondeu automaticamente, vendo que a professora levaria um pouco de tempo para recordar. Pareceu uma coisa tão comum, exceto pelo fervor crescente em seu corpo. Quando Rose virou o rosto atordoado em sua direção, ele teve certeza de que algo estranho acontecia. 

Mesmo revisando mentalmente durante toda a madrugada, ele não sabia se o tempo havia parado naquele instante, se estava enfeitiçado ou simplesmente tendo todo seu ser rendido a um fogo que incendiava seu coração de uma forma a lhe tirar o ar. Conseguia ouvir a voz do professor Baldrick em sua mente, recitando um poema trouxa que parecia fazer mais sentido naquele momento do que nunca antes: amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer

Ele perdeu a noção de tudo, focando apenas e exclusivamente nos olhos verdes de Rose, até sentir um vento em seu rosto, forçando-o a respirar profundamente e sair daquele transe. Ao soltar a respiração, fechou os olhos com força e, ao abri-los, todos estavam imersos num profundo silêncio. Engoliu a seco, ponderando se deveria dizer algo, embora convicto de ter perdido a voz. Por isso deu meia volta, segurando o antebraço esquerdo com força, esperando seu corpo parar de trepidar pela súbita sensação de ter ido direto para um freezer mesmo sentindo o suor escorrer pelas costas. 

Quanto mais se distanciava da Torre de Astronomia, mais sentia desejo de voltar; por isso começou a correr desesperadamente até as masmorras, na vã esperança de estar seguro do vendaval que parecia querer lhe pegar. Alvo e Zabini não conseguiram lhe alcançar, chegaram quando Scorpius tirava a roupa no dormitório como se ela estivesse pegando fogo. Ele se enfiou debaixo do chuveiro, crente de sua pele estar grudenta pelo excessivo suor. Ao voltar para o quarto, seus amigos estavam boquiabertos, parecendo que tinham visto o próprio Voldemort naqueles minutos sem fim. 

— Cara — Alvo foi o primeiro a se pronunciar, levando as mãos à boca —, o que foi aquilo? — o Malfoy negou com a cabeça, sem fala. 

— Foi uma conexão — o moreno se levantou da cama, começando a ter seu rosto iluminado por uma certa esperança. — Você teve a sua conexão, Scorpius! Porra, que loucura. 

Scorpius não tinha forças para duvidar, tampouco para acreditar; não estava apto para compreender tudo de uma vez só. Por isso deitou, na vã expectativa de dormir, e foi ligeiramente trágico não conseguir sequer fechar os olhos ou esquecer todo aquele turbilhão que seu coração tinha enfrentado. Na sexta-feira fez o impossível para não cruzar com Rose Weasley, mas não conseguiu evitar a última aula do período, em que sentia seu coração quase sair pela boca quando pensava se ela poderia estar se sentindo daquela forma. Encolher-se em seu lugar, principalmente após a suposição indiscreta de Adam, pareceu uma boa opção. Porém, precisava fazer uma pergunta que atormentava sua pobre mente. 

— Professor — a voz de ambos rompeu o silêncio que imperava simultaneamente, após duas perguntas de outros alunos. Péssima ideia, ele pensou consigo, inevitavelmente olhando para ela. 

— Pode perguntar, Scorpius — Rose disse, fitando o professor Baldrick com um sorriso amarelo. Pelo o que ele conhecia dela, deveria estar nervosa também. 

— Senhor Malfoy — o professor assentiu com uma aura esquisita. Quer dizer, o que não estava sendo esquisito naquele dia?

— Fazendo o meu relatório e, também, por causa dessa lenda das marcas, eu gostaria de saber o que é, exatamente, destino. 

— O destino é geralmente entendido como uma sucessão inevitável de acontecimentos relacionada a uma possível ordem cósmica. Sendo assim, o destino conduz a nossa vida de acordo com uma ordem natural, segundo a qual nada do que existe pode escapar. 

— Então qual seria o papel das marcas nisso tudo? Além de nos enlouquecer, claro — Baldrick riu com a típica impaciência de Alvo. 

— O que todos nós temos que entender é que elas nos fornecem uma pista sobre a nossa alma gêmea, não uma garantia de que o nosso destino é encontrá-la. Isso pode ou não acontecer, depende do destino de cada um, dessa sucessão inevitável de acontecimentos. Isso está claro para vocês? — a maioria assentiu. — Certo. Senhorita Weasley, por favor. 

— Supondo que aconteça uma conexão, o que as pessoas devem fazer depois? — Scorpius pensou que desmaiaria quando ouviu a voz vacilante de Rose; ela era péssima tentando esconder coisas. 

— Ah, senhorita Weasley — o sorriso do professor Baldrick e sua risada estavam embargados por uma dose de divertimento com a situação. — Depende, cada um toma uma atitude de acordo com o que sente, hum? Inclusive — ele se desencostou da mesa, dando a volta para abrir a gaveta de madeira, logo revelando um livro de capa bem conhecida —, o Frei Lourenço fala algo muito importante para Romeu, no segundo ato, que talvez possa confortar as dúvidas existenciais de todos vocês. Senhor Malfoy, você que gosta tanto dessa tragédia, poderia ler para a sala esse trecho? 

Scorpius assentiu, tentando achar forças para que suas pernas se sustentassem sozinhas. Levantando-se de onde estava, o loiro andou a passos largos, sentindo algo borbulhar na boca do estômago conforme o silêncio absurdo em que se encontravam pesava em seus ombros mais do que das outras vezes. Pegou o livro que Baldrick lhe estendia e, sob o olhar de aprovação do professor, leu a fala de Frei Lourenço. 

— Essas violentas alegrias têm fim também violento, falecendo no triunfo, como a pólvora e o fogo, que num beijo se consomem. O mel mais delicioso é repugnante por sua própria delícia, confundido com seu sabor o paladar mais ávido. Tem, pois, moderação, que o vagaroso, como o apressado, atrasam-se do pouso. 

Rose não levantou o rosto para olhar para a sua alma gêmea, à frente da sala inteira. Apenas a voz dele, reverberando mesmo naquela sala de teto alto, faziam com que seu corpo fosse consumido por um calor inexplicável, inigualável. Isto é, não tão intenso como aquele que a consumiu na última noite. Não, aquele tinha sido paralisante.

Quando Dominique a despertou de seu torpor, Rose ainda tinha os pés plantados no mesmo lugar em que tivera a primeira conexão com Scorpius Malfoy. Às suas costas, Sinistra exclamava efusivamente, reforçando o quanto se sentia honrada em presenciar um momento como aquele, que aquilo a lembrava de sua própria primeira conexão. No entanto, ela não ouvia; seus olhos estavam fixos onde segundos antes Scorpius estava, incapaz de tirar da cabeça aquele par de olhos, cujas íris pareceram quase transparentes contra a luz que vazava pelas extremidades de suas vestes e iluminava seu rosto. Ali, no entanto, restava apenas a porta, dançando para a frente e para trás, encontrando o batente e retomando o movimento com cada vez menos intensidade.

Quando finalmente voltou o olhar para Dominique, sentiu-se terrivelmente desorientada. A prima esticou a mão e, por alguns instantes, era como se aquele espelho de moldura tentasse confortá-la de alguma forma, com dedos esguios fechando-se sobre o seu ombro. Os olhos da loira faiscavam com um entusiasmo completamente característico, mas Rose sabia que a prima não tocaria naquele assunto antes que ela mesma estivesse preparada para trazê-lo à tona.

Tinha tantas perguntas… Ainda mais do que quando pensava ser uma única. Por que Scorpius Malfoy? Por que ele saiu correndo com tanta urgência quando tudo o que ela queria, pelo calor que a consumia como fogo vivo, era chegar mais perto? E a que mais a incomodava: por que sentia um desejo tão ardente por Scorpius Malfoy? Ele nunca tinha sido feio, e ela nunca se importou menos, mas agora… Bem, agora ela se importava até demais.

Sinistra pediu ajuda para guardar os mapas que havia disposto ao decorrer da aula, mas dispensou Rose sem nem pestanejar. Concordando com a cabeça, ela tomou o caminho até a torre da Grifinória, mas estava tão imersa em pensamentos que, na terceira vez que ia passando reto do quadro da Mulher Gorda, a mesma chamou-lhe a atenção. Nem mesmo a água gelada do banho tirava aquela sensação aterradora e estimulante, e quando deitou-se para dormir, não conseguiu pregar os olhos. Dominique até desejou uma boa noite quando chegou, não muito mais tarde, mas Rose foi incapaz de responder, então se manteve de costas, fingindo dormir.

Agora, aquela leitura, naquela voz, apesar de não responderem efetivamente nenhuma de suas questões, começavam a esclarecer suas ideias. Alegrias violentas que falecem no triunfo… Levantando a cabeça apenas o suficiente para desimpedir seu campo de visão, olhou para Scorpius, que permanecia parado no lugar, olhando atordoado para o exemplar do livro. Parecendo sentir o peso dos olhos dela, ele engoliu em seco, fechando os lábios entreabertos.

Antes que Rose pudesse raciocinar direito, sua mão lançou-se ao ar, apontando para cima com tanta firmeza que chegava a tremer. O Sr. Baldrick pareceu contente que sua aluna mais fervorosa tinha recuperado os espíritos para participar ativamente da aula, mas Scorpius sentia-se mais e mais pequeno por continuar na frente da sala, sob os olhares impiedosos de todos os sonserinos e grifinórios presentes. Sentia que começava a suar de nervosismo; seus amigos certamente contaram o que aconteceu para uma pessoa ou outra, que por sua vez contaram para mais alguém e foram ouvidos por outros alunos… Afinal, os boatos eram como o sangue que alimentavam as veias daquele castelo, correndo pelos corredores com muita rapidez.

Suspirou aliviado quando a pergunta que Rose fez foi sobre um personagem secundário. Antes de respondê-la, o sr Baldrick mandou-o de volta ao lugar, atraindo um livro de uma das prateleiras para sua mão, como costumava fazer.

Já sentado, Scorpius sentia pequenas descargas elétricas percorrerem seu corpo, enviadas pelo seu coração toda vez que expulsava o sangue de seus átrios. Sabia que Alvo e Adam estariam mais que atentos a qualquer mínimo movimento seu àquela altura do campeonato, então lançou um olhar rápido para a Weasley, de soslaio. O rosto dela estava severamente concentrado na explicação do professor, mas a forma que seus cabelos ruivos caíam sobre seus ombros, e que a luz do sol que parecia refletir em um objeto de latão somente para iluminar seu rosto e fazer o verde daqueles olhos brilhar… Droga, sua respiração ficou ofegante.

Envergonhado, inclinou-se para baixo da carteira, como se os nomes gravados ali fossem os mais interessantes do mundo. Suas mãos suavam enquanto puxava o ar com dificuldade, e ele sabia que todos num raio mínimo de quatro mesas de distância podiam ouvi-lo. Desesperado, consumido por uma ansiedade que não costumava dar as caras, olhou para a frente da sala, franzindo o cenho; queria tanto que aquela aula acabasse que doía. Para a sua surpresa, sr Baldrick o encarava com firmeza enquanto falava, como se tivesse percebido o que estava acontecendo antes dele mesmo perceber por conta própria.

— ...para que… Bom, a este ponto, já estou divagando — dando uma risada bem humorada, o sr Baldrick endireitou a postura e passeou o olhar por toda a sala. — Então vamos terminar por hoje? Sendo sincero com vocês, estou exausto, e aposto que vocês também, não? Dispensados.

Scorpius sentiu o equilíbrio do corpo ser desestabilizado com a onda de alívio que sentiu. Não tinha palavras para descrever o quanto sentiu-se grato, e já se aprontava para ir até a mesa do professor aos tropeços quando o homem chacoalhou a cabeça levemente na sua direção, dispensando o gesto. Seus olhos expressivos e gentis pareciam dizer agradeça-me depois, ao que o rapaz balançou afirmativamente a cabeça e saiu da sala.

Conversar com Rose sobre aquela onda aterradora que o consumia e que esperançosamente exercia o mesmo efeito sobre ela tornou-se a necessidade prioritária de Scorpius. Não sabia dizer se gostava de sentir as mãos suando, o coração acelerado, o calor latente preencher suas veias, mas não queria esperar mais para ter uma resposta definitiva. Os NIEM’s estavam cada vez mais próximos, não podia deixar que tudo o construíra nos últimos anos fosse por água abaixo por algo tão banal.

Ele sabia que a última parte daquela afirmação era falsa — antes daquela noite de quinta-feira, aquela com certeza era sua visão sobre as marcas, e sentia-se terrivelmente envergonhado em continuar repetindo que aquilo era algo banal, mas o precisava fazer para manter o fiapo de racionalidade que ainda se agarrava aos seus pensamentos. Mantinha esperanças bem profundas em repetir aquilo até que se tornasse realidade, mas quantas vezes já não tinha sido contrariado? Tudo levava diretamente a Rose Weasley, à todos os detalhes dela que nunca se esforçou em reconhecer até aquela fatídica e estúpida conexão. Ter uma rosa tão grande estampando o próprio braço também não o ajudava em nada.

Com o final de tarde disponível que tinha, fez sua rota usual ao Salão Principal para tentar tirar uma soneca na mesa da Sonserina. Com o rosto deitado, escondido entre os braços, seus olhos vidrados se recusavam a fechar por mais que sua insistência travasse uma batalha perdida ao continuar naquela posição por mais alguns longos minutos, que ele sequer conseguiu contar.

Ao finalmente dar-se por vencido, já era hora do jantar. Forçou-se a comer alguma coisa ou outra, mas seu estômago, que revirava sem descanso, não parecia disposto a aceitar mais. Ouviu Alvo comentar como ele estava estranho para Adam, e olhou, sem a mínima pretensão prévia, para a mesa da Grifinória. Sentiu-se tão decepcionado quando não encontrou as cabeleiras ruivas características de Rose ali no meio que resmungou uma despedida aos amigos e foi mais cedo para a sala de monitoria.

Ficou sentado à mesa por horas intermináveis. Uma pilha de relatórios já feitos jazia à sua frente, apenas para que pudesse fingir estar ocupado quando Rose entrasse pela porta, mas quanto mais tempo passava, mais seu olhar voltava-se para a porta e mais seu coração descompassava de ritmo. Nunca tinha sentido um nervosismo tão incapacitante quanto aquele.

Quando a torre do relógio deu, ao longe, as dez badaladas características, Scorpius se levantou com dificuldade, sentindo os músculos enrijecidos e a lombar dolorida em ficar sentado por tanto tempo. Se alongou brevemente, olhou para a luz do luar que atravessava a vidraça da sala e saiu para a ronda de cada dia. Sentia-se triste; de alguma forma, tinha alimentado as próprias esperanças, e a falta que Rose fez em todas aquelas horas que pareceram se arrastar o deixava murcho. De um lado porque poderia explodir por tanta coisa que tinha a dizer; e do outro… Não conseguia explicar.

Caminhou meneando a cabeça negativamente, bufando, olhando torto para os fantasmas que provavelmente já estavam sabendo do acontecido pela forma que cochichavam. Contudo, ao virar o corredor sentiu o coração bater forte, tão forte que levou a mão ao peito para conter a dor aguda; Rose estava a alguns metros de distância, aos poucos se aproximando em passos cautelosos, deixando-o gradativamente com uma sensação claustrofóbica por não saber o que dizer, ou como dizer, ou se dizer. 

— Oi — falou baixo, meio sem jeito, esfregando seu peito por cima do uniforme e aproveitando para secar as mãos que começavam a suar. 

— Oi — Rose olhava para os próprios sapatos, às vezes para os lados. Ficaram em silêncio, até que Scorpius cruzou os braços e tentou, algumas vezes, abrir a boca para dizer algo. 

— Então… Como você está? 

— Bem — assentiu, tomando coragem para fitar Scorpius num relance. — E você?

— Também… Passei o dia pensando que talvez devêssemos conversar e, depois da aula do Baldrick, isso pareceu muito necessário.

— Com certeza. Eu fiquei procurando por você depois do jantar, mas não te achei… 

— Ah — ele passou a mão pelos cabelos, coçando a nuca um pouco nervoso —, eu estava na sala da monitoria, pensei que você iria para lá mais cedo e… 

— Teria sido uma boa ideia, não pensei que…

— É… 

— Eu perguntei aquilo porque não sei como agir, sabe? — prontamente, Scorpius concordou, tentando se manter o mais focado possível mesmo com todo o empenho de sua mente em fazê-lo perder-se em devaneios mediante a aproximação da ruiva. — Ontem foi muito estranho, mal consegui dormir, o dia passou meio esquisito, além de que você saiu de lá daquela forma… Ao mesmo tempo que pareceu uma boa ideia conversarmos, não sei se você estaria disposto.

— Ontem parecia que meu corpo estava pegando fogo, literalmente — riu, mordendo o lábio inferior num sinal de nervosismo. — Se eu ficasse mais um segundo lá, não sei, Rose, talvez eu realmente pegaria fogo, sei lá.  Tive até que tomar banho depois, estava pingando de suor, quase tendo um ataque cardíaco, não sei. Não sei. Você sentiu isso também?

— Hm, não — na medida em que a voz dela vacilou, Scorpius sentiu um pouco de alívio misturado com uma certa dose de tensão. Isso significava que ela não era a sua alma gêmea? Era um bom sinal de alguma forma? — Me senti dentro de uma geladeira, na verdade — ele soltou a respiração, aliviado. — Não sei o que devemos fazer agora.

Tem algo a se fazer? 

— Se nós decidirmos que sim… Sim.

— O que quer dizer com isso? — embora a iluminação do corredor não fosse das melhores, Scorpius pôde ver o rosto de Rose ficar gradativamente vermelho. Um súbito calor lhe fez engolir em seco, desajeitado. — É estranho, tipo… Apesar de ter acontecido, nós não temos nada além de marcas, não é o suficiente para… Nada. 

— O que quer dizer com isso? — foi a vez dela perguntar, arqueando as sobrancelhas, fitando o rapaz com um pouco mais de atenção. Scorpius sentiu uma sensação claustrofóbica, como se o teto estivesse abaixando aos poucos.  

— Nós não sentimos nada um pelo outro, não precisamos fingir alguma coisa, não precisamos ficar juntos.

— Você não quer tentar, então? — Scorpius não teve a oportunidade de responder, ela se adiantou junto com um riso que ele não soube definir. — Você não está sentindo nada? É isso?

— Eu...

— Porque eu estou — Rose ergueu as mãos para mostrar como elas tremiam, deu uma risada e tocou o dorso da mão dele rapidamente. Se ela quase congelava, Scorpius fervia. — Eu não sei o porquê, nem como, mas sinto que qualquer coisa, qualquer loucura, pode ser a coisa certa a se fazer… — sorriu, soltando o ar dos pulmões pesarosamente. Scorpius relaxou os ombros ao perceber que ela não estava brava, pelo contrário, parecia apaixonada. O que era tremendamente estranho, tanto quanto seu corpo demonstrar o mesmo. — Eu poderia beijar você agora, ou fugir de Hogwarts, andar em direção a um precipício, o que é absurdo, mas… Não sei se é um efeito colateral, não sei se isso tem um prazo para passar, não sei se- 

— Rose — ele a interrompeu, apertando mais os seus braços contra o corpo, numa tentativa de conter qualquer atitude insana —, eu também estou sentindo isso. Só que consigo pensar que não temos a obrigação de ficar junto, entende? Nós podemos não dar certo e...

— Mas somos almas gêmeas — enfatizou, os olhos brilhando de fascínio. Embora fosse compreensível, era o oposto do que as íris cinzentas do rapaz mostravam. 

— Nem todas as almas gêmeas ficam juntas — disse ao mesmo tempo que suspirava, assistindo a expressão de Rose mudar lentamente, de volta ao que deveria ser normal. — Não estou dizendo que... É só que… nós temos muita coisa que nos impede de conseguir… essa coisa de… Essa coisa.  

— Como por exemplo? 

— Nossas famílias  — Scorpius sentiu uma tonelada de diabretes sair de seus ombros, o que ajudou a aliviar a sensação claustrofóbica. Rose ponderou por alguns instantes.  

— A culpa disso não é nossa. Nem da marca, nem do que passou. 

— Eles podem não gostar tanto da... Ideia. Talvez. 

— Ninguém nunca falou nada sobre a sua amizade com o Alvo, por que com a gente seria um problema?

— É diferente você ser um amigo. Nós dois podemos ser amigos… Para sempre, inclusive — enfatizou, sentindo-se um grande palhaço ao ver o olhar inquisidor da ruiva. — Nós vivemos realidades diferentes, Rose. Se para você isso é apenas um extra, ótimo. Mas para mim não é. Eu preciso de tempo, preciso pensar. 

Embora não fosse, talvez, o momento propício para perder as poucas palavras que lhe restavam em mente, calou-se frente ao sorriso que começava despontar nos lábios da ruiva. Será que ela tinha entendido tudo ao contrário? Foi um pouco estranho, para não dizer tenebroso, ver as maçãs de suas bochechas ficarem mais evidentes e rosadas, assisti-la mordiscar os lábios para esconder toda a animação contida ou sabe-se lá o que. Rose passou a mão pelo rosto, jogou o cabelo para trás e expirou o ar antes de assentir por algo que Scorpius nem lembrava mais de ter dito, sentindo-se gradualmente mais rendido ao agradável perfume que chegava até seu nariz e o fazia relaxar os ombros. Via-se, novamente, tomado por uma sensação ardente capaz de fraquejar suas pernas. 

— Tudo bem, não precisamos decidir nada agora — a voz dela saiu num tom baixo, mas cheio de uma certeza quase desconhecida por Scorpius. Ele não costumava ser bom em decisões, quase nunca estava certo sobre algo e, definitivamente, nem sob o efeito do tal equinócio ou pela sutil dica estampada em sua pele se via apto para alguma ação não premeditada. 

Scorpius concordou, maneando a cabeça e descruzando os braços para enfiar as mãos quentes dentro dos bolsos da calça. Sentia seu peito subir e descer, quase descompassadamente, o suor escorrer pelas suas costas,  o coração bater mais forte conforme sua mente produzia fantasias e desejos com a garota em sua frente. Talvez fosse a hora de seguirem em frente. Na ronda. Mas era estranhamente bom encarar os olhos verdes brilhantes de Rose. 

Como se lesse seus pensamentos, ela soltou um riso divertido, contagiando-o na medida certa para sorrir também. Sem muita razão em mente, Scorpius deu um passo em direção a ela, inclinando o corpo para dar-lhe um beijo na bochecha. Péssima ideia. Rose era mais baixa do que ele, seu perfume era realmente agradável, o rosto macio; se fosse seguir seus batimentos cardíacos, deveria beijar-lhe a boca, e só Merlin sabia como ele se esforçou para não o fazer. 

— Acho que é melhor continuarmos a... A ronda — Scorpius disse por fim, numa vã tentativa de gravar na memória cada mínimo detalhe do rosto de Rose, já que naquele instante, tornou-se óbvio que ele não dormiria à noite, óbvio que os astros não pareciam se importar se ele estava de acordo ou não com a situação, óbvio que ele era muito sortudo por ter uma alma gêmea tão linda, e também extremamente azarado por ela ser uma Weasley. 

Scorpius sentiu o fogo que o tomava ser alimentado pelo escasso instante de aproximação, mas infelizmente, antes que as chamas pudessem ser altas o suficiente para realmente convencê-lo a alguma outra coisa, o burburinho dos quadros arrastaram ambos para a realidade de forma abrupta: deviam estar monitorando os corredores.

— Nos falamos outra… Hora? — ela sugeriu com as sobrancelhas arqueadas, tomada por uma animação ligeiramente infantil. 

— Claro. 

Eles assentiram e deram-se as costas para seguirem andando, cada um para um lado. Enquanto o estômago de Rose parecia ser sido invadido por um bando de borboletas, Scorpius sentia a garganta seca, completamente sedento. 

○   ○   ○

No sábado, os corredores estavam abarrotados por uma torrente azul e verde de alunos. A data da tão esperada partida entre Sonserina e Corvinal tinha finalmente chego, e Scorpius não poderia estar mais nervoso. Aquele era o dia que determinaria se Megan não arrancaria a cabeça do time inteiro de seus respectivos pescoços, o dia em que enfrentaria o ex-ficante de sua alma gêmea e, ainda mais aterrorizante, o dia em que seria o centro das atenções dela.

Não queria que o último fator lhe causasse tanto medo — muitas pessoas além dela estariam assistindo ao jogo no fim das contas e aquilo nunca tinha sido motivo de retração —, mas o espasmo que o consumia cada vez que pensava naquilo não podia ser simplesmente ignorado. E daquela vez, Scorpius sabia o motivo: era porque, na noite terrivelmente mal dormida que tivera, múltiplos sonhos com Rose tomaram seu inconsciente, um a cada vez que acordava de um breve cochilo.

O primeiro pareceu uma extensão do que tinha acabado de acontecer no corredor, com a exceção de que não haviam quadros cobrindo as paredes e, por sorte, não houveram interrupções. Quando acordou, precisou de mais uma ducha gelada para conseguir respirar novamente. O segundo, o terceiro e o quarto tiveram cenários variados, mas basicamente o mesmo conteúdo; ele e Rose se beijando, as chamas consumindo e guiando-os para algo a mais… No entanto, ele sempre acordava ofegante, uma vez que esses sonhos nunca chegavam ao tão esperado desfecho.

Talvez fosse pelo fato dele não saber onde a marca da Weasley ficava, ou como era. Passou bastante tempo pensando naquilo também. Se fosse arriscar, diria que ficavam nas costas dela, uma vez que, no domingo após o equinócio de primavera, ela pareceu bastante convencida de que não tinha uma. E devia ser bem pequena para que não tivesse visto antes. Outro pensamento que o consumia era o de que, para ela pensar ser uma única, sua marca não devia ter doído, bem como a de Alvo, ou a de Adam, ou a de todos que receberam as suas já à meia noite de sábado. Por que a sua tinha doído tanto, então?

Caminhando em direção ao campo de quadribol, anotou em algum canto de sua mente que era algo a ser perguntado ao sr Baldrick, o único docente que parecia não se encher com as perguntas relacionadas àquilo. Algumas garotas do terceiro ano, que corriam na ponte estreita que levava aos arredores do castelo, trombaram contra ele. Uma delas virou-se para ele, encheu o peito e gritou:

— Vai, Corvinal! — brandindo a bandeirola azul e cinza que levava nas mãos, seu rosto recheado de um êxtase infantil, voltou a se reunir às amigas, que saíram correndo aos risinhos.

Ah certo, a partida, Scorpius pensou, balançando a cabeça. Certamente que sua cabeça seria uma das que não seriam poupadas por Megan.

No vestiário, caos. Aos berros, a capitã apoiava o peso de seu corpo na vassoura enquanto apontava o que cada um devia fazer. Olheiras emolduravam seus olhos, parecendo pequenos num rosto cansado, mas suas íris cintilavam de algo que, o rapaz concluiu, só podia ser uma sede por sangue tremenda.

Estavam agora alinhados detrás das cortinas que os separavam do gramado. O cheiro de grama molhada serviu para que Scorpius se atentasse um pouco mais, mas o medo, a ansiedade e o nervosismo ainda pesavam em seu estômago. Ao seu lado, Alvo parecia ainda pior; seu rosto estava tão verde quanto suas vestes, e o polegar que levantou para o amigo tremia. Um sorriso brincou no canto dos lábios do Malfoy quando retribuiu o gesto e voltou o olhar fixo para a frente.

Então, as cortinas abriram. Era hora. Megan gritou, puxando o coro de seus companheiros de time, e logo eles voavam em direção ao ar livre.

Quando a arquibancada da Grifinória irrompeu em vaias e gesticulações descomedidas, Rose levantou o olhar para os vários borrões verdes que disparavam pelo ar, dando a costumeira volta no campo antes de se postarem no meio dele, onde a professora Hooch os aguardava. Não havia sol naquele dia, e apesar dos cabelos platinados de Scorpius estarem terrivelmente apagados, foi nele que o olhar dela repousou de imediato.

Ali, emoldurado pela capa verde esvoaçante, com um semblante resignado que fitava o nada, ele estava de tirar o fôlego. A ruiva sentiu as mãos gelarem quase que instantaneamente. Ao seu lado, Dominique pulava, colaborando com as vaias de forma alvoroçada, segurando um pequeno binóculo da Zonko’s diante dos olhos. Seus dedos formigaram para tirar o objeto das mãos da prima e ver Scorpius mais de perto, mas Rose apenas cerrou os punhos com força e cruzou os braços. Quando voltou a olhar para cima, era a Corvinal que disparava pelos ares, convertendo as vaias da torcida grifinória quase que imediatamente em aclamações fervorosas.

Ali estava Lorcan. Parecia mais magro que o habitual, mas como a distância dificultava que ela enxergasse propriamente, decidiu não tirar conclusão alguma sobre aquilo. Ele pareceu determinado ao postar-se de frente para Megan Creevey, mas o olhar mais duro certamente era o da moça.

Quando o jogo começou, Rose voltou-se para Scorpius, e permaneceu fixa nele durante toda a partida.

Foi uma partida árdua. Nos primeiros minutos, Sonserina saiu em vantagem; a capitã parecia indomável conforme cortava o campo em vários segundos e marcava um ponto atrás do outro, abrindo o placar em antes mesmo que a Corvinal pudesse se armar para uma resposta. O tempo todo, Scorpius manteve-se ao seu encalço, e os dois juntos, com McLaggen sempre na retaguarda, continuaram acrescentando ao placar sonserino. A arquibancada da Grifinória permaneceu silenciosa a maior parte do tempo, mas uma animação crescente tomava conta de Rose, e ela precisou fazer força para gritinho nenhum escapar pela sua garganta.

As coisas começaram a apertar quando a Corvinal encontrou forças e revidou até ultrapassarem a Sonserina por vinte pontos. Ver Lorcan marcando tanto não era, nem de longe, tão estimulante quanto ver Scorpius desempenhando aquele papel. Até mesmo cogitou esbarrar propositalmente em Dominique para que ela parasse com aquela torcida contrária tão efusiva.

Então, a ação de fato começou quando Alvo deu sinal de localizar o pomo de ouro, disparando num risco para perto dos aros corvinos. Os batedores, além de empenhados em derrubá-lo, tiveram sorte, de forma que rebateram os dois balaços naquela direção de uma vez só, que passaram a perseguir o moreno como balas de canhão. Higgs, tomada pelo ódio, voou e, colocando-se prontamente entre o apanhador e as bolas impiedosas, rebateu uma delas com força, que acabou por derrubar o goleiro corvino. Alvo desviou do segundo com eficiência, sem tirar os olhos do pomo.

Com o caminho desimpedido, Sonserina retomou a dianteira no placar, e Rose não podia evitar se não ficar nas pontas dos pés, com seu corpo inteiro vibrando. Não pôde deixar de sorrir quando Megan e Scorpius executaram uma jogada particularmente ardilosa, mas totalmente limpa, que preencheu Lorcan com pura raiva e visivelmente o tirou de seus eixos.

Afastando-se da capitã, que tinha posse da goles e avançava novamente para os aros vazios do time adversário, Scorpius sorriu com certa prepotência quando o Scamander pensou mesmo ter encontrado uma brecha que fosse lhe garantir alguma vantagem. Ao se aproximar da loira, levou um jogo de corpo que o lançou uns bons metros para o lado, e quando tentou voltar a alcançá-la, teve seu caminho subitamente interceptado pela parte traseira da vassoura de Scorpius.

Ele se desequilibrou. Enquanto a vassoura ficava para trás, Lorcan mergulhava de cara em direção ao chão. Até mesmo a arquibancada grifinória teve que dar algum crédito àquilo, principalmente porque o capitão da Corvinal levantou logo em seguida, completamente intacto com exceção do grande rastro de lama e folhas de grama que cobria o lado de seu rosto. Scorpius o observou enquanto corria para pegar sua vassoura, mas foi em vão; no instante seguinte, Alvo capturou o pomo, um sorriso enorme estampando seu rosto ao exibi-lo orgulhoso à professora Hooch. O apito final soou, e a vitória era da Sonserina.

Rose, no entanto, olhava para cima da própria cabeça, onde Scorpius pairava ligeiramente atônito. Parecia excessivamente exaurido, mas quando olhou para baixo e encontrou a atenção da ruiva voltada para si, abriu um enorme sorriso, que de pronto lhe concedeu algumas câimbras nas bochechas. Quase caiu da vassoura quando ela deitou o rosto para o lado e retribuiu o sorriso dele.

Estavam tão absortos naquele breve momento que não perceberam os olhares maliciosos que lhes eram direcionados. De fato, os boatos tomavam proporções ainda maiores, mais rápido do que sequer podiam imaginar.

Scorpius só desviou os olhos da ruiva quando ouviu uma gritaria característica perto da entrada dos vestiários, um típico after de jogos entre Sonserina e Corvinal. Interessado em dar apoio para sua capitã, Scorpius fitou Rose uma última vez, dando uma piscadela antes de pousar no gramado, aproximando-se de onde Megan revirava os olhos com uma expressão de satisfação divertida enquanto Lorcan despejava as asneiras habituais.

— ...e não é nada justo! — Lorcan berrava, apontando o dedo indicador para o rosto da capitã da Sonserina enquanto madame Hooch, parecendo diminuta, tentava contê-lo. Com os olhos ligeiramente arregalados, a boca contorcida para baixo e um rastro de lágrimas de frustração abrindo caminho entre a sujeira que cobria um lado do seu rosto, ele compunha uma imagem digna de pena. — Consta no manual de regulamentação de quadribol, professora, pode olhar! Esses caras são podres, só sabem jogar sujo, é o que estou te dizendo.

— Ah, você quer trazer o manual pra roda, Scamander? Então manda ver — Megan ostentava um sorriso torto enquanto o encarava, os braços firmemente cruzados, os olhos expressivos zombando dele sem que precisasse dizer uma palavra sequer. — Como madame Hooch pode confirmar, trombar é uma falta, e é uma tremenda sorte que nosso artilheiro não tenha se prejudicado com esse seu movimento tão injusto.

Bloquear é uma falta, sua sujeitinha… — o rapaz tinha uma ofensa na ponta da língua, uma que sabia ser capaz de tirar a moça do sério, mas se conteve no último instante. Apenas arranjaria problemas em falar aquilo na presença de um professor. Voltando-se abruptamente para trás, chegou perigosamente perto de Scorpius. — Você… Ande, fale para ela, vamos ver se é homem de assumir as consequências de seus próprios atos.

— Não será necessário, senhor Scamander — interrompeu madame Hooch, indo até onde os dois se encontravam com o olhar amarelo perfurante com a impaciência que começava a tomá-la. — Eu mesma vi tudo, e se alguma infração tivesse sido executada, eu teria apitado.

Lorcan buscou por algum apoio em seus companheiros de time, que formavam meia roda e assistiam à situação interessados, mas ninguém se manifestou. Com olhos pidões, olhou uma última vez para Scorpius, que apenas piscou vagarosamente e deu de ombros. O Scamander, então, levantou um braço num claro gesto de agressão.

Não se atreva! — a Creevey cobriu a distância que os separava rapidamente, peitando o capitão do time adversário com um ódio que transbordava e retorcia suas sobrancelhas em uma carranca. — Encosta um dedo no meu artilheiro que eu te deixo sem braço, briba nervoso.

— Briba? Nervoso? — parecendo incrédulo, Lorcan revirou os olhos e soltou uma risada nervosa, levando uma das mãos à cintura enquanto, com a outra, pressionava a ponte do nariz — Escuta aqui, quem você acha que é?

— O que foi, perdedor? Tem tanta dificuldade assim em aceitar que você é pior que uma bomba de bos...

Chega! — madame Hooch voltou a interromper, agora completamente irada; com os pés plantados no lugar, Scorpius assistia à cena um pouco preocupado — Dez pontos serão descontados da Corvinal, e espero que esteja inteiramente ciente, senhor Scamander, que precisei fazer isso. Questionar a arbitragem de um professor, e incitar uma briga com o adversário! Lastimável, ambos sabemos que é mais inteligente que isso, francamente…

Quando madame Hooch deu as costas aos capitães para esclarecer o que aconteceu à quem não tinha ouvido, Scorpius viu por cima dos ombros dela que Megan cuspiu nas vestes de Lorcan, que imediatamente travou o maxilar, mas não se manifestou. Os anos o tornaram sensato o suficiente para não tirar mais pontos de sua casa de uma só vez.

Da arquibancada, Rose não conseguia entender o que acontecia, e aos cochichos, seus colegas de casa tentavam deduzir o que era. Conseguia, no entanto, compreender a sensação enregelada que começava a torcer seu estômago; algo não estava certo. Aquilo era Megan entrando na frente de Scorpius para protegê-lo?

Seu rosto fechou-se automaticamente. Aquele gesto lhe pareceu tão natural… E ainda que tentasse não tirar conclusões precipitadas, ainda que tentasse não pensar naquilo, seus nervos borbulhavam num misto confuso de sensações que queimava suas orelhas.

No entanto, aquele assunto não foi abordado pelo resto do final de semana, principalmente com seus cada vez mais recorrentes desencontros. Viram-se duas vezes se muito, uma ao longe, durante o jantar de sábado, e outra bem rápida, durante a breve reunião com a diretora no domingo. Rose ainda sentia-se terrível e irremediavelmente apaixonada pela figura esbelta do rapaz que, arriscava dizer, beirava a perfeição, mas aquela pressão gelada ainda pesava em seu estômago e roubava boa parte de toda a coragem e a confiança que sentia antes.

 


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Notas finais do capítulo

[quldditch] Computador com memória de processamento ferrada, problemas com a internet e as intermináveis atividades do EAD; têm sido tão difícil dar as caras por aqui! No entanto, não deixei de acompanhar todos os comentários FANTÁSTICOS, os acompanhamentos, os favoritos... Obrigada, Miss A, pela recomendação, realmente não tenho palavras pra te agradecer!!!!! Muito obrigada por nos animarem e motivarem, o apoio de vocês é TUDO ♥ ♥

Justificativas e agradecimentos à parte, o que acharam deste capítulo?? Finalmente o merecido protagonismo da Megan e alguma ação nesta partida topzera de quadribol, com direito a Lorcan caindo de cara no barro hihih

Quais são as novas teorias? E novas divagações sobre as marcas em geral? Quero ouvir vocês! Mais uma vez obrigada por tudo, e perdoem o sumiço.

Beijinhos beijinhos, e até o próximo capítulo ♥ ♥ ♥